Os “solos argilosos” são conhecidos por sua textura fina, elevada densidade (chamados de solos pesados), alta capacidade de retenção de água e nutrientes e baixa permeabilidade, características que os tornam distintos no manejo agrícola.
Com uma alta proporção de partículas de argila e silte, esses solos apresentam uma estrutura que pode ser tanto uma vantagem quanto um desafio para os agricultores.
A elevada capacidade de troca catiônica (CTC) dos solos argilosos facilita a retenção de água e de nutrientes essenciais, mas sua tendência a se compactar em condições úmidas e formar torrões duros em condições secas, exige um manejo cuidadoso para garantir a produtividade das culturas.
Compreender as características e as melhores práticas de manejo do solo argiloso é fundamental para otimizar o seu uso na agricultura.
Confira neste artigo o que são solos argilosos, quais suas características e quais são os manejos agrícolas mais adequados para este tipo de solo!
Classificação textural dos solos
O solo é composto por minerais (45%), matéria orgânica (~5%), ar (25-30%) e água (25-30%). A fração mineral se constitui por partículas de areia, silte e argila.
A proporção relativa que o solo possui de areia, silte e argila irá compor a classe textural do solo. As três principais são: solos arenosos, francos (também chamados de solos de textura média) e solos argilosos, mas elas se subdividem em 13 classes texturais, conforme indicado na Figura 1.
E o que é um solo argiloso? Trataremos aqui neste artigo tanto os solos de textura muito argilosa (solos com conteúdo de argila entre 35% a 60%), quanto argilosa (solos com conteúdo de argila maior que 60%). Ambos se enquadram na categoria de “solo argiloso”.
A textura do solo pode ser determinada com precisão em laboratório (análise mecânica para estabelecer a distribuição do tamanho das partículas), mas também pode ser avaliada na prática, manualmente, no campo.
A texturização manual no campo é uma técnica muito rápida e simples. Com prática, pode ser um método razoavelmente preciso de análise. Ela utiliza as diferenças na sensação e nas propriedades de ligação do solo úmido para diferenciar entre as classes texturais.
Para realizar a análise a campo é preciso amassar (ou “trabalhar”) bem uma amostra úmida de solo, do tamanho de um limão, até formar uma massa com consistência uniforme. O solo deve estar úmido, mas não lamacento. Depois da amostra estar “no ponto” é possível avaliar a maleabilidade, a pegajosidade e a plasticidade do solo. As principais características dos solos dominados pelas três frações minerais finas são as seguintes:
- Arenosos: Sentem-se ásperos e granulosos. Não se ligam e são moldados com dificuldade.
- Siltosos: Sentem-se suaves e sedosos. Ligam-se e podem ser moldados em uma bola de solo que é facilmente deformada.
- Argilosos: Sentem-se pegajosos. Ligam-se e podem ser moldados para formar uma bola de solo forte que pode ser polida.
Todos os solos possuem os três tipos de partículas (areia, silte e argila), mas a predominante resultará nas características mencionadas acima.
Os solos podem ser classificados e agrupados de várias maneiras, mas a textura, em particular, tem efeito importante nas operações agrícolas práticas e no manejo.
O que é solo argiloso?
Solo argiloso é aquele que se enquadra nas classes texturais de muito argiloso ou argiloso. Os solos muito argilosos contêm uma alta proporção de material argiloso e silte, geralmente mais de 60%, sendo que pelo menos metade é pura argila. Por outro lado, os solos argilosos, contêm de 35 a 60% de argila em sua constituição.
De forma geral, podemos dizer então, que solo argiloso é aquele que contém 35% ou mais de argila na constituição da fração mineral do solo.
A argila tem uma alta CTC (capacidade de troca catiônica), o que significa que pode reter nutrientes como cálcio, magnésio e potássio.
A argila pode se agrupar em pequenos aglomerados (flocular) ou se dispersar (deflocular). A floculação, especialmente quando a argila está associada ao cálcio, facilita o trabalho do solo, enquanto a defloculação pode ocorrer quando o solo é inundado ou trabalhado quando molhado, resultando em formação de torrões duros.
Características do solo argiloso
- Solos argilosos são muito pegajosos e rolam como massinha de modelar quando estão úmidos.
- Eles podem reter mais água total do que a maioria dos outros tipos de solo e, embora apenas cerca de metade dessa água esteja disponível para as plantas, as culturas raramente sofrem de seca.
- Eles ficam encharcados, o que pode favorecer a compactação do solo. Práticas agrícolas que envolvam o pisoteio por máquinas devem ser evitadas quando o solo está úmido.
- No inverno eles demoram muito para aquecer porque a água aquece mais lentamente do que a matéria mineral.
- Eles são normalmente bastante ricos em potássio, mas são deficientes em fosfatos.
- Os solos argilosos geralmente precisam de grandes doses de calcário, aplicadas de forma menos frequente quando comparado com solos arenosos.
Alguns livros didáticos frequentemente retratam os “solos argilosos” como sendo impermeáveis, duros e pegajosos, e geralmente encontrados em áreas com excesso de água. Muitas dessas descrições podem ter sido adaptadas de publicações de regiões temperadas, cujos solos têm características muito diferentes dos encontrados no Brasil.
Essas descrições são mais apropriadas para solos que são compactados, mal estruturados ou compostos por argilas expansivas (que se expandem ao absorver água e se contraem ao secar).
Contudo, a maioria dos solos argilosos no Brasil é bem estruturada e, mesmo aqueles com altos teores de argila (60% ou mais), não são extremamente duros quando secos ou completamente impermeáveis.
Em geral, os solos argilosos no Brasil apresentam boa drenagem, permitindo a passagem da água, embora haja algumas exceções em áreas de várzea, onde podem ocorrer problemas de drenagem.
Além disso, é importante distinguir entre textura do solo (a proporção de partículas de diferentes tamanhos, como areia, silte e argila) e consistência do solo (características como dureza, friabilidade, plasticidade e pegajosidade). Não há uma relação direta entre a textura do solo e sua consistência.
Tipos de solo argiloso: 5 principais classes de solo que podem apresentar textura argilosa
Como já mencionado, a classificação do solo por textura é uma abordagem útil para o planejamento das operações agrícolas práticas e de manejo, oferecendo uma forma mais “prática” de avaliar o solo a campo. No entanto, não é a única e nem principal forma de classificar o solo.
Tradicionalmente, a classificação do solo é feita com base em características gerais, como formação, propriedades e perfil. No Brasil, utiliza-se o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (SiBCS) proposto pela EMBRAPA, que organiza os solos em 13 classes principais e suas subcategorias, com base em suas características físicas e químicas.
Existe sim uma relação entre a textura do solo e as classes de solo brasileiras, pois a textura influencia na classificação. A distribuição das partículas de areia, silte e argila afetará as propriedades físicas, químicas e de manejo dos solos. Contudo, uma classe de solo (ex: latossolo) pode apresentar solos com diferentes texturas (textura média a textura argilosa ou muito argilosa).
Entre as 13 classes, as 5 principais que podem apresentar solos com textura argilosa ou muito argilosa, são: nitossolos, argissolos, latossolos, vertissolos e gleissolos (Figura 2).
Nitossolos:
O nitossolo é um exemplo de solo argiloso. Os nitossolos são solos com textura argilosa ou muito argilosa, bem estruturados e profundos. Na antiga classificação de solos brasileiros eram conhecidos por “terra roxa”.
A cor vermelha e a boa fertilidade são características marcantes dessa classe de solo.
As maiores áreas contíguas de nitossolos no Brasil se localizam nos estados do Sul. No entanto, no Estado de São Paulo, extensas áreas são encontradas nos planaltos basálticos que se estendem até o Rio Grande do Sul. A área de ocorrência no Brasil é de aproximadamente 1,5%.
Argissolos:
São solos que apresentam como característica a presença de horizonte B textural de argila, ou seja, solos com acúmulo de argila em subsuperfície.
Apesar da textura do horizonte A do solo poder variar de arenosa a argilosa, no horizonte B ela pode variar de média a muito argilosa, sempre havendo incremento de textura do horizonte A para o B.
Os Argissolos são de profundidade variável, desde forte a imperfeitamente drenados, de cores avermelhadas ou amareladas e mais raramente brunadas ou acinzentadas.
Esse tipo de solo pode ser encontrado em praticamente todas as regiões brasileiras em diversas condições de clima e relevo. Representam aproximadamente 24% da superfície do País. Em termos de extensão geográfica ocupam a segunda posição, depois dos Latossolos.
Latossolos
Os latossolos são solos profundos, altamente desenvolvidos e intemperizados (com baixa fertilidade natural) e sem incremento de argila ao longo do perfil.
O teor de argila dos latossolos pode variar entre 15% e 80%. Então, embora parte dos latossolos possa ter textura argilosa (entre 35% a 60% de argila) ou muito argilosa (>60% de argila), uma parte deles não possui!
São os solos mais representativos do Brasil, ocupando aproximadamente 39% da área total do país e distribuídos praticamente por todo o território nacional, nas regiões equatoriais e tropicais, onde ocorrem intensas atividades erosivas.
Vertissolo
São solos expansivos e com alta saturação por fases (solos bastante férteis).
Os Vertissolos normalmente apresentam textura argilosa ou muito argilosa, embora possam ser de textura média (com um conteúdo mínimo de argila de 300 g kg-1) nos horizontes superficiais.
Por apresentam argilas expansivas (do tipo 2:1) é comum apresentarem rachaduras e fendas quando secos.
São de coloração acinzentada ou preta e apresentam problemas de natureza física, como baixa permeabilidade, textura muito pesada e drenagem lenta.
Ocorrem, predominantemente, na zona seca do Nordeste, no Pantanal Mato-grossense, na Campanha Gaúcha e no Recôncavo Baiano, totalizando cerca de 2% da área do Brasil.
Gleissolos
Solos predominantemente argiloso e muito argiloso que passaram por processos de oxidação e redução em ambiente saturado por água, mal ou muito mal drenados (hidromórficos).
Geralmente estão associados ao material sedimentar recente nas proximidades de cursos d’água.
São encontrados em áreas que apresentam restrição de drenagem, como nas proximidades dos cursos d’água, várzeas e baixadas. Estão presentes na planície amazônica, nos estados de Goiás, Tocantins, Rio de Janeiro e São Paulo e às margens das lagoas dos Patos, Mirim e Mangueira no Rio Grande do Sul, ocupando cerca de 4% da área do Brasil.
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É importante notar que, mesmo dentro dessas classes, a textura argilosa nem sempre está presente em todos os solos. As propriedades do solo podem variar significativamente devido a fatores como formação, condições locais e processos de evolução do perfil.
Portanto, embora essas classes possam incluir solos argilosos, a textura real pode diferir, e a textura do solo deve ser verificada para um entendimento completo das suas características e potencial de uso.
Peculiaridades no manejo do solo argiloso
Sabendo das características dos solos argilosos é possível planejar e programar o manejo do solo para solucionar ou amenizar os principais fatores limitantes desse tipo solo para o cultivo agrícola. Assim, algumas peculiaridades de manejos importantes para os solos argilosos são:
Técnicas de Cultivo Mínimo e Rotação de Culturas
Os solos argilosos são frequentemente chamados de pesados porque, para arar e realizar os cultivos subsequentes, em comparação com solos leves (arenosos), pode ser necessário de duas a quatro vezes mais potência do trator.
Todas as operações de cultivo devem ser realizadas em momentos muito bem planejados (geralmente restritos a um período mais curto do que em outros tipos de solo) para que a estrutura do solo não seja danificada.
A compactação do solo afeta drasticamente a distribuição de água no perfil, aumentando as chances de erosão, como o Professor Maurício Cherubin, da ESALQ/USP, explica e mostra didaticamente neste vídeo:
Cultivos mínimos ou plantio direto são frequentemente utilizados para o estabelecimento de culturas e muitas fazendas apenas aram de forma rotacional. Manter o solo coberto com palhada ou plantas de cobertura reduz tanto a erosão como a compactação e ajuda a conservar a umidade do solo.
Encharcamento e compactação do solo
O encharcamento pode ser um problema importante em solos argilosos, e uma boa drenagem é necessária para o cultivo de culturas aráveis. Por isso é sempre importante utilizar curvas de nível na área, já que esses solos são propícios à erosão.
Um cuidado especial deve ser adotado quando forem utilizados máquinas e equipamento agrícolas em solos argilosos quando úmidos, pois essa ação favorece a compactação do solo.
Aumentar o teor de matéria orgânica do solo, com práticas como incorporação da palhada, uso de plantas de cobertura, utilização de compostagem tornam esses solos mais fáceis de trabalhar.
Práticas de correção do solo e adubação
Como a CTC do solo argiloso é alta, é possível utilizar altas doses de calcário e de fertilizantes na adubação, já que o solo tem “caixa” para reter esses nutrientes e evitar que eles sejam lixiviados. Isso pode fazer com a frequência de calagem seja menor comparada a um solo arenoso.
Além disso, como os solos argilosos normalmente são profundos, pode ser interessante a utilização do gesso agrícola, para a construção de um perfil do solo fértil e que favoreça a produtividade das culturas.
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FINCH, H.J.S.; SAMUEL, A.M.; LANE, G.P.F. Soils and soil management.Lockhart & Wiseman’s Crop Husbandry Including Grassland, p. 37–62. 2014. doi:10.1533/9781782423928.1.37.
LIMA, M.R. Principais classes de solos do Brasil. Universidade Federal do Paraná. Disponível em: http://www.mrlima.agrarias.ufpr.br/SEB/arquivos/solos_brasil.pdf. Acesso: 16 Ago. 2024.
STEINBECK, J. Arquitetura e propriedades físicas do solo. In: BRADY, N.C.; WEIL, R.R. (eds). Elementos da natureza e propriedades dos solos. Porto Alegre: Bookman. 2013. pp. 106-145.
Sobre a autora:
Beatriz Nastaro Boschiero
Especialista em MKT de Conteúdo na Agroadvance
- Pós-doutora pelo CTBE/CNPEM e CENA/USP
- Mestra e Doutora em Solos e Nutrição de Plantas (ESALQ/USP)
- Engenheira Agrônoma (UNESP/Botucatu)
Como citar este artigo:
BOSCHIERO, B.N. Solo argiloso: quais são as características e o que muda no manejo? Blog Agroadvance. 2024. Disponível em: <https://agroadvance.com.br/blog-solo-argiloso-caracteristicas-e-manejo/. Data de acesso: xx Xxx. 20xx.