Você está visualizando atualmente ESG no Agronegócio: como os produtores podem alinhar lucro e sustentabilidade?

ESG no Agronegócio: como os produtores podem alinhar lucro e sustentabilidade?

Descubra como a ascensão do conceito ESG no agronegócio brasileiro está impulsionando práticas sustentáveis e atraindo investimentos. Conheça os pilares do ESG e explore os benefícios tangíveis para produtores e acompanhe como a transparência e conformidade com regulamentações ambientais são fundamentais nesse cenário, enquanto o greenwashing é destacado como um desafio a ser superado.

Em um contexto global cada vez mais consciente sobre os riscos das mudanças climáticas e ambientais, companhias financeiras têm direcionado seus investimentos para empresas mais socialmente responsáveis, inclusivas e sustentáveis.

A ascensão dessa “ética financeira” fica evidente na adoção do conceito ESG (Environmental, Social e Governance) na gestão empresarial. Esse termo, abrangendo políticas de meio ambiente, responsabilidade social e governança, tem atraído investidores, pois empresas engajadas nesses valores são mais transparentes e demonstram menor risco financeiro a longo prazo.

No agronegócio brasileiro, a realidade não é diferente. Em um setor altamente competitivo, muitas propriedades têm adotado os critérios ESG em sua gestão na busca por atrair investimentos e impulsionar sua produtividade.

Fazendas e empresas agroexportadoras estão substituindo em seu modelo tradicional práticas que atendam novas exigências do mercado global.

Ao observarmos a potência do ESG como o futuro do agronegócio, exploramos neste artigo quais são os critérios do ESG, além das vantagens da adoção dessa agenda na gestão da propriedade. Acompanhe a seguir.

Quais são os pilares do ESG no Agronegócio?

Mencionada pela primeira vez em 2004, no relatório “Who Cares Wins” (Ganha quem se importa) do Pacto Global, a agenda ESG busca integrar o setor privado como parte da solução para os problemas sociais e ambientais.

Desde 2006, instituições devem se comprometer com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, visando erradicar a pobreza e proteger o meio ambiente até 2030 (Figura 1).

ESG no agronegócio
Figura 1. Dezessete objetivos para os quais as Nações Unidas estão contribuindo a fim de que possamos atingir a Agenda 2030 no Brasil. Fonte: ONU

O Agronegócio, como setor que também abastece as mesas do mundo, também deve se alinhadas às exigências, considerando também a crescente demanda por alimentos. De acordo com a pesquisa Projeções do Agronegócio, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), a produção agrícola deve crescer 20% até 2030.

Avançar nessa agenda é uma forma de assegurar a segurança alimentar do mundo, tornando o mercado agro mais produtivo e resiliente às mudanças socioambientais.
Mas, quais são os pilares que o agronegócio deve adotar e como funcionam na prática? Seguem as informações:

E “Environmental” (Ambiental):

E “Environmental” (Ambiental): refere-se a práticas e princípios adotados na empresa em conservação ao meio ambiente. A questão ambiental é um dos principais pontos de preocupação da mais recente “The Global Risks Report”, do Fórum Econômico Mundial, devido aos impactos diretos na produção agropecuária causados por eventos climáticos extremos.

A agenda ambiental envolve:

  • A redução das emissões de gases do efeito estufa da empresa,
  • uso racional de recursos naturais no processo de produção (em termos de energia, água ou materiais),
  • maior adoção do melhoramento genético na seleção de animais eficientes (emitindo menos metano)
  • e avanço dos sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), além de
  • maior conscientização sobre a emissão de carbono.

No Brasil, um dos principais incentivadores para adoção de práticas mais sustentáveis está o plano ABC+, que visa atingir com tecnologias de produção sustentáveis e reduzir a emissão de carbono (CO2) em 1,1 bilhão de toneladas. Leia o artigo completo para entender mais sobre o assunto.

S “Social” (Social):

S “Social” (Social): refere-se à relação e práticas que a empresa tem com as pessoas em sua área de atuação. Esse pilar examina inclusive como a empresa defende o bem social em um mundo mais amplo, incluindo todos que fazem parte do ecossistema no qual a organização está envolvida.

No setor agropecuário, isso remete à:

  • profissionalização do setor com treinamentos e capacitações,
  • envolvimento da empresa/fazenda em projetos e causas sociais,
  • fornecimento de uma boa infraestrutura de moradia
  • garantia de alimentação, segurança e bem-estar dos funcionários da propriedade,
  • respeito às legislações ambientais e leis trabalhistas, e
  • adoção de políticas de inclusão e diversidade.

G “Governance” (Governança):

G “Governance” (Governança): refere-se à forma como a empresa administra os seus processos e à transparência de suas ações. Isso também é associado ao relacionamento com colaboradores, clientes e os principais stakeholders.

Na prática, isso significa a empresa precisa ter:

  • gestão de riscos,
  • práticas antifraudes e corrupção,
  • frequência de auditorias,
  • garantia de rastreabilidade dos animais, e
  • gestores mais qualificados.
Plataforma de Ação pelo Agro Sustentável. ESG no agronegócio
Plataforma de Ação pelo Agro Sustentável. Fonte: Pacto Global da ONU Brasil

Investimentos e necessidades de cada mercado

Apesar de pouco conhecida popularmente, a agenda ESG tem ganhado destaque nos últimos anos, captando a atenção de empresas e instituições financeiras, especialmente após a pandemia da Covid-19.

A crise sanitária evidenciou que empresas e sociedades mais frágeis sofrem mais em momentos de crise, enquanto aquelas responsáveis, transparentes e ágeis demonstram maior resiliência.

O Brasil está vivenciando a ascensão do ESG, com uma intensa mobilização na gestão de empresas, impulsionada pelos resultados positivos que essa abordagem tem proporcionado. Conforme um artigo do Pacto Global no país, fundos ESG captaram 2,5 bilhões de reais em 2020, com mais da metade dessa captação proveniente de fundos criados nos últimos 12 meses.

No início de 2021, o Tesouro Nacional anunciou estudar a emissão de títulos públicos com selo ESG, concedido aos ativos que prezam por boas práticas ambientais, sociais e de governança corporativa.

O principal objetivo do governo com essa medida é atrair novamente o interesse de investidores estrangeiros na dívida pública brasileira, visto que, entre dezembro de 2015 e dezembro de 2020, a participação dessa categoria diminuiu de 18,79% para 9,24%.

O agronegócio, como um dos principais pilares da economia nacional e exportadora, tem direcionado esforços para adotar os critérios ESG e atrair investimentos financeiros.

Embora esses critérios não possam ser aplicados uniformemente em todo o agronegócio brasileiro, devido à sua amplitude e diversidade, cada setor pode aprimorar e adotar os valores da agenda conforme suas necessidades específicas, conforme destaca Alessandro Rodrigues, coordenador sênior de projetos e serviços na área de Clima e Emissões do Programa Carbon On Track no Imaflora.

Em sua entrevista para o podcast “De Agro Z”, da Agroadvance, o agrônomo destaca as exigências do mercado europeu, um dos principais destinos da agroexportação brasileira, em adquirir produtos mais sustentáveis e que visam a diminuição do desmatamento.

Por outro lado, Rodrigues comenta sobre a China, maior consumidora de carne brasileira, exige que o boi tenha 30 meses de idade no abate. Ou seja, “quando se trata de ESG, não existe um padrão para todas as empresas do agro; isso depende das cadeias e de cada destino”, explica agrônomo.

Confira o episódio completo:

Impacto sustentável e financeiro do ESG no agronegócio

Greenwashing: a “imagem verde” que pode enganar

Com a crescente cobrança por medidas mais sustentáveis, surgiram também práticas ilegais, como o “greenwashing” ou “lavagem verde”, por parte de empresas, indústrias públicas ou privadas, e até organizações não governamentais.

O termo começou a aparecer em 2021 e deriva da estratégia de marketing que promove discursos, ações e propagandas sustentáveis que, na prática, são falsos. Ou seja, quando uma companhia se apropria de uma imagem sustentável enganosa para promover um produto ou serviço.

A “lavagem verde”, na prática, pode ocorrer quando uma empresa divulga a redução das emissões de CO2 sem apresentar dados ou informações que comprovem essa alegação. Um exemplo é o caso da Volkswagen em 2015, que supostamente falsificou os resultados das emissões de poluentes nos motores a diesel.

Por isso, a transparência de dados é um dos pilares do ESG e, sem dúvida, um dos critérios mais importantes para evitar que investidores, clientes e instituições financeiras caiam em “golpes verdes”.

Empresas social e ambientalmente responsáveis utilizam selos, métricas e divulgam relatórios completos para comprovar seus valores.

Atualmente, existem frameworks que padronizam o relatório e a divulgação de métricas ESG. Diversas organizações têm investido no desenvolvimento de estruturas que capturam os melhores elementos de frameworks ESG já existentes, proporcionando a esperança de um cenário mais padronizado no futuro.

Acompanhe as quatro estruturas mais utilizadas no mundo hoje:

1.GRI (Global Reporting Initiative): foi o primeiro framework criado e é o mais utilizado no mundo. Inicialmente, seus objetivos eram fornecer às empresas indicadores de práticas ambientais responsáveis. Posteriormente, as métricas foram expandidas para incluir direitos humanos, governança e bem-estar social.

2. SASB (Sustainability Accounting Standards Board): este framework foi elaborado individualmente para 77 setores de atuação diferentes, o que é um grande diferencial em relação aos demais. Ele usa seu próprio sistema de classificação de indústria sustentável para agrupar empresas e setores semelhantes, com base em seus riscos e oportunidades relacionados à sustentabilidade.

3. CDP (Carbon Disclosure Project): reúne informações sobre cada organização por meio de um questionário detalhado e, em seguida, produz uma pontuação usando seus próprios critérios. O CDP se concentra em tópicos relacionados ao meio ambiente e não cobre diretamente os aspectos sociais e de governança.

4. SSE (Sustainable Stock Exchange Initiative): Programa de Parceria da ONU fornece uma plataforma global para explorar como as bolsas em questões ESG mantêm um banco de dados com todos os documentos de orientação fornecidos pelas bolsas de valores para empresas listadas, permitindo que elas possam aprender com seus pares. A maioria das principais bolsas de valores do mundo agora tem orientação sobre como divulgar dados ESG.

5 benefícios do ESG para quem é produtor

A adoção dos critérios ESG em propriedades rurais pode trazer diversos benefícios para os produtores. Aqui estão alguns aspectos positivos associados à implementação desses critérios:

1. Acesso a investimentos sustentáveis e taxas de juros menores: a incorporação de práticas sustentáveis pode atrair investidores e instituições financeiras cada vez mais interessados em apoiar negócios alinhados com critérios ESG. Além disso, diversos bancos já oferecem taxas de juros que comprovam a adoção de práticas mais sustentáveis, facilitando o acesso ao crédito. A tendência é que essa política de taxas de juros reduzida aumente nos próximos anos, estimulando a adoção da agenda ESG.

2. Conformidade com regulamentações ambientais: durante a COP-15, em 2019, o Brasil assumiu o compromisso de reduzir suas emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) por meio da legislação ambiental (Lei nº 12.187/09). Portanto, o alinhamento com critérios ambientais pode ajudar na conformidade com as regulamentações locais e internacionais, reduzindo o risco de penalidades legais e assegurando que a propriedade esteja em conformidade com as normas ambientais.

3. Aumento da produtividade e resiliência: práticas agrícolas sustentáveis frequentemente promovem a saúde do solo, a conservação da água e a biodiversidade, contribuindo para aumentar a produtividade a longo prazo e melhorar a resiliência da propriedade diante das mudanças climáticas e eventos extremos. Além disso, 85% dos colaboradores de empresas ESG afirmam estar mais felizes em suas posições, conforme revela a pesquisa Humanizadas.

4. Adaptação às expectativas do mercado: uma pesquisa do Institute of Business Value (IBV) mostrou que 54% dos consumidores globais estariam dispostos a pagar um valor mais alto por produtos de baixo impacto ambiental. À medida que os consumidores e os mercados globais exigem maior responsabilidade e transparência, os produtores que adotam critérios ESG estão mais bem posicionados para atender a essas expectativas, garantindo sua relevância e competitividade.

5. Prevenção de riscos: ao adotar boas práticas de governança, a propriedade pode reduzir os riscos operacionais, financeiros e de reputação. A gestão eficaz de riscos é uma parte fundamental dos critérios ESG.

Em resumo, a implementação de critérios ESG não apenas contribui para um mundo mais sustentável, mas também pode trazer benefícios tangíveis para a rentabilidade, imagem e longevidade dos negócios agrícolas.

Para obter uma gestão mais transparente, em uma propriedade mais próspera e resiliente é preciso capacitação profissional. Por isso, nós como parte da educação do Agro anunciamos nosso MBA em ESG no Agronegócio, que será lançado neste ano. Temos também o MBA em Liderança, Gestão e Estratégia no Agronegócio. Clique em saiba mais e conheça!

Referências 

ENTENDA como funciona o ESG no agronegócio e quais os seus impactos. Blog FieldView, [S. l.], 16 set. 2022. Disponível em: https://blog.climatefieldview.com.br/esg-no-agronecocio. Acesso em: 8 jan. 2024.

ESG e seus pilares no agronegócio. EducaPoint, [S. l.], 8 mar. 2023. Disponível em: https://www.educapoint.com.br/v2/blog/gerenciais/praticas-de-esg-no-agronegocio/. Acesso em: 8 jan. 2024.

ESG no Agronegócio. Sebrae, [S. l.], 2023. Disponível em: https://sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Arquivos/ebook_sebrae_esg-no-agronegocio.pdf. Acesso em: 8 jan. 2024.

ESG: o novo paradigma dos negócios: Tudo o que você precisa saber sobre ESG. SoftExpert, [S. l.], p. 1-56, 18 out. 2023. Disponível em: https://www.softexpert.com/pt-br/materials/ebook/ESG-o-novo-paradigma-dos-negocios.pdf. Acesso em: 7 jan. 2024.

Guia Prático De Finanças Sustentáveis Do Agronegócio Brasileiro: Dos Pequenos Produtores Às Grandes Empresas. Pacto Global da Rede Brasil, [S. l.], p. 1-101, 4 abr. 2023. Disponível em: https://go.pactoglobal.org.br/GuiaPraticoFinancasSustentaveisAgro. Acesso em: 7 jan. 2024.

Sobre a autora:

Izabela Machado

Social Media na Agroadvance

Deixe um comentário

Não perca nenhuma novidade do agronegócio!

Fique por dentro das últimas tendências do agronegócio com a newsletter da Agroadvance. É gratuito e você ainda receba notícias, informações, artigos exclusivos, e-books e muito mais.