As deficiências nutricionais no cafeeiro são um dos fatores limitadores de altas produtividades. Você sabia que na colheita de café há uma grande exportação de nutrientes nos grãos e que necessita ser reposta?
Um exemplo é o potássio, cuja exportação é da ordem de 3,5 kg de K2O por saca de 60 kg de grãos beneficiados, já incluído a quantidade da casca.
Mas você sabe o que é deficiência nutricional? Quais os sintomas de deficiência, como realizar uma diagnose visual ou como prevenir a deficiência nutricional no cafeeiro? Neste artigo, iremos abordar essas e outras questões de como realizar um bom manejo nutricional e evitar perdas de produtividade.
O que é deficiência nutricional do cafeeiro?
A deficiência nutricional do cafeeiro ocorre quando não há o fornecimento adequado dos nutrientes essenciais para o desenvolvimento da planta. Além disso, o excesso de um elemento pode causar efeito antagônico sobre o outro, causando uma deficiência induzida.
Um exemplo conhecido é a deficiência de Magnésio (Mg) na cafeicultura, causada pela baixa concentração de Mg de calcário, combinada com uma alta dose de potássio (K+). O excesso de K+ induz a deficiência de Mg (Mg/K+ solo ≤ 1,5).
O cafeeiro necessita do fornecimento equilibrado de macronutrientes como: nitrogênio, fósforo e potássio, assim como de micronutrientes como: zinco, boro, manganês, magnésio e ferro, por exemplo.
Principais causas das deficiências nutricionais no cafezal
A disponibilidade de nutrientes para as plantas pode ser afetada por diversos fatores. Listamos abaixo os principais pontos a serem considerados:
- Pobreza da rocha matriz (B, Fe, Mn e Zn), minerais muito intemperizados;
- pH do solo;
- Déficit hídrico (limita o movimento do nutriente no solo e o fluxo nas plantas);
- Dose insuficiente e época inadequada de adubação;
- Baixo teor de mateira orgânica (N, S e micronutrientes);
- Lixiviação (N e K) e volatilização (N);
- Textura do solo (solos argilosos = maior retenção de fósforo).
E por que os nutrientes são essenciais para as plantas? Por quê as plantas dependem deles para compor suas moléculas, fazer parte de suas enzimas e/ou funcionar como ativador enzimático. A falta do nutriente resulta nos sintomas visuais de deficiência. Por isso, é importante conhecer a função do nutriente para entender os sintomas de deficiências nutricionais.
Vejamos as funções específicas dos nutrientes:
Qual a função do nitrogênio (N) no cafeeiro?
O nitrogênio é o segundo elemento mais demandado para a produção de grãos do cafeeiro, ficando atrás apenas do potássio.
Além de ser um nutriente essencial para as plantas e um dos principais limitadores da produção agrícola.
O nitrogênio atua como regulador de processos fisiológicos e bioquímicos, como a expansão das folhas, formação de botões florais, desenvolvimento das raízes e a expressão de inúmeros genes.
O nitrogênio é componente de importantes estruturas celulares, incluindo a clorofila, membranas e diversos hormônios vegetais.
Qual a função do fósforo (P) no cafeeiro?
Apesar de ser um nutriente exigido em menor quantidade pelo cafeeiro, sua importância no processo de enchimento de frutos é ampla.
Atua na transferência de energia como componente dos fosfatos de adenosina (ATP) e na transferência de carboidratos entre organelas nas células foliares.
Facilita o transporte de precursores de glicose, especificamente trioses fosfato, do cloroplasto para o citoplasma, onde são posteriormente convertidos em sacarose.
Qual a função do potássio (K+) no cafeeiro?
O potássio estimula o desenvolvimento de raiz, ativa diversas enzimas, promove a resistência às doenças, pragas, seca e frio.
O K+ é um nutriente essencial no transporte de fotoassimilados de órgãos fontes para órgãos dreno. Este elemento é amplamente reconhecido pelos produtores por sua importância no enchimento de frutos.
Além disso, o K+ atua na síntese de ATP e na absorção e transporte de sacarose. Como principal cátion presente no floema, variações em sua concentração podem afetar significativamente o funcionamento deste tecido.
Qual a função do magnésio (Mg) no cafeeiro?
O Mg ocupa o centro da molécula de clorofila, que é essencial para a fotossíntese e apresenta efeito sinérgico na absorção de P.
A presença deste nutriente é fundamental para o fluxo de sacarose no floema, a fixação e assimilação de CO2, bem como para a translocação e partição de fotoassimilados no floema.
Devido a esses efeitos essenciais, ele é considerado um dos nutrientes mais importantes na mitigação da escaldadura.
Qual a função do ferro (Fe) no cafeeiro?
As propriedades químicas do ferro (Fe), especialmente sua capacidade de alternar entre os estados reduzido (Fe²⁺) e oxidado (Fe³⁺) em reações redox reversíveis, tornam esse elemento essencial.
Principalmente em reações de transferência de elétrons em diversos processos biológicos cruciais, como fotossíntese, respiração e síntese de clorofila.
Qual a função do boro (B) no cafeeiro?
O B tem um papel importante na floração do cafeeiro.
Durante o processo de fecundação, o B desempenha um papel indireto, influenciando a integridade da parede e da membrana celular do tubo polínico.
Qual a função do zinco (Zn) no cafeeiro?
O Zn desempenha um papel fundamental na síntese do triptofano, um aminoácido que serve como precursor do ácido indolacético (AIA), uma auxina endógena.
O Zn é importante para tolerância a estresses ambientais, apoiando a biossíntese e função das proteínas, bem como a expressão e regulação de genes envolvidos na defesa das plantas.
Qual a função do manganês (Mn) no cafeeiro?
É um micronutriente essencial com muitos papeis funcionais no metabolismo das plantas.
Isso devido ao seu comportamento redox único, quando utilizado como cofator metabólico em reações catalisadas por enzimas.
Quais os sintomas de deficiência nutricional no cafeeiro?
Agora que você já sabe o que é deficiência, como acontecem e a função dos principais nutrientes, veja como identificar os sintomas de deficiência a campo.
A Figura 1 ilustra os principais sintomas de deficiências nutricionais no cafeeiro.
A folha é frequentemente utilizada como órgão de comparação, pois reflete de maneira mais precisa o estado nutricional da planta.
Isso ocorre porque os principais processos metabólicos do vegetal acontecem nas folhas, tornando-as os órgãos mais sensíveis às variações nutricionais.
A diagnose visual é um método que envolve a comparação da coloração, tamanho e forma de uma amostra vegetal (planta, ramos e folhas) com uma amostra padrão, cujo aspecto visual representa o equilíbrio nutricional da espécie (Figura 1).
E como prevenir deficiência nutricional no cafeeiro?
Agora que você já sabe o que é deficiência nutricional, vamos entender como prevenir sua lavoura.
A prevenção, através de adubações fundamentadas em análises químicas, é a estratégia mais eficaz para assegurar altas produtividades.
Nesse contexto, as análises de solo e de tecido foliar são ferramentas essenciais para avaliar a fertilidade do solo e o estado nutricional das plantas.
É importante destacar que essas análises são complementares e não substitutivas.
Um solo pode apresentar alta fertilidade, mas ainda assim, as plantas podem estar em um estado nutricional desequilibrado.
Quando realizar a análise de solo e do tecido foliar?
Para evitar que seu cafezal apresente sintomas de deficiência é importe realizar análise de solo e foliar periodicamente, além de aplicar fertilizantes de forma adequada e equilibrada às necessidades da planta.
Análise de solo
A análise de solo deve ser realizada anualmente, na profundidade de 0-20 cm, com pelo menos uma coleta a cada 2 anos nas camadas de 20-40 cm.
Para garantir a representatividade das coletas, é necessário realizar a amostragem em pelo menos 15 pontos distintos dentro do talhão, de modo que esses pontos sejam representativos da área em questão.
A partir dessas coletas, obtém-se uma amostra composta, que será enviada ao laboratório para análise. Essas análises permitiram observar tanto em superfície, como em subsuperfície a concentração dos nutrientes e sua lixiviação no sistema produtivo.
Análise do tecido foliar
A análise foliar é uma ferramenta para ajustar a dose de nutriente. Para realizar o diagnóstico através da análise foliar, o momento da coleta deve ser quando o fruto está na fase chumbinho, o que ocorre entre novembro e meados de janeiro (Figura 2).
Teores de nutrientes para interpretação da análise foliar e de solo
Agora que você já sabe identificar a deficiência nutricional a campo, realizar a coleta de solo e foliar para o diagnóstico da lavoura, aprenda a interpretar esses valores.
Abaixo está uma tabela com os valores de referência para interpretação (Tabela 1). Lembrando, uma análise não substitui a outra, elas são apenas complementares.
Tabela 1. Valores de referência para interpretação da análise foliar e de solo
Nutrientes | Teor foliar | Teor no solo | ||||
Baixo | adequado | Alto | Baixo | adequado | Alto | |
Macros | g/kg | cmolc/dm3 | ||||
Nitrogênio | <25 | 25-30 | >30 | – | – | – |
Fósforo | <1,2 | 1,2-2 | >2 | <15 | 15-40 | >40 |
Potássio | <20 | 20-30 | >30 | <0,15 | 0,15-0,3 | >0,3 |
Magnésio | <3 | 3-5 | >5 | <0,5 | 0,5-0,9 | >0,9 |
Micros | mg/kg | mg/dm3 | ||||
Boro | <60 | 60-100 | >100 | <0,6 | 0,6-1 | >1 |
Ferro | <50 | 50-200 | >200 | – | – | – |
Manganês | <50 | 50-200 | >200 | <3 | 3-6 | <6 |
Zinco | <20 | 20-40 | >40 | <5 | 5-10 | >10 |
Para recomendação de doses, fonte e modo de aplicação do nutriente é importante consultar um profissional capacitado.
Antes de realizar a adubação é sempre importante conferir se há ou não a necessidade de realizar calagem, uma vez que a acidez do solo é fator que limita a disponibilidade dos nutrientes para as plantas.
Fatores determinantes para o manejo nutricional: novo método de adubação para o café
O cafeeiro possui dois drenos simultâneos: os frutos (Figura 3A) e a vegetação: caule, ramos e folhas (Figura 3B).
É essencial considerar ambos ao realizar o manejo nutricional, como sugere o novo método de adubação desenvolvido por Sousa e Favarin (2023).
Quer aprender como funciona esse novo método de adubação? Muito bem, agora iremos aprender a calcular a dose com base nas equações (1, 2 e 3) abaixo:
em que:
L: litros; FR: frutos; 500 L FR / sacas: corresponde a quantidade média de frutos para produzir uma saca de café beneficiado; i: concentração no nutriente Z e VE: vegetação.
A quantidade de nutrientes acumulada no fruto e na vegetação, irá variar de acordo com a idade do cafeeiro, com a fenologia e em razão da carga de frutos.
Na figura 4A, podemos ver o acúmulo de NPK em uma lavoura de primeira safra, com alta carga de frutos, e na figura 4B, com baixa carga de frutos, essas variações são evidentes.
Conclusão
Neste artigo você aprendeu como monitorar e corrigir deficiências nutricionais no cafeeiro. Você entendeu que a quantidade de nutrientes acumulada no fruto e na vegetação varia conforme a idade da planta, a fenologia e a carga de frutos.
A identificação de deficiências, através de diagnósticos visuais e análises de solo e tecido foliar, é essencial para um manejo nutricional eficaz.
A tabela de valores de referência permite uma interpretação clara dos teores de nutrientes, facilitando a tomada de decisões sobre adubação e correção de solo.
A prevenção de deficiências nutricionais deve ser uma prioridade, com recomendações para a realização de análises periódicas e a aplicação equilibrada de fertilizantes.
Assim, um manejo nutricional do cafeeiro bem estruturado não apenas assegura a produtividade, mas também contribui para a qualidade do café produzido, promovendo a sustentabilidade e a rentabilidade do sistema de cultivo.
Esperamos que este artigo tenha sido útil e informativo para você!
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QUAGGIO, J.A. et al. Recomendações para calagem e adubação de café. Campinas: IAC, 2018. (IAC. Boletim Técnico, 100). Caderno do participante, p. 1-18. 1º Simpósio sobre os avanços na nutrição de citros e café, 2018, Campinas.
SOUZA, L.T. DE; FAVARIN, J.L. Biomass partition and nutrient demand of coffee in different conditions and fertilization according to nutrient demand from simultaneous sinks – fruits and vegetative growth. 2023. 60 p. (Doutorado em Fitotecnia) – USP, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”. Piracicaba, SP, 2023. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/11/11136/tde-13022023-165109/pt-br.php. Acesso em: 06 Ago. 2024.
Sobre o autor:
João Paulo Marim Sebim
Doutorando em fitotecnia (ESALQ/USP)
- Mestre em Produção Vegetal (UFAC)
- Engenheiro Agrônomo (UFAC)