Coffea arabica L. (café arábica) e Coffea canephora Pierre ex A. Froehner (café canéfora) possuem grande importância econômica mundial e correspondem a 57% e 43% da produção global de café, respectivamente (International Coffee Organization – ICO, 2024).
O Brasil é o maior produtor mundial de café, com 2,23 milhões de hectares cultivados de Coffea arabica e Coffea canephora, e produziu cerca de 54,2 milhões de sacas na safra 2023/24 (CONAB, 2024).
Mas afinal, por que a florada do café desperta tanta expectativa? Para se ter uma ideia, cada inflorescência (glomérulos) pode carregar de 4 a 5 flores, e um único ramo pode apresentar até 20 nós férteis.
Gostou dessa informação e quer entender mais sobre como ocorre a florada do café? Continue a leitura.
O que é a florada do café e por que ela é importante?
A florada do café corresponde ao período em que as gemas reprodutivas, diferenciadas, se desenvolvem e emitem flores. Esse evento é importante porque determina o número de frutos que serão formados, com impacto direto na produtividade.
A fenologia do cafeeiro divide-se em fases vegetativas e reprodutivas. A época de florada do café marca a transição para a fase reprodutiva, quando a planta passa a direcionar maior parte de sua energia para a frutificação.
Por isso, o manejo da lavoura deve considerar práticas que favoreçam essa etapa, como o balanço nutricional adequado, a disponibilidade hídrica e o controle de pragas e doenças.
Compreender e manejar os fatores que afetam a florada do café é um dos pilares para alcançar altas produtividades.
Qual é a época da florada do café no Brasil?
A época da florada do café varia conforme a região e as condições climáticas.
A floração é desencadeada, em geral, por um período de déficit hídrico seguido pela retomada das chuvas. Esse estresse hídrico promove a indução e diferenciação floral, e o retorno da umidade proporciona as condições ideais para a abertura da flor do café.
Café arábica: tem Minas Gerais como maior região produtora e a florada ocorre entre setembro e novembro, início do período chuvoso (Figura 1).

Foto: João Paulo Marim Sebim.
Café conilon ou robusta: cultivado em maior parte no Espírito Santo, Rondônia e Bahia, a florada predomina entre setembro e novembro (Figura 2).

Café arábica x canéfora
O café foi introduzido no Brasil em 1727 no estado do Pará, vindo da Guiana Francesa.
Café Arábica: originária de região de sub-bosque na Etiópia, apresenta maior adaptação em climas frios e altitudes elevadas.
Apresenta bebida mais suave, com aroma e sabor mais pronunciados.
O arábica apresenta como característica plantas com monocaule (Figura 3).

Café Canéfora: originária de Guiné na Bacia do Congo, é mais rústica, e se adapta melhor em condições edafoclimáticas tropicais de baixa altitude e temperaturas mais elevadas.
Possui bebida mais neutra e amargor mais eminente, com teor de cafeína e sólidos solúveis elevados.
Há relatos de produtores que atingiram produtividades superiores a 180 sacas/ha com os clones de canéfora. São plantas que quando bem manejadas, apresentam alto potencial produtivo.
Os materiais do tipo canéfora caracterizam-se por apresentar plantas com multicaules (Figura 4).

Fotos: João Paulo Marim Sebim.
Outro ponto que distinguem canéfora de arábica é o método de propagação. A propagação por semente gera alta variabilidade genética, o que significa que as plantas podem diferir bastante em vigor, produção e uniformidade.
Propagado por semente leva de 3,5 a 5 anos para iniciar a produção, dependendo das condições de manejo e do ambiente.
Por isso, o mais comum é o uso de propagação vegetativa (por estacas clonais), que permite entrar em produção mais cedo (2 anos após o plantio) e com maior uniformidade e produtividade (Figura 5).

Cerca de 140 a 160 dias após esse processo as mudas estão aptas para irem a campo.
A produção por estaquia garante uniformidade e alta produção, visto que as estacas são retiradas de plantas matrizes com alto potencial produtivo.
Fatores que influenciam a florada do café
A intensidade e uniformidade da florada do café são determinadas por uma combinação de fatores:
✅ Clima: déficit hídrico de 60 a 90 dias é geralmente necessário para indução floral. Chuvas regulares após esse período garantem a abertura uniforme das flores.
✅ Manejo nutricional: o fósforo (P) para a formação de gemas florais. O boro (B) para fertilidade do pólen. O potássio (K) está relacionado à frutificação e retenção dos chumbinhos.
✅ Sanidade da lavoura: doenças como a ferrugem-do-cafeeiro podem reduzir a capacidade fotossintética e, com isso a energia disponível para a floração.
✅ Manejo hídrico: a irrigação controlada pode substituir o papel da seca, permitindo maior uniformidade da florada.
O papel da fenologia do café no manejo da lavoura
A fenologia do café fornece informações valiosas para o planejamento agrícola. Conhecer as fases de crescimento permite definir o momento ideal para a adubação, aplicação de defensivos e manejo hídrico.
- Pré-florada: período em que os botões florais estão formados, mas ainda não se abriram.
- Florada: abertura das flores, com duração de 2 a 3 dias.
- Chumbinho: fase inicial de frutificação, suscetível a abortamentos, dura em média de 30 a 45 dias.
As fases da floração do cafeeiro apresentam seis estágios de desenvolvimento dos botões florais (Figura 6):
- E1: indução/iniciação;
- E2: botões florais indiferenciados;
- E3: botões florais fisiologicamente imaturos;
- E4: botões florais fisiologicamente maduros (estágio maduro para flor);
- E5: crescimento do botão floral (após a quebra da dormência); e E6 – antese.

Acompanhar a fenologia garante que os insumos sejam aplicados no momento de maior eficiência, e evita perdas e otimiza recurso.
Flor do café: características, polinização e duração
O cafeeiro exibe floração gregária, ou seja, todas as plantas de uma região florescem de forma simultânea, com número de floradas variáveis ao longo do ano.
Ambas as espécies apresentam certa semelhança com relação a indução floral, porém, o café arábica se reproduz por autofecundação (autógamo), enquanto o canéfora precisa de polinização cruzada entre plantas diferentes (alógamo).
Arábica: a taxa de pegamento é em média de 50-60% das flores darão origem aos frutos. Cada flor permanece aberta por cerca de 2 a 3 dias.
A polinização por abelhas é mais importante pensando no canéfora que faz polinização cruzada. No caso do café arábica, mais de 90% das flores quando se abrem já estão autopolinizadas.
Canéfora: a abertura das flores concentra-se em poucos dias, e em geral as flores abrem-se pela manhã, nas primeiras horas, e sua corola começa a murchar no segundo dia.
A florada do café, em condições naturais, é provocada pelas primeiras chuvas da estação, após um período de seca.
Nessa espécie alógama, na qual ocorre a autoincompatibilidade, a fecundação cruzada acontece após a abertura das flores, e a polinização é realizada com auxílio de vento e de insetos (Figura 7).

Fonte: Embrapa, 2019.
A Embrapa recomenda o plantio de pelo menos 6 clones de canéfora no talhão para evitar que ocorra incompatibilidade genética (Figura 8).

A duração da fase reprodutiva varia conforme a cultivar e a espécie (Figura 9).

Pré-florada: o que significa e qual sua importância no manejo
A pré-florada é o estágio que antecede a abertura das flores. Nessa fase, as gemas florais estão diferenciadas, mas aguardam o estímulo hídrico para a antese.
Esse período é crítico porque define a quantidade de flores que serão abertas. Assim, o manejo nutricional deve ser reforçado, com atenção especial ao fornecimento de micronutrientes como boro e zinco.
Além disso, o monitoramento hídrico é importante para planejar irrigação ou aproveitar o início das chuvas.
Boas práticas para favorecer uma florada uniforme
Garantir suprimento adequado de macro e micronutrientes e manejar o estresse hídrico de forma planejada em lavouras irrigadas é de suma importância.
Na figura 10, à esquerda, frutos de café de plantas irrigadas durante todo o ano. À direita, frutos de cafeeiros onde a irrigação foi suspensa durante um período na fase de pré-floração. Os números nas fotos referem-se à porcentagem de cada estágio de amadurecimento dos frutos do café.

Outras práticas importantes na pré-florada são:
- Controle fitossanitário: prevenir pragas e doenças que comprometam a energia da planta.
- Poda e manejo de ramos: favorecer a renovação de ramos produtivos.
- Monitoramento climático: utilizar previsões para programar o manejo da pré-florada.
Impacto da florada na produtividade e qualidade do café
A florada é um dos principais fatores que explicam a bienalidade do café, fenômeno em que anos de alta produção são seguidos por anos de menor produtividade.
Uma florada abundante pode resultar em maior carga de frutos, mas também exige mais da planta, que pode apresentar queda no ciclo seguinte.
A uniformidade da floração influencia na qualidade da bebida, já que interfere na homogeneidade da maturação e da colheita.
Em sistemas irrigados e bem manejados, a bienalidade pode ser atenuada, o que garante maior estabilidade de produção ao longo dos anos.
O principal erro da maioria dos cafeicultores é não se preocuparem com o pós-colheita, é nessa fase que o café acaba perdendo a qualidade.
Todo o esforço durante a safra é perdido na forma de secagem dos grãos, torra inadequada, dentre outros fatores que acometem a qualidade final da bebida.
Quando digo perdido, me refiro ao que o cafeicultor está deixando de ganhar por sacas em razão de um café de maior qualidade.
Conclusões
A florada do café é muito mais do que um espetáculo visual: trata-se de um evento biológico e produtivo que define o rumo da safra.
Estamos presenciando uma nova fase da cafeicultura, a valorização do café especial. O café é um artigo de luxo e os cafeicultores que começar a olhar para esse mercado promissor, e investir em qualidade de bebida, com certeza irá se destacar.
Entender sua época de ocorrência, as diferenças entre espécies e os fatores que influenciam a intensidade e uniformidade da floração está atrelado ao sucesso da cafeicultura.
Produtores que investem em nutrição equilibrada, manejo hídrico adequado e monitoramento fenológico têm maiores chances de obter maior pegamento da florada e uniformidade, o que resulta em alta produtividade e qualidade de grão superior.
Assim, acompanhar o calendário da florada e adotar práticas de manejo integradas não é apenas uma recomendação técnica, mas uma estratégia decisiva para garantir competitividade no mercado de café.
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Referências
Ronchi, C. P.; DaMatta, F. M. Managing the coffee crop for flowering synchronisation and fruit maturation: Agronomic and physiological issues. 114 ed. In: DaMatta, F. M.; Ramalho, J. C. Coffee – A Glimpse into the Future. Advances in Botanical Research, 2025, p. 421-454. https://doi.org/10.1016/bs.abr.2024.03.001.
Sobre o autor

João Paulo Marim Sebim
Doutorando em fitotecnia (ESALQ/USP)
- Mestre em Produção Vegetal (UFAC)
- Engenheiro Agrônomo (UFAC)
Como citar este artigo:
SEBIM, J.P. Florada do café: época, fatores determinantes e impacto na produção. Blog Agroadvance, Publicado: 17 out 2025. Disponível em: https://agroadvance.com.br/blog-florada-do-cafe/. Acesso em: 22 out. 2025.