A cafeicultura brasileira é um dos pilares do agronegócio nacional e posição de destaque entre os maiores produtores mundiais de café: Coffea arabica e Coffea canephora.
Em um cenário de margens cada vez mais ajustadas e maior exigência por qualidade, o manejo nutricional do cafeeiro assume papel central na construção da produtividade, da estabilidade das safras e da competitividade do café brasileiro no mercado global.
Do ponto de vista fisiológico, a biomassa do cafeeiro é formada majoritariamente por carbono (C; 42%), oxigênio (O; 45%) e hidrogênio (H; 7%). Juntos, esses elementos representam cerca de 94% da matéria seca da planta e são provenientes do CO₂ atmosférico e da água, via fotossíntese. Os demais 6% correspondem a elementos minerais absorvidos do solo. Embora quantitativamente menores, esses nutrientes minerais são justamente os responsáveis por definir o teto produtivo da lavoura, a regularidade de produção e a qualidade final dos grãos.
Nesse contexto, cabe ao engenheiro agrônomo e ao produtor rural manejar o sistema produtivo de forma integrada, buscando maximizar os fatores que determinam o potencial produtivo (radiação solar, temperatura, fotoperíodo, genética e arranjo espacial) e reduzir a influência dos fatores limitantes (água e nutrientes) e dos fatores redutores de rendimento (pragas, doenças e plantas daninhas).
Manejo nutricional no cafeeiro
A nutrição do cafeeiro visa repor nutrientes exportados pela produção de grãos, recuperar perdas por lixiviação e manter níveis de nutrientes adequados no solo e na planta.
Portanto, o manejo nutricional no cafeeiro deve atingir os seguintes objetivos:
- Promover sincronização entre a oferta de nutrientes e a demanda fisiológica da planta ao longo do ciclo produtivo;
- Minimizar perdas ambientais (lixiviação, volatilização) por meio de parcelamento e posicionamento adequado dos fertilizantes;
- Utilizar tecnologias e fontes de fertilizantes que aumentem a eficiência agronômica e econômica do uso de insumos.
- Contribuir para a produtividade, a longevidade da lavoura e qualidade da bebida.
Amostragem de solo e diagnóstico da fertilidade
Quando se trata de manejo nutricional do cafeeiro, o primeiro passo é realizar um diagnóstico de solo para avaliar a fertilidade do solo. A análise de solo fornece a base para o planejamento da adubação e da calagem, permitindo ajustes técnicos compatíveis com a produtividade desejada.
Como realizar a amostragem de solo?
Em cafeeiros já formados, a amostragem de solo deve ser realizada anualmente, preferencialmente, no período pós-colheita ou antes do início das adubações, sempre em talhões homogêneos quanto ao solo, relevo, idade das plantas e manejo. As amostras devem ser coletadas na projeção da copa, na camada de 0–20 cm de profundidade.
Recomenda-se que a cada dois anos sejam coletadas amostras compostas da camada de 20–40 cm de profundidade, para monitorar os teores de nutrientes em profundidades maiores e ajustar o manejo nutricional de forma mais abrangente.
A tabela 1 apresenta os teores considerados adequados de macro e micronutrientes no solo, para a camada 0-20 cm de profundidade.
Tabela 1. Teores adequados de macro e micronutrientes no solo
| Nutrientes no solo | Solo fértil |
| Fósforo (P) (mg/dm3) | 16-30 |
| Potássio (K)(cmolc/dm3) | 0,16-0,3 |
| Potássio (K) (mg/dm3) | 60-120 |
| Magnésio (Mg) (cmolc /dm3) | 0,6-1,2 |
| Enxofre (S) (mg/dm3) | 5-10 |
| Boro (B) (mg/dm3) | 0,6-1 |
| Cobre (Cu) (mg/dm3) | 2-5 |
| Zinco (Zn) e manganês (Mn) (mg/dm3) | 5-10 |
Um solo é considerado quimicamente fértil quando aumento no teor de determinado nutriente não resulta em incrementos significativos de produtividade, conceito representado pela colheita relativa (Δy/Δx), conforme demonstrado no Figura 1.

É importante destacar que solo fértil é condição necessária, mas não suficiente para altas produtividades agrícolas. Em situações de déficit hídrico, mesmo solo bem nutridos tornam-se improdutivos.
Análise foliar do cafeeiro
A análise foliar não substitui a análise de solo, uma complementa a outra; ela permite ajustar a dose adubo e devem ser interpretadas em conjunto. Enquanto o solo indica a disponibilidade potencial de nutrientes, a folha reflete o estado nutricional da planta e permite ajustes finos nas doses de adubação.
Procedimentos para a análise foliar
Para que os resultados sejam representativos, alguns critérios devem ser rigorosamente seguidos:
- Coletar o 3° par de folhas completamente desenvolvidas, não danificada, no período de dezembro a janeiro;
- Amostrar ramos frutíferos localizados à meia altura da planta, voltados para a entrelinha (rua);
- Realizar a coleta decorridos 20 a 30 dias do parcelamento da adubação de solo ou foliar (30 dias);
- Amostrar, no mínimo, 20 plantas por talhão, coletando dois pares de folhas por planta.
A coleta do 3 ° par de folha para avaliar o estado nutricional é uma foto tirada no dia. Esta foto refletirá as condições (clima, carga e adubação) dos últimos 50 dias, quando este par de folha foi formado.
Os valores de concentrações nas folhas do cafeeiro e suas interpretações estão apresentados na Tabela 2.
Tabela 2. Faixas para interpretação de teores de macro e micronutrientes nas folhas de cafeeiro, coletadas em ramos com frutos

Exportação de nutrientes pela colheita do café
A colheita de café promove a retirada contínua de nutrientes do sistema, tornando indispensável a reposição adequada desses elementos para a manutenção da fertilidade do solo e da produtividade ao longo dos anos.
A tabela 3 apresenta os valores médios de nutrientes exportados em cafezal com faixas de produtividade de 1 a 3 toneladas por hectare.
Tabela 3. Nutrientes exportados por toneladas de café colhido
| Café | N | P | K | Ca | Mg | S |
| Kg t-1 | ||||||
| Beneficiado | 22,2 | 1,3 | 18,8 | 2,6 | 2 | 1,5 |
| Com casca | 42,5 | 2 | 48,6 | 8,6 | 3,3 | 3,5 |
| Casca | 20,3 | 0,7 | 29,8 | 6 | 1,3 | 2 |
O não reconhecimento dessas exportações, especialmente em anos de alta produtividade, é uma das principais causas de empobrecimento do solo e intensificação da bienalidade produtiva em cafezais.
Manejo nutricional do cafeeiro em produção
O manejo nutricional no cafeeiro não se resume ao fornecimento isolado de N, P e K, mas sim em manter relações adequadas entre esses elementos para otimizar o crescimento, a produtividade e a qualidade dos grãos.
A falta de equilíbrio pode prejudicar a absorção de certos nutrientes, reduzir a eficiência do uso de fertilizantes e afetar o desempenho agronômico da cultura.
Nitrogênio (N)
O nitrogênio é o nutriente mais exigido pela cultura do café e está diretamente relacionado ao crescimento vegetativo, à síntese de proteínas e enzimas e ao vigor geral da planta. A eficiência de uso de N é um importante indicador de produtividade e sustentabilidade do sistema, uma vez que aplicações excessivas podem resultar em perdas por lixiviação, volatilização e emissões de N₂O, além de estimular crescimento vegetativo excessivo em detrimento da produção.
Estudos mostram que manejos com base na eficiência de uso de N podem reduzir a aplicação total sem perda de produtividade, refletindo em menor pegada de carbono e melhor saúde do solo.
Estratégias baseadas na eficiência de uso de N, associadas ao parcelamento da dose e ao uso de tecnologias de fertilizantes, como fertilizantes de liberação controlada e estabilizados são opções otimizar o uso de N em cafezais.
Potássio (K)
O potássio é geralmente o segundo nutriente mais exigido pelo cafeeiro e desempenha papel crítico em fotossíntese, transporte de carboidratos, regulação osmótica e no enchimento de grãos, influenciando diretamente a resistência a seca e qualidade da bebida.
Em cultivares irrigados e sistemas intensivos, os teores foliares críticos de K podem variar ao longo do ciclo produtivo, indicando a necessidade de ajustes sazonais no manejo nutricional.
Fósforo (P)
O fósforo está envolvido em metabolismo energético, formação de raízes e divisão celular. Em muitos casos sua exigência relativa é menor do que N e K, mas ainda essencial, especialmente nos estágios iniciais de formação e em solos com baixa disponibilidade de P.
A fertirrigação com doses adequadas de P associada à irrigação pode aumentar os teores foliares e melhorar a disponibilidade de P para a planta durante a produção.
Magnésio (Mg)
O magnésio é componente central da molécula de clorofila e desempenha papel na fotossíntese e no metabolismo energético. Embora sua demanda seja menor que N, P e K, deficiências são comuns em solos tropicais ácidos e de baixa fertilidade.
Sua disponibilidade pode ser influenciada por antagonismos com outros cátions (como K e Ca) e pela gestão de matéria orgânica do solo. O manejo adequado da calagem e a atenção às relações entre cátions são fundamentais para evitar limitações desse nutriente.
Micronutrientes
Apesar de requeridos em menores quantidades, micronutrientes são fundamentais para diversas vias metabólicas (enzimas, síntese de proteínas, resistência a estresses).
Boro e zinco frequentemente aparecem como nutrientes críticos em solos tropicais. Tanto a deficiência quanto o excesso podem comprometer o desenvolvimento do cafeeiro, reforçando a importância do diagnóstico por meio de análises de solo e foliar.
Práticas como análise foliar e solo são importantes para diagnosticar deficiências e evitar toxicidades, ao considerar que micronutrientes podem ser facilmente imobilizados no solo ou bloqueados por antagonismos com macronutrientes.
Tecnologias e fontes de fertilizantes
Fontes de nitrogênio
No Brasil, o uso de fontes nitrogenadas estratégicas é comum para aumentar a eficiência da adubação:
- Sulfato de amônio e ureia com inibidor de urease: reduzem a volatilização de amônia em comparação com ureia convencional;
- Misturas de fontes amoniacais e nítricas: podem melhorar a absorção total ao longo do ciclo.
A escolha adequada da fonte de N influencia a dinâmica de liberação do nutriente e a eficiência de recuperação pela planta (Figura 2).

Nota: NA: nitrato de amônio; SA: sulfato de amônio; UF: ureia formaldeído; IBDU: isobutilenodiureia; CDU: ureia crotonaldeído; SCU: sulfur coated urea – ureia recoberta com enxofre (S); PSCU: polymer sulfur coated urea – ureia recoberta com S + polímeros; PCU: polymer coated urea – ureia recoberta com polímeros; NBPT: N-(n-butil) tiofosfórico triamida; DMPP: dimetirazolfosfato.
Fertilizantes de liberação controlada e organominerais
Nos últimos anos, fertilizantes de liberação controlada têm sido estudados como uma tecnologia para reduzir perdas e melhorar a eficiência do uso de N e K, especialmente em sistemas de produção intensiva ou irrigados.
Esses produtos proporcionam liberação gradual de nutrientes, melhorando a nutrição contínua da planta sem picos de concentração no solo.
Além disso, fertilizantes organominerais mostram potencial de uso sustentável ao integrar matéria orgânica com fertilizantes minerais, o que promove maior disponibilidade de nutrientes e um ambiente edáfico mais estável, especialmente em solos com baixa fertilidade natural.
Estratégias de nutrição conforme sistema de produção do café
A definição das estratégias de manejo nutricional do cafeeiro deve considerar, de forma prioritária, o sistema de produção adotado, as condições edafoclimáticas da região e o nível tecnológico da lavoura. Sistemas irrigados, especialmente aqueles que utilizam fertirrigação, apresentam dinâmica nutricional distinta do cultivo em sequeiro, exigindo ajustes específicos no parcelamento, nas fontes e nas doses de fertilizantes.
Sistemas irrigado e fertirrigados
Em áreas irrigadas, o manejo nutricional permite aplicações mais frequentes e doses fracionadas ao longo do ciclo, o que favorece o suprimento contínuo de nutrientes e acompanha de forma mais precisa a demanda fisiológica do cafeeiro. Esse modelo de manejo tende a elevar a eficiência de uso dos fertilizantes, sobretudo de nitrogênio e potássio, reduzindo perdas e otimizando o aproveitamento pelas plantas.
A fertirrigação, quando tecnicamente bem conduzida, contribui para minimizar picos de concentração salina no solo, reduzir perdas por lixiviação e permitir ajustes finos das doses conforme a fase fenológica da cultura. No entanto, sua adoção exige monitoramento constante, com base em análises de solo, água e tecido vegetal, evitando desequilíbrios nutricionais e aplicações excessivas.
Cultivo em sequeiro
Em culturas de sequeiro, o parcelamento deve ser planejado de forma que coincida com a estação chuvosa, a fim de evitar aplicações de N ou K durante períodos prolongados de seca, quando a absorção radicular é limitada.
Aplicações realizadas em períodos prolongados de déficit hídrico apresentam baixa eficiência agronômica e maior risco de perdas, reforçando a importância de um calendário nutricional bem ajustado às condições climáticas locais e ao histórico da lavoura.
Doses ajustadas à produtividade esperada
Recomenda-se que as doses de fertilizantes sejam ajustadas conforme os objetivos de produtividade (levar em consideração safra alta e baixa), o histórico da área e as características edafoclimáticas da região.
Para cafeeiros em fase de formação conduzidos em sistema adensado e submetidos à fertirrigação por gotejamento, é possível reduzir em aproximadamente 30% as doses de nitrogênio e de K₂O em relação às recomendações adotadas para o cultivo em sequeiro. Essa redução, entretanto, não deve ser aplicada de forma indiscriminada, devendo sempre ser respaldada por diagnóstico nutricional e acompanhamento do desempenho da lavoura.
Principais desafios da adubação do cafeeiro
Redução de perdas de N
As perdas de N por volatilização e lixiviação são um desafio, em especial nos solos tropicais com intensa atividade microbiana.
O uso de fontes nitrogenadas associadas a inibidores de urease e fontes que promovam a liberação gradual de N, juntamente com o parcelamento das doses, constitui uma solução prática e eficiente para reduzir perdas e melhorar o aproveito do nutriente pela planta.
Garantir o equilíbrio nutricional
O equilíbrio entre os nutrientes, em especial entre N e K é fundamental para o adequado crescimento vegetativo e produtivo do cafeeiro. Aplicações excessivas de um nutriente podem comprometer negativamente na absorção de outro, resultando em desequilíbrios nutricionais e impactos diretos na produtividade.
A integração de fontes organominerais no sistema nutricional pode contribuir para um fornecimento mais estável e eficiente dos nutrientes ao longo do ciclo, além de favorecer melhorias nas propriedades químicas e biológicas do solo.
Leia mais sobre o assunto:
- Deficiências nutricionais no café: como identificar e corrigir as 8 principais
- Adubo para café recém-plantado e em produção: o que muda?
Conclusões
O manejo nutricional do cafeeiro exige uma abordagem estratégica que considere o posicionamento dos fertilizantes, o parcelamento das aplicações ao longo do ciclo produtivo e a adoção de tecnologias de fertilizantes que aumentem a eficiência de uso de insumos.
A adoção de técnicas de fracionamento, a escolha adequada de fontes e integração de fertilizantes organominerais ou de liberação controlada são ferramentas recomendadas para sistemas de produção modernos e sustentáveis.
Identificar corretamente deficiências nutricionais é o primeiro passo para um manejo eficiente do cafeeiro. Para aprofundar esse diagnóstico no campo, acesse gratuitamente o Guia prático de deficiências nutricionais do café, com sintomas visuais e orientações técnica.
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Referências
Quaggio, J. A.; et al. Café. Em: Cantarella, H.; et al. Boletim 100: recomendações de adubação e calagem para o estado de São Paulo. Campinas: Instituto Agronômico, 2022. p. 165-176.
Sobre o autor:

João Paulo Marim Sebim
Doutorando em fitotecnia (ESALQ/USP)
- Mestre em Produção Vegetal (UFAC)
- Engenheiro Agrônomo (UFAC)
Como citar este artigo:
SEBIM, J.P.M. Manejo nutricional do cafeeiro para altas produtividades: estratégias técnicas e eficiência no uso de fertilizantes. Blog Agroadvance. Publicado: 29 Dez. 2025. Disponível em: https://agroadvance.com.br/blog-manejo-nutricional-do-cafeeiro/. Acesso: 30 dez. 2025.



