Microrganismos do solo estão integrados às interações simbióticas das plantas, auxiliando na absorção de nutrientes e na adaptação a desafios ambientais. Entre essas relações, destacam-se as micorrizas arbusculares, associações entre fungos do grupo Glomeromycetes e raízes de mais de 90% das espécies vegetais.
Evidências científicas sugerem que essas interações surgiram há mais de 400 milhões de anos, durante a transição das plantas para o ambiente terrestre, promovendo o desenvolvimento de sistemas radiculares mais complexos. Esses fungos ajudam na absorção de nutrientes como fósforo e nitrogênio, particularmente em solos com características limitantes.
Além disso, a simbiose com micorrizas compartilha mecanismos genéticos e bioquímicos com outras interações, como as associações entre leguminosas e bactérias fixadoras de nitrogênio, mostrando a amplitude de sua aplicação.
O uso de biofertilizantes baseados em micorrizas tem se consolidado em culturas como soja, milho e trigo, que lideram a aplicação dessa tecnologia no campo.
Vamos entender um pouco mais sobre o assunto?
Boa leitura!
Qual o tamanho do mercado de biofertilizantes no Brasil e no mundo?
As micorrizas estão no centro do mercado global de biofertilizantes devido à sua eficiência em solubilizar fósforo e promover o crescimento sustentável. Em 2022, o mercado global de biofertilizantes à base de micorrizas alcançou um valor expressivo de aproximadamente US$ 995,3 milhões, com um volume de 96,6 mil toneladas (Figura 1).
No Brasil, o mercado é promissor, estimado em US$ 129,92 milhões para 2024, com projeções de crescimento anual de 9,7% até 2029. A Europa lidera o mercado global, representando 55,2% do total em 2022, enquanto na América do Norte, culturas como milho e trigo, respondem por 68,1% do mercado regional.
Culturas em linha como soja, milho e trigo são as principais beneficiadas pela adoção dos biofertilizanrtes à base de micorrizas (Figura 1), especialmente devido à crescente demanda por produtos orgânicos e práticas agrícolas sustentáveis.

Você sabia?
“A hifa da micorriza pode fornecer 80% do fósforo, 25% do nitrogênio, 10% do potássio, 25% do zinco e 60% do cobre (Marschner e Dell, 1994).”
A partir de agora te explicaremos um pouco mais sobre as micorrizas!
O que são micorrizas e qual a sua função?
Micorrizas são associações simbóticas entre fungos e raízes de plantas, essenciais para a troca de nutrientes.
Os fungos micorrízicos arbusculares (FMAs) penetram as células radiculares das plantas, formando estruturas especializadas chamadas arbúsculos.
Por meio dessa relação mutualística, a planta fornece carboidratos ao fungo, enquanto este melhora a absorção de nutrientes como fósforo, nitrogênio e micronutrientes.
Essa relação é especialmente relevante em solos pobres, onde a disponibilidade de nutrientes é limitada. Além disso, as micorrizas ajudam na tolerância a estresses ambientais, como seca e salinidade.

Classificação das micorrizas
As micorrizas são classificadas em três principais categorias, com base na localização e no tipo de interação que realizam com as plantas:
- Endomicorrizas: os Fungos Micorrízicos Arbusculares (FMAs) são os principais representantes. Os fungos penetram as células radiculares, formando estruturas internas como arbúsculos e vesículas.
- Espécies: Rhizophagus intraradices, Claroideoglomus etunicatum.
- Ectomicorrizas: fungos que formam bainhas externas ao redor das raízes, sem penetrar as células. É comum em árvores como pinus e eucalipto.
- Espécies: Pisolithus tinctorius, Amanita muscaria.
- Endoectomicorrizas: uma combinação de características das duas categorias anteriores, ocorrendo em algumas plantas tropicais.
Como as micorrizas ajudam na solubilização do fosfato?
A solubilização de fosfato é um dos processos mais importantes realizados pelas micorrizas. O fósforo, essencial para o desenvolvimento das plantas, é frequentemente indisponível no solo devido à sua fixação em formas minerais. Os FMAs auxiliam nesse processo ao:
- Liberar ácidos orgânicos que dissolvem compostos de fosfato;
- Produzir enzimas, como a fosfatase, que convertem o fósforo orgânico em formas assimiláveis;
- Expandir a área de absorção por meio de hifas fúngicas, aumentando o contato com reservas de fosfato insolúvel.

Sinalização química e trade-offs na simbiose micorrízica arbuscular
A comunicação entre plantas e fungos micorrízicos envolve uma troca complexa de sinais químicos. As plantas produzem exsudatos radiculares, como os estrigolactonas, que estimulam o crescimento das hifas dos fungos, facilitando a colonização radicular.
Em resposta, os fungos produzem fatores Myc, que induzem mudanças moleculares na planta, permitindo a formação de arbúsculos.
Apesar dos benefícios nutricionais e de resistência a estresses, estudos apontam que a relação micorrízica pode gerar trade-offs, como redução do crescimento em condições de alta fertilidade ou competição entre os caminhos de absorção direta (DP) e micorrízico (MP) para o fósforo.
A regulação da simbiose também impacta a resistência a patógenos, pois mecanismos semelhantes são ativados tanto por fungos benéficos quanto por patógenos.
Pesquisas recentes destacam que genes associados à simbiose micorrízica, como o RAM2 e CERK1, tem o papel crítico nessa interação, mas também podem ser explorados por patógenos. Além disso, micorrizas podem induzir resistência sistêmica adquirida (SAR), fortalecendo as defesas da planta.
Benefícios das micorrizas para as plantas
Os efeitos positivos das micorrizas vão além da nutrição e incluem:
- Melhora no crescimento radicular: as hifas aumentam a exploração do solo;
- Maior tolerância a estresses: as plantas se tornam mais resistentes à seca e salinidade;
- Proteção contra patógenos: a presença das micorrizas pode inibir o desenvolvimento de patógenos radiculares;
- Melhora na estrutura do solo: a agregação promovida pelas hifas aumenta a infiltração de água.
Confira a seguir a tabela completa sobre as micorrizas, onde você encontrará os principais benefícios e funções que elas possuem para as plantas.
Entenda como essa interação promove melhorias no desenvolvimento vegetal. Não perca nenhum detalhe!
Tabela 1. Funções e benefícios de micorrizas para as culturas
Categoria | Benefícios das Micorrizas |
Nutrição | – Maior absorção de fósforo por meio da solubilização de compostos insolúveis. – Melhoria na absorção de nitrogênio (amônio) e micronutrientes como zinco e cobre. – Expansão da zona de absorção pela extensão das hifas fúngicas além das raízes. |
Crescimento e Desenvolvimento | – Estímulo ao crescimento radicular, permitindo maior exploração do solo. – Aumento da biomassa vegetal em diversas culturas, incluindo soja, trigo e milho. – Contribuição para maior produção de frutos e sementes. |
Resistência a Estresses Abióticos | – Tolerância aprimorada à seca devido à melhoria nas relações hídricas das plantas. – Redução dos impactos negativos de salinidade e metais pesados no solo. – Minimização dos sintomas de deficiência de enxofre e toxicidade de arsênio. |
Resistência a Estresses Bióticos | – Indução de resistência sistêmica adquirida (SAR) contra patógenos foliares e radiculares. – Redução de doenças como podridão radicular causada por Aphanomyces euteiches. – Produção de compostos de defesa, como fenóis e β-1,3-glucanase. |
Melhoria da Estrutura do Solo | – Aglomeração de partículas do solo por hifas, aumentando a infiltração e retenção de água. – Redução do risco de erosão devido à estabilização dos agregados do solo. |
Sinalização Química | – Produção de estrigolactonas que atraem fungos e promovem colonização. – Liberação de fatores Myc pelos fungos, induzindo respostas moleculares nas plantas. |
Sustentabilidade Agrícola | – Redução do uso de fertilizantes químicos devido à melhoria na eficiência nutricional. – Promessa de uso como biofertilizantes e agentes de bioproteção em sistemas agrícolas de baixo impacto. |
Fonte: adaptado de Akiyama et al. (2005), Bouwmeester et al. (2007) e Parniske (2008). |
Da teoria à prática: produtos comerciais contendo micorrizas
A utilização de produtos comerciais contendo micorrizas tem se mostrado uma prática eficaz na agricultura, especialmente em culturas como soja, milho, cana-de-açúcar, café e algodão.
Vejamos a seguir, alguns produtos comerciais a base de micorrizas já registrados no Brasil:
EndoFuse® da Sumitomo Chemical Brasil
O EndoFuse® é um inoculante formulado especificamente para o tratamento de sementes, composto por quatro espécies de fungos micorrízicos: Glomus mosseae, Glomus aggregatum, Glomus intraradices e Glomus etunicatum.
Esses fungos formam estruturas chamadas hifas micorrízicas, que aumentam a superfície de contato entre as raízes e o solo, melhorando a absorção de nutrientes como fósforo e potássio, além de água.
Entre os benefícios proporcionados pelo EndoFuse®, destacam-se:
- Maior absorção de nutrientes e água;
- Maior resistência ao estresse hídrico;
- Melhoria da estrutura do solo;
- Aumento na fixação de carbono no solo;
- Maior tolerância a doenças do solo;
- Sinergia positiva com a vida no solo, como a fixação biológica de nitrogênio.
Para as culturas de soja e milho, o EndoFuse® deve ser aplicado diretamente nas sementes antes do plantio, seguindo as recomendações específicas de dosagem fornecidas pelo fabricante.
Essa aplicação assegura que os fungos micorrízicos estejam presentes desde o início do desenvolvimento da planta, potencializando seus benefícios ao longo do ciclo produtivo.
Rootella® BR da NovaTero BioAg
O Rootella® BR é um inoculante natural com alta concentração de fungos micorrízicos arbusculares, indicado para o tratamento de sementes e aplicação em sulco de plantio em culturas como arroz, feijão, milho e soja. Este produto é composto por micorrizas que promovem:
- Expansão do sistema radicular, possibilitando maior alcance de nutrientes e melhor aproveitamento da adubação e da água presente no solo;
- Plantas mais saudáveis e mais resistentes, graças à maior proteção em condições adversas como seca, salinidade e acidez;
- Recuperação do solo, tornando-o mais estruturado, a partir da ação de uma rede de agregados que retém carbono, nutrientes e água;
- Aumento de produtividade e qualidade na colheita de grãos.
A dosagem recomendada para o Rootella® BR é de 120 gramas por hectare, o que proporciona mais de 2 milhões de propágulos ativos por hectare.
O produto pode ser aplicado tanto no tratamento de sementes quanto diretamente no sulco de plantio, conforme a conveniência do produtor e as orientações técnicas da NovaTero BioAg.
Uso de micorrizas na soja
As micorrizas arbusculares beneficiam a soja (Tabela 2) ao aumentar a absorção de nutrientes, como fósforo, nitrogênio, potássio, zinco e cobre, por meio do micélio extrarradicular, que amplia a exploração do solo.
Elas também melhoram a tolerância da planta a estresses como acidez, salinidade e seca, estabilizando os agregados do solo e promovendo maior retenção de água.
Além disso, as micorrizas reduzem os efeitos tóxicos de metais pesados e fortalecem a defesa contra patógenos, estimulando a produção de compostos bioquímicos de proteção.
Tabela 2. Resultados de estudos envolvendo a resposta da soja à inoculação de fungos micorrízicos arbusculares em diferentes condições de cultivo
Espécie de FMA | Principais resultados | Referência |
Claroideoglomus etunicatum, Funneliformis mosseae, Glomus macrocarpum e Rhizophagus intraradices | Melhor desempenho no crescimento, rendimento e acúmulo de fósforo. | Adeyemi et al. (2020, 2021), Faggioli et al. (2020), Nogueira e Cardoso (2002), Stoffel et al. (2020a). |
G. etunicatum e G. fasciculatum | Maior tolerância à acidez do solo. | Maddox e Soileau (1991). |
G. etunicatum, G. macrocarpum, Gigaspora margarita e R. intraradices | Redução dos efeitos tóxicos de metais (Pb, Mn) sobre as plantas. | Andrade e Silveira (2004), Andrade et al. (2003), Manara (2012), Nogueira e Cardoso (2000, 2003), Spagnolett et al. (2017). |
FMA autóctones e G. macrocarpum | Interação positiva com a microbiota autóctone, aumento da biomassa microbiana e atividade biológica no solo. | Andrade e Silveira (2004), Hoeksema et al. (2010). |
C. etunicatum, Dentiscutata heterogama e R. clarus | Estímulo ao crescimento inicial da soja e maior absorção de nutrientes com aplicação de formononetina. | Salgado et al. (2016). |
G. clarum, G. etunicatum, G. fasciculatum, G. macrocarpum, G. margarita e R. intraradices | Sinergia entre FMA e bactérias fixadoras de nitrogênio, promovendo maior crescimento, nodulação, acúmulo de P e N, e produção de açúcares. | Adeyemi et al. (2021), Bidondo et al. (2011), Clua et al. (2013), Harris et al. (1985), Pereira et al. (2013), Püschel et al. (2017), Silva et al. (2017). |
FMA autóctones | Maior colonização micorrízica e biomassa de raízes em associação com fungos promotores de crescimento de plantas. | Farias et al. (2018). |
F. mosseae e R. intraradices | Proteção contra patógenos da raiz e parte aérea. | Giachero et al. (2017), Jie et al. (2019), Leigh et al. (2011), Li et al. (2013), Qian et al. (2015), Sastrahidayat et al. (2011), Spagnolett et al. (2017). |
Conclusão
As micorrizas são uma solução biológica relevante na agricultura atual, contribuindo diretamente para melhorar o aproveitamento de nutrientes em culturas como soja, milho, cana-de-açúcar, café e algodão.
Sua interação simbiótica com as raízes das plantas permite maior absorção de fósforo em solos com limitações nutricionais, resultando em plantas mais equilibradas e adaptadas a diferentes condições de cultivo.
Ao incorporar micorrizas no manejo agrícola, os produtores encontram soluções baseadas em processos biológicos que auxiliam no uso racional de recursos e na manutenção da qualidade do solo. Essas tecnologias permitem integrar ciência e prática, respondendo às demandas de um setor que busca maior equilíbrio entre eficiência agronômica e manejo responsável.
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AKIYAMA, K.; MATSUZAKI, K.; HAYASHI, H. Plant sesquiterpenes induce hyphal branching in arbuscular mycorrhizal fungi. Nature, v. 435, p. 824–827. 2005. DOI: 10.1038/nature03608
BOUWMEESTER, H. J.; ROUX, C.; LOPEZ-RÁEZ, J. A.; BÉCARD, G. Rhizosphere communication of plants, parasitic plants, and AM fungi. Trends in Plant Science, v, 12, p. 224–230.2007. DOI: 10.1016/j.tplants.2007.03.009
Mordor Intelligence. Mercado de Biofertilizantes à Base de Micorrizas – Análise de Indústria (2022). Disponível em: https://www.mordorintelligence.com/pt/industry-reports/mycorrhiza-based-biofertilizer-market. Acesso: 21 Jan 2025.
LÓPEZ-RÁEZ, J. A.; POZO, M. J. Chemical Signalling in the Arbuscular Mycorrhizal Symbiosis: Biotechnological Applications. In: R. Aroca (Ed.), Symbiotic Endophytes. Springer-Verlag, Berlin Heidelberg. 2013.
PARNISKE, M. Arbuscular mycorrhiza: The mother of plant root endosymbioses. Nature Reviews Microbiology, v. 6, p. 763–775. 2008. DOI: 10.1038/nrmicro1987.
Sobre o autor:

Alasse Oliveira da Silva
Doutorando em Produção Vegetal (ESALQ/USP)
- Engenheiro agrônomo (UFRA) e Técnico em agronegócio
- Mestre e especialista em Produção Vegetal (ESALQ/USP)
SILVA, A.O. Micorrizas: o que são e como elas ajudam na solubilização de fosfato? Blog Agroadvance. 2025. Disponível em:https://agroadvance.com.br/blog-micorrizas/. Acesso: xx Xxx 20xx.