O café é aquele velho companheiro das manhãs, das reuniões e das conversas despretensiosas. Mas você já parou para pensar por que o preço desse grão tão amado tem subido tanto?
Vamos entender como a recente valorização do café tem transformado esse hábito diário em um verdadeiro artigo de luxo.
O mercado atravessa um dos períodos mais voláteis da história, com preços atingindo patamares recordes. Para os produtores, essa alta pode parecer uma grande oportunidade, mas há riscos envolvidos.
Analisando os dados históricos, o preço do café arábica aumentou impressionantes 1.633% de 1996 a 2025, enquanto o robusta valorizou 3.651% de 2001 a 2025.
No varejo, o impacto também foi significativo: o preço do café torrado e moído subiu aproximadamente 1.000% nos últimos 28 anos, passando de R$ 5,10/kg em 1997 para R$ 56,10/kg em janeiro de 2025.
Vale destacar que, em agosto de 2024, o preço médio já havia alcançado R$ 39,63/kg, marcando o maior valor registrado em quase três décadas.
O café está mais caro, principalmente, devido à queda na produção do Vietnã e da Indonésia, tornando o Brasil um dos maiores exportadores.
Neste artigo, iremos explorar as principais causas da alta no preço do café, seus impactos e as estratégias para mitigar os desafios da volatilidade do mercado.
Preço do café bate recorde
Nos últimos anos, o preço do café tem passado por oscilações significativas, impulsionado por eventos climáticos e pelo aumento da demanda global.
Nos últimos dias, ao conversar com várias pessoas, a frase mais ouvida tem sido: “o café está mais caro”. E não é por acaso: o preço do café bateu recorde histórico.
Em 12 de fevereiro de 2025, conforme a média CEPEA, o preço da saca de 60 kg de café arábica atingiu o maior valor já registrado, chegando a R$ 2.769. Ao final de fevereiro, o preço fechou em R$ 2.628.
Esse é o valor da saca mais alto em décadas, impactando toda cadeia produtiva e de consumo. A seguir, apresentamos um gráfico que ilustra o impacto para o mercado consumidor, a evolução do preço do café torrado e moído comercializado no varejo ao longo dos anos (Figura 1).

Fonte: Sebim (2025), adaptado de ABIC (2025).
O café robusta também alcançou seu recorde histórico em 23 de janeiro de 2025, com a máxima de R$ 2.102 por saca de 60 kg. No encerramento de fevereiro, registrou a maior média mensal da história, atingindo R$ 2.050 (Figura 2).

Fonte: Sebim (2025), adaptado de CEPEA/ESALQ (2025).
Evolução do preço do café nos últimos anos
De 2021 para 2023 as oscilações ocorreram em virtude de eventos climáticos, como geadas e secas no Brasil.
Em 2024 houve um aumento da demanda, o que impactou na oferta global do café.
No início 2025 houve então os recordes nos preços, impulsionado por eventos climáticos extremos ocorridos em 2024, que comprometeu a safra 2024/25, reduzindo a oferta do produto no mercado.
Principais causas da alta no preço do café
1. Condições climáticas adversas
O clima tem sido um dos principais fatores para a alta no preço do café. Geadas, secas prolongadas e chuvas irregulares afetaram a produção de café no Brasil e em outros grandes produtores como o Vietnã e a Indonésia.
A florada do café ocorre geralmente entre setembro e novembro (a depender da espécie, arábica ou robusta, e condições climáticas).
Com o estresse hídrico durante o inverno e a queda de temperatura, o nível de ácido abscísico (ABA) cai e o de giberelina aumenta. Com as chuvas, o nível de giberelina se mantém, e os de auxina e citocinina começam a aumentar.
Após esse período inicial de estímulo hormonal causado pelas chuvas, ocorre o desenvolvimento dos botões florais, culminando na abertura das flores. A falta de chuvas adequadas durante a floração pode resultar em um pegamento deficiente dos frutos, comprometendo a safra.
Em 2023, por exemplo, chuvas significativas em julho e agosto anteciparam a florada, mas a ausência de precipitações subsequentes prejudicou o desenvolvimento dos frutos chumbinhos.
Além disso, altas temperaturas e estiagem, podem causar desfolhamento nas plantas, reduzindo a área fotossintética.
A inúmeros relatos de produtores sobre o surgimento de florada em épocas não habituais, como março e abril, e até mesmo em maio e junho. O que supostamente pode estar relacionado as altas temperaturas.
O déficit hídrico no estádio de enchimento de fruto (dezembro a fevereiro) também é extremamente prejudicial as lavouras, o que já ocorreu este ano, reduzindo o potencial produtivo dos cafezais.
2. Crescente demanda global
O consumo de café continua crescendo, principalmente em mercados emergentes como China e Índia, ao mesmo tempo que os mercados tradicionais mantêm alta demanda.
Os países emergentes têm demonstrado um aumento no consumo da bebida, em razão das mudanças nos hábitos alimentares e introdução de cafeterias.
Na China, o consumo de café disparou: as importações brasileiras cresceram de US$ 3,2 milhões em 2010 para US$ 214 milhões em 2024.
Estima-se que o consumo global de café na safra 2024/25 seja de 168,1 milhões de sacas de 60 kg, um aumento de 3,1% na comparação com o ciclo anterior, sendo o segundo maior da história.
Além disso, o estoque mundial de café previsto para o final da safra 2024/25 é de 20,9 milhões de sacas de 60 kg, o menor nos últimos 25 anos, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
3. Redução da produção
A menor oferta global causada por problemas climáticos reduziu a disponibilidade do produto no mercado, elevando os preços.
O Vietnã, maior exportador mundial de café robusta, registrou uma queda de 17,2% na produção devido à seca, impactando a oferta global e aumentando a demanda pelo café brasileiro.
Esse cenário impulsionou as exportações do café robusta brasileiro, mas também reduziu os estoques internos do produto.
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a previsão de produção para o Brasil em 2025 é de 51,8 milhões de sacas de 60 kg, redução de 4,4% comparada a safra anterior.
4. Impacto dos custos de produção
Os custos com insumos agrícolas, como fertilizantes e defensivos, aumentaram nos últimos anos, aumentando o custo final da produção e impactando diretamente o valor da commodity.
Esse aumento pressiona a margem de lucro dos produtores, que precisam equilibrar seus custos operacionais diante de um mercado instável.
5. Especulação no mercado de commodities
Investidores e especuladores têm apostado na valorização do café, o que intensifica as oscilações de preço.
A diretora da Organização Internacional do Café (OIC), Vanusia Nogueira, alerta para a necessidade de um equilíbrio entre oferta e demanda para evitar variações extremas nos preços.
Além disso, como o café é comercializado em dólar, a valorização da moeda americana em 2024 pressionou ainda mais o preço do grão para os consumidores brasileiros.
Diante dos preços atrativos, o Brasil bateu o recorde de exportação de café em 2024, embarcando cerca de 50,5 milhões de sacas de 60 kg para o exterior.
No entanto, na primeira quinzena de fevereiro de 2025, houve uma queda nas exportações, influenciada pela restrição da oferta interna de grãos.
O baixo estoque global de café fortalece a expectativa de preços elevados pelo menos até março de 2025, impulsionado pela oferta restrita e pela demanda aquecida.
Oportunidade ou risco para o produtor?
Embora preços altos sejam um alívio para muitos produtores, a volatilidade do mercado pode representar um risco. Estratégias como hedge, contratos futuros e diversificação da produção são fundamentais para evitar prejuízos em caso de quedas bruscas.
O aumento nos preços motiva os produtores a expandirem o plantio para novas áreas. No entanto, isso pode se tornar um problema no futuro, cerca de dois ou três anos depois, quando esse café irá chegar no mercado, elevando a oferta e provocando queda nos preços.
Em situações de bonança o produtor precisa ter cautela na tomada de decisão e no planejamento, evitando medidas abruptas e precipitadas em virtude do valor atrativo de mercado do café.
Fatores que aumentam o risco de quebra do produtor
- Altos custos de produção: O aumento nos preços das commodities costuma vir acompanhado do encarecimento de fertilizantes, defensivos, combustíveis e outros insumos, reduzindo a margem de lucro.
- Endividamento mal estruturado: Dívidas com juros altos e prazos curtos podem gerar dificuldades de pagamento, mesmo quando os preços de venda estão elevados.
- Exposição ao câmbio e volatilidade do mercado: Muitos insumos são precificados em dolar, e a valorização do real pode reduzir a rentabilidade das exportações.
- Fatores climáticos e produtivos: Evento como seca, geada e ataque de pragas podem reduzir a produção e comprometer os ganhos, mesmo em momentos de preços elevados.
- Mau planejamento financeiro: A falta de estratégias de proteção, como travas de preços e hedge, pode levar o produtor a vender na baixa, mesmo em anos de preços médios elevados.
Gestão estratégica e financiamento
A inclusão do café na pauta do G7 representa uma oportunidade significativa para ampliar o acesso a financiamentos destinados aos pequenos produtores.
Essa iniciativa pode facilitar a adoção de tecnologias e práticas agrícolas mais sustentáveis, essenciais para mitigar os impactos das mudanças climáticas e atender às novas regulamentações internacionais, como as leis europeias contra o desmatamento.
Além disso, ao integrar o café nas discussões sobre segurança alimentar, o G7 reconhece a importância de apoiar financeiramente os agricultores familiares, contribuindo para a estabilidade econômica e social das comunidades rurais.
Para driblar futuras oscilações e queda no preço do café, listamos abaixo algumas das alternativas estratégicas de financiamento para mitigar o problema:
📌 Linhas de crédito com prazos e juros adequados
- Buscar crédito rural com taxas subsidiadas.
- Refinanciar dívidas para prazos mais longos e juros menores.
📌 Gestão eficiente do fluxo de caixa
- Separar custos fixos e variáveis.
- Evitar comprometer toda a receita futura com dívidas atuais.
📌 Uso de hedge e contratos futuros
- Fixação de preços para garantir margens mínimas de lucro.
- Uso de derivativos como opções e contratos a termo.
📌 Programas de barter (troca de produção por insumos)
- Reduz o risco cambial e protege contra oscilações de preços dos insumos.
📌 Seguros agrícolas e programas de proteção
- Contratar seguro rural para garantir cobertura contra perdas climáticas.
Ter uma estratégia de financiamento bem definida pode ser a diferença entre aproveitar bons preços ou enfrentar dificuldades mesmo em um cenário aparentemente favorável.
O equilíbrio entre crédito, proteção de preços e planejamento financeiro é essencial para a sustentabilidade do produtor.
Capital de giro e custeio: linhas de crédito especificas permitem que os produtores cubram despesas operacionais, garantindo a continuidade das atividades mesmo diante de oscilações de mercado.
Conclusão
Nesse artigo você viu que o mercado do café em 2025 apresenta um cenário duplo: ao mesmo tempo que os preços elevados podem ser uma excelente oportunidade para o produtor, a volatilidade impõe desafios que exigem estratégia e planejamento.
A história já mostrou que momentos de bonança podem ser seguidos por períodos de baixa, e a chave para navegar essas oscilações está na gestão eficiente dos recursos, no uso inteligente do crédito e na diversificação dos riscos.
Diante desse cenário, a pergunta que fica é: seu negócio está preparado para aproveitar esse ciclo de valorização sem comprometer a sustentabilidade a longo prazo?
O sucesso do produtor depende não apenas do preço da saca, mas de decisões bem fundamentadas hoje para garantir a estabilidade amanhã.
A chave para driblar oscilações do mercado de commodities está na gestão estratégica e no planejamento. O financiamento pode ser um importante aliado do produtor nesse período.
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Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – CEPEA/ESALQ. (2025). Preços Agropecuários: Café Arábica e Robusta. Disponível em: https://www.cepea.org.br/br/indicador/cafe.aspx. Acesso em: 2 mar. 2025.
Sobre o autor:

João Paulo Marim Sebim
Doutorando em fitotecnia (ESALQ/USP)
- Mestre em Produção Vegetal (UFAC)
- Engenheiro Agrônomo (UFAC)
SEBIM, J.P.M. Alta no preço do café em 2025: Oportunidade ou Risco para o Produtor? Blog Agroadvance. 2025. Disponível em: https://agroadvance.com.br/blog-alta-no-preco-do-cafe-2025/ . Data de acesso: xx Xxx 20xx.