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3 principais ferrugens do milho: Ferrugem polysora, ferrugem tropical e ferrugem comum do milho

Atualizado: 20/07/2023

Ferrugem polysora

A ferrugem polysora no milho é causada por Puccinia polysora e é uma das doenças mais destrutivas da cultura do milho (Dudienas et al., 2013).

Assim como os agentes causais de outras ferrugens, P. polysora é um fungo biotrófico, e por isso necessita dos tecidos vivos da planta hospedeira para se desenvolver e reproduzir, e é disseminado pelo vento.

A disseminação deste patógeno a longas distâncias pelo vento, e a existência de milho cultivado durante quase todo o ano, mesmo que em áreas diferentes, facilita a permanência do fungo no campo por meio da sobrevivência na própria planta hospedeira.

ferrugem polysora no milho
Figura 1. Sintomas de Puccinia polysora em folhas de milho. Fontes: Sisson, A., Iowa State University, Bugwood.org (A); Henrickson, M. (B).

Danos causados pela ferrugem polysora

Os danos causados pela ferrugem polysora são redução da área fotossintética (Basso, 2002), diminuição do vigor das plantas e do peso dos grãos, antecipação da senescência das plantas (maturação precoce) e acamamento (Costa et al., 2015). Os prejuízos à fotossíntese (que se traduzem em menor produtividade), não ocorrem apenas nas áreas das folhas que estão com as lesões da doença, mas também em partes verdes das folhas infectadas (Basso, 2002).

A redução de produtividade quantificada em um estudo de reação de cultivares comerciais de milho à P. polysora superou 20% em alguns cultivares (Dudienas et al., 2013), mas já foi relatada superior a 50% em híbridos suscetíveis (Rezende et al., 1994).

Sintomatologia e epidemiologia da ferrrugem polysora

Os sintomas típicos da ferrugem polysora são pústulas pequenas, com 0,2 a 2,0 mm de comprimento e formato circular a elíptico, onde são produzidos esporos denominados uredósporos de cor amarelo-dourado, que conferem a cor às pústulas (Figura 1) (Pereira et al., 2005; Dudienas et al., 2013).

Quando as pústulas ficam mais velhas, embora seja raro, pode ocorre a produção de outro tipo de esporo de cor mais escura, o teliósporo, fazendo com que as lesões adquiram cor marrom a preta (Dudienas et al., 2013).

A ocorrência das pústulas se dá principalmente na face superior das folhas (podendo ocorrer na bainha), nas brácteas das espigas e até no pendão quando sob alta severidade (Pereira et al., 2005).

Nas condições climáticas brasileiras, os uredósporos produzidos em plantas de milho fora da área de cultivo (em cultivos vizinhos, por exemplo) disseminados pelo vento, constituem o inóculo primário da doença, provocando uma primeira infecção que estabelece a doença na área de cultivo.

Na planta infectada, o uredósporo origina uma primeira lesão (pústula) onde são produzidos novos uredósporos (inóculo secundário) que serão disseminados e infectarão outras plantas dentro da mesma área de cultivo (Figura 2).

Devido a variações das condições climáticas, e da necessidade de determinadas condições para o desenvolvimento da doença, a ferrugem polysora pode ocorrer em elevada severidade em uma área, em um determinado ano, e passar despercebida em anos seguintes, mesmo quando empregados cultivares de milho suscetíveis à doença (Costa et al., 2015).

Condições ambientais favoráveis à ferrugem polysora incluem temperaturas elevadas (Godoy et al., 2003) e alta umidade relativa do ar (Ramirez-Cabral, et al., 2017), embora períodos prolongados com umidade relativa do ar superior a 90% possam contribuir para uma menor severidade da doença, possivelmente por estarem associados à menor presença de vento e prejuízo à disseminação do patógeno (Godoy et al., 2003).

Sabe-se também que altitudes inferiores a 650 m, como em muitas áreas da região central do país, também são favoráveis à ocorrência de maiores severidades da doença (Pereira et al., 2005).

ciclo ferrugem milho
Figura 2. Ciclo simplificado de Puccinia polysora no milho. Autoria: Ísis Tikami.

Manejo da ferrugem polysora

O método de controle de menor custo e maior eficiência é o uso de cultivares resistentes (Pereira et al., 2005), no entanto, a elevada variabilidade genética de P. polysora pode dificultar seu controle apenas por meio da resistência (Costa et al., 2013) e o uso de fungicidas pode ser necessário.

Em um ensaio realizado sob condições controladas para avaliar o efeito protetor de diferentes fungicidas no controle da ferrugem polysora, os nove produtos comerciais testados mostraram-se eficientes.

Estes produtos tinham como ingredientes ativos tiofanato metílico, carbendazin, triazois, estrobilurinas ou estrobilurinas em conjunto com triazois (Figura 3) (Costa et al., 2013). Há 65 produtos registrados para o controle da doença, que incluem, além dos ingredientes ativos e grupos já citados, o grupo das carboxamidas, dos ditiocarbamatos e das cloronitrilas (AGROFIT).

De acordo com a bula dos produtos, em geral, a primeira aplicação de fungicida deve ser realizada entre os estádios V6 e V8.

Figura 3. Número de pústulas de Puccinia polysora em folhas de plantas de milho submetidas à aplicação prévia de diferentes tratamentos com fungicidas ou sem fungicidas (testemunha), em condições de casa de vegetação. Fonte: Costa et al., 2013.

Outra medida importante no manejo da ferrugem polysora é evitar a semeadura de dezembro a janeiro em regiões propícias à ocorrência da doença (Pereira et al., 2005) e sempre realizar a rotação ou ao menos a sucessão de culturas. Por fim, outro fator a ser considerado é a nutrição, já que plantas em desequilíbrio nutricional podem ficar mais suscetíveis ao ataque de patógenos. No caso da ferrugem polysora, é conhecido que a expressão da resistência à doença pela planta pode variar de acordo com o teor de fósforo disponível (Colombo et al., 2014).

Ferrugem polysora, ferrugem tropical e ferrugem comum do milho

Embora tenham nomes parecidos, Ferrugem polysora, ferrugem comum do milho e ferrugem tropical são doenças com diferentes agentes causais.  A ferrugem comum é causada por Puccinia sorghi e provoca pústulas mais alongadas que a ferrugem polysora, com cor mais escura (marrom-canela) e ocorrência generalizada tanto na face superior como na face inferior das folhas (Figura 4B) (Pereira et al., 2005).

Já a ferrugem tropical (também conhecida como ferrugem branca) é causada pelo fungo Physopella zeae e leva à formação de pústulas arredondadas de cor amarelada a castanha, dispostas em pequenos grupos paralelos às nervuras em ambas as faces das folhas (Figura 4C) (Pereira et al., 2005). Assim, a ferrugem polysora é a única das ferrugens com a ocorrência de pústulas predominantemente na face superior das folhas.

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Figura 4. Pústulas das ferrugens do milho. A: Ferrugem polysora (Puccinia polysora), B: Ferrugem comum (Puccinia sorghi) e C: Ferrugem tropical (Physopella zeae). Fontes: Mississippi State University Extension (A), Henrickson, M. (B), Canteri, M.G. (C).

Embora o controle químico esteja disponível para o manejo das ferrugens comum e tropical, sua principal estratégia de controle também é emprego de cultivares resistentes. A rotação ou sucessão de culturas são também fundamentais no manejo destas doenças. Como a ferrugem comum é favorecida por temperaturas baixas, cultivares suscetíveis à P. sorghi devem ser evitados em regiões de temperaturas mais amenas (Pereira et al., 2005). A ferrugem tropical, assim como a ferrugem polysora, é favorecida em regiões de temperaturas mais elevadas.

Quando a semeadura e escolha do cultivar com base na duração do ciclo são programadas para evitar épocas de temperaturas mais favoráveis à doença, também estamos colaborando com o seu manejo.

Por fim, vale lembrar que quando o controle químico é necessário, é fundamental rotacionar produtos com diferentes modos de ação entre as aplicações. Deste modo, garantimos que as moléculas que temos disponíveis continuem a funcionar por mais tempo.


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Referências

AGROFIT. Informações sobre agrotóxicos fitossanitários registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Disponível em: <https://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons> Acesso em 21/03/2021.

BASSO, M.E.  Efeito das doenças ferrugem tropical (Physopella zeae) e ferrugem polisora (Puccinia polysora) na eficiência fotossintética de plantas de milho. 2002. Dissertação (Mestrado em Fitopatologia) – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2002.

CANTERI, M. G. Sintomas de Physopella zeae em milho(Imagem). Disponível em: <https://www.agrolink.com.br/problemas/ferrugem-tropical_1689.html> Acesso em 20/03/2021

COLOMBO, G. A. et al., Análise dialélica para resistência a ferrugem polissora em milho em diferentes níveis de adubação fosfatada. Bragantia. v.73, n.1, p.65-71. 2014

COSTA, R. V. da; SILVA, D. D. da; COTA, L. V. Efeito Protetor de Fungicidas no Controle da Ferrugem-Polissora (Puccinia polysora) do Milho. Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo, 2013, 22p. (Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento/ Embrapa Milho e Sorgo, 81) Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/103973/1/bol-81.pdf> Acesso em 20/03/2021

COSTA, R. V. da; SILVA, D. D. da; COTA, L. V. Reação de cultivares de milho à ferrugem-polissora em casa de vegetação. Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo, 2015, 5p. (Circular técnica, 214). Disponível em: <https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1038446/1/circ214.pdf> Acesso em 20/03/2021

DUDIENAS, C. et al . Severidade de ferrugem polissora em cultivares de milho e seu efeito na produtividade.Summa phytopathol.,  v. 39, n. 1, p. 16-23,  2013.

GODOY, C. V. et al . Temporal progress of southern rust in maize under different environmental conditions. Fitopatol. bras.,  v. 28, n. 3, p. 273-278, 2003 . 

HENRICKSON, M. Sintomas de Puccinia polysora e de Puccinia sorghi em milho (Imagens). In: Southern Rust of Corn. Disponível em: <https://www.pioneer.com/us/agronomy/southern_rust_cropfocus.html> Acesso em 20/03/2021

MISSISSIPPI STATE UNIVERSITY EXTENSION Sintomas de Puccinia polysora em milho (Imagem) In: SMITH, D. Southern rust is a rare but serious threat to wisconsin corn crops. Wisconsin Educational Communications Board and the University of Wisconsin-Madison. Disponível em: <https://www.wiscontext.org/southern-rust-rare-serious-threat-wisconsin-corn-crops> Acesso em 20/03/2021

PEREIRA, O.A.P.; CARVALHO, R.V.; CAMARGO, L.E.A. Doenças do milho. In: KIMATI, H.; AMORIM, L.; REZENDE, J. A. M; FILHO, A. B.; CAMARGO, L .E. A. Manual de fitopatologia: doenças das plantas cultivadas. 4. ed. São Paulo: Ceres, 2005. cap. 55, p. 477-488.

RAMIREZ-CABRAL, N. Y. Z.; KUMAR, L.; SHABANI, F. Global risk levels for corn rusts (Puccinia sorghi and Puccinia polysora) under climate change projections. Journal of Phytopathology, v.165, p.563–574, 2017.

REZENDE, I.C., SILVA, H.P.;  PEREIRA, O.A.P. Perda da produção de milho causada por Puccinia polysora Underw.. In: XX Congresso Nacional de Milho e Sorgo. Anais… Goiânia: ABMS, 1994. p.174.

SISSON, A. Sintomas de Puccinia polysora em folha de milho (Imagem), Disponível em:<https://www.invasive.org/browse/detail.cfm?imgnum=5605035> Acesso em 20/03/2021

Esse texto é opinião do autor e não reflete, necessariamente, a posição da Agroadvance.

Sobre a autora:

Ísis Tikami

Engenheira Agrônoma (ESALQ/USP)

 

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