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Principais pragas da soja na safra 2023/2024 na região Centro-Oeste

Veja quais são as principais pragas da soja e quais foram as principais na safra 2023/2024 em um ano com clima predominantemente quente e seco no Centro-Oeste brasileiro, maior região produtora de soja do País.

Na produção agrícola, as pragas representam um desafio constante, e a prevalência de uma ou outra espécie em cada temporada é moldada pelas condições climáticas vigentes, que podem favorecer ou desfavorecer o desenvolvimento de determinada espécie.

Na safra 2023/2024, a cultura da soja se viu diante de um cenário desafiador, caracterizado por condições climáticas predominantemente quentes e secas na região do Centro-Oeste do Brasil. Estas condições climáticas foram influenciadas pelo fenômeno El Niño, trazendo consigo desafios adicionais para os agricultores.

Neste contexto, a incidência e a intensificação de pragas como lagartas, cascudinho da soja e mosca-branca foram elementos de destaque na safra, representando ameaças significativas à produtividade das lavouras.

Este artigo propõe uma análise detalhada das principais pragas que impactaram a safra de soja durante esse período, explorando suas características distintivas, padrões de comportamento e os potenciais efeitos na produtividade agrícola, bem como as técnicas de controle.

Continue a leitura para uma análise aprofundada sobre as pragas que moldaram a safra de soja de 2023/2024 e esteja preparado para os próximos desafios!

Quais são as principais pragas da soja?

As principais pragas da soja podem variar dependendo da região geográfica e das condições climáticas, mas algumas das pragas mais comuns da cultura incluem:

  1. Lagartas desfolhadoras:
    • Lagarta do cartucho (Spodoptera frugiperda)
    • Lagarta das folhas (Spodoptera eridanea)
    • Lagarta-das-vagens (Spodoptera cosmioides)
    • Lagarta-falsa-medideira (Chrysodeixis includens)
    • Lagarta- mede-palmo (Rachiplusia nu)
    • Lagarta-das-maçãs (Heliothis spp.)
    • Lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis)
    • Lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus)
  2. Percevejos:
    • Percevejo-marrom (Euschistus heros),
    • Percevejo-verde-pequeno (Piezodorus guildinii),
    • Percevejo-verde (Nezara viridula),
    • Percevejo-barriga-verde (Dichelops spp.),
    • Percevejo castanho (Scaptocoris castanea)
  3. Mosca-branca (Bemisia tabaci)
  4. Ácaros
    • Ácaro-rajado (Tetranychus urticae),
    • Ácaro-vermelho (Tetranychus spp.),
  5. Tripes:
    • Frankliniella schultzei
    • Caliothrips brasiliensis
  6. Tamanduá-da-soja (Sternechus subsignatus)
  7. Nematoides:
    • Nematoide-de-cisto-da-soja (Heterodera glycines),
    • Nematoide-das-lesões-radiciais (Pratylenchus spp.),
    • Nematoide-das-galhas (Meloidogyne spp.)

Quais foram as principais pragas da soja na safra 2023/2024?

O clima quente e mais seco favorecido pelo fenômeno climático El Niño propiciou a maior pressão de algumas espécies de pragas, principalmente de lagartas e mosca-branca. Também foram destaque os percevejos e o cascudinho da soja. Por fim, algumas regiões específicas sofrem ataques de tripes. Vejamos a seguir em mais detalhes.

Lagartas da soja

As lagartas são sempre uma preocupação para a lavoura de soja e na safra 2023/2024 não foi diferente. O tempo quente favoreceu o encurtamento do ciclo dessa praga, que se multiplicou de forma acelerada, resultando em uma grande pressão de pragas nas lavouras da região central do país.  

As lagartas apresentam enorme potencial de dano na soja e podem atacar a lavoura desde o desenvolvimento inicial até a colheita.

Dentre as espécies de lagartas da soja mais encontradas (Figura 1), podemos destacar:

Lagartas da família Noctuidae:

  • Gênero Spodoptera:
    • S. frugiperda (lagarta-do-cartucho), S. cosmoides (lagarta-preta) e S. albula,
  • Gênero Rachiplusia
    • Rachiplusia nu (falsa-medideira),
  • Gênero Chloride:
    • Chloridea virescens (lagarta-das-maçãs)

Lagartas da família Heliothinae:

  • Gênero Helicoverpa
  • Gênero Heliothis.
    • Heliothis virescens (lagarta-das-maçãs-do-algodoeiro)

Lagartas da família Elachistidae:

  • Gênero Elasmopalpus:
    • Elasmopalpus lignocellus (lagarta-elasmo)
principais pragas da soja lagartas
Figura 1. Fotos de algumas das lagartas que se destacaram na safra 2023/2024. Crédito das imagens: André Consonni.

Os principais danos causados pelas lagartas, além da diminuição da área foliar das plantas, são os danos em estruturas reprodutivas, principalmente causados pela S. frugiperda e Heliothinae em flores, vagens e grãos.

A S. frugiperda chega até a comer hastes, pecíolos e racemos, tamanha a sua agressividade na lavoura.

Embora o controle biológico de pragas venha sendo cada vez mais empregado nas lavouras de soja, a efetividade do controle também depende das condições ambientais e pressão de pragas. Nesta safra em específico as condições climáticas dificultaram o controle natural, deixando os fungos entomopatogênicos em desvantagem, o que resultou em controle insatisfatório das lagartas. Com isso, muitos produtores recorreram a aplicações de defensivos químicos além do inicialmente programado.

Para o manejo efetivo e eficaz das lagartas na lavoura são fundamentais:

  • a correta identificação das espécies no campo,
  • o entendimento do ciclo e capacidade reprodutiva das espécies,
  • uma detecção precoce da praga no campo,
  • uma avaliação precisa dos danos
  • Resposta operacional ágil para controlar a praga.

Mosca-branca

A mosca-branca (Bemisia tabaci) é uma espécie polífaga, amplamente disseminada pelo mundo e capaz de atacar mais 600 espécies vegetais.

As condições climáticas deste ano agrícola promoveram um ambiente quente e seco, propício para a proliferação desse inseto, que causou danos severos em várias lavouras do Centro-Oeste brasileiro.

Para se ter uma ideia de como a temperatura influencia na duração do seu ciclo, enquanto em uma temperatura de 15ºC o ciclo total (OVO → LARVA → NINFA → ADULTO) demora 73 dias, mas em condições de temperaturas de 32ºC, o ciclo se completa em apenas 19 dias.

Além dos danos diretos causados pela sucção da seiva, que resultaram em acelerada desfolha, a mosca-branca também pode facilitar a entrada de patógenos, prejudicando ainda mais o desenvolvimento saudável das plantas (Figura 2). 

danos da mosca branca em soja
Figura 2. Danos causados pela mosca-branca nas lavouras de soja na Safra 2023/2024. Crédito das imagens: André Consonni.

Percevejos

Apesar de terem ficado em segundo plano nesta safra específica, não podemos deixar de elencar o percevejo como um problema para a cultura. Os dominantes na região do Cerrado (Figura 3) são:

  • Percevejo-marrom (Euchistus heros)
  • Percevejo-barriga-verde (Diceraeus melacanthus)

O percevejo-marrom é, historicamente, o que mais causa danos nas lavouras do Centro-oeste brasileiro, porém as populações do percevejo-barriga-verde vêm aumentando significativamente nos últimos anos na região e ganhando destaque.  

Alguns motivos que podem explicar o significativo avanço do percevejo barriga-verde são:

  • Alta incidência de capim-pé-de-galinha da região – que é uma ótima hospedeira para praga na entressafra;
  • Rápido desenvolvimento do ciclo da praga em condições mais quentes da região (Figura 3);
  • Possui estratégia de sobrevivência de hibernação (diapausa), o que lhes permitem passar por períodos adversos, como o inverno, escondendo-se no solo e sob restos de culturas.
  • Disponibilidade de alimento na segunda safra de milho – embora a espécie não consiga se desenvolver e se reproduzir enquanto se alimenta das plântulas de milho ou trigo (plantas associadas), causa danos significativos às plântulas.
Ciclo de desenvolvimentofases de desenvolvimento percevejo-marrom (Euschistus heros) e percevejo-barriga0verde (Diceraeus melacanthus)
Figura 3. Fases de desenvolvimento do percevejo-marrom (Euschistus heros) e do percevejo-barriga-verde (Diceraeus melacanthus) na soja. Crédito das fotos: André Consonni.

Os danos causados por estes insetos podem ser tanto direto (abortamento de vagens e grãos, diminuição do tamanho dos grãos…) como indiretos (abertura de porta para a entrada de fungos). 

Para saber mais sobre essas pragas, e de como identificá-las e controlá-las, acesse o nosso artigo sobre  percevejos da soja.

Cascudinho (Myochrous armatus)

O cascudinho da soja (Myochrous armatus) é uma praga com maior capacidade de dano no início do ciclo da soja, ao se alimentar do hipocótilo, causando morte de plântulas e consequente falha no “stand”.

Este crisomelídeo, contudo, também pode ser encontrado por todo o ciclo da soja, se alimentando de pecíolos e hastes, causando derrubamento de folhas e as vezes até de cachopas (Figura 4). 

Danos visíveis nas plantas incluem plântulas sem ponteiro, caules decepados e folhas caídas.

No campo, a distribuição dos insetos é desuniforme, com aparecimento de grandes reboleiras, causando redução drástica do “stand” em certas áreas, justificando em muitos casos, o replantio.

Possui aproximadamente 5 mm de comprimento por 3 mm de largura, de cor preto-fosco a marrom-acinzentado, com escamas curtas e robustas no corpo.

Suas larvas amareladas vivem no solo e se alimentam de matéria orgânica e raízes. Os adultos têm hábitos noturnos, mostram pouca capacidade de voo e praticam tanatose (simula estar mortos quando ameaçado).

O controle do cascudinho da soja é desafiador devido aos hábitos de abrigo no solo, dificultando o contato com inseticidas.

Estratégias de controle incluem tratamento de sementes, manejo químico e biológico, como a associação de inseticidas e bioinseticidas.

O monitoramento é essencial, seguindo princípios do Manejo Integrado de Pragas (MIP). A associação de inseticidas químicos e biológicos pode ser sinérgica.

Além disso, o manejo do cascudinho envolve cuidados com outras plantas hospedeiras, uma vez que por ser um inseto polífago, o cascudinho também se alimenta de plantas daninhas como braquiárias, fedegoso, leiteiro, além de culturas como feijão e milho.

cascudinho da soja
Figura 4. Algumas fotos do cascudinho da soja (Myachrous armatus) e dos danos causados nas plantas e lavoura. Crédito das imagens: André Consonni.

Tripes na soja

Apesar de ocorrer de forma localizada apenas em algumas propriedades na Safra 2023/2024, o tripes (Frankliniella schultzei e Caliothrips brasiliensis) merece ser citado, pois normalmente o tripes é um problema secundário para a soja e as condições climáticas propiciaram sua multiplicação em algumas lavouras esta safra.

O termo “tripes” refere-se a uma variedade de insetos pertencentes à Ordem Thysanoptera, caracterizados por suas asas que possuem cerdas ou franjas nas bordas. Estes insetos são pequenos, com um comprimento que varia de 0,5 a 5 milímetros.

Seu ciclo de vida abrange aproximadamente de 18 a 28 dias.

Em sua maioria, os tripes são fitófagos, mas algumas espécies também podem ser predadoras de ácaros, pulgões e cochonilhas.

ataque de tripes em soja
Figura 5. Ataque de tripes gos gêneros Frankliniella sp. E Caliothrips sp. na soja. Crédito das imagens: André Consonni.

Os tripes têm um aparelho bucal sugador e, ao se alimentarem do conteúdo celular das plantas, causam danos ao romper as células, resultando em marcas de raspagem que inicialmente são de cor esbranquiçada ou prateada, mas que com o tempo escurecem.

Esses insetos podem atacar não apenas as folhas, mas também as inflorescências e outras estruturas da planta, dependendo da espécie.

O tripes podem causar danos diretos às folhas de soja, resultando em descoloração, prateamento e deformação foliar e em casos severos pode afetar a produtividade das plantas. 

Como fazer o controle de pragas na soja?

Idealmente o controle de pragas na cultura da soja pode ser realizado através de uma abordagem integrada que combina várias estratégias, que incluem:

  1. Monitoramento: Realizar inspeções regulares das lavouras para detectar a presença de pragas é fundamental. Isso pode ser feito visualmente ou com o auxílio de armadilhas específicas para determinadas pragas. O monitoramento permite detectar problemas precocemente e determinar o momento adequado para intervenções.
  2. Identificação da espécie e conhecimento do seu ciclo biológico: É essencial identificar corretamente a espécie de praga que está atacando a soja, pois diferentes espécies podem requerer estratégias de controle específicas. Além disso, entender o ciclo de vida da praga, incluindo estágios de desenvolvimento, comportamento e períodos de atividade, ajuda a determinar os melhores momentos para implementar medidas de controle. Por exemplo, saber quando as pragas estão mais vulneráveis ​​pode direcionar as intervenções para maximizar sua eficácia. Pragas que se escondem durante o dia (como é o caso do cascudinho) podem ser difíceis de controlar com inseticidas. Portanto, a observação direta das pragas, identificação por meio de guias ou consultando especialistas no assunto é fundamental.
  3. Controle cultural: Práticas como rotação de culturas, uso de variedades resistentes, manejo adequado da irrigação e adubação balanceada podem ajudar a reduzir a incidência de pragas na soja.
  4. Controle de plantas daninhas na safra e entressafra: As pragas normalmente se reproduzem em plantas daninhas durante o período de entressafra. Assim, é essencial manter o controle de plantas daninhas não apenas na lavoura, mas também em carreadores e áreas próximas aos talhões de produção.
  5. Controle biológico: Introdução ou conservação de inimigos naturais das pragas, como predadores, parasitoides e patógenos específicos, pode ser uma estratégia eficaz de controle. Isso pode incluir a liberação de organismos benéficos no campo ou a criação de condições favoráveis para sua sobrevivência.
  6. Controle químico: O uso de defensivos agrícolas é uma opção quando outras medidas de controle não são suficientes para manter as populações de pragas abaixo do nível de dano econômico. É importante usar pesticidas de maneira seletiva, seguindo as recomendações de dosagem e aplicação para minimizar os impactos ambientais e a resistência das pragas.
  7. Integração de táticas: A abordagem mais eficaz geralmente envolve a integração de várias táticas de controle, conhecida como Manejo Integrado de Pragas (MIP). Isso combina diferentes métodos de controle de forma coordenada e sustentável, visando reduzir os danos causados pelas pragas com o mínimo impacto ambiental e econômico.

É importante adaptar as estratégias de controle de pragas às condições específicas de cada região e às características da população de pragas presentes na área de cultivo da soja. Além disso, o acompanhamento constante e a avaliação dos resultados são essenciais para ajustar as estratégias conforme necessário.

Referências

BOSCHIERO, B.N. Percevejos da Soja: como identifica-los e controla-los?. Informativo técnico nº7 Agroadvance, 2023. Disponível em: https://agroadvance.com.br/informativo-tecnico/. Acesso: 18 Mar. 2023.

HOFFMANN-CAMPO, C.B.; MOSCARDI, F.; CORREA-FERREIRA, B.S.; OLIVEIRA, L. J.; SOSA-GOMEZ, D.R.; PANIZZI, A. R.; CORSO, I. C.; GAZZONI, D. L.; OLIVEIRA, E. B. de. Pragas da soja no Brasil e seu manejo integrado. Londrina: Embrapa soja, 2000. 70 p. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/128003/1/ID-6173.pdf. Acesso: 18 Mar. 2023.

SALGUERO, V. Perspectivas para el manejo dei complejo mosca blanca – virosis. In: HILJE, L.; ARBOLEDA, O. Las moscas blancas (Homoptera: Aleyrodidael en America Central y el Caribe: Memória. Turrialba: CATIE, 1993. p. 20-26. (CATIE. Série Técnica. Informe Técnico; 205).

Sobre a autora

Beatriz Nastaro Boschiero

Beatriz Nastaro Boschiero

Especialista em MKT de Conteúdo na Agroadvance

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