O agronegócio brasileiro enfrentou um ano desafiador e transformador em 2024. As adversidades climáticas, a volatilidade dos preços e o avanço tecnológico marcaram a retrospectiva do agro no que se passou.
O relatório “Global Farmers Insights 2024” da McKinsey, baseado em entrevistas com mais de 4.250 agricultores em nove países, incluindo 750 produtores brasileiros, fornece uma visão abrangente sobre as tendências, oportunidades e desafios enfrentados pelo setor agrícola no Brasil do ponto de vista dos produtores.
Trazemos nesse artigo, uma discussão sobre os principais pontos. Acompanhe!
Retrospectiva 2024: Desafios e Superações
Em 2024, o agronegócio brasileiro enfrentou um cenário desafiador, com os agricultores demonstrando pessimismo em relação à rentabilidade no curto prazo. A queda nos preços das commodities agrícolas, combinada com eventos climáticos extremos, gerou incertezas e pressionou os lucros. Contudo, apesar desse panorama, os produtores mantêm uma perspectiva otimista para o futuro.
O custo dos insumos, que vinha crescendo significativamente em anos anteriores, começou a mostrar sinais de estabilização em 2024, o que trouxe algum alívio ao planejamento financeiro das propriedades. Ainda assim, os agricultores preveem um aumento nos gastos, embora em patamares inferiores aos observados em 2022. Esse comportamento reflete uma busca por manter níveis adequados de produtividade, mesmo em um cenário adverso.
Com foco na resiliência, o setor vem apostando em inovação, práticas sustentáveis e avanços tecnológicos para superar as dificuldades, consolidando a confiança no crescimento de longo prazo. Esses fatores sugerem que, apesar dos obstáculos, o agronegócio brasileiro segue adaptando-se e fortalecendo-se para os anos vindouros.
1. Desafios Climáticos e Aumento de Produção
O ano de 2024 foi marcado por eventos climáticos extremos, como chuvas excessivas no Rio Grande do Sul e secas severas acompanhadas de queimadas no Norte, Centro-Oeste e Sudeste brasileiros. Apesar desses desafios, a produção agrícola brasileira demonstrou notável resiliência, superando expectativas e mantendo resultados expressivos.
Embora não tenha alcançado as projeções iniciais, a safra de soja atingiu um recorde histórico, com uma produção estimada em 155 milhões de toneladas. Esse desempenho reafirmou o Brasil como o maior produtor e exportador mundial da oleaginosa. Avanços tecnológicos, como o uso de sementes resistentes e manejo de precisão, foram determinantes para superar as adversidades climáticas e elevar a produtividade média por hectare.
Além da soja, outras culturas como o milho e o algodão também se destacaram, beneficiando-se de melhorias na infraestrutura logística e da diversificação de mercados internacionais, consolidando a relevância do agronegócio brasileiro no cenário global.
2. Custos de Produção e Preços das Commodities
Em 2024, os custos de insumos como fertilizantes e defensivoscontinuaram pressionando a lucratividade dos produtores. Apesar disso, a estabilização no aumento desses custos trouxe algum alívio em comparação com anos anteriores.
O câmbio favorável, especialmente no final do ano, com o real desvalorizando em frente ao dólar, beneficiou as exportações agrícolas, tornando o mercado externo mais atrativo e compensando parcialmente os desafios internos.
3. Adoção Tecnológica e Sustentabilidade
A sustentabilidade foi um tema central em 2024. O uso de biofertilizantes e biocontroles cresceu significativamente no país, com 70% dos agricultores investindo ou planejando aumentar os gastos com soluções biológicas, de acordo com o relatório “Global Farmers Insights 2024” da McKinsey (Figura 1).
- 39% dos produtores afirmaram que certamente aumentarão os gastos com biológicos,
- 28% consideram investir caso os preços de proteção de cultivos e fertilizantes subam. A eficácia superior e a melhoria da produtividade foram apontadas como as principais razões para essa adoção crescente.
A agricultura de precisão e o uso de tecnologias avançaram significativamente em 2024, com destaque para sensores remotos, softwares de gestão e automação (Figura 2).
No Brasil, as tecnologias mais adotadas em 2024 incluem:
- Orientação automática de tratores (46%).
- Controladores de seção em pulverizadores (40%).
- Aplicação de fertilizantes em taxa variável (38%).
- Softwares de gestão de fazendas (38%).
Apesar desses avanços, a expansão ainda é limitada por custos elevados e falta de infraestrutura de conectividade nas áreas rurais.
Ainda dentro do tema sustentabilidade, embora os agricultores estejam mais conscientes sobre programas de carbono, a adesão a essas iniciativas permanece baixa, reforçando a necessidade de políticas públicas e incentivos financeiros.
4. Inovações em Financiamento e Pagamentos
O Plano Safra 2024 apresentou crescimento modesto, mas foi criticado por não atender às demandas crescentes do setor agropecuário. Isso reforça a importância de iniciativas que combinem crédito acessível e suporte técnico.
Em contrapartida, houve um aumento no uso de financiamentos bancários, crédito rural e pagamentos digitais, refletindo a maior profissionalização do agronegócio (Figura 3). Destaca-se também o crescimento das fintechs, que oferecem soluções financeiras modernas e integradas para financiamento e gestão financeira da propriedade.
O uso de fundos de terceiros para financiar compras cresceu significativamente, acompanhado de uma adoção acelerada de pagamentos digitais e seguros agrícolas. Esse avanço foi especialmente notável entre produtores de grãos, café, frutas e hortaliças, que lideraram a transição para modelos financeiros mais modernos e integrados (Figura 3).
Pequenos e médios produtores continuam dependendo de subsídios, ressaltando a importância de políticas mais acessíveis.
5. Acordo Mercosul-UE e as polêmicas envolvendo o agronegócio brasileiro
Em 2024, o agronegócio brasileiro enfrentou uma série de desafios no cenário geopolítico, marcados principalmente pela assinatura do Acordo Mercosul-UE. O tratado gerou polêmicas intensas, especialmente devido às exigências ambientais rigorosas impostas pela União Europeia, como a rastreabilidade completa de cadeias produtivas e a redução do desmatamento.
Destaques:
- Organizações ambientais e governos europeus, principalmente o Francês, pressionaram o Brasil com ameaças de restrição de importação de carne e soja, vinculando a expansão agrícola ao desmatamento ilegal.
- O governo e representantes do setor agrícola reagiram, destacando avanços como o mercado regulado de carbono, práticas sustentáveis e inovações tecnológicas para gestão de fazendas.
- Mesmo com a assinatura do acordo, disputas comerciais e ameaças de bloqueios regulatórios continuaram. O Brasil manteve uma postura ativa para defender sua produção agrícola em fóruns internacionais.
Perspectivas para 2025: Resiliência e Otimismo
Apesar das adversidades de 2024, os agricultores demonstraram resiliência e mantiveram uma visão otimista para os próximos anos, de acordo com o relatório “Global Farmers Insights 2024” da McKinsey. Fatores como a expectativa de recuperação de preços e melhores condições climáticas renovam a confiança do setor.
Os produtores de algodão e grãos do Cerrado são os mais pessimistas em relação aos resultados de 2024, mas esperam um cenário melhor daqui a 2 anos (Figura 4).
1. Crescimento do PIB do Agronegócio
Espera-se um crescimento de até 5%, no PIB do agronegócio, impulsionado pelo aumento da produção primária agrícola, especialmente de grãos, e pelo crescimento da indústria de insumos e da agroindústria exportadora.
2. Condições Climáticas e Planejamento
Com a transição entre El Niño e La Niña, espera-se um clima mais equilibrado, favorecendo a produtividade, especialmente em culturas como o milho e soja. Contudo, ainda haverá uma dependência das condições climáticas, e os produtores precisam estar preparados para lidar com incertezas.
Apesar dos desafios climáticos e econômicos, espera-se uma supersafra em 2025, com a produção de commodities agrícolas a superar as expectativas. A tendência é que a produtividade melhore, principalmente se as condições climáticas forem mais favoráveis.
A previsão de uma supersafra deve, por sua vez, reduzir preços das commodities, exigindo maior eficiência produtiva.
3. Foco em Sustentabilidade
A integração de práticas sustentáveis será intensificada, com aumento no uso de biofertilizantes e créditos de carbono.
Parcerias público-privadas e incentivos governamentais serão cruciais para ampliar a adoção dessas práticas.
A expectativa é de uma maior adoção de práticas sustentáveis, impulsionada por novas regulamentações e incentivos financeiros, como a monetização de créditos de carbono e subsídios governamentais.
4. Avanços Tecnológicos
O uso de agtechs, como softwares de gestão e sensores remotos, deve crescer, melhorando a tomada de decisões e a produtividade.
A agricultura de precisão será um diferencial competitivo, especialmente em culturas como soja e milho.
Para o próximo ano, espera-se uma adoção ainda maior de tecnologias agrícolas. Iniciativas públicas e privadas voltadas à inovação devem facilitar o acesso dos pequenos e médios produtores a soluções digitais.
O uso de agtechs, como softwares de gestão e sensores remotos, deve crescer ainda mais. A digitalização no agronegócio se fortalecerá, facilitando o acesso ao crédito, melhorando a tomada de decisões e otimizando as transações financeira
5. Desafios e Oportunidades para 2025
A reforma tributária prevista para 2025 trará impactos significativos na cadeia produtiva. Contudo, o fortalecimento do mercado externo e a demanda crescente por produtos sustentáveis posicionam o Brasil como um líder global no agronegócio.
A integração entre inovação tecnológica e sustentabilidade será o grande diferencial competitivo para os produtores brasileiros. A tendência é que práticas como agricultura regenerativa e manejo sustentável ganhem ainda mais espaço.
Espera-se uma recuperação nos preços das commodities e uma expansão das exportações para mercados emergentes e consolidados. A internacionalização e a competitividade do agronegócio brasileiro devem se intensificar.
O ano de 2025 pode trazer mais investimentos em tecnologias de ponta e biotecnologia, com a esperança de que tanto o governo quanto as parcerias privadas promovam incentivos mais robustos para o setor agropecuário.
Esse cenário cria oportunidades para o Brasil atrair mais investidores externos, impulsionando ainda mais a competitividade do agronegócio no mercado global.
Conclusão
O agronegócio brasileiro se encontra em um momento de transição. Os aprendizados de 2024, aliados à inovação e à sustentabilidade, pavimentam o caminho para um 2025 promissor.
Com investimentos em tecnologia, parcerias estratégicas e foco em práticas sustentáveis, o setor estará preparado para superar desafios e aproveitar oportunidades em um cenário global competitivo.
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Sobre a autora
Beatriz Nastaro Boschiero
Especialista em MKT de Conteúdo na Agroadvance
- Pós-doutora pelo CTBE/CNPEM e CENA/USP
- Mestra e Doutora em Solos e Nutrição de Plantas (ESALQ/USP)
- Engenheira Agrônoma (UNESP/Botucatu)
Como citar este artigo:
BOSCHIERO, B.N. Retrospectiva de 2024 e Perspectivas para 2025 no Agronegócio Brasileiro. Blog Agroadvance. 2024. Disponível em: https://agroadvance.com.br/blog-retrospectiva-de-2024-e-perspectivas-para-2025-no-agronegocio-brasileiro/. Acesso: xx Xxx 20xx.