A colheita da soja é um momento importante para os produtores, e as perdas durante esse processo podem impactar diretamente a rentabilidade da safra. Com o Brasil se consolidando como um dos principais produtores mundiais de soja, estimando uma produção superior a 170 milhões de toneladas para 2024/25, minimizar desperdícios se torna essencial para manter a competitividade e a eficiência no campo.
Diversos fatores influenciam as perdas na colheita, que podem ocorrer em diferentes etapas do processo, desde o momento da colheita até o transporte e o armazenamento, sendo causadas por fatores como a regulagem inadequada da colheitadeira, umidade dos grãos fora da faixa ideal (entre 13% e 15%), condições climáticas desfavoráveis e falhas no manejo da lavoura.
Estudos indicam que, em algumas regiões, essas perdas podem ultrapassar uma saca por hectare, superando o limite considerado aceitável. Isso torna o uso de boas práticas fundamental para evitar desperdícios.
Vamos entender como garantir uma colheita eficiente e reduzir ao máximo as perdas? Boa leitura!
Período ideal para a colheita da soja
A colheita da soja no Brasil ocorre principalmente entre janeiro e maio, variando conforme a região e o ciclo da cultura. Estados como Mato Grosso iniciam a colheita ainda em janeiro, enquanto no Sul do país, a colheita se estende até maio devido ao plantio tardio.
A definição do momento ideal é importante para evitar perdas e garantir qualidade dos grãos. A soja atinge a maturação quando mais de 95% das vagens apresentam coloração amarelada ou marrom, indicando que os grãos perderam a umidade necessária para seu desenvolvimento.
O monitoramento dessa fase pode ser feito por meio de análise visual e avaliação da umidade dos grãos com medidores específicos.

Você sabia?
“Para a safra 2024/25, as projeções apontam que o Brasil deve exportar 105,5 milhões de toneladas de soja em grãos. As vendas de farelo de soja estão estimadas em 22 milhões de toneladas, enquanto as exportações de óleo de soja devem alcançar 1,4 milhão de toneladas (Fonte: CONAB e APROSOJA, 2025)”.
Calendário de colheita da soja por região
A colheita da soja segue diferentes períodos dependendo das características climáticas, das cultivares de soja utilizadas e do manejo adotado em cada local (Tabela 1).
Tabela 1. Principais colheitas de soja no Brasil em função da época
Região | Início da colheita | Fim da colheita |
Norte | Janeiro | Outubro |
Nordeste | Fevereiro | Maio |
Centro-Oeste | Janeiro | Abril |
Sudeste | Janeiro | Abril |
Sul | Janeiro | Maio |
A Figura 2, também apresenta um panorama dos períodos de plantio e colheita em diferentes regiões (e estados) do Brasil.

Fonte: Conab, 2022.
A evolução da colheita da soja no Brasil na Safra 2024/25
A colheita da soja no Brasil registrou um avanço significativo entre janeiro e fevereiro de 2025. No início do ano, de acordo com a Pátria Agronegócios, apenas 0,23% da área total cultivada havia sido colhida. Esse percentual era consideravelmente inferior aos 2,38% registrados em 2024, aos 0,85% de 2023 e à média de 1,55% dos últimos cinco anos para o mesmo período.
Esse início mais lento foi atribuído aos atrasos no plantio de setembro, especialmente no Mato Grosso, o que impactou o calendário da colheita em nível nacional.
No entanto, em fevereiro de 2025, a colheita evoluiu para 16,78% da área, demonstrando uma aceleração expressiva dos trabalhos no campo. Apesar desse progresso, o ritmo ainda está atrás do registrado em 2024, quando o percentual colhido era de 23,83%, além de ficar abaixo da média dos últimos cinco anos, que é de 21,43% para este mesmo período (Figura 3).

O Mato Grosso continua a ser um fator de preocupação devido aos atrasos acumulados, o que pode comprometer a janela de plantio da segunda safra. Mesmo assim, houve melhora na velocidade da colheita em outras regiões, especialmente no Centro-Oeste, impulsionada por condições climáticas mais favoráveis.
A expectativa é de que o ritmo continue aumentando nas próximas semanas, à medida que o ciclo das culturas avança e o clima se mantém propício para as atividades no campo.

Projeção da Produção de soja no Brasil por estado em 2025
A seguir, a tabela apresenta as projeções de produção de soja para os principais estados produtores do Brasil, de acordo com a CONAB. Esses números demonstram a importância da cultura para o agronegócio nacional e os desafios logísticos que envolvem sua colheita.
Tabela 2. Expectativa de produção de soja no Brasil por Estado (2025).
Estado | Produção (milhões de toneladas) |
Mato Grosso | 40,5 |
Paraná | 20,8 |
Rio Grande do Sul | 19,2 |
Goiás | 14,5 |
Bahia | 6,7 |
Fonte: Conab, 2025.
O uso de colheitadeiras modernas, sensores e inteligência artificial tem sido essencial para otimizar a logística da colheita e reduzir perdas no campo.
Como se preparar para a Colheita da Soja?
A colheita da sojamarca o momento em que todo o trabalho realizado ao longo da safra se reflete nos resultados obtidos.
Para que essa fase ocorra de forma organizada e com o mínimo de perdas, o planejamento prévio faz toda a diferença, envolvendo cuidados técnicos, operacionais e logísticos.
Essa preparação começa antes da entrada das máquinas no campo. O sucesso da colheita depende da atenção a detalhes importantes, como o acompanhamento da maturação da lavoura, a revisão dos equipamentos e a organização do transporte e do armazenamento dos grãos.
O descuido com qualquer um desses pontos pode impactar diretamente a qualidade final da produção. Aqui estão os principais pontos a considerar antes de iniciar a colheita:
- Monitoramento da maturação: acompanhe o estágio de desenvolvimento da soja, observando a coloração das vagens e o teor de umidade dos grãos, que deve estar entre 13% e 15%.
- Dessecação da lavoura: avalie a necessidade da dessecação para uniformizar a maturação, facilitando o processo de colheita e reduzindo perdas.
- Revisão e manutenção de máquinas: verifique o estado das colheitadeiras, tratores e implementos. Faça ajustes necessários para evitar danos aos grãos e garantir o bom desempenho do maquinário.
- Planejamento logístico: organize o fluxo de transporte e o armazenamento da safra, verificando se caminhões e silos estão prontos para receber os grãos.
- Treinamento da equipe: certifique-se de que os operadores estejam preparados para lidar com os equipamentos e para tomar decisões rápidas em situações inesperadas.
- Monitoramento climático: acompanhe as previsões do tempo para evitar a colheita em dias chuvosos, o que pode afetar negativamente a qualidade dos grãos.
Condições ideais para a colheita da soja
Para obter um bom resultado na colheita da soja, é importante observar três pontos principais: umidade do grão, condições climáticas e regulagem da colheitadeira. Esses fatores impactam diretamente a qualidade dos grãos e o desempenho da colheita.
1. Umidade do grão
A umidade adequada para a colheita está entre 13% e 15%, faixa que contribui para reduzir injúrias mecânicas causadas pela colhedora.
- Acima de 15%: há maior risco de danos mecânicos latentes, ou seja, problemas que não aparecem de imediato, mas comprometem os grãos no armazenamento.
- Abaixo de 13%: cresce a ocorrência de danos mecânicos imediatos, como grãos quebrados, popularmente conhecidos como “bandinhas” (metades).
No estádio R8 (conforme a escala de Fehr & Caviness, 1977), cerca de 95% das vagens apresentam coloração madura, indicando que a soja está próxima do ponto de colheita. Nesse estágio, os grãos perdem umidade rapidamente, especialmente em períodos de clima seco, atingindo o teor adequado em 5 a 10 dias.

2. Condições climáticas
- A colheita deve ser feita em períodos de clima seco, o que reduz a umidade residual nos grãos e evita dificuldades no processo de trilha.
- Evite colher durante ou logo após chuvas, pois o excesso de água pode causar danos mecânicos e prejudicar a separação dos grãos.
- O acompanhamento da previsão do tempo é importante para planejar a colheita em períodos favoráveis.
3. Regulagem da colheitadeira
- O processo de colheita envolve três etapas: corte (seccionamento da parte aérea), trilha (separação dos grãos das vagens) e limpeza (remoção de impurezas).
- A colheitadeira possui sistemas mecânicos, elétricos e hidráulicos que precisam estar ajustados de forma adequada para cada etapa.
- Ajustes inadequados podem resultar em perdas, tanto no campo quanto dentro da própria máquina. Por isso, é recomendada a leitura do manual do fabricante antes de realizar qualquer regulagem.
- Manter uma manutenção preventiva contribui para o bom funcionamento dos equipamentos e reduz riscos de falhas durante a colheita.
Perdas na Colheita de soja
As perdas na colheita da soja representam um desafio para os produtores, impactando diretamente o resultado final da safra.
Esses desperdícios podem ocorrer em diferentes etapas do processo, desde o planejamento da lavoura até o armazenamento dos grãos. Fatores como regulagem inadequada das máquinas, manejo incorreto da dessecação, condições climáticas desfavoráveis e falta de preparo dos operadores estão entre as principais causas.
Embora seja difícil eliminá-las por completo, é possível reduzir seu impacto por meio de práticas agrícolas bem conduzidas e atenção a detalhes que, muitas vezes, passam despercebidos.
O conhecimento sobre as causas mais comuns permite ajustes em procedimentos que ajudam a evitar perdas desnecessárias.
A tabela 3 resume os principais fatores que contribuem para as perdas na colheita da soja e seus impactos estimados, baseando-se em dados observados em diferentes cenários de produção.
Tabela 3. Fatores de perdas e impactos estimados na colheita de soja no Brasil
Fatores de Perdas | Impacto Estimado (%) |
Planejamento inadequado da lavoura | Variável |
Dessecação pré-colheita mal executada | Até 5% |
Altura da planta e umidade dos grãos | Até 15% (em áreas acamadas) |
Colheita mecanizada sem ajustes adequados | Variável |
Perdas nos mecanismos internos da colheitadeira | 15% a 20% |
Barra de corte da plataforma | Até 64% das perdas totais |
Fonte: Silveira, 2024.
Como calcular as perdas na colheita da soja?
A Embrapa recomenda um cálculo simples para estimar perdas:
- Delimitação de área: marque um espaço de 2 m² na lavoura após a passagem da colheitadeira.
- Coleta de grãos caídos: contabilize os grãos não colhidos.
- Conversão para sacas/hectare: a cada 40 grãos por metro quadrado, estima-se uma perda de aproximadamente 1 saca/ha.
Além dessa metodologia, existem equipamentos modernos que utilizam sensores para medir as perdas em tempo real, permitindo ajustes imediatos na regulagem da colheitadeira.
Conclusão
A soja é um dos pilares do agronegócio brasileiro, com grande impacto tanto no mercado interno quanto nas exportações. No entanto, as perdas durante a colheita continuam sendo um desafio, podendo representar até 10% da produção total em algumas regiões.
Para reduzir esse desperdício, é importante adotar práticas de manejo adequadas, como o ajuste correto da colheitadeira, o monitoramento da umidade dos grãos e a escolha do momento certo para a colheita. Além disso, uma logística bem planejada contribui para preservar a qualidade dos grãos desde o campo até o armazenamento.
O futuro da colheita da soja está cada vez mais conectado ao uso de tecnologias agrícolas, que ajudam a otimizar processos e reduzir perdas. Com planejamento, atenção aos detalhes e conhecimento técnico, é possível realizar a colheita de forma organizada, preservando o potencial da safra e a qualidade dos grãos.
Pós-graduação em Soja e Milho
Quer aprender mais sobre como otimizar a colheita da soja e reduzir perdas? Conheça a Pós-graduação em Soja e Milho da Agroadvance e aprimore suas estratégias de produção!
Clique em saiba mais:
EMBRAPA. Recomendações técnicas para a cultura da soja na região Central do Brasil – 2000/01. Londrina: Embrapa Soja, 2000. 245 p.
HEIFFIG, L. S.; CÂMARA, G. M. S.; MARQUES, L. A.; PEDROSO, D. B.; PIEDADE, S. M. S. Plasticidade da cultura da soja (Glycine max (L.) Merrill) em diferentes arranjos espaciais. Revista de Agricultura, v. 84, p.204-219, 2009.
PINHEIRO NETO, R.; GAMERO, C. A. Efeito da colheita mecanizada nas perdas qualitativas de grãos de soja (Glycine Max (L.) Merrill). Engenharia Agrícola, v. 20, n. 3, p. 250-257, 2000.
Sobre o autor:

Alasse Oliveira da Silva
Doutorando em Produção Vegetal (ESALQ/USP)
- Engenheiro agrônomo (UFRA) e Técnico em agronegócio
- Mestre e especialista em Produção Vegetal (ESALQ/USP)
SILVA, A.O. Colheita de Soja Sem Desperdícios: Como Calcular e Minimizar Perdas.2025. Blog Agroadvance. Disponível em: https://agroadvance.com.br/blog-colheita-da-soja-calculo-de-perdas/. Data de acesso: xx Xxx 20xx.