4 importantes manchas foliares no milho

O cultivo do milho pode causar manchas foliares à planta. Descubra seus sintomas e as estratégias de manejo para produção da cultura na segunda safra.
Sumário

Descubra os sintomas das principais manchas foliares no milho: cercosporiose, helmintosporiose, mancha de bipolaris e mancha-branca.

As condições ambientais da época do cultivo do milho segunda safra podem ser menos favoráveis às plantas, tornando-as suscetíveis ao ataque de patógenos. Os patógenos que causam as manchas foliares na cultura do milho são responsáveis pela redução da área fotossintética da planta e isto resulta em menor acúmulo de fotoassimilados e em perdas de produtividade.

Este artigo aborda as principais manchas foliares do milho segunda safra, seus sintomas e as estratégias de manejo para garantir um melhor aproveitamento do potencial produtivo da cultura para a época da segunda safra. Vale ressaltar que as estratégias apresentadas também são válidas para o controle destas doenças quando o milho é cultivado na safra principal.

Principais manchas foliares no milho

Cercosporiose no Milho

É uma mancha foliar do milho causada pelos fungos Cercospora zeina e Cercospora zeae-maydis (Crous et al., 2006), que sobrevivem em restos culturais ou no próprio hospedeiro e são disseminados pelo vento e pela água da chuva ou de irrigação (Pereira et al., 2005).

A infecção é favorecida em condições de elevada umidade relativa do ar, sem a presença de água livre sobre as folhas (Pereira et al., 2005). Os sintomas são manchas retangulares delimitadas pelas nervuras, de cor marrom com halo amarelado, que se tornam acinzentadas com a esporulação do fungo (Casela, 2003).

A medida de controle mais eficiente é o uso de cultivares resistentes (Pereira et al., 2005) e a rotação de culturas ajuda a reduzir o inóculo do patógeno nas áreas de cultivo quando se faz a adoção de cultivares suscetíveis.Fungicidas dos grupos dos benzimidazóis, triazóis e estrobilurinas também podem ser utilizados para controlar a doença em cultivares suscetíveis, se a sua aplicação for economicamente viável (Pereira et al., 2005).

manchas foliares no milho: cercosporiose
Figura 1. Folhas de milho com sintomas de cercosporiose (A), lesões típicas de cercosporiose delimitadas pelas nervuras em folha de milho. Fonte: Cota, L. V., 2015.

Helmintosporiose no milho

Causada pelo fungo Exserohilum turcicum, esta mancha foliar do milho provoca lesões necróticas elípticas de cor verde-acinzentada a marrom, normalmente com 2,5 a 15 cm de comprimento (Cota et al., 2013). Perdas de 44% da produtividade já foram atribuídas à doença (Bowen; Pedersen, 1988).

Diferentes estruturas do fungo (micélio, conídios e clamidósporos) podem sobreviver em restos culturais e iniciar o ciclo da doença (Pereira et al., 2005). Conídios produzidos nas lesões são dispersos pelo vento e são responsáveis pelas infecções secundárias na lavoura (Pereira et al., 2005).

A principal medida no manejo é o uso de cultivares resistentes, o uso de fungicidas pode ser necessário quando são utilizados cultivares suscetíveis e há alta severidade da doença (Cota et al., 2013). Benzimidazóis, triazóis e estrobilurinas estão disponíveis para o controle da doença, na forma de 30 produtos comerciais registrados (AGROFIT, 2021).

mancha foliar no milho
Figura 2. Lesões de Exserohilum turcicum em folhas de milho. Fonte: Cota, L.V., 2013 (A); 2015 (B).

Mancha de Bipolaris no milho

Causada principalmente pelo fungo Bipolaris maydis, esta mancha foliar do milho apresenta sintomas variáveis de acordo com o cultivar de milho e com a raça do fungo que está causando a doença.

Em cultivares suscetíveis, a raça mais comum (raça O) provoca lesões nas folhas, inicialmente pequenas e ovaladas, que se tornam alongadas quando maduras, com cor palha e delimitadas pelas nervuras (Costa et al., 2014).

Quando a doença é causada pela raça T, as lesões foliares são maiores e podem ocorrer lesões em outros órgãos aéreos, como em espigas (Pereira et al., 2005).  

O fungo sobrevive na forma de micélio ou conídios em restos culturais de milho. Após o estabelecimento da doença, novos conídios são produzidos nas lesões e são disseminados pelo vento ou respingos, necessitando de água livre sobre a superfície da planta para iniciarem novas infecções (Costa et al., 2014).

O manejo é feito principalmente com o uso de cultivares resistentes e rotação de culturas (Silva et al., 2015).

manchas foliares no milho: mancha de bipolaris
Figura 3. Plantas de milho com sintomas da infecção por Bipolaris maydis (A) e lesões características da mancha de Bipolaris maydis em folha de milho (B) Fonte: Costa, R.V., 2015.

A mancha de Bipolaris, é uma mancha foliar do milho que pode ser causada também pelo fungo Bipolaris zeicola, de menor importância que B. maydis.

Os sintomas da infecção por B. zeicola são manchas circulares a ovais de cor palha, com anéis concêntricos (raça 1, Figura 4A) ou lesões estreitas e alongadas de cor castanha (raça 3, Figura 4B); seu manejo também é realizado pelo uso de cultivares resistentes e rotação de culturas (SILVA et al., 2015).

manchas foliares em milho: mancha de bipolaris
Figura 4. Folhas de milho com lesões de Bipolaris zeicola raça 1 (A) e raça 3 (B). Fontes: Cota, L.V. 2015 (A); Tsukiboshi, T. (B).

Mancha-branca no milho

Causada pela bactéria Pantoea ananatis, foi por muito tempo descrita como causada pelo fungo Phaeospheria maydis, e por isso era chamada de mancha de Phaeosphaeria (Paccola-Meirelles et al., 2001; Bomfeti et al., 2008).

P. ananatis pode sobreviver em restos culturais de milho, no próprio hospedeiro ou em hospedeiros alternativos (Sauer et al., 2015).

Os sintomas se iniciam nas folhas mais baixas com manchas circulares de cor verde-clara e aspecto aquoso, que se tornam circulares a elípticas e com coloração palha (Costa, 2011). Sendo uma doença de origem bacteriana, é disseminada pela água da chuva ou de irrigação.

O uso de cultivares resistentes é a principal medida de manejo. Quando são adotadas cultivares suscetíveis, além da rotação de culturas, pode-se fazer a aplicação de fungicidas em casos de alta severidade da doença (Costa, 2011). 

Um controle eficiente da mancha-branca foi verificado utilizando fungicidas contendo fluxapiroxade e um incremento no controle foi obtido quando feita a adição de mancozebe a misturas contendo triazois e estrobilurinas (Madalosso et al., 2017).

manchas foliares no milho> mancha-branca
Figura 5. Sintomas da mancha-branca do milho. Fonte: Lanza, F., 2015.

Considerações finais

O controle genético está disponível para o manejo das principais manchas foliares do milho segunda safra e dispensa custos adicionais com o controle químico, além de apresentar as vantagens de evitar possíveis danos ao meio ambiente e prejuízos a microrganismos benéficos.

Assim, o uso de cultivares resistentes deve ser a primeira opção no manejo destas doenças. Quando são cultivadas cultivares suscetíveis e a ocorrência da doença em alta severidade justifica o uso de fungicidas, deve-se rotacionar produtos de diferentes modos de ação quando se faz mais de uma aplicação.

Deste modo, evita-se a seleção de isolados do patógeno resistentes aos fungicidas, garantindo-se a continuidade da eficácia de controle das moléculas empregadas.

Por fim, a rotação, ou pelo menos a sucessão de culturas, sempre devem ser empregadas para evitar que o inóculo de diferentes doenças aumente nas áreas de produção. O produtor bem informado e preparado para enfrentar estas doenças evita perdas de produtividade e minimiza os custos de produção do milho segunda safra.

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Referências

AGROFIT. Informações sobre agrotóxicos fitossanitários registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Disponível em: <https://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons> Acesso em 17/02/2021.

BOMFETI, C. A.; SOUZA-PACCOLA, E.A.; MASSOLA JUNIOR, N.S.; MARRIEL, I.E.; MEIRELLES, W.F.; CASELA, C.R.; PACCOLA-MEIRELLES, L.D. Localization of Pantoea ananatis inside lesions of maize white spot disease using transmission electron microscopy and molecular techniques. Trop. plant pathol., v. 33, n. 1, p. 63-66, 2008.

BOWEN, K.L.; PEDERSEN, W.L.  Effects of Northern Leaf Blight and Detasseling on Yields and Yield Components of Corn Inbreds. Plant Dis, v.72, p.952-956, 1988.

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Este texto é opinião do autor, não reflete necessariamente opinião da Agroadvance.

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Ísis Tikami

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