O solo possui um papel crucial no desenvolvimento das plantas. Compreender suas camadas e composições é um aspecto crucial na hora de traçar as estratégias de manejo.
Neste artigo iremos nos aprofundar um pouco mais nos 13 tipos de solo presentes em nosso país, e olhas para suas particularidades a fim de entender seus impactos sobre o manejo agrícola.
O que é solo? Do que ele é constituído?
Solo é a camada superficial da crosta terrestre que sustenta a vida vegetal. Ele é um recurso natural vital para a agricultura e ecossistemas, desempenhando um papel crucial na sustentação das plantas, no ciclo da água e na manutenção da biodiversidade.
O solo é formado por uma mistura complexa de minerais, matéria orgânica, água, ar e microrganismos. A combinação desses componentes confere ao solo suas propriedades físicas, químicas e biológicas.
A classificação do solo, em tipos de solos, é feita a partir dessas propriedades do solo (características morfológicos, físicas, químicas e mineralógicos do perfil do solo), como veremos a seguir.
As 5 Camadas do Solo
Primeiramente, é importante entender a constituição do solo, antes de nos aprofundarmos nos seus tipos. Mais do que uma plataforma física, o solo consiste em um ecossistema dinâmico com 5 camadas (horizontes), como pode-se observar na figura 1, em sua composição, cada qual com seu papel crucial para o desenvolvimento das plantas.
- Horizonte O (Orgânico): Este tipo de horizonte é caracterizado pela presença de matéria orgânica em decomposição, o que resulta no aumento da fertilidade do solo e na liberação de nutrientes essenciais. Estes aspectos contribuem para o enriquecimento do solo e o tornam propício para o cultivo de plantas. Este horizonte promove a capacidade do solo em reter água e é fundamental para melhorar sua estrutura.
- Horizonte A (Superficial): Consiste na camada mais próxima à superfície do solo e é rica em minerais e nutrientes essenciais para o desenvolvimento das plantas. O horizonte A é um local crucial para o crescimento radicular, onde ocorre absorção de água e nutrientes e é frequentemente associado à camada arável. A qualidade do solo neste horizonte é fator chave para determinar a capacidade produtiva da área.
- Horizonte E (Eluviação): Neste horizonte é onde ocorre o processo de eluviação, ou seja, o processo de remoção de minerais e nutrientes solúveis do solo, que é impulsionado, principalmente, pela água de chuva. Ademais, a eluviação pode causar impacto sobre a disponibilidade de nutrientes para as plantas.
- Horizonte B (Acúmulo): Local onde há o acúmulo de minerais lixiviados da camada superior (como o horizonte A), serve como indicador de processos de transformação e enriquecimento do solo. A análise desta camada fornece insights importantes a respeito da dinâmica de nutrientes no perfil do solo.
- Horizonte C (Rocha Desintegrada): Este horizonte é composto por fragmentos de rocha (pela desintegração física da rocha subjacente ao longo do tempo) e possui um material parente do solo. Influencia diretamente certas características do solo e determina sua textura e presença de certos minerais.
Entender sobre a composição das camadas do solo e suas respectivas interações é crucial para a eficiência das práticas agrícolas. Afinal, cada horizonte possui um papel específico na nutrição e desenvolvimento das plantas.
Se você se interessou em como construir um perfil de solo, quais práticas abordar, os desafios e benefícios dentre outros aspectos, leia o nosso artigo completo: O que é perfil do solo e como construir?
Classificação do solo pelo SiBCS da Embrapa
Um dos recursos mais importantes para a agricultura, sem dúvidas é o solo. A compreensão de sua classificação é um fator essencial para a adoção de práticas agrícolas sustentáveis.
O que é o SiBCS?
O SiBCS, ou Sistema Brasileiro de Classificação de Solos, foi desenvolvido pela Embrapa com o intuito de servir como um guia detalhado para facilitar a categorização (através de critérios como textura, cor, estrutura etc.) e a compreensão das características do solo.
Essa classificação promoveu uma padronização no vocabulário que facilitou a comunicação entre profissionais da área. Logo, se faz algo indispensável no desenvolvimento de estratégias de manejo assertivas.
Ou seja, pode-se dizer que os benefícios acerca desta classificação consistem na maior precisão no manejo (com uma compreensão mais precisa das características do solo), na comunicação eficiente (profissionais da área podem se comunicar de forma mais eficiente pelo vocabulário padronizado) e na promoção da sustentabilidade (aumento na adoção de práticas agrícolas, que zelam pela preservação da qualidade do solo devido a compreensão das particularidades de cada tipo de solo).
Os 13 Tipos de Solos do Brasil
O Brasil é um dos países com a maior extensão territorial do mundo, logo pode-se esperar que a variedade de solos que se encontra nele é ampla. De fato, pode-se observar 13 tipos de solo no país (ou ordens de solos), cada qual com suas características únicas.
Após as 13 ordens, essas são classificadas em subordens, grande grupo, sub grupo, família e série. Aqui ficaremos mais nas ordens dos solos (Figura 2).
A fim de explicar a respeito de cada tipo, listamos os 13 principais juntamente de suas principais características, manejo indicado e região predominante na tabela 1.
Tabela 1. Os 13 tipos de solo presentes no Brasil
Tipo de solo | Características principais | Aplicação Agrícola | Manejo Agrícola | Região predominante | Área no Brasil |
Argissolo | Teor elevado de argila nas camadas subsuperficiais, com uma paleta de cores que varia de tons acinzentados a avermelhados. Prevalecem argilas de baixa atividade, podendo apresentar características alíticas. | Alto potencial para uso agrícola. | Práticas como adição de matéria orgânica, correção de pH (calagem) e uso de técnicas para prevenir a erosão. | Predominante em regiões de clima tropical e subtropical. Encontrados principalmente na Região Centro-Oeste, especialmente no Cerrado. | 26,90% |
Cambissolo | Pouco evoluídos em relação às características do material original (rocha), variando de pouca profundidade a profundidade considerável, geralmente exibindo baixa permeabilidade. Demonstram uma elevada atividade de argila. | Em áreas mais planas, pode ter potencial agrícola. | Correção de acidez, redução de teores de alumínio e adubação conforme a necessidade da cultura. Em encostas, práticas que previnam a erosão são necessárias. | Amplamente distribuídos no Brasil, sendo encontrados em diferentes biomas, como a Mata Atlântica, a Amazônia e o Cerrado. | 5,30% |
Chernossolo | Pouco desenvolvidos, originários de rochas ricas em cálcio e magnésio. Espesso, escuro, com boa agregação e presença de argilominerais. Solos de coloração escura e ricos em matéria orgânica. | Alto potencial agrícola devido à alta fertilidade natural. | Manutenção da matéria orgânica. Práticas conservacionistas como o plantio direto para evitar erosão. | Pode se formar em condições climáticas variáveis e a partir de diferentes materiais de origem. | 0,40% |
Espodossolo | Moderada a fortemente ácidos, geralmente com baixa saturação por bases e textura predominantemente arenosa. | As principais limitações desta classe de solo estão relacionadas a sua textura arenosa, presença de horizonte de impedimento e baixa fertilidade. | Podem ser utilizados para pastagem. Há áreas que o utilizam para cultivar coco. | Condições de clima tropical e subtropical. Associados a locais de umidade elevada. | 2,70% |
Gleissolo | Solos hidromórficos, saturados por água de forma permanente ou periódica, manifestam gleização que provoca coloração acinzentada, azulada ou esverdeada, decorrente da diminuição de ferro. Apresentam naturalmente baixa fertilidade, podendo enfrentar questões relacionadas à acidez, assim como altos níveis de alumínio, sódio e enxofre. | Geralmente não apresentam aptidão agrícola, sendo indicados para áreas de conservação ambiental. | Solos mal drenados em condições naturais. O manejo adequado inclui cuidados com a drenagem, correção de acidez e controle de teores nocivos. | Relacionados a terras alagáveis sujeitas a inundações sazonais, esses solos também podem ser encontrados em regiões inclinadas influenciadas pelo lençol freático. São frequentemente ligados a vegetação adaptada a ambientes aquáticos, podendo ser herbácea, arbustiva ou arbórea. | 4,70% |
Latossolo | Solos sujeitos a intemperização acentuada, também referidos como solos maduros. Contêm argilas principalmente formadas por óxidos de ferro, alumínio, silício e titânio. Apresentam acidez, baixa saturação de bases e fertilidade limitada. Embora sejam porosos e tenham uma boa estrutura, a retenção de umidade é reduzida, especialmente em texturas mais grosseiras e em regiões de clima mais seco. | Alto potencial para uso agrícola, sendo amplamente utilizado no cultivo de grãos como soja, milho e arroz. | Calagem para correção da acidez, adubação, e cobertura do solo para retenção de umidade e prevenção da erosão. | Regiões equatoriais e tropicais, com ocorrência em zonas subtropicais. Associados a relevos planos e suavemente ondulados. | 31,60% |
Luvissolo | Solos minerais não hidromórficos, caracterizados por uma faixa de acidez moderada a ligeiramente alcalina, com profundidade limitada e frequentemente localizados em regiões de clima seco. Muitos solos dessa categoria exibem uma transição textural abrupta, demonstrando geralmente uma permeabilidade adequada. | A elevada saturação por bases indica uma fertilidade natural significativa, proporcionando um considerável potencial agrícola. | Rotação de culturas para preservar a estrutura. Aplicação de técnicas de conservação para evitar processos erosivos. | Geralmente encontrados em regiões com escassez de chuvas (deficiência hídrica), em condições de elevadas e reduzidas temperaturas, e vinculados a terrenos com características topográficas variadas (ondulações). | 2,90% |
Neossolo | Compostos por material mineral ou orgânico de espessura reduzida, esses solos exibem predominância de características herdadas do material original, evidenciando um estágio evolutivo limitado, e não contêm horizonte diagnóstico. Apresentam uma ampla variação, desde solos superficiais até profundos, com permeabilidade variando de baixa a alta. | Viabilidade agrícola otimizada em terrenos planos, mas a utilização deve ser restrita em proximidade a corpos d’água devido à sua função como áreas de preservação. Em áreas com declive, solos menos profundos apresentam restrições substanciais para práticas agrícolas. | Requer correção de acidez e de teores nocivos de alumínio, além do uso de práticas conservacionistas a fim de prevenir processos erosivos. | Associados a áreas de relevos ondulados, montanhosos (movimentados) a planos, sob influência do lençol freático. | 13,20% |
Nitossolo | Compostos por componentes minerais, esses solos demonstram uma reduzida atividade de argila, sendo possível evidenciar traços alíticos. Sua textura varia entre argilosa e excessivamente argilosa. | Em regiões com topografia mais plana, esses solos podem exibir um considerável potencial agrícola, ao passo que em áreas inclinadas podem mostrar uma maior propensão a processos erosivos. | Apresentam diversidade na fertilidade, com variações entre níveis elevados e reduzidos, além de uma acidez leve e teores de alumínio que podem oscilar. Exigem correção da acidez e adubação balanceada. A implementação de medidas para controlar a erosão é essencial para preservar a camada superficial, especialmente em regiões de relevo mais íngreme. | Encontrados em diferentes ambientes climáticos, estando normalmente associados às áreas de relevo desde suave a fortemente ondulado. | 1,10% |
Organossolo | Originados a partir de matéria orgânica, exibem tonalidades que variam entre o preto, o cinza muito escuro ou o brunido. Apresentam uma significativa quantidade de resíduos vegetais em diferentes estágios de decomposição. Esses solos tendem a ser ácidos, possuindo uma elevada capacidade de troca de cátions e uma saturação por bases geralmente baixa. | Apresentam desafios ou restrições significativas para a prática agrícola, devido à presença de concentrações elevadas de materiais sulfídricos, sais e enxofre, os quais podem causar toxicidade para a maioria das culturas. Por outro lado, os solos com saturação média a alta por bases (eutróficos) sugerem uma fertilidade natural mais elevada, ampliando assim o potencial para atividades agrícolas. | Mesmo com a implementação de práticas de uso e manejo apropriadas, as modificações nesses aspectos podem ocorrer de forma gradual. A gestão desses solos exige atenção especial durante o processo de drenagem. O potencial de uso dos solos orgânicos pode ser comprometido pela realização inadequada ou excessiva da drenagem. | Encontrados em diversos climas, normalmente associados a ambientes mal drenados, como áreas de várzea, depressões e locais surgentes, ou em ambientes úmidos de altitudes elevadas. | 0,03% |
Planossolo | Solos minerais passíveis de desargilização (perda de argila) significativa na camada superficial e com acentuada acumulação ou concentração de argila no horizonte subsuperficial. Em decorrência do acúmulo de argila nessa região, frequentemente manifestam compactação e ocasionalmente desenvolvem um horizonte pã (que se endurece ou cimenta quando está seco). | O aproveitamento agrícola desses solos está vinculado ao contexto ambiental, especialmente em áreas com relevo plano ou suavemente ondulado. Observa-se a aplicação dos solos hidromórficos na produção de arroz irrigado. | Drenagem eficiente para evitar encharcamento. Correção de acidez e de teores nocivos de alumínio à maioria das plantas. | Característico de áreas planas, ou suavemente onduladas, frequentemente associado a ambientes de várzea. | 2,70% |
Plintossolo | Compostos por substâncias minerais, esses solos exibem acidez pronunciada, podendo manifestar saturação por bases em níveis baixos (distróficos) ou elevados (eutróficos), sendo mais comuns os de baixa saturação. Além disso, é possível encontrar solos com características sódicas e sálicas. | Possuem aptidão agrícola, especialmente em áreas de relevo plano ou suavemente ondulado, sendo frequentemente empregados para o cultivo de arroz irrigado. | Drenagem eficiente, adoção de correção da acidez e dos teores nocivos de alumínio à maioria das plantas e de adubação de acordo com a necessidade da cultura. | São comuns em regiões caracterizadas por climas quentes e úmidos, geralmente apresentando uma estação seca distintamente marcada. Além disso, são encontrados na região equatorial úmida e ocasionalmente em áreas de clima semiárido, embora de forma menos frequente. | 7% |
Vertissolo | Relacionados à intensa atividade das argilas, que proporciona uma considerável mobilidade do material que compõe o solo. São solos com elevada capacidade de troca de cátions (CTC), saturação por bases elevada (eutróficos) e teores significativos de cálcio e magnésio, apresentando uma faixa de reação (pH) que varia de neutra para alcalina, podendo, em menor frequência, situar-se na faixa moderadamente ácida. Essas características podem apresentar desafios tanto para a construção quanto para o manejo agrícola. | Seu potencial agrícola é decorrente da alta fertilidade. | Drenagem é crucial quando se lida com plantas sensíveis ao acúmulo excessivo de água, especialmente em sistemas agrícolas com culturas pouco adaptadas à mecanização. Em regiões de clima semiárido, é fundamental monitorar a qualidade da água de irrigação, especialmente em relação ao conteúdo de sais, a fim de evitar a salinização do solo. | Encontram-se amplamente distribuídos em uma variedade de climas, desde os mais úmidos, caracterizados por uma estação seca bem definida, até os mais secos. Sua presença é especialmente notável nas bacias sedimentares situadas na região semiárida do nordeste brasileiro. | 0,20% |
A compreensão de cada tipo de solo presente no país, é crucial para os agricultores entenderem como podem otimizar suas práticas e alavancar sua produtividade de forma sustentável.
Cada solo possui características, recomendações e manejos específicos. Culminando em desafios e oportunidades distintos.
Os principais tipos de solos brasileiros incluem os latossolos, argissolos, neossolo, Cambissolo e Gleissolo.
Análise de solo e agricultura sustentável
A análise de solo fornece importantes informações a respeito das condições e formação dos solos. Esta prática é fundamental para obter sustentabilidade e otimizar a produtividade.
Uma vez com o laudo da análise em mãos, o produtor poderá tomar decisões embasadas e ser assertivo em suas estratégias de manejo. A combinação entre dados de diferentes fontes, resulta em uma implementação de estratégia mais rica e personalizada.
Identificar deficiências nutricionais e demais desequilíbrios, é crucial para que a produtividade seja maximizada. Afinal, isto auxiliará na precisão da aplicação de insumos agrícolas corroborando com a redução no desperdício e com o aumento da eficiência.
Compreender a capacidade do solo perante sua retenção de substâncias químicas, também é um fator essencial para gerir a qualidade da água. Ter tais dados em mãos, permite que os produtores implantem técnicas que minimizem a lixiviação de insumos agrícolas e nutrientes para os cursos de água próximos.
Variações climáticas e o impacto na composição do solo
Os impactos que as variações climáticas exercem sobre a composição do solo, podem ser significativos e influenciar, diretamente, propriedades biológicas, físicas e químicas deste. Alterações na temperatura e nos padrões de precipitação, são problemas que podem desencadear uma série de efeitos no solo, como:
- Textura: Alterações nos padrões de precipitação podem impactar a erosão do solo e resultar em modificações de sua textura. Por exemplo, as chuvas torrenciais podem ocasionar na perda de solo superficial, bem como a seca pode compactá-lo.
- Disponibilidade de água: Secas intensas e prolongadas podem ocasionar a escassez de água no solo e afetar a produção agrícola.
- Atividade microbiana: Modificações na umidade do solo e na temperatura, podem alterar a atividade microbiana presente no solo e, com isso, prejudicar a decomposição de matéria orgânica (e consequentemente a disponibilidade de nutrientes para as plantas).
- Sustentabilidade: Com as amplas variações climáticas, práticas agrícolas precisam de adaptações, a fim de garantir a resiliência do solo e a continuidade da produção
Conclusão
Compreender o tipo de solos existente na sua propriedade é uma ferramenta vital para impulsionar a produtividade agrícola. A análise de solo emerge como uma prática fundamental para decisões embasadas e estratégias de manejo personalizadas, reduzindo o desperdício e aumentando a eficiência.
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Sobre a autora:
Mariana Colli
Analista de Go-To-Market na Agroadvance
- Engenheira Agrônoma (ESALQ/USP)
- Mestra em Fitopatologia (ESALQ/USP)
- Especialista em Marketing (ESALQ/USP)
Uma resposta
o material foi muito bom e ajudou-me compreender com maior profundidade acerca do tipos de solos.