O “solo arenoso” é um tipo de solo comum em muitas regiões do Brasil, caracterizados pela grande quantidade de areia em sua textura em detrimento à silte e argila.
Eles são caracterizados por sua textura granulada, baixa capacidade de retenção de água e nutrientes, e alta permeabilidade.
Essas características podem tornar o cultivo nos solos arenosos um desafio para os agricultores, mas também oferecem algumas vantagens.
Confira neste artigo o que são solos arenosos, quais suas características e quais são os manejos agrícolas mais adequados para este tipo de solo!
Entendendo a classificação textural do solo
O solo é composto de partículas individuais de tamanhos variados (Figura 1), que podem ser classificadas em:
Areia: Partículas com tamanho entre 0,05 mm e 2 mm
- dão sensação de aspereza quando esfregada entre os dedos.
- São visíveis a olho nú.
- Composta principalmente por quartzo e minerais silicatados (pouco ricos em nutrientes minerais)
Silte: Partículas com tamanho menores que 0,05 mm, porém maiores que 0,002 mm de diâmetro.
- dão sensação de sedosidade quando esfregada entre os dedos.
- Invisíveis a olho nú.
- Libera quantidade significativa de nutrientes às plantas
Argila: Partículas menores que 0,002 mm de diâmetro.
- Dão sensação de pegajosidade quando esfregada entre os dedos.
- Invisíveis a olho nú.
- Possui área superficial específica muito grande – confere a capacidade de absorver água e nutrientes.
Com base na textura do solo (proporção relativa que o solo possui de areia, silte e argila) criou-se as classes texturais dos solos.
Dentro da classificação textural existem três grupos principais de classes conhecidas, sendo estas: solos arenosos, francos (também chamados solos de textura média) e argilosos.
Ao todo, existem 13 classes texturais de solo, de acordo com a distribuição do tamanho das partículas (Figura 2). Estas classes fornecem uma ideia da distribuição do tamanho de partículas e indicam o comportamento das propriedades físicas do solo.
Com a determinação da textura do solo é possível obter uma estimativa indireta de diversos fatores dentre eles: a dinâmica da água, resistência do solo a penetração, grau de compactação do solo, capacidade de troca de cátions, dosagem de nutrientes, corretivos e de herbicidas.
A textura do solo não está sujeita a mudanças de classe, sendo uma característica intrínseca do solo, podendo assim ser somente afetada quando ocorrer à mistura com solos de texturas diferentes.
O que é solo arenoso?
Solo arenoso é aquele que se enquadra nas classes texturais de areia e areia franca (Figura 2), ou seja, são solos que contém grande quantidade de areia (70% ou mais) e pouca quantidade de argila (15% ou menos) em sua composição.
Grande parte dos solos arenosos brasileiros se localiza em áreas como o Cerrado, Caatinga, e em algumas regiões litorâneas.
Quais as características do solo arenoso?
Como comentamos previamente, a textura do solo irá influenciar de várias formas em muitas outras propriedades dos solos (Tabela 1), em razão dos fenômenos que acontecem na superfície das partículas, como: adsorção de películas de água com nutrientes (solução do solo) e substâncias químicas, intemperismo dos minerais e desenvolvimento de microrganismos.
Assim, sabendo a classe textural do solo é possível inferir sobre algumas de suas caraterísticas.
Tabela 1. Influência das frações do solo sobre algumas das suas propriedades e comportamentos dos solos.
Classificação das propriedades associadas às frações do solo | |||
Propriedade / Comportamento | Areia | Silte | Argila |
Capacidade de retenção de água | Baixa | Média a alta | Alta |
Aeração | Boa | Média | Pouca |
Taxa de drenagem | Alta | Lenta a média | Muito lenta |
Teor de matéria orgânica no solo | Baixo | Médio a alto | Alto a médio |
Decomposição da matéria orgânica | Rápida | Média | Lenta |
Aquecimento na primavera | Rápido | Moderado | Lento |
Susceptibilidade a compactação | Baixa | Média | Alta |
Susceptibilidade à erosão eólica | Moderada (alta se a areia for fina) | Alta | Baixa |
Suscetibilidade à erosão hídrica | Baixa (a menos que a areia seja fina) | Alta | Baixa, se agregado; baixa quando não |
Aptidão para o cultivo logo após a chuva | Boa | Moderada | Restrita |
Capacidade de armazenamento de nutrientes | Pouca | Média a alta | Alta |
Resistência à mudança de pH | Baixa | Média | Alta |
Em função da predominância de partículas de areia na fração mineral (em detrimento à silte e argila), o solo arenoso apresenta algumas características como:
- Textura granulada: devido à predominância de partículas de areia – o que afeta a capacidade do solo em reter água e nutrientes;
- Boa drenagem: Como a areia possui maior granulometria do que o silte e a argila há mais espaço livre para a passagem de água através do solo. Essa característica pode ser benéfica em algumas situações, mas também pode resultar em baixa capacidade de retenção de água.
- Boa aeração: Devido a granulação mais solta, os solos arenosos tendem a ter boa aeração, o que é benéfico ao desenvolvimento das raízes.
- Aquecimento rápido: Solos arenosos aquecem mais rapidamente do que solos mais argilosos, o que pode ser uma vantagem em regiões mais frias.
- Baixa fertilidade natural: o solo arenoso geralmente possui baixa fertilidade natural, uma vez que as partículas de areia possuem baixa capacidade de retenção de nutrientes.
- Baixa capacidade de retenção de água e nutrientes: a água escorre mais rápido e fica menos retida e os nutrientes ficam menos retidos devido à menor capacidade de troca de cátions (CTC) que é muito maior nas partículas de argila (possui mais cargas negativas que retém os nutrientes). Esta é a maior limitação agrícola dos solos arenosos e que precisa ser manejada. Para contornar essa limitação, é importante adotar práticas de manejo que visem aumentar a matéria orgânica do solo e melhorar a capacidade de retenção de água e nutrientes.
Qual é o melhor manejo para um solo arenoso?
Sabendo das características dos solos arenosos é possível planejar e programar o manejo do solo para solucionar ou amenizar os principais fatores limitantes desse tipo solo para o cultivo agrícola.
É importante ter atenção para o manejo nutricional e conservacionista do solo. Assim, alguns manejos importantes para os solos arenosos são:
Plantio direto e adubação verde
O plantio direto contribui para a formação de uma cobertura vegetal que protege o solo contra a erosão, reduz a perda de água por evaporação e melhora a estrutura do solo ao longo do tempo.
Em conjunto com o plantio direto, a adubação verde surge como uma prática complementar essencial. Essa técnica envolve o cultivo de plantas que, quando incorporadas ao solo, adicionam matéria orgânica, nutrientes e melhoram a atividade biológica. As leguminosas, por exemplo, desempenham um papel crucial, fixando nitrogênio atmosférico e enriquecendo o solo com esse importante nutriente.
A presença contínua de resíduos vegetais na superfície do solo não apenas reduz a erosão, mas também cria um ambiente propício para a atividade microbiana, essencial para a decomposição da matéria orgânica. Além disso, a presença da palhada ajuda a reduzir o aquecimento da superfície do solo, comum quando o solo fica descoberto.
Dessa forma, o plantio direto e a adubação verde não apenas abordam questões de conservação do solo, mas também melhoram sua fertilidade e estrutura, contribuindo para o aumento da produtividade agrícola em áreas desafiadoras.
Adição de matéria orgânica
A adição de material orgânico ao solo arenoso ajudará na maior limitação desse tipo de solo: a retenção de água e nutrientes. Compostos orgânicos como esterco bovino, compostagem, entre outros, ajudam a melhorar a estrutura do solo, melhorando a retenção de água e nutrientes.
Manejo nutricional parcelado
Os solos arenosos são naturalmente pobres nutricionalmente e precisam de aporte de nutrientes. Porém um cuidado é necessário. Como possuem baixa CTC, esses solos exigem menores doses e maior frequência de aplicação de calcário e fertilizantes em comparação com solos com maior teor de argila.
O mesmo princípio se aplica ao risco aumentado de toxidez causada por altas doses de fertilizantes, especialmente aqueles com maior efeito salino, como cloreto de potássio, nitratos e boratos.
Devido à menor quantidade de cargas elétricas (menor CTC), os solos arenosos são mais suscetíveis à lixiviação de nutrientes minerais, especialmente aqueles altamente móveis no perfil do solo, como nitrogênio (N), potássio (K), enxofre (S), magnésio (Mg), boro (B) e molibdênio (Mo).
Esse maior potencial de perdas exige a aplicação fracionada de fertilizantes para reduzir perdas ao longo dos ciclos agrícolas, ou o uso de fertilizantes que liberem nutrientes de forma “inteligente”, de acordo com a demanda das culturas.
Irrigação eficiente
Devido à baixa capacidade de retenção de água, a agricultura de sequeiro (sem irrigação) em solos arenosos depende fortemente de um regime de chuvas previsível e bem distribuído, o que limita a adequação de certas regiões e culturas.
Para cultivos irrigados, utilizar sistemas de irrigação mais eficientes, como por gotejamento assegura que as plantas recebam a quantidade adequada de água, sem desperdício – uma vez que os solos arenosos possuem baixa capacidade de retenção de água.
É possível produzir soja em solos arenosos?
Com a escolha de variedades adequadas e um manejo nutricional e do solo adequados (com rotação de culturas que aportem palha e nutrientes ao sistema) é sim possível produzir soja com altas produtividades em solos arenosos.
Confira este vídeo sobre a produção de soja em solo arenosos do oeste baiano:
Conclusões
Compreender as particularidades do solo arenoso é fundamental para maximizar a produtividade agrícola. A textura do solo, determinada pela proporção de areia, silte e argila, influencia diretamente em suas propriedades físicas e comportamento.
Diante das características dos solos arenosos, estratégias de manejo nutricional e conservacionista se revelam essenciais. A adoção de práticas como plantio direto, adubação verde, adição de matéria orgânica, manejo nutricional parcelado e irrigação eficiente emerge como um conjunto eficaz para contornar desafios como a baixa retenção de água e nutrientes.
Assim, ao enfrentar as limitações do solo arenoso com abordagens sustentáveis, é possível não apenas superar obstáculos, mas também cultivar com sucesso, alcançando produtividades expressivas, como exemplificado na bem-sucedida produção de soja em solos arenosos no oeste baiano.
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Referências
STEINBECK, J. Arquitetura e propriedades físicas do solo. In: BRADY, N.C.; WEIL, R.R. (eds). Elementos da natureza e propriedades dos solos. Porto Alegre: Bookman. 2013. pp. 106-145.
Sobre a autora
Beatriz Nastaro Boschiero
Especialista em MKT de Conteúdo na Agroadvance
- Pós-doutora pelo CTBE/CNPEM e CENA/USP
- Mestra e Doutora em Solos e Nutrição de Plantas (ESALQ/USP)
- Engenheira Agrônoma (UNESP/Botucatu)