O agronegócio sempre inovou, mesmo antes de usar esse termo. Desde a domesticação de espécies e o domínio das estações para plantar, o campo evoluiu movido pela necessidade de produzir mais, preservar recursos e garantir as sobrevivências das famílias rurais. O que antes era tradição, hoje ganha novos nomes, tecnologias e modelos de gestão, mas a essência continua a mesma: adaptar-se para continuar.
Quando falamos em inovação, muita gente pensa logo em algo tecnológico ou futurista. Mas inovação é, antes de tudo, o processo de melhorar algo já existente ou inserir algo novo no mercado que gera valor. Ela pode estar associada a um produto, serviço, processo ou modelo do negócio. Exemplos de tipos de inovação incluem desde uma máquina agrícola de última geração, mas também o ajuste do manejo, a escolha de variedades, ou a forma de organizar a propriedade.
É válido destacar a diferença de inovação para invenção, conceitos que costumam se misturar:
- Invenção é a criação de algo que não existia antes (inédito), é caracterizada pela novidade e originalidade.
- Inovação é a melhoria desta invenção ou a criação de novos produtos gerados após a invenção, ou seja, é caracterizada pela melhoria ou adaptação de uma invenção existente. Ou seja, é transformar essa invenção em algo útil, acessível e aplicável.
A diferença não está apenas na ideia, mas no valor que ela gera. Uma invenção só se torna inovação quando se aplica na prática e transforma a rotina das pessoas ou das empresas.
A inovação é dada pela seguinte equação:
INOVAÇÃO = INVENÇÃO + VALOR
No agronegócio, isso sempre aconteceu na base da necessidade:
- Criação de máquinas que substituíam a tração animal, permitindo maior produtividade e acelerando as operações agrícolas, garantindo elevação da produção em menor espaço de tempo.
- Domesticação de plantas e animais, permitindo que com esta invenção o homem pudesse inovar em suas plantações e cultivos, abandonando o nomadismo (estilo de vida que o indivíduo ou grupo não possui habitação permanente, muda-se constantemente em busca de recursos naturais).
- Descoberta da rotação de culturas, no qual permite maior aproveitamento do solo, recuperação de nutrientes etc.
- O aproveitamento de resíduos da fazenda (como esterco de gado, esterco de galinha, fundo de granja, entre outros) como insumo.
Estes são alguns exemplos de invenções do agronegócio, que geraram insumo para inovações e melhorias, inovações estas que em muitos casos ainda são utilizados, gerando maior produtividade e aproveitamento dos recursos naturais existentes.
Neste artigo veremos os tipos de inovação, o motivo que levam as empresas a inovar, os modelos de gestão de inovação e as ferramentas e cases de sucesso de inovações voltadas para o Agronegócio. Boa leitura!
Por que as empresas inovam e por que no agro isso sempre foi natural?
Empresas inovam quando precisam se manter competitivas, reduzir custos, atender novas demandas do mercado ou resolver problemas que afetam sua operação. No campo, esses fatores sempre estiveram presentes, mesmo antes de existir qualquer política, modelo de gestão ou incentivo tecnológico.
O agronegócio é um setor que realizou e realiza inovação constantemente. A inovação no agro não nasceu em laboratório ou em uma startup. Ela começou na prática, dentro da propriedade rural, a partir de três necessidades básicas:
- Busca por elevação da produtividade: produzir mais com menos recurso,
- Garantir segurança alimentar e renda,
- Adaptações ao ambiente para superar limitações impostas pelo clima, pelas pragas e pelo solo.
Ao longo do tempo, a lógica tradicional do “fazer diferente para continuar fazendo” se transformou na base da inovação rural. Do ajuste do espaçamento entre linhas à mecanização, da semente melhorada a rotação de culturas, o produtor sempre buscou adaptar o trabalho à realidade para continuar produzindo.
Hoje, a diferença é que esse movimento recebe nome, mensuração, incentivo e gestão. O que era prática cotidiana virou estratégia de negócio. E é dentro dessa lógica que se organizam os diferentes tipos de inovação, classificados conforme o grau de mudança e o impacto gerado.
Antes de entrar neles, vale reforçar um ponto essencial: inovar não significa abandonar o que já funciona, mas melhorar, combinar ou transformar a partir da experiência acumulada.
É isso que diferencia invenção de inovação e aproxima o agro moderno da tradição que sempre sustentou sua evolução.
O que garante o sucesso da inovação?
É importante compreender que não basta apenas inovar, para que uma ideia ou solução tenha realmente sucesso, é importante que ela esteja principalmente no timing correto, ou seja, o momento que a inovação seja lançada precisa fazer sentido para a sociedade e principalmente, para o público-alvo da inovação.
Como mostra a imagem abaixo, existem diversos fatores que garante o sucesso para a inovação. Sendo eles: Timing (momento de lançamento da inovação), time, ideias, modelo de negócio e financiamento (Figura 1).

Portanto, não basta apenas inovar (ter uma boa ideia ou lançar algo no mercado). Para que uma inovação funcione na prática, ela precisa surgir no momento certo, resolver uma demanda real e gerar valor para quem vai utilizá-la, pois o valor garante o sucesso de execução da inovação.
O Ted Talk “The Single Biggest Reason Why Startu-ups Succeed” do Bill Gross, aborda alguns fatores que influenciam positivamente no sucesso ou negativamente no fracasso de startups que tiveram sucesso e que fracassaram.
Os fatores que levam ao sucesso ou insucesso de uma inovação são:
- Momento de mercado ou “timing”: o momento em que a solução é lançada e se o mercado está preparado para recebê-la;
- Equipe: pessoas capacitadas para desenvolver, testar e implementar a inovação;
- Ideia – clareza sobre o problema que está sendo solucionado e o diferencial da proposta
- Modelo de negócio: como aquilo será aplicado, distribuído, vendido ou adaptado;
- Financiamento: recursos para desenvolver, ajustar e expandir a inovação.
Entre esses fatores, o momento de mercado (ou “timing”) foi o fator mais importante, com 42% de diferença entre o sucesso e insucesso das empresas. Portanto, compreendemos que não importa apenas uma ideia brilhante, uma equipe ótima e muito dinheiro, é necessário estar no momento correto do mercado. Quando a inovação chega antes do tempo ou depois dos concorrentes, perde aderência e valor.
No agronegócio, isso é ainda mais evidente. Tecnologias só ganham escala quando fazem sentido para o produtor, se encaixam na realidade do campo e chegam em um momento de necessidade — como aconteceu com o plantio direto, agricultura de precisão, biológicos e fintechs rurais.
Os 5 tipos de inovação
Existem 5 tipos de inovação classificadas atualmente, sendo estas:
- Incremental
- Disruptiva
- Híbrida
- Focada em eficiência ou processo
- Radical
Vamos ver abaixo cada tipo de inovação e suas características.

Inovação incremental
A inovação incremental acontece quando algo que já existe (produtos, serviços ou sistemas) é melhorado aos poucos, sem romper com o modelo anterior.
A inovação incremental também pode ser encontrada na literatura pelo termo “sustaining innovation”.
No campo, esse é o tipo de inovação mais comum, porque respeita a lógica tradicional do produtor: primeiro se testa, depois se adapta, e só então se incorpora à rotina.
Exemplos de inovação incremental no agro:
- Maquinários já existentes e que recebem atualizações, substituições e melhorias de sistemas a cada nova versão, como por exemplo: maior precisão na colheita, menor consumo de combustível, maior integração com GPS etc.
- Desenvolvimento de sementes com resistência a pragas e doenças ou adaptações a um determinado clima e ambiente.
- Ajustes em softwares de gestão e monitoramento de safra.
- Melhoria em sistemas de irrigação, plantio direto e armazenagem.
Essas mudanças são graduais, mas geram ganhos contínuos de produtividade, economia de recursos e eficiência operacional. Portanto compreendemos que esta inovação não faz grandes mudanças, apenas é caracterizada pelas incrementações das melhorias, conforme demanda do mercado.
Inovação Disruptiva
A inovação disruptiva tem como objetivo entregar produtos mais simples e acessíveis, visando endereçar as necessidades dos consumidores de mais baixo poder aquisitivo ou excluídos pelo mercado atual.
Para que a inovação seja considerada como disruptiva, a resposta para algumas perguntas precisa ter a resposta “sim”. Por exemplo:
- Atende não consumidores ou clientes ignorados? Este produto, serviço ou processo é mais simples para implementar?
- O custo para o consumidor é mais barato e acessível?
- É mais conveniente e barato?
- Tem base tecnológica para ser escalado?
- Vem junto com um modelo de negócio inovador?
- Concorrentes iniciais ignoram essa inovação?
Exemplos de inovação disruptiva no agronegócio:
- Bioinsumos “on farm”: com a invenção dos bioinsumos, eles eram caros e inacessíveis para produtores de médio e pequeno porte, com a criação das inovações on farm, é possível que estes consumidores tenham acesso ao produto, um exemplo é a empresa SoluBio.
- Fintechs do agro (empresas criadas para soluções de crédito digital): muitos produtores não conseguiam créditos em bancos tradicionais, por conta do seu tamanho da propriedade e características. Com a criação das fintechs é possível que por meio de plataformas digitais, os produtores possuam financiamento rápido e com menor burocracia.
- Aparelhos portáteis de diagnóstico, como análise foliar e de solo em tempo real.
Inovação Híbrida
Como o próprio nome já diz, a inovação híbrida é uma mistura de outras inovações, sendo estas disruptiva e incremental. A inovação híbrida é caracterizada pela utilização da vantagem tecnológica para se manter na trajetória de competição.
É muito comum no agronegócio, que trabalha com sistemas complexos e integrados.
Exemplos de inovação híbrida no agronegócio
- Drones agrícolas: a criação dos drones no começo foi uma inovação disruptiva, mas neste momento é também incremental, pois os drones recebem melhorias constantes na sua utilização e softwares.
- Agricultura de precisão: a agricultura de precisão une tanto as inovações incrementais com as disruptivas, por conta disto é classificada como inovação híbrida.
- O Carro híbrido (que combina motor elétrico e a combustão) também é um bom exemplo de tecnologia híbrida embutido no mercado recentemente.
Inovação focada em eficiência / Processos
Esta inovação é caracterizada pela melhoria da eficiência ou do processo interno, ou seja, o produto ou serviço é realizado de uma forma mais rentável para a companhia.
Não há mudança do cliente e do modelo de negócio, mas muda-se o processo, gerando maior rentabilidade.
É uma inovação silenciosa, mas com alto impacto econômico e operacional — especialmente em agroindústrias, cooperativas e fazendas de médio e grande porte.
Exemplos de inovação focada em eficiência / processos no agronegócio:
- Gestão da propriedade agrícola: este é um exemplo de inovação focada em eficiência/processos, pois não houve mudança do modelo de negócio, mas houve mudança no processo interno, garantindo maior eficiência e rentabilidade, visando reduzir desperdícios, elevar a produtividade e uso consciente dos recursos.
- Irrigação automatizada: nesta inovação busca reduzir o consumo de água sem necessidade e energia, visando reduzir custos e desperdícios, mas sem impactar ou alterar na produção final.
- Uso de drones e imagens de satélite para orientar aplicações e reduzir custos.
Inovação radical
A inovação radical como o próprio nome já diz, é uma inovação para criação de produtos, serviços, processos, tecnologias ou modelos de negócio completamente novos, transformando o mercado atual, criando algo inédito. Os produtos possuem maior valor agregado, tem grande foco na tecnologia e proporciona um impacto de grande escala.
As inovações disruptivas tendem a transformar fundamentalmente as indústrias e os mercado existentes, muitas vezes criando mercados novos e tornando os antigos obsoletos.
A inovação radical pode ser disruptiva ou não, mas geralmente traz melhorias de performance desde o início e o foco maior é em tecnologia do que no consumidor.
Exemplos de inovação radical no agronegócio
- Biotecnologia: Um exemplo de inovação radical é a biotecnologia aplicada a edição genética, que permite o desenvolvimento das plantas, tornando-as resistentes a secas ou pragas especificas.
- Inteligência artificial: O uso da inteligência artificial no campo é uma inovação radical e que possui alto crescimento nos próximos anos, garantindo maior produtividade e revolucionando a forma de planejar a safra.
Mas afinal, por que as empresas buscam inovar?
As empresas buscam inovar para garantir sua diferenciação de mercado, vantagem competitiva sustentável e a sobrevivência em cenários de incertezas, é primordial que as empresas possuam o “Darwinismo coorporativo”, se adaptar as incertezas do mercado.
Modelos de gestão de inovação
Existem 3 tipos dos modelos de gestão, linear, interativo e ambidestria.
LINEAR
O modelo linear é o modelo tradicional, no qual o processo segue uma linha reta linear, sem grandes interações entre as etapas. Sendo assim:
Pesquisa e desenvolvimento à produção à marketing à cliente final.
Neste formato de gestão da inovação, a empresa desenvolve e cria a tecnologia primeiro e depois leva ao mercado.
INTERATIVO
É quando há as redes e cooperação, tem uma retroalimentação do sistema. O time de Pesquisa e Desenvolvimento está constantemente conversando e trocando informações com o time de Marketing, que traz as informações de como estão os clientes e o mercado que querem atuar.
Desta maneira é possível criar inovações mais conectadas as reais necessidades do mercado.
AMBIDESTRIA
Neste formato a empresa busca equilibrar dois tipos de inovação ao mesmo tempo, sendo estas: exploração (novos mercados, perspectivas a longo prazo, flexibilidade e adaptabilidade) e explotação (ir atrás do mercado e trazer inovações incrementais, melhorias, senso de oportunidade).
O modelo de gestão ambidestria é categorizado como uma das formas mais complexas, pois combina desde visões a curto prazo quanto a visões a longo prazo.
Estudo de casos no brasil que deram certo por meio das inovações
A empresa SOLINFTEC é um exemplo de inovação no setor do agronegócio, que deu certo e pode ser categorizada como um case de sucesso. A empresa é voltada para agricultura digital, no qual desenvolveu soluções voltadas para o manejo de pragas. O objetivo é reduzir ou mesmo evitar o uso de inseticidas químicos.
Isto é possível por conta da inteligência artificial “Alice AI”, que faz a integração de diversos processos da lavoura, permitindo desta maneira que o controle seja realizado de forma preventiva e quando necessário de forma localizada.
Por meio desta inovação, a companhia reduz além de custos, mas também os impactos ambientais, aumento a eficiência no manejo.
Outro exemplo é a empresa KRILLTECH, no qual é uma startup que atua no desenvolvimento de nano bioinsumos voltados para o metabolismo vegetal. Os seus produtos melhoram a eficiência fotossintética das plantas, tornando o metabolismo vegetal mais eficiente, este é o caso do produto “Arbolina”.
O Krillgrowht é um bioinsumos que permite um melhor enraizamento, maior perfilhamento e aumento do diâmetro dos colmos, aplicado especialmente na cana-de-açúcar.
Assim como a Solinftec quanto a Krilltech, existem diversas outras empresas que mostram como o agronegócio vem cada vez mais realizando inovações, que buscam elevar a produtividade das culturas e ao mesmo tempo reduzir os impactos ambientais, tornando a agricultura mais sustentável a longo prazo.
Conclusão
A inovação no agronegócio sempre foi um processo natural, hoje com as novas tecnologias, o setor do agronegócio vem se transformando diariamente. Entender sobre os tipos de inovação e as mudanças que eles proporcionam é fundamental para que as empresas e produtores se mantenham competitivos em um cenário cada vez mais dinâmico.
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Referências
Aires, D.S. Inovação como Pilar da Estratégia. Aula ministrada no MBA Liderança, Gestão e Estratégia no Agronegócio, da Agroadvance. Setembro de 2025.
Sobre o autor:

Rosiane Caroline de Souza
Analista de Produtos Educacionais PLENO na Agroadvance
- Engenheira Agrônoma (UNESP/Botucatu)
- MBA em Gestão Florestal (UFPR)
- Cursando MBA em Liderança, Gestão, Estratégia no Agronegócio (Agroadvance)
Como citar este artigo:
SOUZA, R. C. Os 5 tipos de Inovação e exemplos do Agro para se inspirar e inovar. Blog Agroadvance. Publicado em: 03 Out 2025. Disponível em: https://agroadvance.com.br/blog-tipos-de-inovacao-e-exemplos-agro/. Acesso em: 04 out. 2025.