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Adubação verde com leguminosas: benefícios e manejo

Adubação verde com leguminosas: quais as melhores espécies e como fazer esse manejo que contribui para maiores produtividades e melhora o ecossistema agro.

A qualidade do solo é sempre uma preocupação importante para os produtores e a adubação verde está ganhando popularidade como um método que melhora, com sucesso, essa questão. 

Essa prática envolve o cultivo de uma cultura em que os nutrientes utilizados no crescimento das plantas são conservados e devolvidos ao solo para aumentar sua fertilidade, beneficiando também caraterísticas físicas e biológicas do solo.

Quase todas as culturas podem ser utilizadas para adubação verde, mas as leguminosas são preferidas devido à sua capacidade de fixar nitrogênio do ar, nutriente que será incorporado ao solo ao final do cultivo.

Porém algumas dúvidas ainda são comuns ao optar por realizar a adubação verde com leguminosas, como a escolha de espécies, manejo desse cultivo e muitas outras.

Para responder todas essas dúvidas e explicar melhor sobre o assunto fizemos esse artigo. Confira e aproveite!

O que é adubação verde e para que serve?

A adubação verde é o cultivo de plantas que ao finalizar seu ciclo são incorporadas ao solo. Normalmente essas plantas são específicas para esse fim.

O objetivo da adubação verde é reciclar nutrientes, conservar o solo, melhorar a estrutura do solo e colaborar para a construção da sua fertilidade.

Como veremos mais a frente ainda nesse artigo, a adubação verde ainda traz outros inúmeros benefícios, como quebra de ciclo de pragas e doenças.

É importante ainda ressaltar que muitas vezes a adubação verde e culturas de cobertura são utilizadas como sinônimos, porém existem diferentes. Geralmente, isso ocorre por serem práticas muito parecidas utilizando as mesmas espécies.

A principal diferença é que nas culturas de cobertura o objetivo é proteção do solo, sendo assim a planta não é incorporada na terra, fazendo com que a liberação de nutrientes seja mais lenta.

Na adubação verde é justamente o contrário: o objetivo é liberação dos nutrientes no curto prazo e, por isso, as plantas são cortadas e adicionadas ao solo.

Com apenas essa diferença, a maioria dos benefícios são os mesmos para ambas as práticas.

Como é feita a adubação verde com leguminosas?

A adubação verde pode ser feita de três formas distintas:

  • Pré-cultivo ou rotação de culturas: quando são utilizadas antes ou depois da cultura econômica principal. É a forma mais utilizada atualmente;
  • Consórcio: o plantio ocorre junto com a cultura principal, ocorrendo o seu corte posteriormente com deposição do material sobre o solo. O corte mais cedo beneficiará a cultura atual, enquanto o corte mais tardio (no final do ciclo da cultura principal) trará mais benefícios para a próxima safra;
  • Cultivo em faixas: as leguminosas são utilizadas para separar os talhões, de forma que faixas dessas plantas separam as áreas. As leguminosas (normalmente perenes ou semiperenes) são cortadas periodicamente para adubar as culturas principais.

Benefícios da adubação verde com leguminosas

Já citamos aqui alguns dos principais benefícios, os quais também podem ser visualizados na Figura 1 abaixo e com mais detalhes a seguir.

Benefícios de plantas de cobertura adubação verde leguminosas
Figura 1. Benefícios fornecidos pela utilização de plantas de cobertura/adubação verde. Fonte: Cherubin, 2022.

Adição de nitrogênio ao solo

O principal benefício de usar uma leguminosa como adubo verde é que as leguminosas fixam o nitrogênio da atmosfera e o convertem em uma forma que esteja disponível para outras plantas.

Assim, os resíduos de leguminosas incorporados são uma fonte biológica de nitrogênio que reduz a quantidade de fertilizante necessária para a safra seguinte. A quantidade de nitrogênio fixada por uma leguminosa depende da espécie, da eficácia da associação leguminosa-bactéria em nódulos radiculares, da fertilidade do solo e das condições climáticas.

Na Tabela 1 abaixo você pode verificar o aproveitamento de nitrogênio pelas principais culturas do Brasil dependendo das espécies de adubo verde.

Tabela 1. Aproveitamento do nitrogênio (N) de diferentes espécies de adubos verdes por distintas culturas, determinado com o uso de 15N.

Fonte:  Lima Filho et al., 2023

Adição de matéria orgânica ao solo

A adição de resíduos de culturas na terra também ajuda a manter a matéria orgânica do solo no longo prazo. O aumento da matéria orgânica do solo aumenta disponibilidade de nutrientes e melhora as qualidades físicas do solo, como infiltração de água, capacidade de armazenamento de umidade, estabilidade agregada e resistência à erosão.

Em comparação, nem resíduos orgânicos nem nutrientes para as plantas são adicionados caso a área fique em pousio na entressafra.

Diminuição de plantas daninhas

Nesse mesmo sentido, há uma diminuição no banco de sementes de plantas daninhas já que elas não conseguem criar sementes com tanta facilidade nas áreas que não ficam em pousio, já que nesse período pode haver o cultivo de adubos verdes.

Proteção contra erosão

Os adubos verdes também funcionam como proteção do solo enquanto estão sendo cultivados, em comparação com áreas na entressafra que não utilizam nenhuma cultura nesse período.

Além disso, as leguminosas promovem a retenção do solo, ajudando a melhorar sua estrutura.

Melhora da estrutura do solo

Como já comentamos acima, as leguminosas na adubação verde aumento a agregação do solo, ajudam a “construir” a estrutura do solo ao longo do tempo, o que aumenta a aeração, a infiltração de água e o crescimento das raízes, e ajuda a diminuir o risco de erosão do solo.

Isso porque elas liberam substâncias que agregam o solo e, após seu corte, suas raízes também morrem e formam macro e microporos no lugar em que ocupavam, contribuindo para a estrutura do solo.

Menor incidência de pragas e doenças

A diversificação de culturas no sistema agrícola quebra o ciclo de diversas doenças e pragas, diminuindo a incidência das mesmas e facilitando o manejo.

Na Figura 2 abaixo é possível ver a influência da adubação verde com o manejo de pragas.

benefícios da adubação verde para a fertilidade do solo
Figura 2. Sinergismo potencial entre fertilidade do solo e manejo integrado de pragas. Fonte: Adaptado de Altieri et al. (2017) em Lima Filho et al. (2023)

Desvantagens de uma cultura de leguminosas com adubo verde

Existem também desvantagens no uso de culturas de leguminosas com adubo verde, que incluem o uso de água, sendo que especialmente onde o fator hídrico é limitante, as culturas de adubos verdes podem utilizar a umidade que de outra forma poderia ser conservada durante o pousio.

Também há os custos de estabelecimento do adubo verde que devem ser considerados.

Porém, existe também todos os benefícios, principalmente a longo prazo, que diminuirão diversos custos. Cabe ao produtor verificar o limite de investimento da safra para que ela seja saudável do ponto de visto do sistema agrícola, mas também do financeiro.

Qual a melhor espécie de leguminosa para adubação verde?

Cada região, propriedade e condição da área vai exigir que diferentes espécies sejam utilizadas, ou até mesmo uma combinação de espécies.

Por exemplo, se você tem problemas de nematoides no solo as espécies mais recomendadas são as crotalárias (crotalária-breviflora, crotalária-juncea, crotalária-ochroleuca, crotalária-spectabilis) e mucunas (mucuna-cinza e mucuna-preta), além da aveia-preta (Piraí, 2023).

Também considere a condições de temperatura na sua região. Para condições de baixas temperaturas, como podem ocorrer no Sul do Brasil ou áreas de alta altitude, temos a chícharo (Lathyrus sativus), ervilhaca-comum (Vicia sativa), tremoço-branco (Lupinus albus), trevo-branco (Trifolium repens), trevo-vermelho (Trifolium pratense) e aveia-preta já citada.

Previsões climáticas e o histórico do clima na propriedade também auxiliam na escolha, já que é preciso implantar leguminosas como adubos verdes que sejam adaptados às condições de seca ou muita chuva.

Leguminosas que podem ser utilizadas em situações de umidade compreendem na centrosema (Centrosema pubescens), cudzu-tropical (Pueraria phaseoloides) e sesbânia (Sesbania sesban).

Já para condições de seca, temos as leguminosas caupi (Vigna unguiculata), cunhã (Clitoria ternatea), estilosantes (Stylosanthes guianensis), feijão-bravo-do-ceará (Canavalia brasiliensis), feijão-mungo (Vigna radiata), galáxia (Galactia striata) e guandu (Cajanus cajan).

Importante também ter consciência de como está a fertilidade de solo, já que as leguminosas auxiliam nessa questão, mas nem todas são totalmente adaptadas para um ambiente de baixa fertilidade. Para isso podemos cultivar as leguminosas a seguir:

  • Os feijões: feijão-bravo-do-ceará (Canavalia brasiliensis) e feijão-de-porco (Canavalia ensiformis)
  • Amendoim-forrageiro (Arachis pintoi)
  • Crotalária (Crotalaria juncea)
  • Cudzu-tropical (Pueraria phaseoloides)
  • Mucuna-preta (Mucuna aterrima)
  • Siratro (Macroptilium atropurpureum)
  • Guandu (Cajanus cajan)
  • Indigófera (Indigofera spp.)

Melhores espécies para adubação verde com leguminosas no Cerrado

Em algumas partes do Brasil, como o Cerrado, é preciso levar em consideração o fato de que a decomposição dessas leguminosas é muito rápida e, por isso, devemos escolher espécies com elevada produção de matéria seca (6 a 12 Mg ha-1) de forma que ocorra o total aproveitamento do potencial das espécies vegetais utilizadas (Darolt, 1998; Alvarenga et al., 2001).

Dessa forma, algumas espécies se destacam:

  • Crotalaria juncea: semeaduras mais tardias vão reduzir a matéria seca dessa espécie;
  • Crotalaria spectabilis: seu ciclo curto facilita a semeadura na região, mas se adapta somente no período chuvoso;
  • Mucuna cinza (Mucuna nivea) e mucuna preta (Mucuna aterrima): alta produção de matéria seca;
  • Feijão-de-porco (Canavalia ensiformis): resistente a seca e também pode ser utilizado em consórcio com milho, já que tolera sombreamento parcial;
  • Guandu-anão (Cajanus cajan): resistente a seca e solos com baixa fertilidade.

Conclusão

A adubação verde com leguminosas é uma ferramenta de manejo que vale a pena considerar. Seus inúmeros benefícios que aqui citamos certamente compensa seus custos iniciais.

É possível aliar essa prática conservacionista como mais uma ferramenta de manejo de outros problemas, como nematoides e outros.

Aqui você pôde conferir diversas informações para colocar a adubação verde com leguminosas em prática: desde as principais espécies até em que situações elas melhor se adaptam, além de entender melhor sobre a prática em si.

Aproveite o conteúdo e boa safra!

Referências

ALTIERI, A. M.; PONTI, L.; NICHOLLS, C. I. Melhorando o manejo de pragas através da saúde do solo: direcionando uma estratégia de manejo do habitat solo. In: Controle biológico de pragas através do manejo de agroecossistemas. Brasília, DF: Ministério do Desenvolvimento Agrário, Secretaria da Agricultura Familiar, 2007. p. 17-31.

ALVARENGA, R.C.; CABEZAS, W.A.L.; CRUZ, J.C.; SANTANA, D.P. Plantas de cobertura de solo para sistema plantio direto. Informe Agropecuário, v. 22, p. 25-36, 2001.

CHERUBIN, M. R. Guia prático de plantas de cobertura: aspectos fitotécnicos e impactos sobre a saúde do solo [Apresentação]. Guia prático de plantas de cobertura: aspectos fitotécnicos e impactos sobre a saúde do solo, p. 126: il, 2022.

DAROLT, M.R. Princípios para manutenção e implantação do sistema. In: DAROLT, M.R. Plantio direto: Pequena propriedade sustentável. Curitiba, IAPAR, 1998. (Circular, 101).

LIMA FILHO, O. F.; AMBROSANO, E. J.; WUTKE, E. B.; ROSSI, F.; CARLOS, J. A. D. Adubação verde e plantas de cobertura no Brasil: fundamentos e prática: volume 2. Brasília: EMBRAPA, 2023. 483p.

TEODORO, R. B.; OLIVEIRA, F. L. D.; SILVA, D. M. N. D.; FÁVERO, C.; QUARESMA, M. A. L. Aspectos agronômicos de leguminosas para adubação verde no Cerrado do Alto Vale do Jequitinhonha. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 35, p. 635-640, 2011.

Sobre a autora:

Maiara Franzoni

Maiara Franzoni

Coordenadora de Go-To-Market na Agroadvance

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