Atualmente, o papel das mulheres no agronegócio vai muito além do cultivo e da colheita. Elas estão conquistando posições de liderança em empresas agrícolas, cooperativas e organizações de pesquisa, demonstrando que suas contribuições são essenciais para o setor.
A presença feminina se intensifica em áreas como gestão, inovação tecnológica e sustentabilidade, onde trazem novas perspectivas e abordagens que enriquecem a dinâmica do agronegócio.
Essa evolução é impulsionada por programas de capacitação e acesso a crédito, que têm sido fundamentais para empoderar as mulheres. Com essas ferramentas, elas conseguem desenvolver suas próprias iniciativas e negócios, contribuindo significativamente para a economia rural.
O aumento da participação feminina não apenas fortalece a base econômica das comunidades rurais, mas também promove a equidade de gênero, um aspecto de suma importância para o desenvolvimento sustentável de toda a cadeia do agro.
A valorização do trabalho feminino no agronegócio também reflete uma mudança cultural importante, onde as habilidades e competências das mulheres são reconhecidas e celebradas.
Essa transformação não só beneficia as próprias mulheres, mas também enriquece o setor como um todo, promovendo um ambiente mais colaborativo e diversificado.
Confira a seguir como a participação da mulher no agronegócio se intensificou e diversificou, refletindo mudanças significativas dentro e fora da porteira.
Boa leitura!
Protagonismo feminino no agronegócio
Historicamente e culturalmente, as mulheres desempenharam papéis variados na sociedade ao longo dos anos.
No contexto do agronegócio, um setor tradicionalmente dominado por homens, as mulheres estão rompendo barreiras e conquistando seu espaço a cada dia.
Em 15 de outubro, comemoramos o Dia Internacional da Mulher Rural, uma data estabelecida em 1995 pela Organização das Nações Unidas (ONU) para destacar o protagonismo das mulheres no campo.
No entanto, a relevância dessa data vai muito além de uma simples celebração.
As mulheres envolvidas no agronegócio estão cada vez mais organizadas e engajadas, atuando fortemente para a criação de ambientes mais dinâmicos e impulsionando o crescimento dos negócios, tanto dentro quanto fora do campo.

Quantas mulheres trabalham no agronegócio?
Uma pesquisa realizada pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), em colaboração com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), revela que cerca de 11 milhões de mulheres estão empregadas no agronegócio brasileiro.
Os últimos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que as mulheres desempenham um papel significativo no agronegócio brasileiro, sendo responsáveis por aproximadamente 30 milhões de hectares de produção.
Essa presença crescente é um reflexo da transformação do setor, que historicamente foi dominado por homens.
Estudos conduzidos pela Food and Agriculture Organization (FAO) revelam que em países menos desenvolvidos, mais de 70% das mulheres economicamente ativas trabalham na agricultura (Cielo et al. 2014).
No contexto tradicional do agronegócio, as mulheres frequentemente se inseriam no setor por meio de vínculos familiares, trabalhando sob a supervisão masculina.
Algumas delas buscavam qualificação acadêmica para, posteriormente, assumir a gestão dos negócios de forma planejada ou, em alguns casos, devido a sucessões familiares inesperadas.
Esse cenário nos leva a refletir sobre a evolução mais recente da presença feminina no agronegócio. A integração das mulheres nesse setor muitas vezes ocorre em situações de sucessão imprevista, onde elas, vindo de outras áreas de atuação, enfrentam os desafios da profissão com determinação e coragem.
Atualmente, encontramos exemplos inspiradores de mulheres que passaram por esses processos de transição e também aquelas que optaram por construir suas carreiras diretamente no agronegócio.
Muitas delas não têm uma história familiar ligada ao campo, mas ainda assim se destacam como pioneiras em suas empresas e se tornam referências no setor.
Um exemplo de mulher na liderança do agro é a história da Malu Nachreiner. Formada em Engenharia Agronômica pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), Malu também possui um MBA Executivo pela Universidade de Pittsburgh e um MBA em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Malu é reconhecida por sua abordagem inclusiva e pela promoção da diversidade no setor agrícola. Ela enfatiza a importância da participação feminina na liderança, observando um aumento significativo ao longo dos anos
Em suas palavras, “o agro é um reflexo da sociedade”, ela ressalta a necessidade de uma maior inclusão e diversidade nas práticas do setor.
Essas mulheres estão quebrando barreiras e redefinindo o papel feminino no agronegócio, contribuindo para um futuro mais inclusivo e inovador.
Mulheres no Comando das Propriedades Rurais
De acordo com o Censo Agropecuário de 2017, cerca de 947 mil mulheres estão à frente de propriedades rurais no Brasil, com 57% delas localizadas na região Nordeste.
Esse dado evidencia não apenas a capacidade de liderança feminina, mas também a importância das mulheres na gestão das propriedades.
Um exemplo de mulher produtora rural bem-sucedida no Nordeste é Carminha Maria Gatto Missio. Ela é uma advogada e agricultora que se destacou como uma liderança no setor agropecuário, especialmente em Luís Eduardo Magalhães, na Bahia.
Carminha é cofundadora do grupo Oilema, que é referência na produção de grãos e sementes de soja. Em 2018, ela se tornou a primeira mulher a ocupar a vice-presidência da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (FAPBA), cargo que ocupa até hoje.
Desafios e Responsabilidades das mulheres no agronegócio
Apesar dos avanços, as mulheres no agronegócio enfrentam desafios significativos. Segundo dados da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), 71% das mulheres ligadas ao setor acumulam diversas responsabilidades, que vão desde a administração da propriedade até as obrigações pessoais e familiares.
Isso demonstra a necessidade de políticas públicas que apoiem essas profissionais, facilitando o acesso a crédito e tecnologia.
A Figura 1 apresenta um gráfico informativo baseado nos resultados do Censo 2017, destacando a crescente participação das mulheres no agronegócio em termos de capacitação e uso de informações técnicas.
A Figura 1 ilustra a porcentagem de mulheres que buscam formação profissional e treinamento específico nas áreas de produção rural e gestão agropecuária.
O acesso à informação está refletindo uma mudança positiva na dinâmica do agronegócio e o papel fundamental que elas desempenham na modernização e sustentabilidade da produção rural.

Figura 1. Porcentagens de homens e mulheres que buscam informações técnicas no agronegócio – CENSO 2017. Fonte: IBGE.
A Força da Liderança Feminina
Uma das notáveis características das mulheres é a habilidade de liderar com um propósito claro.
Elas têm a capacidade de integrar as metas empresariais com a sustentabilidade e o bem-estar das comunidades em que estão inseridas, fomentando um ambiente colaborativo e inovador.
Empresas que incluem mulheres em cargos estratégicos tendem a adotar práticas mais éticas e sustentáveis.
O impacto dessa abordagem vai além dos resultados financeiros; essas líderes constroem legados significativos.
Exemplo inspirador: Simone Roncada
Diversas mulheres têm se destacado em suas áreas dentro do agronegócio. Simone Roncada, Técnica em Agropecuária e a primeira mulher a trabalhar com zebuínos na Angola pós-guerra, é um exemplo notável e inspirador.
Simone Roncada participou de um projeto pioneiro entre Brasil e Angola, cujo principal objetivo era de ajudar a reconstruir a pecuária Angolana para que no futuro próximo as pessoas conseguissem comprar proteína com um valor mais acessível. Na época toda a proteína que o país consumia era importada.
Ela publicou um livro intitulado “A Esmeralda de Cacuso”, onde narra sua trajetória no agronegócio durante o tempo em que viveu na África.
Simone compartilhou conosco um pouco de suas experiências e desafios que enfrentou no agro:
- Como foi sua experiência ao se tornar a primeira mulher a trabalhar com zebuínos em Angola, especialmente em um contexto pós-guerra?
(Simone Roncada) – Minha experiência foi repleta de desafios e aprendizados. O cenário pós-guerra em Angola era devastador e carregava cicatrizes profundas na população.
Como a única mulher na fazenda, precisei romper barreiras culturais e preconceitos para conseguir liderar uma equipe 100%masculina e traumatizada pelo conflito que durou décadas. Aquele lugar mostrou-me que eu precisava muito mais dos conhecimentos técnicos, eu precisava de muita sensibilidade e resiliência.
Cada dia era uma batalha não apenas por estar trabalhando numa fazenda recém-aberta no meio da savana africana, mas também para conquistar o respeito e a confiança daqueles que viam em mim, as lembranças dos colonizadores.
Com paciência, determinação e foco nas pessoas individualmente, fui capaz de criar um ambiente de trabalho mais coeso e colaborativo, onde a produtividade e o respeito andavam lado a lado.
- Como você vê o papel das mulheres no agronegócio atualmente, especialmente em contextos desafiadores como o de Angola?
(Simone Roncada) – O papel das mulheres no agronegócio tem crescido de maneira inspiradora, e é emocionante ver como estamos rompendo barreiras em cenários tão desafiadores como o de Angola.
Ainda há obstáculos culturais e estruturais que precisamos enfrentar, mas o que mais me impressiona é a força com que tantas mulheres estão se destacando, trazendo inovação, liderança e uma resiliência admirável.
Elas estão presentes em cada etapa, da produção à gestão, e o impacto que isso gera vai muito além do setor.
- Quais conselhos você daria para outras mulheres que desejam entrar no agronegócio, especialmente em áreas onde a presença feminina é limitada?
(Simone Roncada) – Acredite no seu valor e na sua capacidade. A jornada não vai ser fácil, mas também não é impossível. Haverá desafios quase que diariamente, mas a confiança em si mesma é o ponto de partida para quebrar barreiras.
Busque sempre conhecimento, esteja aberta a aprender e a se reinventar, seja humilde para pedir ajuda quando precisar, isso te dará a base necessária para enfrentar qualquer obstáculo.
E, por fim, não tenha medo de ser pioneira, de ocupar espaços que antes pareciam inalcançáveis. O agronegócio precisa de mulheres como você: corajosas, autênticas, com visão e força para transformar o setor e fazer a diferença.

Simone Roncada destaca que as mulheres estão cada vez mais abertas ao conhecimento e à incorporação de novas tecnologias, independentemente do gênero do profissional que as apresenta.
Grupos de mulheres no agro, eventos e premiações
Grupos organizados, eventos e premiações têm sido fundamentais para promover a visibilidade e a valorização das mulheres no setor agropecuário.
Diversos grupos têm surgido para apoiar e conectar mulheres que atuam na agricultura e pecuária. A lista da Forbes “50 Grupos de Mulheres do Agro Brasil” destaca iniciativas como:
- Agro Delas: Fundado em 2020, reúne cerca de 8.000 mulheres, promovendo encontros presenciais e troca de experiências.
- Agroligadas: Criado em 2018, conta com 750 mulheres em 17 estados, utilizando redes sociais para comunicação e organização de eventos.
- Meninas do Agro: Focado em pequenas agricultoras, esse grupo oferece suporte e troca de informações entre suas integrantes.
Esses grupos não apenas proporcionam um espaço para troca de experiências, mas também ajudam a desenvolver habilidades e aumentar a confiança das participantes.
Eventos Relevantes para mulheres no agro
Os eventos voltados para mulheres no agro têm se multiplicado, criando oportunidades para networking e aprendizado. Um exemplo significativo é o Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio (CNMA), que aborda temas como agroindústria, tecnologia e gestão. O evento atrai participantes em busca de conhecimento e novas conexões de negócios.
Além disso, a Comissão Nacional das Mulheres do Agro, vinculada à Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), realiza capacitações e promove a participação feminina nas discussões sobre políticas agrícolas.
Premiações de mulheres do agronegócio
A valorização do trabalho feminino no agro também se reflete em premiações como o Prêmio Mulheres do Agro, criado pela Bayer em parceria com a Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG). Este prêmio reconhece empreendedoras rurais que se destacam por suas boas práticas de gestão e inovação.
Essas iniciativas são essenciais para fortalecer a presença feminina no agronegócio, proporcionando visibilidade às conquistas das mulheres e incentivando futuras gerações a se engajar nesse setor.
Com um cenário em constante evolução, o futuro promete ser ainda mais promissor para as mulheres no agronegócio.
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Conclusão
As mulheres não apenas estão assumindo papéis de liderança, mas também trazendo inovações e práticas sustentáveis que enriquecem a dinâmica do campo.
Com um número crescente de mulheres à frente de propriedades rurais e iniciativas empreendedoras, observamos um fortalecimento da economia rural e um avanço rumo à equidade de gênero.
A valorização do trabalho feminino não é apenas uma questão de justiça social, mas uma estratégia inteligente para promover a diversidade e a inclusão, essenciais para a inovação e o desenvolvimento sustentável do setor.
Por fim, é imperativo que continuemos a apoiar políticas públicas que facilitem o acesso a recursos, capacitação e tecnologia para as mulheres no agronegócio.
Ao fazer isso, não apenas celebramos suas conquistas, mas também garantimos um futuro mais próspero e equilibrado para todos os envolvidos na cadeia produtiva.
Referências
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CIELO, I. D.; WENNINGKAMP, K.; SCHMIDT, C. M. Female Participation in Agribusiness:: The Case of Coopavel – Cooperativa Agroindustrial Cascavel.Revista Capital Científico , [S. l.], p. 215, 1 jan. 2014.FARIA, N. Economia feminista e agenda de luta das mulheres no meio rural. Estatísticas rurais e a economia feminista: um olhar sobre o trabalho das mulheres. Brasília: MDA, p. 11-28, 2009.
Sobre a autora:

Simone Cristina Dameto
Diretora de Negócios na Agência Do Campo à Cidade
- Engenheira Agrônoma e Produtora Rural
Como citar este artigo:
DAMETO, S.C. Mulheres no Agronegócio: rompendo barreiras e liderando transformações. Blog Agroadvance. 2024. Disponível em: https://agroadvance.com.br/blog-mulheres-no-agronegocio/. Acesso: xx Xxx 20xx.