Você já se perguntou como a tecnologia pode tornar o uso de insumos mais eficiente?
A aplicação em taxa variável (ATV) pode aumentar a produtividade agrícola em diferentes porcentagens, dependendo de vários fatores, como o tipo de cultura, as condições do solo, implementação da tecnologia e ainda reduzir o uso de fertilizantes (Pawase et al.; 2023).
Mas como isso é possível?
Com o auxílio da tecnologia é possível que cada metro quadrado de um talhão receba exatamente a quantidade de insumos que precisa, nem mais, nem menos.
Isso é o que a ATV promete. Utilizando sensores avançados, drones e sistemas de GPS, essa tecnologia permite que os agricultores apliquem fertilizantes, defensivos agrícolas e sementes de forma precisa, de acordo com as necessidades específicas de cada área do campo.
Além de aumentar a eficiência, a ATV também contribui para a redução de custos e do impacto ambiental. Em um mundo onde a sustentabilidade é cada vez mais importante, essas vantagens não podem ser ignoradas.
A tecnologia de ATV não só melhora a saúde das plantas, mas também protege o solo e os recursos hídricos, promovendo uma agricultura mais responsável e lucrativa.
Neste artigo, vamos falar como a aplicação em taxa variável funciona, quais são as tecnologias envolvidas e os benefícios que ela traz para os agricultores.
Vamos discutir os desafios e as melhores práticas para implementar essa tecnologia no campo. Fique com conosco e descubra como a VRT pode auxiliar sua produção e levar a sua fazenda para o próximo nível.
O que é aplicação em taxa variável?
A taxa variável refere-se a uma abordagem de aplicação de insumos agrícolas, como fertilizantes, sementes e água, ajustada de acordo com as necessidades específicas de diferentes áreas dentro de um campo agrícola (PAWASE et al. 2021).
Diferente da taxa variável, a taxa fixa é à aplicação uniforme de insumos agrícolas, independentemente das variações nas condições do solo ou nas necessidades das plantas. Define-se uma dose (ex: 350 kg de fertilizantes por hectare) e ela é aplicada em todo o talhão. É isso o que é feito na grande maioria dos manejos agrícolas brasileiros.
A técnica de taxa variável, por sua vez, faz parte da agricultura de precisão e permite que os agricultores apliquem insumos de maneira mais eficiente.
Nela, o talhão é dividido em Zonas de Manejo (Management Zones – MZs), caracterizadas por fatores uniformes, como tipo de solo, crescimento da cultura e rendimento e a aplicação de defensivos é variável de acordo com essas condições específicas (Figura 1).
Considere que as áreas em vermelho na Figura 1 representam pH do solo menor 4 e áreas em verde pH entre 5,5 e 6,5. Há necessidade de aplicar calcário em todo o talhão?
A reposta na ótica da taxa variável é “não”, pois você irá aplicar esse corretivo apenas nas área o pH é menor que 4. Pense em termos econômicos a economia que essa prática pode levar ao campo. Além de dinheiro, também otimiza tempo.
Porém, se essa aplicação fosse realizada em taxa fixa, seria em área total, pois, não se leva em consideração as especificidades de cada talhão.
Veja como a aplicação em taxa variável permite uma aplicação mais específica de insumos, o que resulta em economia no campo.
Por exemplo, um estudo realizado por Dusadeerungsiku et al. (2020), destaca a importância da fertilização específica para o local, mostrando como isso pode aumentar tanto o rendimento quanto o teor de proteína do trigo durum (Triticum durum) no Norte da Itália.
Veja como além de fatores mecânicos, a aplicação em taxa variável também pode ocasionar em respostas fisiológicas significativas nas culturas cultivadas.
Outro resultado obtido por Pawase et al. (2021), destaca que a Aplicação em Taxa Variável demonstrou aumentar a eficiência do uso de fertilizantes, com uma economia de até 40% em alguns casos, ao aplicar a quantidade exata de nutrientes necessária para cada área do campo.
Como fazer semeadura em taxa variável?
Existem alguns estudos que mostram que em áreas com maior potencial produtivo (mais férteis) o aumento do número de plantas por hectare pode resultar em maiores colheitas, enquanto em áreas mais pobres com menor potencial produtivo) o ideal é reduzir a população de plantas. Para saber mais detalhes, veja o vídeo abaixo do Professor Vinícius Cunha:
Se você, produtor rural, deseja fazer a semeadura da sua lavoura em taxa variável, existem alguns fatores que você deve considerar.
Pensando nisso, montamos um passo a passo para você:
Análise de solo
Essa etapa permite que você conheça as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo.
Com base nos resultados dessa análise, o você pode planejar e ajustar a adubação e a fertilização de forma mais precisa, garantindo que o solo esteja devidamente preparado para a semeadura.
Dados históricos
Conheça seus dados de safras anteriores e identifique as dificuldades enfrentadas durante os ciclos passados é para uma semeadura eficiente.
Como falamos, você pode obter imagens de satélite, relatórios financeiros, históricos de pragas e plantas daninhas, além de outros registros pertinentes. A consulta a mapas de produtividade e colheita é fundamental, pois eles apontam as áreas com maior ou menor rendimento em safras anteriores.
Determine a população ideal de plantas
Defina a densidade populacional adequada de plantas para cada área da lavoura. Para isso, você irá precisar de uma análise das características da cultura que será implantada, considerando sua capacidade reprodutiva, condições ambientais ideais e particularidades das cultivares. Para esse processo, caso surja alguma dúvida, consulte um engenheiro agrônomo ou técnico agrícola.
Aplicação dos resultados
Agora imagine que você já possui os dados da análise de solo e o histórico da lavoura em mãos, e com isso, pode cruzar as informações para identificar as causas da variabilidade observada no campo. Existem softwares de gestão agrícola que podem auxiliar você nesse processo, alguns deles, como o fieldview, permitem a integração entre os dados para a melhor tomada de decisão.
Se você seguir esses passos, eles podem ajudá-lo a aumentar a eficiência da semeadura, resultando em maior produtividade e uso otimizado de recursos.
Métodos de aplicação da taxa variável
Nesse momento, já entendemos o que é taxa variável e como ela pode ser utilizada na lavoura. Agora iremos explicar as duas divisões desse processo:
- Baseado em mapas: Este método utiliza mapas de prescrição criados a partir de amostras de solo e dados de rendimento anteriores. Um controlador de taxa variável (VRA) aplica fertilizantes com base nas informações espaciais do mapa.
- Baseado em sensores: Utiliza sensores que medem as necessidades de nutrientes em tempo real, ajustando a aplicação de fertilizantes enquanto o equipamento se move pelo campo utilizando algum maquinário.
Aplicação prática da taxa variável
Como falamos anteriormente, a aplicação em taxa variável permite ajustar a quantidade de insumos agrícolas de acordo com a produtividade e a fertilidade de diferentes áreas do campo.
Fizemos um aparato de exemplos para ilustrar esse conceito e facilitar sua compreensão:
Fertilizantes
- Áreas mais produtivas: Nessas áreas, a aplicação de fertilizantes pode ser reduzida, pois o solo já possui uma boa quantidade de nutrientes. Isso evita o desperdício e a superaplicação. Isso pode ser feito com base em seus dados anteriores de colheita, seja obtido via satélite ou por sensores. Isso também é válido para as zonas de baixa produtividade, a aplicação de fertilizantes pode ser aumentada para corrigir deficiências nutricionais e melhorar a produtividade das culturas.
Sementes
- Áreas mais produtivas: O uso de semente aplicadas em taxa variável segue a mesma lógica do uso de fertilizantes. Ou seja, em áreas com alta fertilidade, pode-se aumentar a densidade de sementes, pois o solo pode suportar um maior número de plantas, resultando em uma colheita mais abundante e áreas com menor fertilidade, a densidade de sementes pode ser reduzida para evitar competição excessiva por nutrientes e água, garantindo que as plantas tenham melhores condições de crescimento.
Agora, você já sabe qual deve ser o comportamento da sua lavoura em função de diferentes cenários. Essa mesma lógica pode ser utilizada para calcário e inseticidas. No sistema de taxa variável, tudo vai depender da necessidade.
Desafios e custos para implementação da aplicação em taxa variável
Mostramos a você as principais vantagens do uso da Aplicação em Taxa Variável em sua propriedade rural, mas além disso, vamos apresentar os desafios e os custos caso você deseje instalar a prática em sua lavoura.
A implementação da ATV na agricultura de precisão oferece muitos benefícios.
Veja alguns dos principais aspectos:
Desafios
- Alto investimento inicial: A aquisição de sensores, drones, sistemas de GPS, controladores de taxa variável e softwares de análise representa um investimento alto. Além disso, muitas vezes é necessário atualizar ou substituir máquinas agrícolas para que sejam compatíveis com a tecnologia de VRT.
- Capacitação técnica: Os Operadores precisam ser treinados para utilizar as tecnologias e interpretar os dados coletados. A implementação de VRT pode exigir suporte técnico para manutenção e resolução de problemas com os equipamentos e softwares.
- Coleta e análise de dados: Um sistema de aplicação em taxa variável depende da precisão dos dados coletados, incluindo amostragens de solo, imagens de drones e dados de sensores, que devem ser precisos e atualizados. Como sempre destacamos, quanto mais dados, melhor. Analisar e interpretar grandes volumes de dados para criar mapas de prescrição precisos pode ser complexo e exigir conhecimentos especializados.
- Integração de sistemas: Garantir que todos os sistemas e equipamentos sejam compatíveis e funcionem de forma integrada pode ser um desafio técnico. A calibração correta dos equipamentos é necessária para garantir a precisão na aplicação dos insumos.
Custos
- Equipamentos e tecnologias: Como falamos a cima, o custo de equipamentos iniciais pode ser elevado. Investir em sistemas de posicionamento de alta precisão, como GPS e GNSS, é necessário para a implementação da VRT.
- softwares de análise: softwares de mapeamento e análise de dados geralmente requerem licenças que podem ser caras. O Arcgis, por exemplo, apresenta custo inicial de mais R$ 1000,00. Manter os softwares atualizados para garantir a precisão e a funcionalidade também pode representar um custo contínuo.
- Treinamento e suporte técnico: Como você já deve imagina, além de ser um desafio, o suporte técnico constante também é um custo. Além disso, contratar serviços de suporte técnico para resolver problemas e realizar manutenções pode ser um custo adicional.
- Manutenção de equipamentos: Os equipamentos de aplicação em taxa variável requerem manutenção regular para garantir seu funcionamento correto. À medida que novas tecnologias são desenvolvidas, pode ser necessário atualizar os equipamentos existentes para manter a competitividade.
Novamente, reafirmamos que os custos podem ser variáveis em função da região, dos equipamentos e dos profissionais que você irá utilizar. Além disso, a escolha desses fatores deve levar em consideração a necessidade de sua lavoura.
Conclusão
Neste artigo, você aprendeu que a aplicação em taxa variável pode ser rentável e sustentável para sua propriedade.
Além de reduzir o desperdício e os custos, a VRT contribui para a redução do impacto ambiental dos insumos agrícolas. Com o uso de mapas de taxa variável e dados de sensoriamento remoto, você pode tomar decisões mais informadas e precisas, resultando em colheitas mais uniformes e produtivas.
A adoção dessa tecnologia pode auxiliar nas demandas crescentes por alimentos e para promover uma agricultura mais eficiente!
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Referências
DUSADEERUNGSIKUL, PO.; LIAKOS, V.; MORARI, F.; NOF, S.; BECHAR, Y. Avital. Smart action. In: CASTRIGNANÒ, A.; BUTTAFUOCO, G.; KHOSLA, R.; MOUAZEN, A.M.; MOSHOU, D.; NAUD, O. (Org.). Agricultural Internet of Things and Decision Support for Precision Smart Farming. Academic Press, 2020. p. 225-277. ISBN 9780128183731.
PAWASE, P. P.; NALAWADE, S. M.; BHANAGE, G. B.; WALUNJ, A. A.; KADAM, P. B.; DURGUDE, A. G.; PATIL, M. R. Variable rate fertilizer application technology for nutrient management: A review. International Journal of Agricultural and Biological Engineering, v. 16, n. 4, p. 11-19, 2023.
Sobre o autor:
Jhonatah Albuquerque Gomes
Doutorando em Fitotecnia (ESALQ/USP)
- Engenheiro agrônomo (UFRA)
- Mestre em Fitotecnia (ESALQ/USP)
- MBA em Data Science e Analytics (USP)
Como citar este artigo:
GOMES, J.A. Aplicação em taxa variável: uma ação inteligente para otimizar insumos. Blog Agroadvance. 2024. Disponível em: https://agroadvance.com.br/blog-aplicacao-de-insumos-em-taxa-variavel/. Acesso: xx Xxx 20xx.