A soja é o principal produto de exportação do Brasil, consolidando o país como o maior produtor mundial do grão desde 2021, sendo responsável por 42% de toda a produção global. Na safra 2022/2023, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab, 2023), o Brasil atingiu uma produção de mais de 154 milhões de toneladas, em uma área de 44 milhões de hectares, com uma produtividade média de 3.508 kg por hectare.
Alcançar esses resultados exige conhecimento técnico e planejamento na safra anual. A produção de soja exige atenção a diversos fatores, como as condições climáticas e a qualidade do solo em cada uma das cinco regiões do país.
Um exemplo da complexidade dessa cultura é o fato de que mais de 2 mil cultivares de soja estão registradas no Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), cada uma desenvolvida com características específicas para atender diferentes tipos de solos, necessidades da maturação, fatores bióticos e abióticos.
Com a safra 2024/2025 se aproximando, conhecer as tecnologias disponíveis e saber escolher a cultivar adequada para sua área é um manejo agronômico para garantir bons resultados por hectare.
Neste artigo, vamos abordar os principais tipos de cultivares e demonstrar especificações técnicas para ajudar na escolha da melhor alternativa para a sua região, maximizando a produtividade.
Boa leitura!
Cultivar de soja ou variedade de soja: qual é o termo correto?
É comum ouvirmos o termo “variedade de soja” entre produtores e técnicos de campo, mas tecnicamente, o termo correto é cultivar de soja. Ambos são usados de maneira semelhante no dia a dia, mas há uma diferença importante entre eles, principalmente no que se refere ao melhoramento genético.
Cultivar de soja
O termo “cultivar” refere-se a uma soja que foi selecionada e desenvolvida por meio de melhoramento genético, com o intuito de atender a características desejáveis, como resistência a pragas, doenças ou adaptação a condições climáticas específicas.
As cultivares são registradas oficialmente, e sua produção é controlada para garantir que suas características sejam mantidas ao longo do tempo. No caso da soja, “cultivar” é o termo mais apropriado, pois as plantas resultam de programas de melhoramento genético (MAPA, 2024).
Variedade de soja
Por outro lado, “variedade” é um termo mais genérico, usado para descrever qualquer grupo de plantas que possuem características comuns e que podem ser propagadas de maneira estável, seja por seleção natural ou por intervenções humanas.
O termo “variedades de soja” é usado de forma coloquial no dia a dia por produtores e técnicos de campo, embora não seja o mais preciso do ponto de vista técnico. Por outro lado, “cultivar de soja” é o termo mais adequado quando falamos sobre plantas resultantes de programas de melhoramento genético.
Critérios para escolha da melhor cultivar de acordo coma sua região
Com tantas opções disponíveis, pode ser um desafio decidir qual cultivar é a mais adequada para a semeadura em sua fazenda. Como escolher a melhor cultivar?
Para fazer uma escolha assertiva, é importante conhecer bem a área de semeadura e avaliar se as características da cultivar escolhida são compatíveis com o tipo de solo, além de verificar se ela apresenta resistência a problemas já enfrentados no passado como pragas, doenças e nematoides. Abaixo estão os passos que podem ajudar nesse processo de decisão da melhor cultivar de soja para a safra 2024/2025:
- Verificar o portfólio indicado para sua região: certifique-se de que a cultivar de soja selecionada é recomendada para as condições climáticas e de solo da sua localidade;
- Grupo de maturação da soja: o grupo de maturação da soja classifica as cultivares com base na latitude e no fotoperíodo da região, além do ciclo de vida da planta. Existem 13 grupos de maturação relativa no GRM, identificados pelos números 000, 00, 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10 (Consulte os grupos na figura 1).
- Planejar o plantio das culturas sucessoras: considerar a rotação de culturas é importante para preservar a saúde do solo e melhorar o manejo de pragas e doenças;
- Analisar o histórico da área: tenha em mente os problemas anteriores com pragas e doenças na sua propriedade para escolher uma cultivar que ofereça maior resistência a essas adversidades;
- Examinar as características do talhão: Estude fatores como fertilidade, relevo e condições de drenagem para adequar a escolha da cultivar às condições de cada parcela de terra;
- Avaliar os resultados de produtividade: consulte dados de produtividade das cultivares que você está considerando, buscando aquelas que apresentaram bons resultados em áreas semelhantes;
- Optar por sementes certificadas: garanta a qualidade e a procedência das sementes escolhendo lotes certificados, o que pode evitar surpresas e garantir um bom desempenho no campo;
- Seguir o manejo recomendado: após a escolha da cultivar, siga as orientações técnicas de manejo, incluindo práticas de adubação, controle de pragas e irrigação, para maximizar a produção.
Que fatores influenciam a escolha das cultivares de soja?
Quando o produtor rural faz a semeadura da soja sem levar em consideração as características do local pode comprometer seriamente a produtividade da safra anual. Para evitar esse erro, é importante compreender as condições específicas de clima, solo e até a topografia das áreas de cultivo em todo o Brasil.
Ao falar sobre isso, é importante conhecer três conceitos-chave:
- macrorregiões sojícolas,
- regiões edafoclimáticas, e
- regiões fisiográficas.
Essas divisões territoriais foram criadas para facilitar a escolha das cultivares recomendadas para cada região, com base em características climáticas como temperatura, quantidade de chuvas e latitude. Esses fatores afetam diretamente o ciclo de crescimento da soja e sua capacidade de resistir a condições adversas.
O Brasil é dividido em cinco grandes macrorregiões sojícolas: Sul, Centro-Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Norte-Nordeste.
Dentro dessas macrorregiões, há 20 subdivisões conhecidas como regiões edafoclimáticas, que, por sua vez, são separadas em regiões fisiográficas, proporcionando uma análise mais detalhada das condições de cada local.
Quais são as tecnologias disponíveis para as cultivares de soja?
Existem diferentes tecnologias incorporadas às cultivares de soja, cada uma oferecendo vantagens específicas graças ao melhoramento genético.
O último termo no nome da cultivar indica a tecnologia aplicada, que pode envolver resistência a herbicidas, proteção contra pragas, entre outros benefícios. Vamos entender melhor o que cada uma dessas siglas significa:
- Soja convencional
A soja convencional não possui modificações genéticas. O que significa que ela não é resistente a herbicidas específicos e não tem proteção genética contra pragas. O controle de plantas daninhas e pragas é feito exclusivamente por meio de defensivos agrícolas convencionais.
- I2X – Intacta 2 Xtend
A tecnologia I2X (Intacta 2 Xtend) oferece tolerância ao herbicida Xtendicam (dicamba), utilizado no controle de plantas daninhas durante o pré-plantio. Além disso, ela protege a lavoura contra o ataque de várias pragas, como:
- Lagarta-falsa-medideira (Chrysodeixis includens);
- Lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis);
- Broca-das-axilas (Crocidosema aporema);
- Lagarta-das-maçãs (Chloridea virescens);
- Lagarta-do-velho-mundo (Helicoverpa armigera);
- Lagarta das vagens (Spodoptera cosmioides).
Essa tecnologia é especialmente útil em áreas com alta infestação de pragas, garantindo maior segurança à produção.
- IPRO
A tecnologia IPRO proporciona um duplo benefício para a soja: proteção contra insetos que atacam as raízes e tolerância ao herbicida glifosato. Isso garante não só o combate de pragas subterrâneas, como também controla plantas daninhas, promovendo maior eficiência no manejo da lavoura.
- CE – Conkesta E3
A tecnologia CE proporciona resistência a três herbicidas: 2,4-D, glifosato e glufosinato de amônio. Isso permite maior flexibilidade no controle de plantas daninhas. Além disso, essa tecnologia inclui as proteínas Bt (Cry1F e Cry1Ac), que ajudam no controle das principais lagartas que afetam a cultura da soja.
- RR – Roundup Ready
A tecnologia RR (Roundup Ready) é uma modificação genética que confere resistência ao herbicida glifosato, facilitando o controle de plantas daninhas sem prejudicar a soja. Amplamente utilizada, essa tecnologia foi uma das primeiras a ser introduzidas no mercado e é uma das biotecnologias mais comuns na agricultura.
Um exemplo de soja transgênica RR é a BRS 559RR, que possui tolerância ao glifosato e é recomendada para a Macrorregião 1 (REC 102 e REC 103, consulte a figura 1 acima), abrangendo áreas produtoras de soja no estado do Paraná. Essa cultivar oferece a possibilidade de plantio antecipado, permitindo sua inserção em sistemas de rotação ou sucessão com outras culturas.
Além disso, a BRS 559RR destaca-se por seu excelente potencial produtivo e estabilidade, com tipo de crescimento indeterminado e precocidade, pertencendo ao grupo de maturidade relativa 5.9, ideal para a macrorregião recomendada.
Outro ponto positivo dessa cultivar é sua resistência às principais doenças da soja, incluindo a Podridão Radicular de Phytophthora (Phytophthora sojae), um problema recorrente na Macrorregião 1.
Cultivares de soja mais plantadas no Brasil
No Brasil, três cultivares de soja se destacam pela sua ampla adoção e adaptabilidade: Olimpo, Zeus e Lança. Cada uma delas oferece características únicas, que atendem às demandas específicas das regiões onde são cultivadas. Vejamos, a seguir, uma visão detalhada dessas cultivares, incluindo suas principais qualidades, grupos de maturação e desempenho nas lavouras, que as tornam escolhas populares entre os produtores brasileiros.
Olimpo
A cultivar Brasmax Olimpo IPRO se destaca pela sua alta produtividade e ampla adaptação no Cerrado brasileiro. Com grupo de maturação 7.7 nas macrorregiões M3 e 8.0 nas M4 e M5, ela possui um peso de mil grãos (PMG) de até 181 g e um sistema radicular “agressivo”, oferecendo excelente estabilidade e desenvolvimento inicial.
Recomendada para as macrorregiões M3, M4 e M5, a cultivar é resistente a várias doenças e tem desempenho notável, como evidenciado pelo recorde de produtividade de 117,14 sacas por hectare alcançado por Rodolfo Paulo Schlatter em 2022. A Brasmax Olimpo IPRO é uma escolha superior para produtores em busca de altos rendimentos e estabilidade.
Zeus
A cultivar Zeus tem grupo de maturação 5.5 e se destaca por seu alto potencial produtivo e precocidade. Ela é ideal para regiões de maior altitude, com porte controlado que previne o acamamento e é resistente à podridão radicular de Phytophthora (raças 1 e 3).
Com crescimento indeterminado e peso de mil sementes de 209 g, a Zeus apresenta ramificação média e é resistente a várias doenças, incluindo cancro da haste e podridão radicular. Ela é moderadamente resistente à mancha olho de rã e à pústula bacteriana.
Lança
A cultivar Lança possui grupo de maturação 5.8 e é ideal para regiões de maior altitude, oferecendo alto potencial produtivo e excelente adaptação. Seu porte controlado evita o acamamento e possui alto potencial de ramificação, além de ser resistente à podridão radicular de Phytophthora.
Com crescimento indeterminado e peso de mil sementes de 177 g, a Lança se destaca por sua alta ramificação. Ela é resistente ao cancro da haste e à podridão radicular de Phytophthora (raça 1), mas é suscetível à mancha olho de rã e à pústula bacteriana. É importante evitar o plantio em áreas compactadas e sem palhada.
Cultivares de soja utilizadas regionalmente
Cada região do Brasil possui características climáticas e de solo únicas, o que influencia diretamente a escolha das cultivares de soja mais adequadas. A seguir, destacamos algumas das principais cultivares de soja que são amplamente adotadas em diferentes regiões do país, levando em consideração suas especificidades e benefícios para cada localidade.
Região Sul
- Brasmax Titanium TF I2X: recomendada para microrregiões do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Possui alta estabilidade produtiva e resistência à ferrugem asiática;
- Brasmax Vênus CE: alta adaptação em regiões de maior altitude do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, com boa resistência ao acamamento;
- Brasmax Torque I2X: destaca-se em regiões de maior altitude, recomendada para o Rio Grande do Sul e até o extremo sul de São Paulo.
Cerrado
- Brasmax Torpedo I2X: recomendado para o sul de Minas Gerais, com porte controlado e resistência à podridão radicular;
- Brasmax Ímpeto I2X: indicado para o MAPITOBA (Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia), com ampla adaptação e resistência a nematoides de cisto;
Nordeste
- Brasmax Ímpeto I2X: também recomendada para o MAPITOBA, com foco em resistência a nematoides de cisto e adaptação a ambientes de médio potencial;
- Brasmax Ciclone CE: ideal para a Bahia, com ampla adaptação e estabilidade.
Norte
- Brasmax Sparta I2X: indicada para Rondônia, com foco em alta tecnologia e resistência a nematoides de cisto;
- Brasmax Ataque I2X: com alta adaptação a Rondônia e bom desempenho em regiões com nematoides de cisto.
A escolha da cultivar de soja ideal para sua região é crucial para garantir uma colheita produtiva e saudável. Considerar as características específicas de cada cultivar e as condições locais ajudará os produtores a otimizarem seus resultados e assegurar o sucesso da safra.
Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) para a soja
O Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) para a soja utiliza um modelo agrometeorológico para analisar dados climáticos, como temperatura, chuvas e geadas, e cruzar essas informações com a demanda hídrica das cultivares de soja. Esse sistema permite que os produtores selecionem cultivares adaptadas às condições locais, considerando aspectos como a resistência a herbicidas (tecnologias RR, I2X e IPRO) e capacidade de enfrentar pragas e doenças.
Recentemente, o ZARC para a soja passou por importantes atualizações, incorporando novos parâmetros da cultura e classes de água disponível no solo que são mais adequadas aos diferentes tipos de solo brasileiros. Essas mudanças ajudam a melhorar a precisão das recomendações de manejo, incluindo a escolha de cultivares de soja com melhor adaptação às condições específicas de cada região.
Além de considerar fatores climáticos, o ZARC Soja também avalia a época de plantio adequada com base no ciclo de cada cultivar. Para as regiões com maior risco de déficit hídrico, por exemplo, recomenda-se o uso de cultivares mais resistente, como a BRS 559RR, que apresenta tolerância a condições adversas, permitindo maior estabilidade produtiva em regiões suscetíveis à falta de água.
Para consultar o ZARC Soja os produtores podem utilizar a plataforma “Painel de Indicação de Riscos” ou no aplicativo móvel Zarc Plantio Certo, disponível nas lojas de aplicativos para iOS e Android.
Conclusão
Escolher a cultivar de soja adequada para a safra 2024/2025 é importante para maximizar a produtividade e a eficiência no campo nas condições atuais do Brasil.
Considerando o vasto portfólio de opções e as especificidades das macrorregiões sojícolas do Brasil, os produtores têm a oportunidade de alinhar suas escolhas com as condições climáticas e do solo de cada área, garantindo assim uma colheita bem-sucedida.
A compreensão dos fatores determinantes e a escolha informada das cultivares são passos essenciais para alcançar altos rendimentos e manter a competitividade no agronegócio.
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Referências
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KASTER, M.; FARIAS, J. R. B. Regionalização dos testes de Valor de Cultivo e Uso e da indicação de cultivares de soja: terceira aproximação. Londrina: Embrapa Soja, 2012. (Embrapa Soja. Documentos, 330).
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USDA. United States Department of Agriculture. Home page: https://www.usda.gov.
Sobre o autor:
Alasse Oliveira da Silva
Doutorando em Produção Vegetal (ESALQ/USP)
- Engenheiro agrônomo (UFRA) e Técnico em agronegócio
- Mestre e especialista em Produção Vegetal (ESALQ/USP)
Como citar este artigo:
SILVA, A.O. Cultivares de soja para a safra 2024/25: quais as tecnologias disponíveis e como escolher a melhor para a sua região? 2024. Blog Agroadvance. Disponível em: https://agroadvance.com.br/blog-cultivares-de-soja/. Acesso: xx Xxx 20XX.