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Milho Ardido: 5 principais fungos, prejuízos e prevenção

Os grãos de milho ardido são resultantes da incidência de fungos que causam as podridões da espiga. A presença de grãos de milho ardido não apenas reduz o peso e a qualidade dos grãos, mas também pode representar riscos à saúde humana e animal quando o milho é colonizado por fungos que produzem toxinas (micotoxinas).

Atualizado: 20/07/2023

Milho ardido e suas causas

Grãos de milho ardido são aqueles com descoloração, em ao menos 25% de sua superfície, podendo ser de matiz que varia de marrom a roxo (Figura 1A) ou de vermelho claro a vermelho intenso (Figura 1B) (Pinto, 2005). Estes grãos sofreram o ataque de fungos e, além do aspecto depreciado e grande chance de conterem micotoxinas, têm menor peso que os grãos sadios.

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Figura 1. Grãos de milho ardido pelo ataque dos fungos Diplodia maydis (a) e Fusarium verticillioides (b). Fonte: Pinto, 2005.

Existem cinco tipos principais de podridões que ocorrem na espiga, todas elas podem resultar em grãos de milho ardido. Listamos seus agentes causais e características de cada uma delas:

Milho ardido causado por Diplodia spp.

A podridão de Diplodia (ou Stenocarpella), chamada de podridão branca,é favorecida em regiões de altitude elevada e pela ocorrência de períodos chuvosos a partir de R1 (CPN, 2016). Seus sintomas normalmente se iniciam na base da espiga, o fungo se desenvolve entre os grãos e o seu micélio (estrutura vegetativa) pode ser observado entre os grãos (Figura 2a), pode ocorrer ainda a formação de pequenos pontos pretos, que correspondem a uma estrutura reprodutiva do fungo (picnídios), sobre o micélio (Figura 2b) (Pereira et al., 2005).

A infecção no estádio de grãos leitosos pode levar ao apodrecimento completo da espiga, enquanto infecções mais tardias resultam em podridões menores (Pereira et al., 2005). O atraso na colheita sob condições de elevada umidade permite o avanço da podridão, aumentando as perdas (CPN, 2016). O fungo sobrevive em restos culturais de milho (Trento et al., 2002).

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Figura 2. Micélio branco característico de Diplodia sp. crescendo entre grãos de milho ardido (a), picnídios de Diplodia sp. em corte transversal de espiga (b). Fonte: Crop Protection Network, 2016.

Fusarium verticillioides

A podridão rosada da espiga é causada por Fusarium verticillioides (antes chamado F. moniliforme, chamado em sua fase sexuada de Gibberella fujikuroi). A doença pode se iniciar em qualquer parte da espiga, mas sempre está associada a alguma injúria pré-existente (que é um ferimento de qualquer origem, causado por insetos ou pássaros, por exemplo). Grãos infectados apresentam estrias brancas típicas, que podem se tornar róseas se a doença progredir (Figura 3A) (Pereira et al., 2005).

Com o desenvolvimento da doença, o micélio cotonoso branco a rosado do fungo cobre os grãos infectados, que podem estar isolados ou em grupos (Figura 3B) (Pereira et al., 2005; Pinto, 2005). O patógeno produz toxinas chamadas vomitoxina e fumonisinas, que são prejudiciais à saúde animal e humana (Pinto, 2005). O fungo sobrevive em restos culturais de milho (Pinto, 2005).

Figura 3. Sintomas típicos da infecção do milho por Fusarium verticillioides: estrias brancas na superfície de grãos de milho (A), grãos cobertos por micélio branco a róseo (B). Fonte: Pestana, J., 2021.

Fusarium graminearum

A podridão rosada da ponta da espiga é causada pelo fungo Fusarium graminearum (ou Gibberella zeae). Os sintomas de apodrecimento da espiga com o crescimento do fungo começam na ponta da espiga (Figura 4a), progredindo em direção à base (Figura 4b). As estruturas do fungo, de cor rósea a marrom-avermelhada podem ser facilmente observadas. É comum que a palha fique aderida à espiga devido ao crescimento do fungo entre elas (Pereira et al., 2005).

As toxinas produzidas por este patógeno são zearalenona e vomitoxina, que constituem um problema sério quando ingeridas principalmente por suínos (CPN, 2016). Assim como F. verticillioides, F. graminearum sobrevive em restos culturais de milho (Trento et al., 2002) e resultam em milho ardido.

Figura 4. Espigas de milho com sintomas de podridão rosada da ponta da espiga no início da infecção (A) e em estádio mais avançado da infecção (B) resultando em milho ardido. Fonte: Dragich; Nelson, 2014.

 

Aspergillus spp.

As espécies de Aspergillus produzem toxinas chamadas aflatoxina e ocratoxina, perigosas quando ingeridas tanto por pessoas como por animais e provocam o desenvolvimento de milho ardido. O fungo sobrevive no solo e em restos culturais e tem a infecção favorecida quando ocorrem altas temperaturas e seca na época de pré-florescimento (Costa, 2018). Plantas de milho com injúrias e submetidas a estresses, como seca e desbalanço nutricional, são infectadas mais facilmente (CPN, 2016).

Grãos infectados podem apresentar um escurecimento na região do embrião, chamado de “olho-azul do milho” (Figura 6B) (Woloshuk; Maier, 1994). Grãos sem ferimentos ou sem estruturas do fungo visíveis ainda podem conter toxinas produzidas pelo patógeno. Os esporos do fungo possuem cor verde-oliva (Figura 5) e podem se dispersar facilmente. O atraso na colheita pode agravar a deterioração de grãos e levar a um aumento dos teores de aflatoxina presentes (CPN, 2016).

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Figura 5. Esporos de Aspergillus spp. em espigas de milho na ponta da espiga (A), na base da espiga (B) e em diferentes partes da espiga (C). Fontes: Crop Protection Network, 2016 (A e B); Schmale III; Munkvold (C).

Penicillium spp.

A doença é favorecida por períodos chuvosos após o florescimento. O crescimento do fungo é visível com a formação de estruturas do fungo de cor verde-azulada entre os grãos e na superfície do sabugo; o fungo também pode causar o sintoma conhecido como “olho-azul” e estrias brancas superficiais nos grãos (Woloshuk; Maier, 1994; Pereira et al., 2005).

Figura 6. Espiga de milho infectada por Penicillium spp. (A) e sintoma de “olho-azul” em grãos de milho, que pode ser decorrente da infecção por Penicillium spp. ou Aspergillus spp. Fontes: Allen, T. (A); Woloshuk (B).

Como evitar os grãos de milho ardido

O manejo das doenças que provocam os grãos de milho ardido deve levar em consideração que os patógenos que as causam sobrevivem em restos culturais de milho, deste modo, sempre que possível, deve-se realizar a rotação de culturas.

Quando não é possível a rotação (que alterna cultivos diferentes entre anos consecutivos), deve-se realizar no mínimo a sucessão de culturas (que alterna culturas diferentes, uma após o término do ciclo da outra). Um maior adensamento da lavoura (menor espaçamento entre plantas) também deve ser evitado, pois aumenta as perdas decorrentes destas doenças (Trento et al., 2002).

Para as podridões da espiga causadas por Fusarium spp. e Diplodia spp., pode-se optar por cultivares com grãos mais resistentes a estas doenças (Pinto, 2005). Híbridos com resistência a insetos também podem ser adotados para evitar os grãos de milho ardidos, já que deste modo diminuímos a ocorrência de ferimentos que antecede a infecção por alguns destes fungos (CPN, 2016). É importante também que se procure evitar o estresse das plantas, que as torna mais suscetíveis ao ataque de patógenos.

Embora nos cultivos de sequeiro seja mais difícil evitar estresses decorrentes da seca, a realização de calagem e gessagem de forma correta, bem como uma adubação equilibrada, permitirão um bom desenvolvimento do sistema radicular das plantas, atenuando o estresse em períodos de seca.

Por fim, as perdas decorrentes de grãos de milho ardidos podem ser reduzidas quando o produtor se organiza e evita atrasos nas colheitas sempre que possível, pois sob condições ambientais favoráveis, tais atrasos resultam no aumento da severidade destas doenças e em perdas ainda maiores de peso e qualidade dos grãos. Uma estratégia que pode ser adotada para minimizar as perdas consiste em colher primeiro o milho das áreas infectadas, mesmo que seja necessário o posterior uso de secador (CPN, 2016).

A soja também sofre com inúmeras avarias nos grãos, incluindo grãos ardidos.

 

Referências

ALLEN, T. Penicillium ear rot of corn (Imagem). Disponível em: <https://cropprotectionnetwork.org/resources/articles/diseases/penicillium-ear-rot-of-corn> Acesso em 17/04/2021.

COSTA, R. V. Evento técnico vai discutir micotoxina em milho. Embrapa milho e sorgo, 2018. Disponível em: <https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/38867599/evento-tecnico-vai-discutir-micotoxina-em-milho> Acesso em 17/04/2021.

CROP PROTECTION NETWORK. Corn disease management – Ear rots, 2016. Disponível em: <https://crop-protection-network.s3.amazonaws.com/publications/cpn-2001-ear-rots.pdf> Acesso em 17/04/2021.

DRAGICH, M; NELSON, S. Gibberella and Fusarium Ear Rots of Maize in Hawai‘i . 2014. Disponível em: <https://www.ctahr.hawaii.edu/oc/freepubs/pdf/PD-102.pdf> Acesso em 17/04/2021.

PEREIRA, O.A.P.; CARVALHO, R.V.; CAMARGO, L.E.A. Doenças do milho. In: KIMATI, H.; AMORIM, L.; REZENDE, J. A. M; FILHO, A. B.; CAMARGO, L .E. A. Manual de fitopatologia: doenças das plantas cultivadas. 4. ed. São Paulo: Ceres, 2005. cap. 55, p. 477-488.

PESTANA, J. Sintomas típicos da infecção do milho por Fusarium (Imagem). Disponível em: <https://sementesbiomatrix.com.br/blog/fitossanitario/manejo-de-doencas/graos-ardidos-em-milho/> Acesso em 17/04/2021.

PINTO, N.F.J.A. Grãos ardidos em milho. Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo, 2005, 6p. (Circular Técnica, 66). Disponível em: <https://docsagencia.cnptia.embrapa.br/milho/Circular66_Graos_ardidos_em_milho.pdf> Acesso em 17/04/2021.

SCHMALE III, D.G.; MUNKVOLD, G.P. Mycotoxins in Crops: A Threat to Human and Domestic Animal Health (Figura).  Disponível em: <https://www.apsnet.org/edcenter/disimpactmngmnt/topc/Mycotoxins/Pages/Aflatoxins.aspx> Acesso em 17/04/2021.

TRENTO, SIMONE M.; IRGANG, HELBER H.; REIS, ERLEI M.. Efeito da rotação de culturas, da monocultura e da densidade de plantas na incidência de grãos ardidos em milho.Fitopatol. bras.,  v. 27, n. 6, p. 609-613,  2002.

WOLOSHUK, C.P. “Olho-azul” do milho (Imagem) Disponível em: <https://www.extension.purdue.edu/extmedia/bp/bp-49.html> Acesso em 17/04/2021.

WOLOSHUK, C.P.; MAIER, D.E. Blue Eye In Corn, 1994. Disponível em: <https://www.extension.purdue.edu/extmedia/GQ/GQ-18.pdf> Acesso em 17/04/2021.

Esse texto é opinião do autor e não reflete, necessariamente, a posição da Agroadvance.

Sobre a autora:


Atualizado por: Beatriz Nastaro Boschiero (Chefe-editorial Agroadvance)

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