Mundialmente, o milho é uma das culturas agrícolas mais importantes para a alimentação humana e animal. É, também, certamente, muito apreciado pelos insetos, uma vez que existe uma elevada gama de pragas que causam perdas severas de produtividade.
Dentre as pragas que atacam o milho, existem algumas que se destacam quanto ao potencial destrutivo e à capacidade de transmitir fitopatógenos.
A fim de se minimizar perdas, é crucial que as principais pragas do milho sejam devidamente identificadas, monitoradas e manejadas ao longo do ciclo de cultivo. Para isto, preparamos este guia para a identificação e controle de 12 principais pragas do milho.
Confira a seguir!
Quais são as principais pragas do milho?
Quando pensamos em pragas do milho, logo vêm à mente a lagarta Spodoptera. Contudo, existe uma variedade de pragas que acometem esta importante cultura agrícola e que causam expressivos danos durante a safra.
Confira a seguir as principais pragas do milho para cada fase de crescimento da cultura:
Pragas iniciais do milho
Logo após a semeadura do milho, já é preciso estar atento ao ataque de pragas que possam se alimentar das sementes, das raízes e das plântulas, ocasionando severas falhas de estande.
Corós, cupins, lagarta-rosca e lagarta-elasmo são exemplos de pragas iniciais que causam preocupação ao produtor de milho. Vejamos com detalhes a seguir.
1. Corós
Também chamados de “pão-de-galinha” ou “bicho-bolo”, os corós são pragas importantes que ocorrem ao longo do estabelecimento do milharal. Tratam-se de larvas de besouros da família Melolonthidae. São esbranquiçadas, recurvadas, e possuem 3 pernas toráxicas e um característico formato de “C” (Figura 1).
Existem diversas espécies de corós que podem ocorrer no milharal. Alguns exemplos são:
- coró-das-pastagens, Diloboderus abderus;
- coró-da-soja, Phyllophaga cuyabana; e o
- coró-do-trigo, Phyllophaga triticophaga.
De forma geral, os besouros adultos e os ovos de corós são mais encontrados durante os primeiros meses do ano e são espécies de ciclo anual. As larvas ocorrem até meados de novembro e as pupas já podem ser encontradas nos meses de outubro e novembro. Os adultos geralmente medem de 2 a 3 cm, os machos podem ou não possuir chifres, já as fêmeas não os possuem. Apresentam coloração em tons amarronzados, podendo ser brilhantes ou não.
Os ovos são geralmente ovipositados em ninhos subterrâneos, compostos por restos vegetais. Após cerca de duas semanas, as larvas, ao eclodirem, constroem galerias subterrâneas e passam a se alimentar dos materiais que compõem o ninho. Em seguida, se alimentam de sementes, plântulas, raízes, e folhas que são levadas para dentro das galerias. Podem chegar a medir até 4 cm e muitas vezes são encontradas nas camadas aráveis do solo, concentrando-se nas linhas de plantio. A depender das condições edafoclimáticas, podem se aprofundar mais.
Os principais danos decorrentes do ataque dos corós são: redução da germinação das sementes, tombamento de plântulas, ocasionando a morte destas e as consequentes falhas de estande. Além disso, alguns sinais de ataque são a presença de plantas amarelas e enfezadas e o não enchimento dos grãos durante a fase produtiva. Portanto, podem reduzir drasticamente a produção de milho em casos de alta infestação. Os danos são comumente observados em reboleiras na área de cultivo.
A principal forma de monitoramento é a inspeção visual das plantas, observação de falhas de estande, e plântulas tombadas.
O controle é geralmente realizado a partir da aplicação de inseticidas. Contudo, algumas práticas culturais podem auxiliar no manejo populacional de corós no milharal, tais como:
- destruição de restos culturais ao final da safra;
- preparo prévio da área com revolvimento do solo, expondo as larvas à radiação solar e aos inimigos naturais como pássaros; e
- eliminação de hospedeiros alternativos e plantas daninhas.
2. Cupins
Não é novidade que os cupins ocasionam severos danos ao sistema radicular de diversas culturas agrícolas. E no milho, não é diferente. São especialmente um problema em áreas de cerrado, e em lavouras próximas a pastagens degradadas.
Várias espécies de cupim da família Termitidae atacam a cultura do milho, como o cupim-de-montículo Cornitermes snyderi, e os cupins subterrâneos Procornitermes triacifer, Procornitermes striatus, e Syntermes molestus.
A espécie C. snyderi é comumente encontrada na região Centro-Oeste do Brasil, facilmente identificada pela presença de cupinzeiros em formatos de montes de terra endurecida de variadas cores e alturas, a depender das características do solo, do ambiente e da idade da colônia (Figura 2).
Apesar de característico, os montículos, uma vez inativos, podem ser colonizados por outras espécies, causando confusão na identificação dos cupins. C. snyderi constrói ninhos ovalados, mais largos do que altos. Dentro de tais ninhos, existem muitas câmaras, por onde a rainha da colônia circula livremente. A organização do ninho é variável entre as espécies, mas são sempre divididos em castas: casal reprodutor, soldados, cupins alados e colonizadores, e operárias especializadas em cada função.
A identificação é realizada a partir dos soldados que defendem a colônia, os quais possuem mandíbulas e cabeça mais desenvolvidas. São pragas polífagas que se alimentam de matéria vegetal viva ou já em decomposição. No milharal, se alimentam das raízes, caules, plântulas, e, até mesmo, das sementes. Desta forma, acabam ocasionando a morte de plantas e falhas nas linhas de plantio. Outra importante consequência do ataque de cupins é a danificação de implementos agrícolas, ao colidirem contra os montículos na área de cultivo.
O controle de cupins consiste na destruição dos ninhos, sejam eles subterrâneos ou encontrados dentro dos montículos. E para isto, são geralmente utilizados inseticidas como fipronil, imidacloprido e bifentrina.
3. Lagarta-rosca
A lagarta-rosca, Agrotis ipsilon, é uma praga comum nos períodos iniciais de diversas culturas agrícolas. São lagartas robustas, lisas e de coloração marrom-acinzentada que pode variar até o cinza escuro. Possuem protuberâncias escuras ao longo de seu corpo (Figura 3). Apresentam hábito noturno e, durante o dia, escondem-se sob a vegetação morta, em torrões ou buracos, mas geralmente próximas ao colo das plantas.
Quando perturbada, a lagarta-rosca enrola-se, característica que deu origem ao seu nome. A fase larval desta praga dura em torno de 30 dias. A pupa é encontrada também no solo, dentro de casulos de terra construídos pela lagarta.
Após cerca de 15 dias, os adultos emergem: mariposas de até 5 cm de envergadura de asas, de coloração parda. A cabeça, o tórax e as asas anteriores apresentam manchas escuras de formatos variados. Após a cópula, a fêmea adulta inicia a oviposição de seus ovos sobre folhas, caules ou no solo. Os ovos são esbranquiçados, podendo estar isolados ou em grupo.
Os danos causados pela lagarta-rosca são mais significativos durante a fase inicial da cultura, uma vez que as plântulas atacadas têm menos chances de recuperação. Além disso, as lagartas atacam sementes, hastes e folhas, principalmente aquelas localizadas no baixeiro do pé de milho. Consequentemente, o ataque leva a falhas de germinação, falhas de estande, murchamento e tombamento de plântulas. Ao atacarem plantas mais desenvolvidas, abrem galerias na base do colmo e nas raízes mais superficiais.
O manejo da lagarta-rosca no milharal pode ser realizado através do tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos. Outra prática importante é a eliminação de plantas daninhas, uma vez que as mariposas têm preferência por ovipositar seus ovos em plantas ou restos culturas ainda verdes.
A conservação de inimigos naturais na área de cultivo, a partir do uso de inseticidas seletivos, também favorece o manejo populacional de A. ipsilon. Diversas vespas e moscas parasitoides, bem como fungos entomopatogênicos, foram descritos como inimigos da lagarta-rosca.
4. Lagarta-elasmo
A lagarta-elasmo, Elasmopalpus lignosellus, possui coloração amarelada ou esverdeada, com listras e anéis avermelhados ao longo de seu corpo. A sua cabeça é marrom-escura. Pode medir até 2 cm de comprimento (Figura 4).]
Ao contrário da lagarta-rosca, a lagarta-elasmo ataca apenas o caule e as folhas de plântulas, ocasionando murcha, seca e o consequente tombamento destas. Em plantas mais desenvolvidas, constroem galerias no caule e um abrigo, dentro do qual, empupará.
Possuem alta mobilidade e migram de plantas mortas para as plantas vivas vizinhas. Assim, uma única lagarta é capaz de atacar muitas plantas e causar falhas significativas de estande. Durante períodos de estiagem, o ataque pode ser ainda mais severo, uma vez que a praga é favorecida por baixa umidade no solo.
A mariposa da espécie possui hábitos noturnos. Apresenta coloração acinzentada, e mede cerca de 2 cm de envergadura de asas. Quando em repouso, as mariposas se posicionam com as asas rentes ao corpo, camuflando-se em meio aos restos vegetais. As fêmeas depositam os ovos no solo. A espécie possui preferência por solos arenosos e requer um período prolongado de estiagem para se estabelecer no milharal.
O controle da lagarta-elasmo é geralmente realizado a partir da aplicação de inseticidas sistêmicos ou a partir do incremento da umidade do solo através da irrigação.
Investir no tratamento de sementes com produtos de ação sistêmica, como o imidacloprido, carbofuram ou tiodicarbe, também é uma opção para o manejo desta praga. Contudo, pode ser uma prática ineficaz caso a lavoura esteja sob estresse hídrico. Neste caso, segundo pesquisadores da Embrapa, o mais recomendado é a aplicação de inseticidas de ação de contato à base de clorpirifós.
5. Larva-alfinete
Conhecida como larva-alfinete ou vaquinha, Diabrotica speciosa é uma praga bastante comum no milharal. Os adultos da espécie são pequenos besouros de 1 cm de comprimento, de coloração verde brilhante com 3 pontuações amarelas em cada élitro. A cabeça é amarronzada e o resto do corpo é esverdeado (Figura 5).
As fêmeas ovipositam seus ovos, preferencialmente, em solos escuros com alto teor de matéria orgânica. Após 5 a 20 dias, as larvas eclodem. São de coloração branco-leitosa, com a cabeça e as pernas escuras. Chegam a medir 1 cm de comprimento ao longo de seu desenvolvimento. As pupas são esbranquiçadas e encontradas no solo.
As larvas-alfinete atacam as raízes, reduzindo a sustentação da planta e a absorção de água e nutrientes. Além disso, deixam as plantas mais suscetíveis ao acamamento, provocando um sintoma conhecido por “pescoço de ganso”.
Já os adultos atacam leguminosas como a soja e o feijão, perfurando folhas, brotações, botões florais e vagens.
O controle e monitoramento de adultos da larva-alfinete pode ser realizado a partir da instalação de armadilhas luminosas com lâmpadas dos tipos B (azul), BL (ultravioleta) ou BLB (ultravioleta) no milharal. Para o controle da fase imatura, o tratamento de sementes e o plantio de cultivares de milho Bt que expressam a proteína Cry3Bb (específica para a repelência de coleópteros) são opções promissoras.
Caso o milharal esteja sob altas infestações da larva-alfinete, podem ser utilizados inseticidas com alto teor residual, de formulação do tipo granulada ou caldas inseticidas pulverizadas diretamente sobre o sulco de plantio.
A destruição de restos culturais também contribui para o manejo populacional de D. speciosa, bem como o controle biológico com os fungos entomopatogênios das espécies Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae. Outros importantes agentes de controle biológico das larvas da vaquinha são a mosca parasitoide Celatoria bosqi e a vespa parasitoide Centistes gasseni.
Pragas do desenvolvimento vegetativo do milho
Pensa que acabou?! Ao longo do desenvolvimento vegetativo da cultura, outras pragas podem atacar o milho, causando mais prejuízos ao produtor. Vejamos as principais:
6. Lagarta-do-cartucho
Spodoptera frugiperda, é com certeza a praga mais “famosa” do milharal. E este status adquirido pela lagarta-do-cartucho se deve ao seu enorme potencial destrutivo. É facilmente identificada por características morfológicas como: coloração amarronzada ou esverdeada, 3 listras longitudinais de cor clara no dorso, 4 pontos pretos que formam um quadrado no final do abdômen; e a presença de um “Y” invertido, de coloração mais clara, na cabeça (Figura 6).
As lagartas medem cerca de 5 cm de comprimento, possuem 3 pares de pernas toráxicas, 4 pares de pernas abdominais e 1 par de pernas anal. Se encontra, geralmente, apenas uma lagarta por planta, uma vez que são canibais e competem entre si. A fase imatura pode durar até 30 dias. Empupam-se no solo, a poucos centímetros de profundidade. A pupa possui coloração marrom-avermelhada.
Os adultos de S. frugiperda são mariposas de hábito noturno, com asas anteriores cinza-escuras que medem até 4 cm de envergadura e as posteriores mais claras. A fêmea oviposita “massas” de ovos nas folhas de milho, recobrindo-as com escamas de seu próprio corpo. O ciclo de vida varia de 20 a 60 dias, a depender das condições ambientais.
Neste guia, a classificamos como uma praga de desenvolvimento vegetativo. Entretanto, pode acometer a cultura em diferentes fases de desenvolvimento. Iniciam o ataque raspando a superfície das folhas, até que reste apenas uma membrana translúcida. Logo após, passam a habitar o cartucho do milho (daí o nome popular atribuído a esta praga), alimentando-se das folhas mais novas e da parte apical do colmo, o que provoca um sintoma conhecido por “coração morto”. Nesta fase é possível observar a presença de folhas recortadas e de fezes da lagarta dentro do cartucho.
Ao longo do seu desenvolvimento, conjuntamente com o desenvolvimento da cultura, podem se alimentar do pendão e das espigas, chegando a ser confudida, muitas vezes, com a lagarta-da-espiga, Helicoverpa zea. Contudo, a lagarta-do-cartucho penetra em qualquer parte da espiga, enquanto que H. zea alimenta-se dos “cabelos” do milho e dos grãos no topo da espiga. Além disso, ambas as espécies causam danos indiretos, uma vez que favorecem a incidência de fungos e bactérias nas espigas.
Na fase inicial, ainda, são capazes de atacar as plântulas, de forma similar ao ataque da lagarta-rosca. Andam pelo solo e atacam a região do colo, consumindo as plântulas por inteiro ou causando murcha, tombamento e a morte destas.
É preconizado que o controle da lagarta-do-cartucho pode seja realizado de forma integrada a partir do uso de cultivares resistentes de milho, contendo a tecnologia Bt; do tratamento de sementes; da aplicação de inseticidas, como as diamidas antranílicas, piretroides, espinosinas, e inseticidas fisiológicos diversos.
O controle biológico também é um importante aliado no manejo de S. frugiperda, através da pulverização de entomopatógenos, como o baculovírus e a bactéria Bacillus thuringiensis; e da liberação de inimigos naturais como o parasitoide Trichogramma pretiosum. Além disso, existem diversos insetos que predam os ovos da lagarta-do-cartucho, como a tesourinha Doru luteipes e algumas espécies de joaninha.
7. Percevejo-barriga-verde
Duas espécies de percevejo-barriga-verde atacam a cultura do milho: Diceraeus furcatus e Diceraeus melacanthus (Figura 7). D. furcatus é mais comum na região Sul do Brasil, enquanto D. melacanthus é geralmente encontrado nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do país.
Os percevejos medem cerca de 1 cm de comprimento, possuem o dorso marrom e o ventre verde, característica que originou o nome comum “barriga-verde”.
Nas laterais do protórax de percevejos da espécie D. furcatus, encontra-se um par de espinhos com a mesma coloração do pronoto e da cabeça do inseto. Tal característica o diferencia de D. melacanthus. Possuem a cabeça pontiaguda. As ninfas, assim como os adultos, também são amarronzadas dorsalmente e esverdeadas ventralmente. O ciclo de vida é de cerca de 45 dias.
Ninfas e adultos sugam a seiva das plantas, atacando a base do colmo e ocasionando murcha, seca e perfilhamento. As folhas centrais podem apresentar deformações e amarelecimento. Atacam a cultura de forma severa na fase inicial, entretanto, também podem se alimentar dos grãos em enchimento, causando redução do peso de grãos e redução da germinação e vigor de sementes.
Por muitos anos, foi considerado um percevejo da soja. Entretanto, com o passar do tempo e com a sucessão de cultivos de soja e milho, criou-se uma “ponte verde”. Assim, ao final do ciclo da soja, esta praga passou a migrar para os cultivos de milho, causando danos principalmente na safrinha e em sistemas de plantio direto. Isto também se aplica ao percevejo-marrom Euschistus heros, que também tem atacado a cultura do milho.
Uma das principais práticas de manejo dos percevejos é, portanto, plantar a cultura no “limpo”, realizando a dessecação antecipada da cultura anterior. A população deve ser monitorada, a partir da inspeção visual das plântulas e, quando detectado 1 percevejo a cada 10 plantas, o controle deve ser posicionado, preferencialmente até o estágio V3. São geralmente utilizadas misturas de inseticidas neonicotinoides e piretroides.
O controle biológico natural, realizado por parasitoides de ovos, como Telenomus podisi, e parasitoides de adultos, como moscas da família Tachinidae, também é de suma importância para o manejo populacional de percevejos. Assim, o uso de inseticidas seletivos aos inimigos naturais é crucial para a preservação destes agentes no milharal.
8. Pulgão-do-milho
O pulgão-do-milho, Rhopalosiphum maidis, é facilmente reconhecido no milharal. Isto se deve à sua característica de “andar em bando”, ou seja, são insetos, geralmente verde-azulados, que vivem em colônias extremamente populosas nas folhas, pendões, espigas ou no interior do cartucho do milho (Figura 8).
Foto: Ramos, A. ESALQ, USP.
Os adultos podem ser alados ou não. Os alados são mais raros e são responsáveis pela dispersão da praga em condições climáticas desfavoráveis e escassez de alimento. Reproduzem-se por partenogênese, ou seja, a fêmea adulta não fecundada dá origem a novas ninfas de pulgões.
Condições ambientais como baixa umidade relativa do ar, ventos de baixa velocidade e temperatura média de 20 °C são favoráveis ao desenvolvimento da espécie. Nestas condições, o ciclo de vida é de 20 a 30 dias e cada fêmea dá origem a cerca de 70 ninfas.
Ninfas e adultos alimentam-se da seiva das plantas, esgotando as reservas hídricas e nutricionais da planta atacada. Além disso, podem ser vetores de vírus, como o vírus do mosaico-comum-do-milho, além de favorecer a incidência de fungos do gênero Capnodium sp., os causadores da fumagina sobre as partes atacadas pelo pulgão, já que se desenvolvem a partir do honeydewexcretado pela praga.
Ao se observar mais de 100 afídeos por planta durante o monitoramento da cultura, o controle de R. maidis deve ser posicionado. Este é geralmente realizado a partir da pulverização aérea de inseticidas sistêmicos e da preservação do controle biológico conservativo exercido por vespas parasitoides e predadores como as joaninhas.
9. Cigarrinha-do-milho
A cigarrinha-do-milho, Dalbulus maidis, é hoje um dos principais problemas do milho. São insetos de poucos milímetros de comprimento e coloração que varia do branco ao amarelado (Figura 9). As colônias de cigarrinhas são compostas por adultos e ninfas que habitam o interior do cartucho.
Foto: Valquíria Andrade.
A postura da espécie é endofítica, ou seja, os ovos são depositados no interior do tecido foliar. O ciclo de vida é de cerca de 30 dias e as cigarrinhas adultas podem viver até 60 dias. Adultos e ninfas sugam a seiva das plantas, injetando substâncias tóxicas ao se alimentarem. Em consequência, são ocasionados danos como o encurtamento dos entrenós, clorose e avermelhamento das folhas, além do favorecimento da formação de fumagina.
Contudo, o maior problema relacionado ao ataque da cigarrinha-do-milho consiste na transmissão de bactérias da classe Mollicutes, causadoras do enfezamento pálido e enfezamento vermelho do milho, doenças que podem levar a perdas de 100% da produção. Além disso, também transmite o vírus causador do raiado-fino-do-milho.
A severidade dessas doenças dependerá do grau de suscetibilidade da variedade plantada, da época de semeadura e do nível populacional de cigarrinha durante as fases iniciais do milharal. Variedades de ciclo tardio são mais afetadas.
Por se tratar de um inseto vetor, a presença da cigarrinha no milharal já é um alerta para o posicionamento do controle. É recomendado que o manejo seja feito de forma integrada a partir do plantio de sementes tratadas, rotação de culturas, vazio sanitário, e aplicação de inseticidas (geralmente, neonicotinoides, como tiametoxam, imidacloprido e clotianidina).
O controle biológico também desempenha um papel importante no manejo da cigarrinha. Parasitoides de ovos das famílias Mymaridae e Trichogrammatidae foram encontrados parasitando D. maidis. A praga também é controlada por percevejos predadores, aranhas, e fungos entomopatogênicos como Beauveria sp. e Cordyceps javanica.
Pragas de floração e formação de espigas
Como abordado até o momento, algumas pragas que atacam a cultura do milho durante o desenvolvimento vegetativo também podem causar danos durante a floração e a formação das espigas. Entretanto, para esta fase da cultura, daremos ênfase ao ataque da lagarta-da-espiga:
10. Lagarta-da-espiga
Cientificamente chamada de Helicoverpa zea, a lagarta-da-espiga, como o próprio nome sugere, se alimenta da espiga do milho.
Também ataca outras culturas, mas no caso do milho, o ciclo de vida da praga em questão é iniciado quando a mariposa oviposita seus ovos, individualmente, sobre os estilos-estigmas (“cabelos”) das espigas. São ovipositados até 15 ovos por espiga.
Os ovos medem cerca de 1 mm, são esbranquiçados ou amarelados, ficando amarronzados próximo à eclosão das lagartas, e possuem protuberâncias laterais.
Após cerca de 4 dias, as lagartas eclodem e passam a se alimentar dos estilos-estigmas, comprometendo a formação dos grãos. Quando mais desenvolvidas, podem medir em média 5 cm de comprimento e passam então a se alimentar dos grãos localizados no topo da espiga.
A coloração das lagartas pode ser esverdeada, esbranquiçada ou escurecida, com listras de cores variadas e cabeça de coloração marrom clara (Figura 10).
As pupas são marrons-avermelhadas e encontradas na camada mais superficial do solo, até 25 cm de profundidade. Os adultos da espécie são mariposas amarelo-esverdeadas de hábito noturno, com até 4 cm de envergadura de asa. O ciclo de vida varia de 30 a 40 dias.
Como abordado anteriormente, além dos danos diretos, H. zea também ocasiona danos indiretos, uma vez que os orifícios abertos pelas lagartas servem como “porta de entrada” para outros insetos e microrganismos oportunistas, levando a mais danos, como doenças e podridões nas espigas.
Infestações de H. zea podem ser constatadas a partir da instalação de armadilhas luminosas ou armadilhas de feromônios sexuais no milharal.
O controle biológico da lagarta-da-espiga pode ser realizado a partir da liberação inundativa do parasitoide de ovos Trichogramma pretiosum. As lagartas que eclodirem podem ser controladas por outros agentes de controle como insetos predadores e fitopatógenos como o baculovírus (HzSNPV) e Bacillus thuringiensis (var. kurstaki HD-1).
O controle químico consiste na utilização de inseticidas como a alfa-cipermetrina, beta-cipermetrina, deltametrina, lambda-cialotrina, espinosade, flubendiamida, indoxacarbe, metoxifenozida, clorantraniliprole, clorfenapir, fenvalerato, etc. Entretanto, existem vários relatos de populações de H. zea resistentes a diversas moléculas inseticidas, enfatizando a necessidade de se realizar sempre a rotação de ingredientes ativos com diferentes mecanismos de ação a fim de se reduzir a pressão de seleção de indivíduos resistentes.
Práticas culturais como o controle de plantas daninhas, uma vez que se trata de uma praga polífaga, contribui para o controle da espécie. O plantio de cultivares resistentes, contendo a tecnologia Bt, e de áreas de refúgio também são complementares ao manejo integrado da lagarta-da-espiga.
Pragas de maturação e armazenamento
O milho matura e é colhido, mas os problemas com pragas ainda podem continuar. As pragas de maturação e armazenamento são tão importantes quanto as pragas que ocorrem durante o desenvolvimento da cultura, uma vez que estas podem comprometer o rendimento e a qualidade dos grãos produzidos.
As principais pragas que atacam o milho armazenado são os gorgulhos do arroz e do milho, Sitophilus oryzae e Sitophilus zeamais; a traça-dos-cereais, Sitotroga cerealella; besouro-do-fumo, Lasioderma serricorne; e o besouro-castanho, Tribolium castaneum. Confira a seguir mais detalhes sobre duas delas.
11. Gorgulho-do-milho
O gorgulho-do-milho, Sitophilus zeamais, é muito semelhante ao gorgulho-do-arroz, Sitophilus oryzae, é ambos podem ocorrer juntos, infestando os grãos tanto no campo quanto nos silos.
Os adultos da praga são besouros de cerca de 3 mm de comprimento, de coloração marrom-escuro com manchas vermelho-escuro nos élitros (Figura 11).
A cabeça é projetada para frente, característica comum em besouros da Família Curculionidae. Possuem aparelho bucal mastigador e fortes mandíbulas. São pragas primárias de elevado potencial biótico e que causam danos como a redução de peso e qualidade dos grãos.
Em condições ideais como alta umidade e temperaturas entre 25 e 30 °C, o ciclo de vida de S. zeamais varia de 25 a 30 dias. As fêmeas perfuram e ovipositam os ovos no interior do grão. Cada fêmea pode ovipositar de 300 a 400 ovos ao longo de sua vida. Após a postura, o orifício do grão é selado com uma substância gelatinosa para proteger o ovo.
Após cerca de 4 dias, as larvas eclodem e passam a se alimentar do endosperma do grão. Estas são ápodes e ficam no interior do grão de 10 a 20 dias até empuparem. As pupas são imóveis e os adultos emergem após cerca de 6 dias. Estes rompem o grão e passam a se alimentar dos grãos, copulando e reiniciando o ciclo. Vivem até 5 meses.
Algumas medidas preventivas podem auxiliar no manejo populacional dos gorgulhos, são elas: limpar minuciosamente os silos antes do armazenamento dos grãos; armazenar grãos limpos e secos com teor de umidade inferior a 13%; vedar os silos para impedir a entrada de pragas; e se atentar para a temperatura e aeração dentro dos silos.
O monitoramento dos gorgulhos pode ser feito através de armadilhas, e inspeções visuais periódicas para identificar sinais de infestação como grãos danificados e pó de grãos.
Diversas práticas podem ser integradas para o controle de Sitophilus sp., como: uso de atmosfera modificada, reduzindo a oxigenação dos silos (abaixo 2%) ou aumentando os níveis de CO2 (acima de 60%); controle biológico com vespas parasitoides do gênero Anisopteromalus; fumigação dos silos com pastilhas que liberam gás fosfina (PH3); e uso de inseticidas de contato à base de organofosforados ou piretroides.
12. Traça-dos-cereais
A traça-dos-cereais, Sitotroga cerealella, ataca grãos inteiros, afetando a superfície da massa de grãos nos silos e também infesta farinhas e demais produtos derivados de grãos. As fêmeas da traça depositam seus ovos sobre a superfície dos grãos. Cada fêmea oviposita de 100 a 200 ovos ao longo de sua vida.
Ao eclodirem, as larvas penetram nos grãos e consomem o endosperma destes (Figura 12). Após cerca de 25 dias, empupam no interior dos grãos. Sete a dez dias depois, os adultos emergem (Figura 12). São pequenas mariposas (10 mm de envergadura de asa), de coloração parda e que vivem até 15 dias.
Além da redução do peso dos grãos, assim como S. zeamais, a traça-dos-cereais deixa resíduos na massa de grãos, como excrementos, casulos e restos de grãos. As medidas preventivas, de monitoramento e de controle são similares às descritas para o gorgulho-do-milho.
Conclusões
Diversas pragas acometem o milho ao longo de todo o ciclo de cultivo e durante os períodos de pré e pós-colheita. É de suma importância que se adote um monitoramento assertivo e constante durante todas as fases da cultura, além da implementação de programas de Manejo Integrado de Pragas.
Entretanto, sabemos que o monitoramento frequente pode ser economicamente inviável e dificultado em extensas áreas de cultivo de milho.
Diante deste cenário, a adoção de tecnologias, como o uso de mapas de NDVI (Índice de Vegetação por Diferença Normalizada) para a detecção precoce e precisa de áreas infestadas no cultivo, podem tornar o monitoramento mais rápido e prático.
Além disso, o avanço tecnológico pode contribuir para o posicionamento do controle no momento ideal e melhora da eficiência do manejo de pragas do milho.
—
Que tal expandir ainda mais o seu conhecimento sobre a produção de grãos de milho e de soja?! Clique em “BAIXAR GRÁTIS!”, e faça o download do nosso E-book Nutrição e Proteção para soja e milho!
Referências
EQUIPE FieldView™. 5 dicas para tratar das pragas na cultura do milho. 2022. Blog FieldView™. Disponível em: <https://blog.climatefieldview.com.br/pragas-na-cultura-do-milho>. Acesso em: 08 jan. 2025.
MOREIRA, H.J. da C.; ARAGÃO, F. D. Manual de pragas do milho. Campinas:[sn], p. 132, 2009. Disponível em: <https://www.agrolink.com.br/downloads/manual%20de%20pragas%20do%20milho.pdf>. Acesso em: 07 jan. 2025.
Sobre a autora:
Gabryele Silva Ramos
Doutoranda em Entomologia (ESALQ/USP)
- MBA em Marketing (ESALQ/USP)
- Mestre em Proteção de Plantas (UNESP/Botucatu)
- Engenheira Agrônoma (UFV)
Como citar este artigo:
RAMOS, G.S. 12 principais pragas do milho: guia completo de identificação e controle. Blog Agroadvance. 2025. Disponível em: https://agroadvance.com.br/blog-principais-pragas-do-milho/. Acesso: xx Xxx 20xx.