Se por um lado a gestão financeira rural pode parecer um desafio para os produtores, por outro, ela ajuda a garantir a prosperidade e o bom andamento em termos de negócio.
Com isso, é possível até aumentar sua produção com segurança, como foi o caso de um produtor de Jardinópolis-SP que após implementar a gestão financeira aumentou seu negócio em 5 vezes.
Isso porque com uma gestão financeira rural bem-feita temos a melhor visualização dos possíveis cenários e qual tomada de decisão é mais acertada e segura, não só em termos agropecuários, mas em termos financeiros.
Ou seja, fica muito mais claro quanto é possível (e o que compensa) investir na próxima safra, o que pode ser obtido por crédito agrícola e até mesmo a previsão de rendimento para o período. Consequentemente, conseguimos obter um crescimento seguro ou superar mais facilmente as crises.
Neste artigo apresentamos os principais pontos para você melhorar a gestão financeira da sua propriedade rural com o intuito de crescer e prosperar ainda mais. Boa leitura!
O que é gestão financeira rural?
Gestão financeira é tudo que envolve como foi e como está sendo empregado os investimentos do negócio, além de quais são as perspectivas futuras. Isso inclui ferramentas para análises, processos para condução da gestão (planejamento, controle, andamento e balanço final por período) e, é claro, as ações que são tomadas.
A gestão financeira rural também é exatamente isso, porém no âmbito do agronegócio, o que inclui diversas particularidades e mais variáveis que um negócio comum, já que é dependente de diversos fatores, especialmente as condições climáticas que podem ser imprevisíveis.
Abaixo, na Figura 1, temos os 4 pilares da gestão que fazem uma propriedade rural ter sucesso financeiro: planejar, controlar, analisar e investir.
Ferramentas para a gestão financeira rural e outros conceitos
Podemos dizer que demonstrativos financeiros são as principais ferramentas para o produtor fazer sua gestão financeira. Eles indicam o montante de dinheiro investido em ativos agrícolas, dívidas pendentes, o capital próprio do proprietário no negócio e sua liquidez, que é a capacidade de cumprir as obrigações financeiras no prazo.
As principais ferramentas financeiras que um produtor pode usar para analisar, planejar e controlar o seu negócio são três:
- Balanço patrimonial: abrange todo o histórico da propriedade, demonstra ativos (o que a empresa tem, como imóveis, automóveis, dinheiro em caixa, etc.), passivos (o que a empresa deve aos credores: insumos comprados, folha de pagamento, impostos, etc.) e patrimônio líquido da empresa (o que a empresa deve aos proprietários);
- Demonstrativo de resultado do exercício (DRE): mostra o lucro do período considerado e como ele ocorreu (como foram as movimentações de receitas e despesas nesse período);
- Demonstrativos de fluxo de caixa: uma das mais importantes ferramentas, mostrando as fontes e utilizações dos investimentos em determinados períodos. Tal declaração proporciona uma verificação útil da exatidão dos outros registros comerciais da exploração agrícola.
Note que algumas dessas ferramentas são especificamente contábeis, sendo mais indicado um profissional (contador) ou escritório de contabilidade para realizá-las ou dar o suporte.
No entanto, o fluxo de caixa é um demonstrativo bem mais simples e necessário para operação do negócio que o gestor deve tê-lo sempre à mão, sendo possível ele mesmo elaborar.
Por isso, a seguir explicamos em passos simples como começar e algumas dicas sobre o fluxo de caixa.
Dicas para seu Fluxo de Caixa
Quanto financiamento seu negócio agrícola exigirá este ano? Quando será necessário dinheiro e de onde ele virá?
Um pouco de planejamento antecipado pode ajudar a evitar escassez de recursos no curto prazo. Uma ferramenta útil para esse planejamento é um orçamento de fluxo de caixa.
Um orçamento de fluxo de caixa é uma estimativa de todos os recebimentos e despesas de caixa que se espera que ocorram durante um determinado período.
As estimativas podem ser feitas mensalmente, bimestralmente ou trimestralmente e podem incluir receitas e despesas não agrícolas, bem como itens agrícolas. Porém atenção! O orçamento de fluxo de caixa considera apenas o movimento do dinheiro e não o lucro líquido ou a lucratividade.
Abaixo temos um resumo de cada seção de um fluxo de caixa simples para que você entenda melhor sobre essa ferramenta:
Entradas de Caixa
A primeira linha de qualquer demonstração de fluxo de caixa geralmente é o saldo de caixa inicial do período. Esse saldo inclui todos os fundos disponíveis (por exemplo, conta corrente). A secção seguinte é a secção de receitas, que está dividida em três subsecções: receitas operacionais, receitas de capital e rendimentos não agrícolas.
As receitas operacionais incluem receitas provenientes das colheitas ou do gado e quaisquer outras receitas de dinheiro para o negócio. Cada recebimento de caixa projetado é lançado no período em que o caixa é esperado.
As receitas de capital são entradas de caixa provenientes da venda de itens de capital, tais como criação de gado, maquinaria e equipamentos. Além disso, apenas o valor de caixa que se espera que seja usado para a operação é inserido.
O rendimento não agrícola inclui dinheiro recebido de dividendos, reembolsos e dinheiro recebido de outras fontes não agrícolas.
O caixa total disponível para o período é então calculado adicionando o saldo de caixa inicial, as receitas operacionais, as receitas de capital e o rendimento não agrícola.
Saídas de caixa
A seção de despesas está dividida em quatro subseções:
- despesas operacionais,
- compras de gado e rações,
- despesas de capital e
- outras despesas.
As despesas operacionais incluem coisas como sementes, fertilizantes, mão-de-obra, combustível, imóveis e impostos sobre a propriedade, seguros, etc.
O valor em dinheiro gasto para cada item é lançado no período em que se espera que seja pago, que pode ser diferente de quando você realmente toma posse do item.
A subseção seguinte é a compra de gado e rações e inclui despesas em dinheiro com animais de engorda. Também estão incluídas despesas em dinheiro para alimentação.
A terceira subseção refere-se às despesas de capital e inclui desembolsos de dinheiro para a compra de matrizes, maquinaria, equipamento e benfeitorias. Se o valor dessas despesas for pago integralmente e você pedir dinheiro emprestado a outro credor (por exemplo um banco), o valor total a ser pago é lançado no período apropriado. O caixa que saiu do empréstimo para a operação será lançado posteriormente.
Outras despesas podem incluir despesas da vida familiar, se retirados da empresa agrícola, despesas de empresas não agrícolas, se não forem uma entidade separada, e impostos sobre o rendimento e demais pagamentos.
Também estão incluídos nesta seção os pagamentos de juros devidos para empréstimos a prazo. O caixa total necessário para o período é calculado somando todas as saídas de caixa projetadas.
Posição do caixa
Subtraindo o caixa total necessário do caixa total disponível resulta a posição de caixa antes dos empréstimos e das entradas de poupança.
Caso a posição de caixa seja negativa ou inferior a um determinado valor desejado na conta corrente, você pode transferir dinheiro disponível em outras contas ou, o mais comum, tomar emprestado recursos de bancos, os quais também serão contabilizados no fluxo de caixa (o valor emprestado, o valor devido com juros e quando deverão ocorrer os pagamentos).
Também é necessário contabilizar o dinheiro que sai do negócio agrícola e vai para algum tipo de poupança ou investimento de curto prazo.
Depois de tudo contabilizado, temos o saldo final de caixa do período. Este também é o saldo de caixa inicial para o próximo período de operação.
Na Figura 2 abaixo é possível visualizar um resumo sobre a composição do fluxo de caixa.
A tecnologia deve ser sua aliada na gestão financeira rural
A manutenção de registros agrícolas é um procedimento sistemático para registrar informações do dia a dia relacionadas ao negócio agrícola – incluindo informações financeiras e de produção.
Porém, esses registros são trabalhosos e em grande quantidade, tornando essa tarefa bastante desgastante.
Por isso, ressaltamos que existem muitos softwares disponíveis para desenvolver orçamentos de fluxo de caixa e até mesmo outros demonstrativos financeiros. Vale a pena checar alguns deles e verificar seus benefícios, já que conseguimos maior rapidez e praticidade com eles.
Esses tipos de softwares são comumente chamados de ERP (Enterprise Resource Planning), os quais oferecem a gestão contábil e administrativa de uma forma muito mais automática e intuitiva.
Alguns deles podem importar notas fiscais e suas informações e alocar os custos e entradas de capital automaticamente, classificando-os nas categorias corretas. Assim você poderá saber com facilidade qual categoria de despesas foi a mais pesada na sua safra (sementes ou defensivos ou maquinário, etc.).
Outros trazem até mesmo os demais demonstrativos aqui mencionados, como balanço patrimonial e outras análises mais aprofundadas do seu negócio.
Na Figura 3 a seguir você pode verificar os principais benefícios de um ERP.
Outro aliado tecnológico é a educação financeira online. Existem diversos cursos e mentorias disponíveis atualmente, com flexibilidade e o conforto do online.
O Clube Produtora Rural é um ótimo exemplo disso. Nele, mulheres sucessoras e gerentes são preparadas para os mais diversos desafios do negócio rural, incluindo a gestão financeira. Clique em Inscreva-se para saber mais:
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Sobre a autora:
Maiara Franzoni
Coordenadora de Go-To-Market na Agroadvance
- Engenheira Agrônoma (ESALQ/USP)
- Mestra em Fitotecnia (ESALQ/USP)
- Especialista em Agronegócio e Marketing (ESALQ/USP)