O Plano Safra é a principal fonte de crédito rural para o agronegócio brasileiro, oferecendo taxas subsidiadas e condições especiais. No entanto, os recursos disponibilizados pelo governo não são suficientes para atender a todos os produtores. Em muitas safras, a alta demanda esgota os fundos antes do esperado, deixando milhares de agricultores sem acesso ao financiamento rural necessário para custear sua produção.
Diante desse cenário, o produtor rural precisa buscar alternativas para garantir o capital necessário ao plantio, investimento em tecnologia e expansão do negócio. Além dos bancos, há um universo de opções no mercado não bancário, como o mercado de capitais, que oferece crédito com flexibilidade e menos burocracia.
Neste artigo, vamos explorar as principais fontes de financiamento rural e como cada uma pode se encaixar na realidade do produtor.
Principais fontes de Financiamento Rural
O financiamento é uma peça-chave para a sustentabilidade e o crescimento do agronegócio. O produtor rural, ao buscar crédito, pode recorrer a três principais fontes de recursos: Recursos Próprios, Mercado Bancário e Mercado Não Bancário. Cada um desses mercados tem características próprias, vantagens e desafios.
1. Mercado bancário
O mercado bancário é uma das principais fontes de crédito para o produtor rural. Nele, o crédito mais acessível ao produtor vem das linhas tradicionais oferecidas por bancos comerciais e cooperativas de crédito, que oferecem linhas de financiamento voltadas para custeio, investimento e comercialização.
Muitas dessas operações fazem parte do Plano Safra, que disponibiliza crédito subsidiado com taxas mais baixas e condições especiais. No entanto, os recursos são limitados e nem sempre atendem à total necessidade do produtor.
2. Mercado não-bancário
O Mercado Não Bancário oferece alternativas de financiamento que fogem das instituições financeiras tradicionais e abrange alternativas como o:
- Barter, uma operação em que o produtor troca sua produção futura por insumos agrícolas, garantindo acesso a recursos sem necessidade de capital imediato.
- Crédito oferecido por revendas e tradings, que financiam a compra de insumos e equipamentos, facilitando a produção; e
- Mercado de Capitais, uma opção ainda pouco explorada no agro, mas que vem ganhando força, proporcionando mais acesso a crédito com condições personalizadas. É nesta alternativa que daremos foco adiante.
O Mercado de Capitais e Seus Títulos Privados
O Mercado de Capitais se destaca por conectar diretamente investidores que possuem recursos disponíveis (superavitários) a produtores que precisam de crédito (deficitários), possibilitando operações personalizadas e adequadas às necessidades do agronegócio.
Ele oferece diferentes títulos privados que atendem perfis variados de produtores, desde pequenos até grandes negócios. O crescimento desse mercado tem tornado o crédito mais acessível, com operações de menor volume e mais próximas das necessidades reais do produtor rural.
Um exemplo disso é o crescimento da Cédula de Produto Rural (CPR), cujo ticket médio em 2023 foi de aproximadamente R$ 1 milhão.
Os principais títulos privados do agronegócio estão na Figura 1 e incluem:
- Cédula de Produto Rural (CPR): Título que permite ao produtor captar recursos com compromisso de pagamento em dinheiro ou entrega de produto futuro, podendo ser negociado no mercado financeiro. O estoque de CPRs atingiu R$ 476,7 bilhões em novembro de 2024, crescendo 58% em relação ao ano anterior.
- Letra de Crédito do Agronegócio (LCA): Título isento de imposto de renda para pessoas físicas, emitido por instituições financeiras, que direciona recursos para o financiamento do agronegócio. O estoque de LCAs alcançou R$ 516,99 bilhões em novembro de 2024, representando um aumento de 13% em comparação ao ano anterior.
- Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCA): Título de crédito que permite a empresas do agronegócio captarem recursos no mercado financeiro. Em novembro de 2024, o estoque de CDCAs foi de R$ 37,73 bilhões, um crescimento de 21% em relação ao mesmo período do ano anterior.
- Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA): Título de renda fixa emitido por securitizadoras, lastreado em recebíveis do agronegócio, que oferece isenção de imposto de renda para pessoas físicas. O estoque de CRAs atingiu R$ 152,24 bilhões em novembro de 2024, um aumento de 19% em relação ao ano anterior.
- Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas do Agronegócio (Fiagro): Fundos que reúnem investidores para financiar projetos agrícolas, podendo investir em imóveis rurais, participações em empresas do setor e ativos financeiros do agronegócio. Até outubro de 2024, o patrimônio líquido dos Fiagros era de R$ 40,9 bilhões, distribuído em 119 fundos.

Como Escolher a Melhor Linha de Crédito Rural?
As diferentes opções de créditos estão ai para atender da melhor forma cada perfil de produtor.
As linhas com fundos de investimento, no mercado de capitais, exatamente por serem totalmente customizadas, analisadas sob medida para o produtor, funcionam para operações a partir de R$ 15 / 20 milhões. Além disso, essas são linhas que contam com mais prazos mais longos, pelo menos 3 anos, e podem ter várias combinações de garantias: fazendas, contratos, estoque, safras, aval.
Cada operação é única e desenhada para atender as necessidades do produtor, de um lado, e a mitigação de riscos do investidor, de outro.
Importância da Diversificação do Financiamento Rural
A diversificação das fontes de financiamento é fundamental para a saúde financeira do produtor rural. Contar apenas com o crédito bancário pode ser arriscado, especialmente diante da redução dos subsídios e da alta volatilidade do mercado. Buscar novas alternativas, como o mercado de capitais, permite acesso a condições mais personalizadas, ampliando a previsibilidade financeira e fortalecendo o agronegócio.
Dados do CEMEC-FIPE mostram que, no Brasil, 42% da dívida das empresas vem do mercado de capitais, enquanto no setor agropecuário, os títulos do Agro representam apenas 20% do crédito rural total (FEBRABAN).
Explorar alternativas de financiamento pode proporcionar mais segurança financeira e previsibilidade ao produtor, permitindo um planejamento estratégico mais eficiente.
O segredo para um financiamento eficiente está em conhecer as opções disponíveis e escolher a linha de crédito que melhor se encaixa no perfil e na estratégia do negócio.
Quer entender mais sobre como o mercado de capitais pode ser um aliado para o produtor rural?
Aprofunde-se no tema com o podcast Conselho Agro! 🎧💸 No episódio, Octaciano Neto, especialista em financiamento privado da Avra.AG, explora as principais linhas de financiamento disponíveis e alternativas ao Plano Safra e Barter. Clique abaixo para assistir:
Conclusão
O financiamento rural é um elemento-chave para a expansão do agronegócio. Com a crescente participação do mercado de capitais, os produtores têm mais opções para captar recursos de forma estratégica. Avaliar diferentes fontes de crédito e buscar diversificação financeira é essencial para garantir competitividade e crescimento sustentável no setor.
Sobre a autora:

Amanda Coura
Cofundadora da Avra.ag
- Nascida em Piracicaba e filha de pecuarista. Formada em administração pela FGV, está há 10 anos atuando no mercado de financeiro, com análise de crédito e estruturação de veículos de investimento.
- Certificada pela Anbima para Gestão de Recursos e pela Oxford para Investimentos Sustentáveis. Atuei em algumas Assets de renome no mercado antes de fundar a AVRA.AG.