A sucessão na agricultura familiar é um dos principais desafios enfrentados nas propriedades rurais brasileiras, um setor crucial na segurança alimentar global e no desenvolvimento rural.
A migração dos jovens para os centros urbanos tem levado a um declínio na população rural, gerando incertezas quanto à continuidade dessas propriedades e ao futuro do setor agrícola.
Em 2000, cerca de 18,8% da população brasileira vivia no campo. Em 2022, o percentual caiu para 12,4%, conforme dados Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra). Esse fenômeno é particularmente acentuado entre os jovens com menos de 29 anos de idade, reduzindo drasticamente o potencial da continuidade nas propriedades familiares (Figura 1).
A sucessão nas propriedades rurais, portanto, não é apenas uma questão de interesse pessoal, mas uma necessidade estratégica para o futuro do setor agrícola no país.
Estudos recentes, como o de Foguesatto et al. (2020), revelam que fatores socioeconômicos, como renda da propriedade, tamanho da terra, e incentivos familiares, desempenham papéis decisivos na atração dos jovens para a continuidade da atividade agrícola.
Esses fatores, combinados com políticas públicas e apoio familiar, determinam a probabilidade de que uma nova geração escolha permanecer e dar continuidade ao legado familiar no campo.
Neste artigo, analisamos esses aspectos e outros fatores que influenciam o processo de sucessão familiar, bem como as oportunidades e desafios para fortalecer essa continuidade.
Acompanhe!
Fatores que influenciam a sucessão familiar
Um estudo realizado por Foguesatto et al. (2020) buscou identificar os fatores que impactam a sucessão na agricultura familiar em Santa Catarina, estado que enfrenta um intenso êxodo rural.
Foram entrevistados 150 agricultores no município de São Lorenço do Sul, SC, e os resultados apontam para uma série de fatores socioeconômicos que influenciam a expectativa de sucessão nas propriedades.
Entre os fatores analisados, destacam-se:
Número de familiares economicamente ativos
Quanto maior o Número de familiares economicamente ativos, ou seja., membros empregados fora da fazenda, menor é a expectativa de sucessão. Isso sugere que, com menos dependência do trabalho na fazenda, a probabilidade de continuidade intergeracional diminui.
Tamanho da propriedade
Propriedades maiores apresentam uma maior probabilidade de sucessão, possivelmente devido à maior escala de produção e melhores condições econômicas. A infraestrutura e a possibilidade de trabalho conjunto entre gerações também são fatores que contribuem para essa perspectiva.
Renda da propriedade
A expectativa de um sucessor aumenta em propriedades com maior renda anual. A maior renda anual contribuiu para uma maior probabilidade de expectativa do pequeno proprietário quanto ao sucesso da sucessão geracional.
A pesquisa mostrou que uma renda satisfatória é o principal incentivo para os jovens permanecerem no campo, sendo um fator decisivo para garantir a continuidade dos negócios familiares.
Incentivos familiares
O apoio e incentivo dos pais desempenham um papel fundamental. Pais que demonstram satisfação com a vida rural e incentivam seus filhos a assumirem a propriedade tendem a ter maiores chances de ver a sucessão acontecer. A motivação e o exemplo dos pais influenciam diretamente a decisão dos jovens de continuar no campo.
Fatores que têm menor peso para a sucessão familiar na agricultura
Alguns fatores, embora relacionados com a administração e o ambiente da agricultura familiar, não se mostraram determinantes para a sucessão nas propriedades rurais, como o número de filhos, o nível educacional dos agricultores e o uso de ferramentas de gestão, de acordo com a pesquisa de Foguesatto et al. (2020).
Número de filhos
Embora o número de filhos possa parecer intuitivamente um fator positivo para a sucessão, essa variável não é um indicador confiável de continuidade nas propriedades.
A quantidade de herdeiros, em alguns casos, pode até complicar o processo de sucessão, levando a divisões de terra ou conflitos familiares.
Nível de educação do agricultor
Embora uma educação formal seja uma forma de capital intelectual, ela pode, paradoxalmente, reduzir a propensão dos agricultores a passarem a propriedade para os filhos.
Agricultores com mais formação tendem a enxergar alternativas fora do setor rural, o que, segundo Mishra et al. (2010), pode reduzir a intenção de sucessão dentro da família.
Uso de Ferramentas de Gestão
Apesar das ferramentas de gestão, como controles contábeis, contribuírem para o controle financeiro, elas não se correlacionaram significativamente com a expectativa de sucessão.
É possível que muitos pequenos agricultores utilizam essas ferramentas de forma esporádica, sem reconhecer seu valor como um suporte estratégico para a continuidade da atividade rural.
Desafios e oportunidades para a sucessão na agricultura familiar
Apesar dos fatores positivos que podem incentivar a sucessão, como renda e tamanho da propriedade, o estudo de Foguesatto et al. (2020) ressalta a importância de políticas públicas voltadas para a melhoria das condições de vida no meio rural.
Programas de incentivo à produção agrícola, como o PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), são essenciais para aumentar a renda das propriedades e tornar a vida no campo mais atrativa para os jovens.
Além disso, estratégias como a diversificação das atividades agrícolas, agregação de valor aos produtos e o investimento em tecnologias de gestão podem contribuir para o aumento da renda e para a viabilidade econômica das propriedades, incentivando a permanência dos jovens no campo.
Leia também:
- Aspectos jurídicos da sucessão rural
- Sucessão familiar rural: desafios e soluções para garantir a continuidade do negócio
Conclusão
A continuidade da agricultura familiar depende de uma série de fatores econômicos e sociais.
Garantir uma renda satisfatória, oferecer boas condições de vida e promover o incentivo dos pais são elementos essenciais para atrair os jovens e garantir a sucessão nas propriedades rurais.
Com a implementação de políticas públicas adequadas e o desenvolvimento de estratégias voltadas para o aumento da competitividade das propriedades familiares, é possível minimizar o êxodo rural e assegurar a continuidade das atividades agrícolas no Brasil.
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FOGUESATTO, C.R.; MORES, G.V.; KRUGER, S.D.; COSTA, C. Will I have a potencial successor? Factors influencing family farming succession in Brazil. Land Use Policy. V. 97, 104643, 2020. DOI: 10.1016/j.landusepol.2020.104643.
Sobre a autora:
Beatriz Nastaro Boschiero
Especialista em MKT de Conteúdo na Agroadvance
- Pós-doutora pelo CTBE/CNPEM e CENA/USP
- Mestra e Doutora em Solos e Nutrição de Plantas (ESALQ/USP)
- Engenheira Agrônoma (UNESP/Botucatu)
Como citar este artigo:
BOSCHIERO, B.N. Terei um sucessor na minha propriedade? 5 fatores que influenciam a sucessão na agricultura familiar. Blog Agroadvance. 2024. Disponível em https://agroadvance.com.br/blog-sucessao-na-agricultura-familiar/. Acesso: xx Xxx 20xx.