Equipe de campo bem treinada, bons equipamentos de aplicação e a seleção criteriosa de moléculas formam os três pilares fundamentais para o manejo eficiente de plantas daninhas na cana-de-açúcar.
Os herbicidas para cana-de-açúcar são ferramentas indispensáveis para o controle de plantas daninhas na cultura. Para serem eficientes, eles devem agir com eficácia, seletividade para a cultura, apresentar residual suficiente para se evitar múltiplas aplicações e oferecer um custo-benefício sustentável.
Mas como escolher a molécula ideal? Neste artigo discutiremos como identificar as melhores moléculas e estratégias, como o pré-plantio incorporado (PPI), para alcançar um controle eficiente. Acompanhe!
Principais plantas daninhas da cana-de-açúcar
As plantas daninhas competem com a cana-de-açúcar por recursos como água, nutrientes, luz e espaço, reduzindo a produtividade da lavoura. As plantas daninhas que mais interferem na produtividade do canavial estão listadas abaixo na Tabela 1, classificadas por ciclo de vida: anual e perene.
Tabela 1. Principais plantas daninhas que interferem com a cultura da cana-de-açúcar
Nome comum | Nome científico | Ciclo de vida |
Capim-marmelada | Brachiaria plantaginea | Anual |
Capim-colchão | Digitaria horizontalis | Anual |
Capim-carrapicho | Cenchrus echinatus | Anual |
Capim-de-pé-de-galinha | Eleusine indica | Anual |
Grama-seda | Cynodon dactylon | Perene |
Capim-colonião | Panicum maximum | Perene |
Braquiaria | Brachiaria decumbens | Perene |
Capim-fino | Brachiaria mutica | Perene |
Capim-massambará | Sorghum halepense | Perene |
Capim-gengibre | Paspalum maritimum | Perene |
Corda-de-viola | Ipomoea sp. | Anual |
Caruru | Amaranthus sp. | Anual |
Beldroega | Portulaca oleraceae | Anual |
Picão-preto | Bidens pilosa | Anual |
Carrapicho-de-carneiro | Acanthospermum hispidum | Anual |
Amendoim-bravo | Euphorbia heterophylla | Anual |
Serralha-mirim | Emilia sonchifolia | Anual |
Trapoeraba | Commelina sp. | Anual |
Serralha | Sonchus oleraceus | Anual |
Mentrasto | Ageratum conysoides | Anual |
Poaia-branca | Richarchia brasiliensis | Anual |
Erva-de-rola | Cróton lobatus | Anual |
Burra-leiteira | Chamaesyce hirta | Anual |
Guanxuma | Sida sp. | Anual/Perene |
Tiririca, capim-alho | Cyperus rotundus | Perene |
As gramíneas são particularmente problemáticas no pós-emergência, devido à semelhança morfológica com a cana-de-açúcar. Isso reforça a importância de estratégias como o uso do Pré Plantio Incorporado (PPI) e de herbicidas pré-emergentes.
Agora que conhecemos os desafios representados pelas principais plantas daninhas, vamos explorar como um bom planejamento pode fazer a diferença no controle delas.
Planejamento: o pilar do manejo de plantas daninhas na cana-de-açúcar
Antes mesmo de entrar no canavial, o manejo de plantas daninhas deve começar com o planejamento. Não adianta esperar o mato tomar conta do canavial para decidir o que fazer. É preciso planejar com antecedência.
Para isso, os passos ideais para um planejamento eficaz são apresentados na Figura 1 e detalhados abaixo:

1. Mapear as áreas de infestação e identificar as plantas daninhas predominantes
- Identifique quais plantas daninhas estão presentes em cada talhão.
- Avalie a intensidade da infestação (baixa, média ou alta) e determine o momento crítico de interferência (PCPI).
- Identifique as plantas mais problemáticas. Por exemplo, a presença de grama-seda requer atenção prioritária, pois ela é uma das espécies mais difíceis de controlar.
- Classifique a predominância de gramíneas ou folhas largas para definir a estratégia de manejo mais eficaz.
2. Escolher moléculas adequadas
A escolha dos herbicidas deve considerar a biologia das plantas daninhas, o ciclo da cultura e as condições específicas do talhão:
- Baseie-se na eficácia dos herbicidas, levando em conta o estágio de crescimento da cultura e da planta daninha.
- Utilize guias técnicos que relacionam as plantas daninhas às moléculas indicadas para um controle eficiente.
- Combine herbicidas de ação pré-emergente (formam uma barreira no solo, controlando as plantas daninhas antes que elas emerjam) e pós-emergente (agem sobre plantas daninhas já desenvolvidas, complementando o manejo em situações de escape).
- Priorize produtos com seletividade à cultura e residual adequado para reduzir reaplicações.
3. Rotacionar herbicidas
- Como as infestações de plantas daninhas são MÚLTIPLAS, há a necessidade, na maioria das vezes, de se fazer misturas de diferentes moléculas de herbicidas, que pode ser feito pelo próprio fabricante ou pelo produtor no tanque de aplicação.
- Evite o uso repetitivo de uma mesma molécula para prevenir a resistência das plantas daninhas.
- Realize a rotação de princípios ativos o que contribui para a longevidade dos produtos no mercado e mantém a sua eficácia.
4. Considere condições ambientais e invista em treinamentos:
- Ajuste as estratégias para cada talhão, . considerando as condições do solo, como textura, umidade e presença de matéria orgânica do solo.
- Invista no treinamento da equipe para garantir que os produtos sejam aplicados corretamente e no momento ideal.
Quando a planta daninha deve ser controlada?
O controle de plantas daninhas em uma cultura deve ser realizado com base em três períodos-chave que determinam o impacto dessas plantas na produtividade: Período Anterior à Interferência (PAI), Período Total de Prevenção da Interferência (PTPI) e Período Crítico de Prevenção da Interferência (PCPI).
- PAI (Período Anterior à Interferência): É o intervalo entre a semeadura e o momento em que as plantas daninhas começam a competir de forma significativa com a cultura. Durante esse período, a cultura pode tolerar a presença de plantas daninhas sem que haja redução expressiva no rendimento.
- PTPI (Período Total de Prevenção da Interferência): Corresponde ao intervalo desde a semeadura até o final do ciclo da cultura em que é essencial manter a lavoura livre de plantas daninhas para evitar perdas significativas de produtividade. Esse período considera o impacto acumulativo da interferência.
- PCPI (Período Crítico de Prevenção da Interferência): Representa o intervalo específico dentro do ciclo da cultura em que o controle das plantas daninhas é mais crucial, pois sua competição causa o maior impacto na produtividade. Geralmente, está compreendido entre o final do PAI e o início do estágio de maturidade da cultura.
O entendimento desses períodos é essencial para determinar o momento ideal de realizar as práticas de manejo, garantindo a eficiência do controle de plantas daninhas e a maximização do rendimento da cultura.
Na Tabela 2, é apresentado um resumo indicando os períodos anteriores à interferência (PAI), período total de prevenção da interferência (PTPI) e período crítico de prevenção da interferência (PCPI). É importante salientar que os valores apresentados são médios e dependem de fatores como condições climáticas, que ocorrem nas regiões de plantio.
Tabela 2. Período Anterior à Interferência (PAI); Período Total De Prevenção da Interferência (PTPI) r Período Crítico de Prevenção da Interferência (PCPI), em função da modalidade de cultivo e período de corte
Época de Plantio | PAI (Dias) | PTPI (Dias) | PCPI (Dias) |
Cana – planta de ano | 20-30 | 90-120 | 20-120 |
Cana – planta de ano e meio | 20-30 | 90-150 | 20-150 |
Cana – soca | 20-40 | 70-90 | 20-90 |
O melhor momento de controle das plantas daninhas é antes delas emergirem, principalmente no caso de gramíneas na cultura da cana-de-açúcar, ou quando elas estão em fase inicial de emergência. Controlar plantas daninhas já grandes é sempre mais difícil e oneroso.
A força do PPI (Pré-Plantio Incorporado)
Uma das estratégias mais eficazes para iniciar o plantio do canavial com o pé direito é o Pré-Plantio Incorporado (PPI). Essa técnica reduz o banco de sementes do solo e oferece uma base limpa para o desenvolvimento da cana.
O PPI é uma técnica que envolve a aplicação de herbicidas no solo antes do plantio da cultura e, em seguida, de preferência, a incorporação mecânica do produto no solo com equipamentos como grades ou discos.
É o manejo ideal para áreas com alta infestação de plantas daninhas perenes (ex.: grama-seda, tiririca), sendo recomendado para cana planta e em reformas de áreas de cana.
Produtos como trifuralina e clomazone se destacam nesse manejo. Quando bem incorporados ao solo, eles ajudam a minimizar a infestação inicial e evitam problemas futuros com gramíneas agressivas como a grama-seda.
A prática também é eficaz para lidar com a tiririca, uma planta daninha notória por sua resiliência e difícil controle.
Veja no vídeo abaixo uma explicação detalhada do Pré-Plantio Incorporado com o Professor Pedro Christofoletti:
Manejo em Pré-Emergência
O manejo de pré-emergência envolve a aplicação de herbicidas no solo após o plantio da cana, mas antes que as plantas daninhas e a cultura emerjam.
O objetivo é que os herbicidas de pré-emergência formem uma barreira química no solo, impedindo a germinação e o crescimento inicial de plantas daninhas.
O manejo em pré-emergência é indicado para áreas com pressão moderada de infestação e como complemento ao PPI para controle de plantas anuais e de escapes.
Exemplos de herbicidas para cana usados em pré-emergência incluem tebuthiuron, atrazina e metribuzin.
Manejo em Pós-Emergência
O manejo em pós-emergência é essencial para complementar o controle de plantas daninhas na cana-de-açúcar, especialmente em situações de escape ou reinfestações.
Herbicidas pós-emergentes são aplicados diretamente sobre as plantas daninhas já desenvolvidas, garantindo um controle rápido e eficiente.
Algumas estratégias de manejo para controle de plantas daninhas em pós-emergência na cana incluem:
- Utilizar herbicidas seletivos que garantam a proteção da cultura, como o halosulfuron ou glyphosate (aplicado de forma dirigida em áreas específicas).
- Combinar herbicidas com adjuvantes para aumentar a eficácia da aplicação, principalmente em condições adversas, como baixa umidade.
- Monitorar a área após a aplicação para avaliar a necessidade de uma segunda intervenção.
Dicas para Maximizar o Controle:
- Aplique os herbicidas no momento ideal, quando as plantas daninhas estão em estágio inicial de desenvolvimento (até 15 cm de altura).
- Verifique as condições climáticas, evitando aplicações antes de chuvas intensas ou em períodos de estresse hídrico severo.
- Realize o monitoramento contínuo para identificar possíveis falhas no controle ou resistência.
Principais herbicidas para cana-de-açúcar
No vídeo abaixo, o professor Pedro Christofoletti apresenta as classes de herbicidas registrados para a cultura da cana-de-açúcar e destaca a importância dos herbicidas que agem em pré-plantio controlando a planta daninha na chamada “germinação branca” – quando a planta daninha já iniciou a germinação, mas ainda não emergiu. Confira no vídeo abaixo:
Entre os herbicidas mencionados no vídeo pelo professor, destacam-se os inibidores do fotossistema 2, utilizados para prevenir a germinação branca das plantas daninhas, e produtos como o indaziflam, que possui um longo período residual de até 220 dias.
Além disso, a combinação de certos herbicidas pode aumentar a eficácia, por meio de sinergismo, e um dos cuidados a se considerar na escolha das moléculas se relaciona com a seletividade e fitotoxicidade.
A Tabela 2, apresenta os principais herbicidas utilizados na cultura da cana-de-açúcar suas épocas de aplicação e as plantas daninhas controladas.
Tabela 2. Principais herbicidas registrados para uso na cultura da cana-de-açúcar no Brasil

Outro fator importante a se considerar é o efeito residual dos herbicidas (Tabela 3). No solo, fatores como adsorção, fotodecomposição, lixiviação, volatilidade, e decomposição influenciam o comportamento do herbicida e seu efeito residual.
Tabela 3. Efeito residual médio dos principais herbicidas utilizados na cultura da cana-de-açúcar
1 MÊS | 1 A 3 MESES | 5 A 12 MESES | MAIS QUE 12 MESES |
2,4- D | Alachlor | Ametrina | Tebuthiuron |
Metolachlor | Diuron | ||
Cyamazine | Simazina | ||
Metribuzin | Atrazina | ||
EPTC | Hexazinone | ||
Halosulfuron | Sulfentrazone | ||
Isoxafrutole | |||
Clomazone |
O efeito residual se refere ao período durante o qual o herbicida permanece ativo no solo, impedindo a germinação e o desenvolvimento de novas plantas daninhas.
Seu objetivo principal é manter a lavoura livre de competição durante os períodos mais críticos, como o Período Crítico de Prevenção da Interferência (PCPI).
A eficácia do residual varia conforme a época de plantio. Para cana planta e cana soca, o tempo de residual necessário depende da dinâmica de infestação e das condições climáticas:
A cana planta de ano, por exemplo, necessita de um residual de 5 a 12 meses, cobrindo desde o plantio até o fechamento da cultura, enquanto para a cana soca, um residual de 3 a 9 meses é geralmente suficiente, devido ao ciclo mais curto. Essas diferenças refletem as demandas específicas de cada fase da cultura, que devem ser consideradas no planejamento do manejo.
Conclusão
O manejo eficiente de plantas daninhas é um diferencial competitivo no setor sucroenergético. A integração de técnicas químicas, culturais e tecnológicas, aliada a um bom planejamento, garante não apenas maior produtividade, mas também sustentabilidade no longo prazo.
Investir em conhecimento, capacitação da sua equipe e no planejamento são três ferramentas mais poderosas para você acertar na escolha e utilização de herbicidas para a cana-de-açúcar.
Com essas práticas, o canavial dos seus sonhos – limpo, produtivo e sustentável – está ao alcance.
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Sobre a autora:

Beatriz Nastaro Boschiero
Especialista em MKT de Conteúdo na Agroadvance
- Pós-doutora pelo CTBE/CNPEM e CENA/USP
- Mestra e Doutora em Solos e Nutrição de Plantas (ESALQ/USP)
- Engenheira Agrônoma (UNESP/Botucatu)
BOSCHIERO, B.N. Herbicidas para a cana-de-açúcar: como escolher a melhor molécula para o manejo de plantas daninhas? Blog Agroadvance. 2025. Disponível em: https://agroadvance.com.br/blog-herbicidas-para-cana-de-acucar/. Acesso: xx Xxx 20xx.