A rizosfera é um dos componentes mais dinâmicos e essenciais para o desenvolvimento das plantas e para a saúde dos ecossistemas agrícolas.
Essa zona especial, localizada na interface solo-raiz, é a porta de entrada para que os nutrientes e a água entrem na planta a partir do solo, a partir de interações complexas com uma variedade de microrganismos.
Esses processos não apenas facilitam a absorção de nutrientes, mas também promovem a saúde das plantas, contribuindo para uma agricultura mais sustentável e eficiente.
Ao liberar exsudatos — compostos orgânicos que afetam a estrutura e química do solo —, as raízes das plantas criam um ambiente propício para a proliferação de microrganismos benéficos, que, por sua vez, auxiliam na fixação de nitrogênio, disponibilização de fósforo e proteção contra patógenos.
Compreender e manejar a rizosfera é, portanto, essencial para otimizar a produtividade agrícola, reduzir o uso de insumos químicos e promover práticas mais sustentáveis. Vamos ver como a rizosfera pode ser manejada? Acompanhe!
O que é Rizosfera?
A rizosfera é a região do solo diretamente influenciada pelas raízes das plantas, onde ocorre uma intensa troca de substâncias e interações biológicas entre raízes, solo e microrganismos.
Nesta área, as raízes liberam compostos orgânicos, conhecidos como exsudatos, que modificam as propriedades químicas e físicas do solo, facilitando a absorção de nutrientes essenciais como nitrogênio, fósforo e potássio.
Para se ter uma ideia, as plantas liberam cerca de 10-40% de seu carbono total fixado fotossinteticamente na rizosfera, onde várias formas de carbono orgânico (como calota radicular e células de borda, mucilagem e exsudatos) têm efeitos profundos nos processos químicos, físicos e biológicos.
Veja no vídeo abaixo, a explicação do Professor Paulo Mazzafera do que é a rizosfera:
Além de servir como uma interface vital para a nutrição das plantas, a rizosfera abriga uma comunidade diversificada de microrganismos que promovem o crescimento vegetal, protegem contra patógenos e contribuem para a saúde do solo.
O interessante é que os componentes da rizosfera (solo, raízes, microrganismos e suas interações) podem ser manipulados ou projetados para aumentar a eficiência do uso de recursos nutricionais pelas plantas.
Compreender e manejar a rizosfera é fundamental para melhorar a eficiência da agricultura, pois otimiza a absorção de nutrientes e reduz a necessidade de fertilizantes químicos, promovendo práticas mais sustentáveis e produtivas.
O que é efeito rizosférico?
O efeito rizosférico refere-se à influência que as raízes das plantas exercem sobre o solo que as circunda, resultando em alterações na composição e na atividade da microbiota do solo, assim como nas propriedades físicas e químicas desse ambiente.
Este efeito é essencial para a sobrevivência das plantas, especialmente em habitats onde os nutrientes são limitados.
O efeito rizosférico é um fator chave na nutrição mineral das plantas e na saúde do solo. Ele não apenas promove a eficiência na utilização de nutrientes pelas plantas, mas também influencia a composição da vegetação em ambientes de baixa fertilidade, demonstrando como as plantas podem se adaptar e prosperar em condições adversas.
Influência das Raízes nas Propriedades Físicas do Solo da Rizosfera
A atividade das raízes exerce um papel significativo nas mudanças físicas que ocorrem no solo da rizosfera, especialmente em relação à aeração, textura e umidade. A figura 1 ilustra como esses fatores diferem entre o solo da rizosfera (a região diretamente ao redor das raízes) e o solo adjacente.
Na rizosfera da raíz, a liberação de mucilagem e exsudatos pelas raízes ajuda a criar uma camada contínua de solução ao redor das partículas do solo. Esse filme de água facilita a movimentação de nutrientes próximos às raízes, contribuindo para a nutrição da planta. Essa interação entre raízes e solo resulta em características físicas distintas.
As alterações nas caraterísticas físicas incluem a formação de agregados de solo, variações na textura e na umidade, além da modificação do comportamento dos nutrientes, fatores essenciais para o crescimento e a saúde das plantas.
Processos afetados pela rizosfera
As raízes das plantas desempenham um papel ativo na rizosfera ao induzirem processos bioquímicos que facilitam interações complexas com nutrientes e microrganismos (Figura 2).
Esses processos são essenciais para otimizar a absorção de nutrientes essenciais como nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), ferro (Fe) e zinco (Zn), cruciais para o desenvolvimento das plantas.
As raízes promovem esses processos através da liberação de compostos específicos, como prótons, carboxilatos e enzimas, que aumentam a solubilidade e a disponibilidade dos nutrientes no solo.
Além do papel direto das raízes, os microrganismos também são fundamentais na rizosfera. Fungos micorrízicos arbusculares (FMA) e bactérias promotoras do crescimento de plantas (PGPR) auxiliam na absorção de nutrientes, enquanto bactérias fixadoras de nitrogênio, como o Rhizobium, contribuem diretamente para o suprimento de N₂.
Os processos bioquímicos induzidos pelas raízes incluem principalmente a absorção de íons nutrientes, que pode levar ao esgotamento de nutrientes na rizosfera quando a absorção supera o suprimento do solo. Esse processo é apoiado por três mecanismos principais:
- Liberação de Prótons: Acidifica o solo da rizosfera, facilitando a solubilização de nutrientes que, de outra forma, estariam indisponíveis.
- Liberação de Ânions de Ácidos Orgânicos (AO) (Carboxilatos): Esses compostos ajudam a solubilizar nutrientes pouco solúveis, tornando-os mais disponíveis para absorção.
- Liberação de Enzimas: As raízes liberam enzimas específicas que hidrolisam compostos orgânicos, promovendo a liberação de nutrientes essenciais.
Os processos microbianos da rizosfera incluem as interações das raízes com diferentes grupos microbianos:
- Fungos Micorrízicos Arbusculares (FMA): Estabelecem relações simbióticas que aumentam a absorção de nutrientes, especialmente fósforo.
- Bactérias Fixadoras de Nitrogênio (N₂): Microrganismos como o Rhizobium convertem o nitrogênio atmosférico em formas utilizáveis pelas plantas.
- Rizobactérias Promotoras de Crescimento de Plantas (PGPR): Estimulam o desenvolvimento das plantas e ajudam na absorção de nutrientes.
- Microbioma do Solo: A diversidade e a atividade do microbioma na rizosfera contribuem para a saúde do solo e ajudam na resistência das plantas contra estresses abióticos e bióticos.
Distribuição espacial dos exsudados radiculares e microrganismos na rizosfera
As extremidades das raízes são as zonas mais ativas na liberação de exsudatos carbônicos radiculares (Figura 3). Essa liberação resulta em uma alta concentração de exsudatos radiculares ao redor das extremidades, criando um micro-habitat que atrai diversos microrganismos.
Conforme nos afastamos das extremidades das raízes em direção à zona de maturação, a quantidade de microrganismos tende a aumentar. No entanto, há uma separação entre onde os exsudatos estão mais concentrados e onde os microrganismos são mais abundantes.
Essa separação é significativa, pois ajuda a evitar que os exsudatos sejam rapidamente degradados, permitindo que eles permaneçam no solo por um tempo maior e influenciem suas propriedades.
A diversidade da comunidade microbiana na rizosfera também é geralmente menor em comparação com o solo. Isso ocorre porque os exsudatos das raízes atraem microrganismos específicos, criando um ambiente onde apenas certas espécies prosperam.
Enquanto isso, a abundância de endófiticos — microrganismos benéficos que vivem dentro das raízes — diminui conforme nos afastamos da superfície da raiz. Além disso, microrganismos menos competitivos, que dependem de produtos de decomposição, são encontrados mais distantes da superfície radicular.
Estratégias para o Manejo da Rizosfera
Para otimizar a utilização de nutrientes, garantir a sustentabilidade dos recursos e promover a segurança alimentar, é essencial adotar uma abordagem holística no manejo da rizosfera.
Essa estratégia envolve quatro níveis de interação: planta, solo, interações entre raízes e interações raiz-microrganismo (Figura 4).
Intervenção no nível da Planta
Focar em técnicas de manejo que melhorem o crescimento e a eficiência fisiológica das plantas.
Isso inclui práticas como a seleção de cultivares com maior capacidade de absorção de nutrientes e resistência ao estresse, além da aplicação de reguladores de crescimento vegetal que estimulam o desenvolvimento radicular e a absorção de nutrientes.
Intervenção no nível do Solo
Implementar práticas que promovam a saúde e a fertilidade do solo, criando um ambiente propício para o crescimento das raízes. O manejo da matéria orgânica e a adição de compostos que melhoram a estrutura do solo são exemplos de intervenções nesse nível, que visam aumentar a retenção de umidade, aeração e disponibilidade de nutrientes.
Intervenção nas Interações Raiz-Raiz
Explorar as interações entre raízes de plantas diferentes ou da mesma espécie. Essas interações podem estimular o crescimento das plantas e promover uma melhor distribuição de nutrientes no solo. Práticas como o cultivo consorciado, que combina espécies de plantas que se beneficiam mutuamente, são estratégias para aproveitar essas interações.
Intervenção nas Interações Raiz-Microrganismo
Favorecer as relações simbióticas entre raízes e microrganismos benéficos, como fungos micorrízicos e bactérias promotoras de crescimento de plantas (PGPR). Essas interações aumentam a disponibilidade de nutrientes e ajudam a planta a resistir a estresses abióticos, como seca e salinidade. A inoculação do solo com microrganismos específicos e o manejo da rizosfera para atrair esses organismos são abordagens eficazes para otimizar essas interações.
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Referências
WANG, L.; RENGEL, Z.; JIN, K.; LYU, Y.; ZHANG, L.; CHENG, L.; ZHANG, F.; SHEN, J. Ensuring future food security and resource sustainability: insights into the rhizosphere. iScience. V. 24, 104168, 2022. DOI: 10.1016/j.isci.2022.104168.
Sobre a autora:
Beatriz Nastaro Boschiero
Especialista em MKT de Conteúdo na Agroadvance
- Pós-doutora pelo CTBE/CNPEM e CENA/USP
- Mestra e Doutora em Solos e Nutrição de Plantas (ESALQ/USP)
- Engenheira Agrônoma (UNESP/Botucatu)
BOSCHIERO, B.N. Rizosfera: a interação Solo-Raiz essencial para uma agricultura eficiente. Blog Agroadvance. 2024. Disponível em: https://agroadvance.com.br/blog-rizosfera-efeito-rizosferico/. Acesso: xx Xxx 20xx.