Neste artigo você vai acompanhar o crescente protagonismo feminino no agronegócio brasileiro, com mulheres cada vez mais ocupando espaços de liderança nas propriedades rurais. Descubra como a capacitação se tornou aliada do protagonismo feminino e quais são os desafios ainda a serem superados para alcançar a igualdade de gênero dentro e fora dos campos do agro.
Mulheres à frente das propriedades rurais já não são mais uma exceção no mercado agro. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aproximadamente 947 mil propriedades rurais brasileiras são lideradas por mulheres, o que equivale a 30 milhões de hectares voltados à produção do agronegócio.
Embora esse quadro indique o crescimento do protagonismo das mulheres no agro, a realidade é que elas sempre estiveram presentes nesse espaço, mas agora estão conquistando maior destaque no mercado.
Justificativas históricas ligadas ao patriarcado estão entre os motivos da invisibilidade da contribuição feminina no meio rural, como a suposta falta de capacidade em executar tarefas tradicionalmente consideradas masculinas, a obrigação exclusiva de cuidar do lar e filhos, além de estereótipos que associavam as mulheres à fragilidade física e emocional.
No entanto, ao contrário do século passado, quando o trabalho feminino no campo era apenas percebido como uma ajuda e não reconhecido como atividade remunerada, hoje as mulheres têm buscado formalizar seu ofício e ocupar espaços significativos, incluindo cargos de administração e liderança de fazendas.
Acompanhe o artigo adiante para conhecer as conquistas já alcançadas e quais são os desafios que as mulheres do agro ainda enfrentam no cenário nacional.
Protagonismo feminino e a força da mulher rural
Como um mercado não isolado, o aumento da presença feminina nas tomadas decisão das fazendas nos últimos anos ocorre em paralelo às mudanças significativas do papel da mulher na sociedade e no mercado global.
Afinal, a taxa de atividade feminina no Brasil aumentou consideravelmente nas últimas décadas. De acordo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), a taxa de mulheres no mercado de trabalho que têm entre 15 e 59 anos de idade aumentou de 52,5% em 1992 para 61% em 2012. Isso fez com que aumentasse o poder de compra e a independência financeira entre as mulheres.
Embora o agronegócio seja um setor mais tradicional em comparação aos outros, ele também foi influenciado pela emancipação feminina. As mulheres desempenham diversas atividades em toda cadeia produtiva do campo.
Estudos conduzidos pela Food and Agriculture Organization (FAO) revelam que em países menos desenvolvidos, mais de 70% das mulheres economicamente ativas trabalham na agricultura (Cielo et al. 2014).
No Brasil, as Comunidades que Sustentam a Agricultura (CSAs) contam com cerca de 45% de trabalhadoras na força de trabalho e nas atividades produtivas. Ou seja, as mulheres rurais contribuem no desenvolvimento da agricultura orgânica, na promoção da segurança alimentar e no fortalecimento socioeconômico regional.
Elas estão no cultivo de hortas, criação de animais, na produção de alimentos, panificação, entre outros. Nas produções familiares, elas também estão à frente dos negócios, introduzindo novas abordagens de produção e comercialização de seus cultivos.
Além de empreenderem, as mulheres do agro também buscam por formação e capacitação para ocupar espaços de liderança e alavancar os negócios.
Como aponta o levantamento feito pela Agroligadas, entidade formada por mulheres profissionais do agronegócio, em que das mais de 400 mulheres entrevistadas, 95% delas priorizam a capacitação profissional para aumentar a produção em suas propriedades.
Consequentemente, essa busca das mulheres por formação rompe a relação hierárquica de gênero e incentiva o protagonismo feminino na gestão das propriedades rurais. Redes que buscam ajudá-las no desenvolvimento profissional e técnico se tornam o diferencial na construção de um ambiente fértil no mercado agro.
Nós da Agroadvance acreditamos que é importante incentivar o protagonismo feminino, por isso criamos um clube exclusivo para produtoras rurais, o Produtora Real, uma comunidade que busca e evolução conjunta das mulheres do agronegócio. Conheça agora mesmo essa iniciativa:
Desafios para alcançar a igualdade de gênero
Apesar dos avanços no protagonismo feminino no agro, as mulheres ainda enfrentam inúmeros desafios para ocupar espaços de liderança e conquistar igualdade salarial.
A desigualdade persiste quando se trata de cargos e posições em relação aos homens, bem como de acesso à formalização do trabalho. No setor da agropecuária brasileira, por exemplo, dados do 3º trimestre de 2022 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do IBGE indicam que, enquanto 74,9% dos homens ocupavam empregos informais, a porcentagem era ainda maior entre mulheres, com 83,2%.
Outro desafio significativo é a disparidade salarial entre homens e mulheres. Conforme o estudo conduzido pela Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE), no Brasil, o salário médio de uma mulher com educação superior equivale a apenas 62% do que ganha um homem com a mesma formação.
Essa desigualdade se acentua entre as mulheres negras. Enquanto a renda média dos homens atinge R$1.831,30, a das mulheres negras fica em R$945,90, como aponta o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Isso evidencia não apenas a desigualdade de gênero, mas também a desigualdade racial.
Além de terem os salários mais baixos, as mulheres também enfrentam a dura realidade da dupla ou tripla jornada de trabalho, como confirma a Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG). Segundo o estudo, 71% das mulheres ligadas ao agro lidam com diversas tarefas e responsabilidades.
Os números apontam que as mulheres são responsáveis por uma série de obrigações relacionadas à gestão de propriedades ou empresas, ao mesmo tempo em que lidam com questões familiares e domésticas, incluindo a maternidade.
Essa capacidade de desempenhar múltiplas funções, por vezes, faz com que se destaquem no mercado pelo alto grau de adaptabilidade e proatividade, porém, ao mesmo tempo, reflete o excesso de trabalho que enfrentam diariamente.
Por serem consideradas obrigações inerentes das mulheres, essas tarefas domésticas muitas vezes não são reconhecidas como trabalho, o que torna ainda mais desafiador a luta pela igualdade de gênero no Brasil, não apenas no meio rural, como em todo cenário nacional.
Em resumo, o protagonismo feminino caminha para o crescimento no agronegócio brasileiro, com mulheres desempenhando e ocupando cada vez mais cargos de liderança nas propriedades rurais. No entanto, ainda existem muitos desafios estruturais a serem superados para atingir a igualdade de gênero dentro e fora dos campos agrícolas.
A criação de sistemas de formação e educação para mulheres no agro é uma das principais estratégias para atingir essa equidade entre homens e mulheres no agro e ampliar o protagonismo feminino. Cada vez mais conscientes de que são capazes de desempenhar funções de gestão e liderança nas propriedades rurais, as produtoras conseguirão lutar por estes espaços.
Para alcançar uma verdadeira igualdade de gênero no setor agropecuário, é imperativo que se promova o protagonismo feminino em todas as suas facetas. Além de fornecer treinamento e educação específicos para as mulheres do campo, é fundamental que as instituições e organizações agrícolas adotem políticas e práticas que incentivem ativamente o protagonismo feminino. Isso inclui promover a participação ativa das mulheres em associações e cooperativas agrícolas, bem como em cargos de tomada de decisão em órgãos relacionados à agricultura.
Referências
BARBOSA, Ana Luiza Neves de Holanda. Participação feminina no mercado de trabalho brasileiro. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2014.
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Sensix Blog. Mulheres do agro: a força que movimenta um dos maiores setores da economia. Disponível em: https://blog.sensix.ag/mulheres-no-agro-a-forca-que-movimenta-um-dos-maiores-setores-da-economia/. Acessado em 23/10/2023.
Sobre a autora:
Izabela Machado
Social Media na Agroadvance
- Jornalista (UNESP/Bauru)