O arroz é elemento central na dieta dos brasileiros. Entretanto, a produção de arroz no Brasil representa uma fatia modesta, entre 1-2% da produção mundial. O Brasil é apenas o 10º país no ranking dos maiores produtores de arroz do mundo. Na Safra 2023/2024, o Brasil colheu cerca de 10,5 milhões de toneladas, em uma área de 1.574 mil hectares, conforme dados da CONAB. Esta produção é predominantemente concentrada em três estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso, os quais detalharemos adiante.
No panorama global se destacam China e Índia, que juntos são responsáveis por impressionantes 54% da produção mundial do arroz, somando cerca de 284 milhões de toneladas. Em terceiro lugar aparece Bangladesh com 7% da produção mundial.
A seguir, examinaremos de perto os principais estados produtores no Brasil, suas características distintivas na produção tanto orgânica quanto convencional, e analisaremos a influência de fatores climáticos e outros sobre a produção nacional. Além disso, aprofundaremos os dados dos maiores produtores de arroz do mundo.
Boa leitura!
Maior produtor de arroz do Brasil
Os principais estados produtores de arroz no Brasil, que se destacam tanto pela área cultivada quanto pelo volume de produção (Figura 1), são: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Tocantins e Mato Grosso.
- 1º) O Rio Grande do Sul é o maior produtor de arroz do Brasil, responsável por cerca de 70% da produção nacional. Foram 7,66 milhões de toneladas em 2023. As condições climáticas e a infraestrutura agrícola favorecem o cultivo do arroz inundado, que é predominante na região.
- 2º) O estado de Santa Catarina ocupa o segundo lugar no ranking nacional, com cerca de 10% da produção. Foram 1,18 milhão de toneladas em 2023. Este estado se beneficia de uma combinação de clima favorável e técnicas agrícolas avançadas.
- 3º) Tocantins é responsável por cerca de 7% da produção brasileira, com significativa produção de arroz de terras altas, que é cultivado em áreas que não necessitam de inundação constante. A expansão agrícola e o uso de tecnologias modernas têm contribuído para o aumento da produção no estado
- 4º) Conhecido por sua produção agrícola diversificada, Mato Grosso também é um importante produtor de arroz, especialmente em áreas de várzea que são propícias ao cultivo do grão. A produção de arroz no estado representa 4% da produção total brasileira.
Do total de arroz produzido no Brasil, cerca de 90% são destinados para o consumo interno e o restante, cerca de 1,3 milhão de toneladas, é exportado.
Produção de arroz no Brasil: irrigado e sequeiro
O cultivo de arroz no Brasil envolve diversas técnicas de cultivo, e possui destaque para dois métodos principais, o irrigado (por inundação) e o sequeiro. Cada técnica apresenta vantagens e desafios específicos, sendo escolhida de acordo com as condições ambientais da região.
Atualmente, o arroz irrigado é o sistema de produção mais comum e representa cerca de 79,5%, sendo predominante nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Este sistema consiste na manutenção de uma lâmina d’água constante sobre o solo durante todo o ciclo da cultura.
A água é fornecida através de sistemas de canais que permitem o alagamento controlado das áreas de plantio (terras submersas) na maior parte do desenvolvimento da cultura, com a retirada da água alguns dias antes da colheita.
Como vantagens desse sistema de produção, podemos citar o maior controle de pragas e plantas invasoras, a melhoria na fertilidade do solo e uma produção mais alta e estável. Porém, há limitações quanto a disponibilidade de água, tipo de solo, manejo e investimento inicial.
Já o arroz de sequeiro é cultivado em áreas não inundadas (depende exclusivamente das chuvas), sendo mais comum em regiões como o Centro-Oeste do país. Este sistema tem como vantagem o menor custo de produção devido à ausência de infraestrutura de irrigação (comparativamente ao sistema inundado) e uma melhor adaptação a diferentes tipos de solo e clima.
No entanto, este sistema não oferece uma produtividade tão boa quanto o arroz irrigado, devido à imprevisibilidade climática que não proporciona a garantia de água na quantidade necessária.
Produção de Arroz Orgânico
Nos últimos anos a produção de arroz orgânico vem ganhando destaque no Brasil, refletindo uma tendência global por alimentos mais saudáveis e métodos de cultivo sustentáveis.
O cultivo do arroz orgânico consiste em não utilizar defensivos ou fertilizantes químicos, e focar na utilização de práticas agrícolas que promovem a biodiversidade e a saúde do solo como:
Adubação verde: Utilização de plantas de cobertura (como leguminosas) a fim de melhorar a fertilidade do solo e aumentar a matéria orgânica.
Rotação de cultura: Alternar o cultivo de arroz com outras culturas (como feijão ou milho, por exemplo) a fim de quebrar o ciclo de pragas e doenças e melhorar a estrutura do solo.
Conservação de água: Sistema de irrigação por inundação intermitente pode auxiliar a economia de água e reduzir a emissão de gases de efeito estufa (como o metano) emitidos pelas áreas alagadas de arroz.
Controle biológico de pragas e doenças: Uso de inimigos naturais ou aplicação de biodefensivos.
Os desafios para este tipo de produção consistem nos custos (e tempo) de transição, ou seja, no investimento necessário para a transição de um sistema convencional para orgânico, no controle de pragas e doenças sem o uso de defensivos químicos e na certificação do produto orgânico, que geralmente é complexa e custosa.
Por mais que haja tais desafios, a produção de arroz orgânico está em crescimento e possui investimentos em pesquisa e desenvolvimento promovidos pela Embrapa a fim de aprimorar as técnicas de cultivo e ampliar a visibilidade econômico desta cultura.
Maiores produtores de arroz do mundo
Os maiores produtores de arroz do mundo são a China e Índia, que juntos produzem 54% de todo o arroz produzido: 284 milhões de toneladas. Na sequencia aparecem: Bangladesh, Indonésia, Vietnã, Tailândia, Filipinas, Myanmar, Paquistão e Brasil (Tabela 1).
Tabela 1. 10 maiores produtores de arroz do mundo – Previsão de produção para a Safra em 2024/2025
Ranking | País | Produção (1000 toneladas) | Porcentagem da produção mundial |
1 | China | 146.000 | 28% |
2 | Índia | 138.000 | 26% |
3 | Bangladesh | 38.000 | 7% |
4 | Indonésia | 34.000 | 6% |
5 | Vietnã | 27.000 | 5% |
6 | Tailândia | 20.100 | 4% |
7 | Filipinas | 12.700 | 2% |
8 | Myanmar | 12.100 | 2% |
9 | Paquistão | 9.500 | 2% |
10 | Brasil | 7.500 | 1% |
Mesmo estando em 10º lugar, o Brasil possui uma participação significativa na exportação do grão, principalmente para países da América Latina e África. A qualidade do arroz brasileiro é reconhecida internacionalmente, o que abre portas para novos mercados e oportunidades de comércio exterior.
Apesar do Brasil ser um grande produtor, o país também importa arroz para atender à demanda interna e garantir a segurança alimentar. Principalmente em anos de produção insuficiente, devido a condições climáticas adversas (ou outros fatores), a importação se torna crucial para estabilizar os preços e evitar desabastecimento.
No ano de 2023, o Brasil importou cerca de 1 milhão de toneladas de arroz, principalmente de países como Paraguai, Uruguai e Argentina. Essas importações ajudaram a equilibrar a oferta interna e a manter os preços acessíveis para os consumidores.
Impacto do Clima na Produtividade
O clima desempenha um papel crucial na produção de arroz, influenciando diretamente a produtividade e a qualidade das lavouras. Condições climáticas adversas, como secas prolongadas ou chuvas excessivas, podem causar grandes variações na produção anual.
Os principais impactos que tais condições podem acarretar são sobre a disponibilidade de água para irrigação (quando há secas prolongadas), inundação de lavouras (que prejudicam o desenvolvimento das plantas, aumentam o risco de doenças e prejudicam a colheita) e danos diretos às plantações e infraestrutura (no caso de tempestades torrenciais e ventos intensos).
Políticas Públicas e Incentivos
O governo brasileiro desempenha um papel crucial no apoio à produção de arroz através de políticas públicas e incentivos que visam melhorar a competitividade e a sustentabilidade do setor agrícola. Abaixo seguem alguns exemplos destas políticas e programas:
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF): Oferece crédito rural com condições favoráveis para agricultores familiares, incentivando a produção sustentável e a inclusão social no campo.
Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM): Assegura preços mínimos para produtos agrícolas, incluindo o arroz, proporcionando uma rede de segurança para os produtores contra as flutuações de mercado.
Subvenções para Seguro Rural: Auxilia os agricultores a se protegerem contra perdas decorrentes de eventos climáticos adversos, incentivando a adoção de seguros agrícolas.
Ademais, o governo oferece incentivos fiscais para promover a adoção de práticas agrícolas sustentáveis e a inovação tecnológica no setor de arroz. Esses incentivos incluem isenções de impostos para equipamentos de irrigação e tecnologias de agricultura de precisão.
Conclusão
A produção de arroz no Brasil é essencial para a economia e segurança alimentar, colocando o país entre os maiores produtores mundiais, principalmente nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso. O futuro da produção deste grão no país é promissor, com oportunidades em inovação tecnológica, expansão de mercados de exportação e valorização através de certificações e produção diferenciada.
—
Quer saber mais sobre a cultura do arroz, técnicas de manejo dentre outros aspectos? Assine o Agroclass e acesse a mais de 70 cursos do Agro.
Referências
Equipe BASF. Plantio de arroz: irrigado ou sequeiro. Blog BASF AGRICULTURA. Disponível em: https://agriculture.basf.com/br/pt/conteudos/cultivos-e-sementes/arroz/irrigado-ou-sequeiro.html. Data de acesso: 24 de Mai. 2024.
STONE, L.F. SILVEIRA, P.M.; MOREIRA, J.A.A. Métodos de irrigação. Disponível em: https://www.embrapa.br/agencia-de-informacao-tecnologica/cultivos/arroz/pre-producao/metodos-de-irrigacao. Data de acesso: 24 de Mai. 2024
PLACIDO, H.F. Plantio de arroz irrigado ou sequeiro: 7 dicas para produzir mais e melhor. Blog Aegro. Disponível em: https://blog.aegro.com.br/plantio-de-arroz/. Data de acesso: 24 de Mai. 2024.
MATTOS, M.L.T.; MARTINS, J.F.S. Cultivo de arroz irrigado orgânico no Rio Grande do Sul. Pelotas: EMBRAPA CLIMA TEMPERADO. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/46576/1/sistema-17.pdf. Data de acesso: 25 de mai. 2024.
Sobre a autora
Mariana Colli
Analista de Go-To-Market na Agroadvance
- Engenheira Agrônoma (ESALQ/USP)
- Mestra em Fitopatologia (ESALQ/USP)
- Especialista em Marketing (ESALQ/USP)
Respostas de 2
olha no artigo diz que o Brasil exporta 1,3 milhão de ton e que importa 1 milhão , não fas sentido
Olá Diana. O Brasil exporta e importa arroz simultaneamente devido a diferenças de tipo e qualidade: exporta arroz longo fino, valorizado fora, e importa tipos específicos como quebrado ou aromático. Além disso, fatores como custos logísticos, demanda regional, flutuações cambiais e estoques estratégicos tornam essa troca vantajosa economicamente. É uma estratégia para equilibrar o mercado interno e atender à demanda externa