As angiospermas, grupo que reúne todas as plantas com flores e frutos, formam o grupo de maior diversidade do reino vegetal e são divididas em dois grandes grupos: monocotiledôneas e eudicotiledôneas.
Essa distinção começa já na semente, com a presença de um ou dois cotilédones (as ”primeiras folhas” embrionárias), e se expressa em praticamente toda a estrutura da planta: raízes, caules, folhas e flores.
Pode parecer apenas um detalhe botânico, mas não é. As diferenças entre monocotiledôneas e dicotiledôneas estão por trás de muitos aspectos práticos do manejo agrícola: da eficiência na adubação ao manejo da irrigação, da resistência a doenças até a qualidade nutricional dos grãos.
Neste artigo, vamos detalhar essas diferenças de forma aplicada, mostrando como elas ajudam produtores, consultores e técnicos a tomar decisões mais assertivas no campo.
O que são monocotiledôneas?
O termo “monocotiledônea” refere-se às plantas que apresentam apenas um cotilédone, a primeira folha embrionária dentro da semente. Esse grupo inclui algumas das culturas agrícolas mais importantes do mundo, como arroz, milho, trigo, cana-de-açúcar, aveia e sorgo (Figura 1).

Principais características botânicas das monocotiledôneas:
- Sistema radicular fibroso, com muitas raízes finas que exploram as camadas superficiais do solo. Essa característica as tona eficientes na rápida absorção de água e nutrientes próximos a superfície.
- Feixes vasculares do caule distribuídos de forma irregular (sem crescimento secundário em espessura).
- Folhas com nervuras paralelas, geralmente longas e estreitas, otimizadas para interceptar luz.
- Peças florais em múltiplos de três, padrão típico desse grupo.
- Reservas da semente concentradas no endosperma, rico em amido, que garante alto valor energético e explica o papel das monocotiledôneas como base alimentar (cereais).
O que são eudicotiledôneas?
As eudicotiledôneas apresentam dois cotilédones no embrião. Nesse grupo estão culturas como soja, feijão, amendoim, algodão, tomate, café e girassol (Figura 2).

Nota sobre o termo: o nome eudicotiledônea é utilizado atualmente na classificação botânica para distinguir o grupo monofilético que reúne a maioria das antigas “dicotiledôneas”. O termo “dicotiledônea” ainda é comum, mas é mais amplo e inclui linhagens que não compartilham a mesma origem evolutiva.
Principais características botânicas das eudicotiledôneas:
- Sistema radicular pivotante, com raiz principal mais profunda, acompanhada de ramificações laterais. Essa configuração favorece o acesso a nutrientes e água em camadas mais profundas do solo.
- Feixes vasculares do caule organizados em anel, permitindo crescimento secundário (espessura) e formação de lenho.
- Folhas com nervuras reticuladas (em rede), associadas a maior plasticidade morfológica e eficiência em diferentes condições ambientais.
- Peças florais em múltiplos de quatro ou cinco.
- Reservas da semente acumuladas nos cotilédones, ricos em proteínas e lipídios, , o que confere alto valor nutricional e explica a importância desse grupo em oleaginosas e leguminosas.
Quais as diferenças entre monocotiledôneas e eudicotiledôneas?
Embora ambas pertençam ao grupo das angiospermas, as mono e as eudicotiledôneas apresentam diferenças marcantes que se manifestam na morfologia, na fisiologia, na composição das sementes e, consequentemente, no manejo agrícola. Essas distinções explicam, em grande parte, porque determinados grupos de culturas respondem melhor a certos ambientes, práticas de adubação e estratégias de controle de pragas e doenças.
Diferenças botânicas
As diferenças botânicas entre monocotiledôneas e eudicotiledôneas vão muito além do número de cotilédones. Elas se refletem em quatro estruturas fundamentais da planta: raiz, caule, folha e flor (Figura 3).

Sementes
- Monocotiledôneas possuem um cotilédone, geralmente associado a um endosperma persistente que concentra reservas energéticas (amido).
- Já nas eudicotiledôneas, dois cotilédones assumem o papel principal de reserva, ricos em proteínas e lipídios.
Raízes
- Monocotiledôneas: sistema radicular fibroso, com muitas raízes finas que se espalham horizontalmente nas camadas superficiais do solo.
- Eudicotiledôneas: sistema pivotante, com uma raiz principal profunda e ramificações laterais.
Caules
- Monocotiledôneas: feixes vasculares dispersos no caule, sem câmbio vascular; não apresentam crescimento secundário expressivo.
- Eudicotiledôneas: feixes vasculares organizados em anel, com câmbio vascular ativo; podem formar xilema secundário (lenho).
Folhas
- Monocotiledôneas: as folhas são tipicamente estreitas, alongadas e com nervuras paralelas.
- Eudicotiledôneas: folhas de formatos variados, geralmente mais arredondados, apresentando nervuras reticuladas.
Flores
- Monocotiledôneas: peças florais em múltiplos de três.
- Eudicotiledôneas: peças florais em múltiplos de quatro ou cinco.
Essas diferenças estruturais influenciam aspectos como capacidade de competição por luz (folhas estreitas vs largas), estratégias de adubação (raízes superficiais vs profundas) e longevidade da planta (ausência ou presença de lenho).
Diferenças na estratégia de uso de nutrientes
No campo, um dos pontos mais importantes que diferenciam monocotiledôneas e eudicotiledôneas é a forma como suas raízes captam e utilizam nutrientes do solo ou nas estratégias de uso de nutrientes. Essa característica impacta diretamente a eficiência da adubação e a resiliência das culturas em solos de baixa fertilidade.
Monocotiledôneas
Em culturas como milho, arroz, trigo e cana-de-açúcar, o sistema radicular fibroso explora principalmente a camada superficial do solo. Quando enfrentam deficiência de nutrientes essenciais, como ferro (Fe) e fósforo (P), essas plantas ativam a chamada estratégia II:
- liberam moléculas chamadas fitossideróforos, que quelam o ferro na forma Fe3+ e o tornam disponível para absorção;
- ajustam o crescimento de raízes finas para ampliar a área de contato com o solo.
Do ponto de vista nutricional, estudos recentes mostram que monocotiledôneas tendem a apresentar maior estabilidade estequiométrica (proporção entre N:P nas folhas), mantendo o equilíbrio de nutrientes mesmo em ambientes de baixa fertilidade.
Eudicotiledôneas
Nas culturas como soja, feijão, algodão e girassol, o sistema radicular pivotante alcança camadas mais profundas do solo, explorando zonas de menor concorrência por recursos. Em situações de deficiência nutricional, essas plantas adotam a estratégia I:
- exsudam ácidos orgânicos (como cítrico, málico e oxálico), que solubilizam fósforo e outros nutrientes da rizosfera;
- ativam enzimas redutases de ferro, que convertem Fe³⁺ em Fe²⁺, a forma absorvível do micronutriente.
- aumentam a eficiência de absorção de micronutrientes, especialmente em solos ácidos.
Além disso, eudicotiledôneas demonstram maior plasticidade nutricional, ou seja, adaptam sua composição de nutrientes de acordo com a disponibilidade do ambiente.
Essas características indicam que as monocotiledôneas tendem a ser mais eficientes em solos pobres, sustentando sua produção mesmo com menor disponibilidade de nutrientes, enquanto eudicotiledôneas podem alcançar maiores ganhos produtivos em ambientes férteis ou com manejo intensivo de adubação, aproveitando melhor os recursos adicionais graças à sua plasticidade metabólica.
Diferenças fisiológicas e imunológicas
Do ponto de vista fisiológico, as monocotiledôneas apresentam paredes celulares menos ricas em pectinas e mais lignificadas, o que lhes confere maior rigidez estrutural e resistência mecânica. Esse traço é fundamental para culturas como milho, arroz e trigo, que precisam sustentar colmos longos em altas densidades de plantio e suportar colheita mecanizada.
Já as eudicotiledôneas, com paredes celulares mais flexíveis e ricas em pectinas, apresentam maior plasticidade no crescimento, o que favorece adaptações morfológicas rápidas, mas as torna também mais vulneráveis a estresses mecânicos, como a quebra de ramos e a compactação do solo.
Além disso, há diferenças claras na forma como esses grupos respondem às condições ambientais. Monocotiledôneas tendem a adotar uma estratégia conservadora, mantendo seu metabolismo estável mesmo em solos pobres ou sob estresse hídrico, o que garante produtividade relativamente constante em condições adversas.
Em contraste, eudicotiledôneas exibem maior plasticidade fisiológica, ajustando rapidamente seu crescimento e composição nutricional conforme a disponibilidade de recursos. Isso explica por que leguminosas e oleaginosas, quando bem manejadas em ambientes férteis, podem atingir picos produtivos elevados, mas sofrem maior queda de desempenho em situações de estresse.
No que diz respeito à imunidade, as monocotiledôneas como trigo e milho se destacam por ativarem respostas de defesa sistêmicas e duradouras, conhecidas como resistência sistêmica adquirida (SAR). Essa forma de defesa é mediada por sinalização a longa distância e confere proteção contra uma ampla gama de patógenos.
Já as eudicotiledôneas, como soja e girassol, priorizam respostas rápidas e localizadas, caracterizadas pela produção de espécies reativas de oxigênio e pela ativação de receptores na parede celular, uma estratégia altamente eficaz contra patógenos necrotróficos, mas de efeito menos prolongado.
Essas diferenças têm implicações diretas no manejo agrícola. Enquanto monocotiledôneas podem se beneficiar de estratégias que explorem indutores de resistência sistêmica e demandem menos aplicações frequentes de defensivos, eudicotiledôneas exigem atenção a manejos que reforcem respostas rápidas e localizadas, como o uso criterioso de fungicidas de contato e de agentes biológicos direcionados.
Diferenças na composição das sementes
As sementes de mono e eudicotiledôneas diferem não apenas no número de cotilédones, mas também no local de armazenamento das reservas e no tipo predominante de proteína (YANG et al., 2023). Essas distinções impactam tanto o valor nutricional dos grãos quanto seu uso agrícola e alimentar.
Nas monocotiledôneas, o endosperma persiste após a germinação e atua como principal tecido de reserva. É nele que se concentram carboidratos na forma de amido e proteínas como prolaminas e glutelinas, típicas dos cereais. Esse padrão explica por que as monocotiledôneas são base energética da dieta mundial, fornecendo grãos ricos em amido que são a base tanto para alimentação humana quanto para a produção de rações e biocombustíveis.
Já nas eudicotiledôneas os cotilédones assumem o papel de tecido de reserva, acumulando predominantemente globulinas e albuminas, além de lipídeos em muitas espécies oleaginosas. Como resultado, os grãos apresentam alto teor de proteínas e óleos, fundamentais como fonte de proteína vegetal na alimentação humana e animal e para usos industriais.
Essa diferença estrutural e bioquímica ajuda a compreender por que as monocotiledôneas se consolidaram como base da dieta energética mundial (cereais), enquanto eudicotiledôneas se destacam como fontes de proteína e óleo (leguminosas e oleaginosas), essenciais tanto para a segurança alimentar quanto para a economia agrícola global.
Monocotiledôneas e dicotiledôneas no manejo agronômico
As diferenças estruturais e fisiológicas entre monocotiledôneas e eudicotiledôneas se refletem no campo, desde a adubação até o manejo hídrico e a sanidade das culturas. Entender essas particularidades ajuda o produtor a tomar decisões mais assertivas e a planejar melhor o sistema produtivo.
No campo da adubação e nutrição mineral, monocotiledôneas tendem a ser mais estáveis em solos pobres, o que permite explorar sua rusticidade em ambientes de menor fertilidade. Já as eudicotiledôneas respondem de forma mais expressiva a solos férteis e à adubação intensiva, justificando estratégias de manejo nutricional diferenciadas para maximizar produtividade.
No manejo hídrico e em estresses abióticos, cereais como milho e arroz suportam melhor a irregularidade climática, enquanto leguminosas e oleaginosas apresentam ganhos maiores quando bem irrigadas e conduzidas em condições controladas.
Quanto à fitossanidade, gramíneas favorecem manejos preventivos e estratégias de indução de resistência, ao passo que culturas como soja e girassol exigem monitoramento mais frequente e intervenções rápidas contra doenças necrotróficas.
Por fim, em termos de produtividade e qualidade do produto, monocotiledôneas consolidam-se como a base energética global, fornecendo carboidratos em larga escala, enquanto eudicotiledôneas agregam valor como fontes de proteína e óleo, elementos-chave para segurança alimentar e cadeias industriais.
Assim, compreender se uma cultura é monocotiledônea ou eudicotiledônea ajuda técnicos e produtores a ajustar práticas de manejo de forma mais precisa, otimizando insumos e reduzindo riscos.
Conclusão
As monocotiledôneas e as eudicotiledôneas diferem em muito mais do que a quantidade de cotilédones em suas sementes. Essas distinções estruturais, fisiológicas e bioquímicas moldam sua forma de crescer, de se defender e de utilizar os recursos do ambiente. No campo, isso significa que cereais como milho, arroz e trigo (monocotiledôneas) precisam ser manejados de forma distinta de culturas como soja, feijão e girassol (eudicotiledôneas), seja na adubação, na irrigação ou na fitossanidade.
Reconhecer essas diferenças é um passo essencial para um manejo agrícola mais eficiente, capaz de reduzir perdas, otimizar o uso de insumos e explorar todo o potencial produtivo de cada grupo. Em um cenário de crescente demanda por alimentos, fibras e energia, compreender a fisiologia e a nutrição das plantas deixa de ser um detalhe acadêmico e se torna uma ferramenta estratégica para o futuro da agricultura.
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Sobre a autora:

Beatriz Nastaro Boschiero
Especialista em Conteúdo na Agroadvance
- Pós-doutora pelo CTBE/CNPEM e CENA/USP
- Mestra e Doutora em Solos e Nutrição de Plantas (ESALQ/USP)
- Engenheira Agrônoma (UNESP/Botucatu)
Como citar este artigo:
BOSCHIERO, B.N. Monocotiledôneas e eudicotiledôneas: como as diferenças influenciam o manejo e a produtividade agrícola. Blog Agroadvance. Publicado em: 19 Set 2025. Disponível em: https://agroadvance.com.br/blog-monocotiledoneas-e-eudicotiledoneas/ . Acesso em: 21 set. 2025.