El Niño e La Niña: o que são esses fenômenos climáticos, quais seus efeitos sobre o clima e a produção de alimentos? Como o El Niño irá afetar a safra 2023/2024? Saiba o que esperar…
As alterações climáticas são um dos fatores que mais afetam a produção agrícola.
Enquanto algumas mudanças climáticas são atribuídas a ação humana, os fenômenos El Niño e La Niña emergem como verdadeiros atores globais, desempenhando um papel fundamental nas alterações climáticas.
Neste artigo, vamos entender o que são tais fenômenos, suas características e seus efeitos sobre o clima.
Além disso vamos entender como o El Niño que está se formando agora podem influenciar diretamente a agricultura brasileiras na safra 2023/2024.
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O que é o fenômeno El Niño e La Niña?
O El niño é um fenômeno climático que indica que as águas da região central do Oceano Pacífico estão com temperaturas mais quentes do que o normal.
Este fenômeno possui graus de intensidade e pode variar de:
- Fraco: quando as águas estão com temperaturas de 0,5 a 0,9 ºC acima da média histórica;
- Moderado: quando as águas estão com temperaturas de 1,0 a 1,5 ºC acima da média histórica;
- Forte ou intenso: quando as águas estão com temperaturas de 1,6 a 2,0 ºC acima da média histórica;
- Muito Forte ou Superintenso: quando a temperatura das águas está 2,1ºC ou mais acima da média histórica.
O El Niño muda a circulação dos ventos alísios, que correm de leste a oeste, aquecendo as águas e intensificando a umidade nas costas das Américas, Ásia e Oceania. Essa retenção de calor resulta em evaporação intensa e, por consequência, em chuvas nessa região.
Já o fenômeno La-Niña é o inverso: trata-se do resfriamento das águas da região Central do Oceano Pacífico (0,5ºC ou mais abaixo da média histórica). Caracteriza-se por temperaturas mais frias e padrões climáticos distintos.
Essa mudança na temperatura das águas do Pacífico altera a distribuição de calor e umidade entre as várias regiões do planeta – afetando a distribuição regional das chuvas, a pesca, a agricultura e gerando desdobramentos econômicos e sociais.Parte superior do formulário
Qual é o efeito do El-Niño?
Na teoria, os possíveis impacto deste fenômeno incluem:
- mais chuvas no centro Sul da América do Sul (regiões Sul e Sudeste do Brasil, Peru, Equador, Uruguai, Paraguai, e Argentina e EUA).
- Menos chuvas nas regiões Norte e Nordeste do Brasil (secas mais severas), na Ásia e Austrália.
As únicas regiões do planeta que não são muito afetadas pelo fenômeno são a Europa e o Leste da África.
Uma característica do El Niño é a temperatura elevada – o que vem acontecendo agora em 2023 no Brasil, onde não tivemos um inverno com temperaturas muito baixas, nem tivemos geadas como ocorreu nos anos anteriores.
O La Niña, ao contrátio, traz mais secas para a região Sul do Brasil e mais chuvas para a região Norte do Brasil. Até o início deste ano o Brasil estava sobre o efeito do La Niña.
Agora, para a safra 2023/2024 estamos entrando no El Niño. Portanto independente da intensidade que este fenômeno atinja, é possível afirmar que os padrões de chuva vão mudar em relação ao ano passado.
As mais recentes previsões estimam que há cerca de 80% de chance do El Niño ser entre moderado e forte e apenas 20% de ser muito forte entre novembro deste ano e janeiro de 2024 (Pesquisa FAPESP).
Por que nem sempre a teoria reflete o que ocorre na prática?
Muitos fatores afetam o clima em escala global. Embora o El Niño seja um macro fator tendo efeito maiores do que os outros, muitos outros fatores climáticos devem ser considerados.
No Brasil, por exemplo, o Oceano Atlântico tem forte influência sobre as chuvas. Assim, na prática, muitas vezes não se observa a tendência esperada devido ao surgimento deste fenômeno climático.
Em 2018 e 2019, por exemplo, o Brasil estava sobre o efeito do El Niño, mas ainda assim choveu pouco no Rio Grande do Sul, ao contrário do que se esperava. Isso ocorreu pois as águas do Oceano Atlântico estavam frias e os corredores de umidade não se formaram. Ou seja, outros fatores podem anular ou até intensificar os efeitos do El Niño e La Niña.
Assim, é possível estimarmos os efeitos desses fenômenos climáticos, mas eles podem se configurar ou não!
Quando o El Niño ou o La Niña ocorrem?
O El Niño possui ciclos irregulares de dois a sete anos e é observado desde o século XIX, tendo potencial de provocar aumentos substanciais da temperatura global.
Acompanhe no gráfico abaixo os anos em que ocorreram os dois fenômenos climáticos e o grau de intensidade deles. Em vermelho os anos de El Niño e em azul os anos de La Niña.
O último El Niño classificado como muito forte ocorreu nos anos de 2015 e 2016. Neste ano, o fenômeno climático contribuiu para o aumento recorde das temperaturas globais, a perda de florestas tropicais, o branqueamento de corais, a geração de incêndios florestais e o degelo polar.
Como o El Niño afeta a agricultura?
Uma vez que tal fenômeno afeta a temperatura e regime de chuvas, consequentemente há uma influência na produção de alimentos – o que é dependente da região. Os possíveis impactos na agricultura brasileira são:
- Irregularidade das chuvas: Na região Sul e Sudeste, por exemplo, pode haver chuvas em volumes acima da média durante o período da safra. Isso pode ser benéfico para algumas culturas, mas também pode afetar a severidade de doenças, a colheita e aumentar o risco de enchentes e erosão do solo.
- Secas e estiagem: na região Norte e Nordeste, principalmente, pode haver condições mais secas de clima, que podem resultar em redução da produtividade e até mesmo perdas de colheitas.
- Aumento de temperaturas: O El Niño está frequentemente associado a temperaturas mais altas. O aumento das temperaturas pode afetar negativamente o desenvolvimento de algumas culturas sensíveis ao calor, como café e frutas.
O que acontecerá no Brasil na safra 2023/24 devido à chegada do El Niño?
Nos últimos 3 anos o Brasil enfrentou o La Niña e agora, no ano de 2023, tem-se a chegada do El-Niño, que está se formando na escala de 1ºC (moderada intensidade).
Muito possivelmente as chuvas da primavera chegarão mais cedo ao Brasil – já no início de setembro. Isso possibilitaria o plantio de grãos (soja e milho de primeira safra) logo no início da janela de semeadura, com término do plantio da soja antes do calendário de semeadura estabelecido pelo MAPA.
Para o café é possível haver floradas mais precoces ou várias floradas – pois não teremos déficit hídrico necessário às floradas mais uniformes da cultura.
Os problemas ficam para o verão: as chuvas tendem a ficar mais intensas na região Sul (favorecendo inclusive o surgimento de doenças e dificultando a colheita) e podendo trazer estiagens na região do MATOPIBA.
Como o El Niño afeta o preço dos alimentos?
Normalmente tal fenômeno não desempenha papel preponderante nas flutuações dos preços globais das commodities (Ubilava, 2023).
Isso porque embora o El Niño possa causar redução na produção agrícola em algumas regiões, essas perdas geralmente são compensadas pelo aumento da produção em outras partes do mundo, levando a flutuações moderadas nos preços globais das commodities.
Conclusões
Em um cenário global cada vez mais sensível às mudanças climáticas, compreender os fenômenos do El Niño e La Niña é crucial para a agricultura brasileira.
Embora o El Niño traga desafios como irregularidade das chuvas, secas e aumento de temperaturas, é importante reconhecer que sua influência nos preços globais das commodities é relativamente moderada.
O Brasil, diante da chegada do El Niño na safra 2023/2024, se prepara para uma primavera antecipada e desafios sazonais específicos.
Através da compreensão desses fenômenos climáticos e de estratégias de manejo agrícola adaptativas, os agricultores podem minimizar riscos, otimizar produções e contribuir para a segurança alimentar em um mundo em constante evolução climática.
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Referências
UBILAVAD. O Impacto do El Niño na produção global de alimentos. BBC News Brasil. 2023. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c3gdv48v29ko. Data de acesso: 09 de Agosto de 2023.
Pesquisa Fapesp. El Niño tem 80% de chance de ser de intensidade entre moderada e forte.Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/el-nino-tem-80-de-chance-de-ser-de-intensidade-entre-moderada-e-forte/#:~:text=Um%20El%20Ni%C3%B1o%20%C3%A9%20considerado%20fraco%20se%20o,Acima%20disso%2C%20a%20oscila%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A9%20vista%20como%20forte. Acesso: 09 de Agosto de 2023.
Sobre a autora:
Beatriz Nastaro Boschiero
Especialista em MKT de Conteúdo na Agroadvance
- Pós-doutora pelo CTBE/CNPEM e CENA/USP
- Mestra e Doutora em Solos e Nutrição de Plantas (ESALQ/USP)
- Engenheira Agrônoma (UNESP/Botucatu)