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Fonte: Zhao et al. (2011)

Fenologia do milho: manejo aplicado nos principais estádios de desenvolvimento

O entendimento da fenologia do milho está intimamente relacionado às práticas de manejo adotadas na cultura. Descubra como utilizar a escala fenológica em suas atividades cotidianas e potencialize sua produção.

O ciclo do milho, período que compreende desde a semeadura até o ponto de maturidade fisiológica, é altamente variável, podendo se estender de 110 a 160 dias, dependendo das caraterísticas genéticas dos genótipos utilizados:

  • Genótipos superprecoces: possuem ciclo de até 110 dias,
  • Genótipos normais: entre 110 e 145 dias,
  • Genótipos tardios: possuem ciclo maior que 145 dias.

Devido à essa variação no ciclo do milho é crucial considerar os estádios fenológicos da cultura para um manejo mais assertivo, ao invés de considerar o número de dias após eventos específicos, como número de dias após a semeadura ou a emergência.

A fenologia, que estuda a duração e a sincronia das etapas de desenvolvimento das plantas em resposta ao ambiente, nos orienta a identificar as necessidades das plantas em cada estádio e a agir no sentido de garantir suas necessidades e seu pleno desenvolvimento.

Assim, práticas de manejo, como a adubação, controle de plantas daninhas, manejo de pragas e doenças, devem ser realizadas em estádios fenológicos específicos e não simplesmente após um determinado número de dias após a semeadura, por exemplo.

Neste artigo, além de explicar a fenologia do milho, destaco os momentos específicos do ciclo de desenvolvimento da cultura que requerem maior atenção ao manejo. Acompanhe para saber mais!

Como é dividida a fenologia do milho?

A fenologia do milho é dividida em dois principais estádios ou fases de desenvolvimento, que ajudam a compreender e gerenciar o ciclo de vida da planta: o vegetativo (V) e reprodutivo(R), conforme mostra a Tabela 1.

Tabela 1. Estádios vegetativos e reprodutivos da planta de milho

VegetativoReprodutivo
VE, EmergênciaR1, Embonecamento
V1, 1ª folha desenvolvidaR2, Bolha d’água
V2, 2ª folha desenvolvidaR3, Leitoso
V3, 3ª folha desenvolvidaR4, Pastoso
V4, 4ª folha desenvolvidaR5, Formação de dente
V(n), nª folha desenvolvidaR6, Maturidade fisiológica
VT, Pendoamento 
Fonte: Magalhães e Durães (2016).

Os estádios vegetativos incluem desde a germinação até o florescimento. Durante essa fase, o milho foca no crescimento da parte aérea e no desenvolvimento das folhas e caule. Os estádios vegetativos são importantes para o estabelecimento da planta e a formação de reservas de energia.

Os estádios reprodutivos ocorrem após o florescimento e incluem a formação das espigas, o enchimento dos grãos e a maturação. Nessa fase, a planta direciona sua energia para a produção e amadurecimento dos grãos.

Veja na Figura 1 uma representação gráfica de como são as fases de desenvolvimento da cultura do milho.

Fenologia do milho fases de desenvolvimento do milho

Figura 1.
Fases de desenvolvimento da cultura do milho. Fonte: Ciampitti et al. (2016).

Como contar os estádios do milho?

A contagem dos estádios de crescimento e desenvolvimento do milho depende de qual fase de desenvolvimento a planta está: vegetativo ou reprodutivo.

  • Nos estádios vegetativos (antes do surgimento dos pendões) a contagem dos estádios é realizada observando o número de folhas completamente expandidas ou desdobradas.
    • Para isso, é importante verificar se o elo de união entre a bainha e o limbo da folha, conhecido como “colar”, é plenamente visível.
    • Assim, a primeira folha de cima para baixo, com o colar visível, é considerada completamente desenvolvida e, portanto, é contada como tal.
    • A folha seminal (primeira folha de baixo e que se diferencia das demais por ter uma extremidade arredondada) pode ou não ser incluída na contagem, dependendo da metodologia considerada:
      • De acordo com Ciampitti et al. (2016), que segue a metodologia de Ritchie (1989) ela deve ser considerada na contagem;
      • Para Fancelli (2015), a folha seminal não deve ser considerada.

Um exemplo de planta no estádio V3 – de acordo com Fancelli (2015) ou V4 – de acordo com Ciampitti et al. (2016), é mostrada na Figura 2 a nível de ilustração.

Milho em estádio V4Milho em estádio V3
Figura 2. Planta em estádio fenológico de V3 de acordo com metodologia de Ciampitti et al.(2016) e no estádio V4, de acordo com o considerado por Fancelli (2015). As setas amarelas indicam as folhas completamente expandidas da planta e a seta azul indica a folha seminal (que pode ou não ser considerada na contagem, dependendo da referência). Fonte: o autor
  • Nos estádios vegetativos (após o florescimento), a identificação é feita com base na presença de estruturas reprodutivas e no desenvolvimento e consistência dos grãos.
    • Essa avaliação dos grãos deve ser feita na parte central da espiga.

Estádios vegetativos: o que significa V1 V2 V3 V4 V5 V6 no milho?

Os estádios vegetativos do milho são identificados numericamente como V1, V2, V3 até V(n), onde (n) representa a última folha emitida antes do estádio de pendoamento (VT). O estádio inicial é marcado como VE (emergência) e o estádio final como VT (pendoamento).

Os estádios V1 a V(n) representam diferentes fases de desenvolvimento da planta durante sua fase vegetativa, com base no número de folhas completamente expandidas. Por exemplo, em V1, há uma folha completamente expandida, e em V6, seis folhas completamente expandidas.

Vejamos detalhadamente cada um dos estádios vegetativos do milho:

VE – Emergência

A emergência ocorre quando as primeiras folhas, chamadas de coleóptilos, aparecem acima da superfície do solo.

Para que isso ocorra, a semente deve absorver cerca de 30% do seu peso em água.

Condições ótimas que promovem a rápida emergência (entre 5 e 7 dias) são:

  • temperatura do solo acima de 10 a 12°CNo milho, a germinação ocorre em duas semanas quando as sementes forem submetidas a 10,5°C de temperatura; em quatro dias, a 15,5 °C; e em três dias, a 18°C.
  • umidade adequada,
  • profundidade de plantio da semente entre 2,5 e 5,0 cm.

V1– Primeira folha expandida

Primeira folha com colar visível (estrutura encontrada na base da folha) e ponta arredondada (CIAMPITTI et al. 2016).

A partir desse ponto até o florescimento (R1), os estádios vegetativos são definidos a partir da última folha desenvolvida com colar visível.

O ponto de crescimento (meristema apical) da planta é localizado abaixo da superfície do solo até o estádio V5.

V2 – Segunda folha expandida

A planta apresenta duas folhas totalmente expandidas (com colar visível).

As raízes nodais começam a crescer abaixo do solo, e as raízes seminais começam a senescer.

V4 – Quarta folha expandida

A planta apresenta quatro folhas com lígulas visíveis (folhas completamente expandidas). As folhas ainda se desenvolvem no meristema apical (ponto de crescimento da planta).

As raízes nodais são dominantes, ocupando maior volume de solo em comparação com as raízes seminais.

O sistema radicular das plantas mostra uma taxa significativa de ramificações diferenciadas, o que sugere que operações inadequadas de cultivo próximas às plantas podem afetar a integridade e distribuição das raízes.

O estádio V4 marca o início do processo de diferenciação floral, que origina os primórdios da panícula e da espiga, determinando o potencial produtivo da planta de milho.

V6 – Sexta folha expandida

Seis folhas com colar visível. A primeira folha com ponta arredondada apresenta-se em senescência, mesmo assim deve ser levada em consideração na contagem (CIAMPITTI et al. 2016).

Nesta fase, o ponto de crescimento emerge e encontra-se acima da superfície do solo.

No manejo é importante acompanhar o desenvolvimento de plantas daninhas, pragas e doenças.

Há rápida absorção de nutrientes começa nesse estádio, por isso as adubações devem ser manejadas de maneira a aproveitar essa fase de rápida absorção pela planta e assim promover a ótima eficiência de uso dos nutrientes, particularmente para nutrientes móveis, como o nitrogênio.

V10 – Décima folha expandida

Décima folha completamente expandida. Há o início do desenvolvimento de raízes aéreas (ou adventícias) logo acima da superfície do solo.

Até esse estádio a taxa de desenvolvimento das folhas é de aproximadamente 2 a 3 dias por folha.

Nessa fase há alta demanda de água e nutrientes e fatores como calor, seca e deficiência de nutrientes podem afetar o número de grãos e o tamanho da espiga.

V12 – Décima segunda folha expandida

Décima segunda folha completamente expandida. Nesse estádio o crescimento do colmo, pendão e espiga superior é bastante acelerado, podendo ocorrer a perda de três a quatro folhas mais velhas.

Além disso, neste período, as raízes adventícias aéreas (“esporões”) começam a surgir nos nós imediatamente acima da superfície do solo.

A distribuição das chuvas, a disponibilidade de nutrientes e a boa fitossanidade da cultura no intervalo entre os estádios V12 e R1 (florescimento) são fatores cruciais que influenciam na confirmação da produção e rendimento da cultura, especialmente em relação ao tamanho e número de espiga.

V14 – Décima quarta folha

Décima quarta folha expandida. Mais 4 ou 6 folhas devem se expandir a partir desse estádio até VT.

Rápido crescimento. Nessa fase o milho é altamente sensível ao estresse por altas temperaturas e seca.

VT – Pendoamento

Se caracteriza pelo aparecimento parcial do pendão, ou “flecha”, (que passa a ser visível no topo da planta) e pelo crescimento acentuado dos estilos-estigma (que pode ou não ser visível).

Ocorre a definição do potencial de número final de grãos e inicia-se a definição tamanho das espigas.

Nessa fase há elevada demanda por nutrientes e água (7,5 mm por dia) e o calor em excesso e a seca podem afetar o potencial do número de grãos. Além disso, a perda de folhas pode afetar drasticamente a produção final.

Estádios reprodutivos do milho

Vejamos como são caracterizados cada um dos estádios reprodutivos do milho e características marcantes de cada estádio:

R1 – Embonecamento (polinização)

No estádio R1, conhecido como Embonecamento ou polinização, o florescimento do milho se inicia quando os “cabelos” se projetam para fora da palha, sendo os primeiros a emergir responsáveis pela polinização dos grãos na base da espiga.

Os “cabelos” permanecem receptivos ao pólen por até 14 dias, desde que as condições adequadas de temperatura (entre 16 e 35ºC) e umidade (acima de 65% de umidade relativa do ar) sejam mantidas.

Durante este estádio, o pólen viaja do pendão até os “cabelos” do milho, fertilizando o óvulo e iniciando o processo de produção do embrião.

A determinação do potencial de número de grãos ocorre nesta fase, que também marca a altura máxima da planta.

Após a fertilização, a divisão celular inicia-se dentro do embrião, e a planta alcança seu pico de demanda por água (8mm por dia) e nutrientes.

Condições climáticas adversas, como calor e seca, podem afetar a polinização e o número final de grãos, enquanto a desfolha causada por granizo ou outros fatores, como insetos, pode reduzir drasticamente a produtividade.

R2 – Grão Bolha D’água

Cerca de 12 dias após o estádio R1, os “cabelos” do milho escurecem e começam a secar. Os grãos assumem uma aparência semelhante a uma bolha, com coloração branca e um fluido transparente em seu interior.

Durante esta fase, ocorre o acúmulo de açúcares solúveis no endosperma dos grãos, o que contribui para o aumento de sua massa. Os grãos mantêm cerca de 85% de umidade, enquanto os embriões se desenvolvem em cada grão. A divisão celular já está completa, marcando o início do processo de enchimento de grão.

R3 – Grão Leitoso

Cerca de 12 dias após o estádio R1, os “cabelos” do milho secam. O grão torna-se amarelado e um fluido semelhante ao leite pode ser extraído quando este é esmagado com os dedos. Este fluído é o resultado do processo de acúmulo de amido dentro do grão.

R4 – Grão Pastoso

Este estádio é caracterizado pelo surgimento da concavidade na parte superior do grão, conhecida como “dente” (aplicável a genótipos dentados).

Durante essa fase, os grãos estão em transição do estado pastoso para o farináceo, tornando-se progressivamente mais duros; o grão possuí 70% de umidade e começa a se apresentar dentado no topo.

O embrião e o endosperma dentro das sementes continuam a se desenvolver completamente, enquanto a radícula e as folhas primárias se diferenciam completamente.

R5 – Formação de Dente

A maior parte dos grãos estão dentados, a umidade do grão cai para 55% e o conteúdo de amido aumenta.

Esta etapa pode ser “subdividida em ¼, ½ e ¾ da linha do leite, que vai do início do grão dentado à grão metade dentado e grão dentado, respectivamente (Figura 3).

Progresso da linha do leite do estádio R5 do ciclo do milho.
Figura 3. Progresso da linha do leite do estádio R5 do ciclo do milho.
Fonte: Ciampitti et al. (2016).

R6 – Maturidade Fisiológica

No estádio R6, os grãos de milho atingem a maturidade fisiológica.

É possível observar a formação de uma camada negra (preta) na base do grão, interrompendo a transferência de fotoassimilados da planta para os grãos.

Ocorre paralisação total de acúmulo de matéria seca nos grãos, coincidindo com o processo de senescência natural das folhas das plantas, as quais, gradativamente, começam a perder sua coloração verde característica (degradação da clorofila).

A colheita dos grãos pode ser iniciada (os grãos devem apresentarem umidade entre 25% e 18%), mas deverá ser submetido a uma secagem artificial antes de ser conduzido ao armazenamento (umidade de armazenamento deve ser entre 13-15%).

A Agroadvance tem um material que sintetiza todas essas informações em um único arquivo. Clique na imagem abaixo e acesse:

Fenologia do milho Fases de desenvolvimento do milho Estádios do milho
Fenologia do milho. Fonte: Agroadvance

Quais estádios fenológicos do milho demandam mais atenção ao manejo?

De acordo com o Prof. Dr. Antonio Luiz Fancelli, existem quatro momentos específicos do ciclo fenológico do milho que demandam uma atenção especial do produtor no que diz respeito ao manejo (Figura 4).

Etapas Críticas de definição dos componentes de produção do Milho
Figura 4. Etapas Críticas de definição dos componentes de produção do Milho. Fonte: Fancelli, 2022.

Isso ocorre porque esses estádios são etapas críticas para a definição dos componentes de produção da cultura:

  • Entre V4 e V6: é momento em que se define o potencial produtivo da espécie. Fisiologicamente, ocorre a diferenciação floral e a diferenciação foliar da planta. Qualquer tipo de estresse nesse período marcará o potencial produtivo da planta, com pequenas chances de se reverter todo esse processo.
  • Entre V7 e V9: momento de definição do número de fileiras da espiga (que é uma característica genética, mas que podemos trabalhar para alcançar o seu valor máximo).
  • Entre V12 e V14: definição do tamanho da espiga, ou da “caixa produtiva da planta”;
  • Pós-florescimento: garantir o enchimento dos grãos.

Quer saber mais a respeito? Veja a aula completa do Professor Antonio Fancelli sobre “Fisiologia de Produção do Milho”, disponível no canal da Agroadvance no youtube:

Fisiologia da Produção de milho. Youtube Agroadvance.

Conclusões

Embora inicialmente possa parecer desafiador, a identificação dos estádios de desenvolvimento do milho através do uso de escalas fenológicas oferece uma valiosa ferramenta para facilitar a comunicação entre especialistas e agricultores.

Além disso, possibilita um planejamento mais eficiente e adaptado das práticas de manejo agrícola. Portanto, essa abordagem é essencial para garantir uma gestão adequada da lavoura e alcançar elevados índices de produtividade na produção de milho.

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Referências

CIAMPITTI, I.A.; ELMORE, R.W.; LAUER, J. Fases de desenvolvimento da cultura do milho. Kansas State University Agricultural Experiment Station and Cooperative Extension Service, 2016. Disponível em: https://www.npct.com.br/npctweb/npct.nsf/article/BRS-3137/$File/MF3305BP-CornGrowth-portuguese_FINAL.pdf. Acesso: 07 de fev. 2024.

FANCELLI, A.L. Manejo baseado na fenologia aumenta eficiência de insumos e produtividade. Visão Agrícola. nº 13. 2015. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/8013015/mod_resource/content/1/Fisiologia-artigo%20milho.pdf. Acesso: 07 de fev. 2024.

MAGALHÃES, P.C.; DURA~ES, F.O. Fisiologia da Produção do Milho. Circular Técnica 76. Sete Lagoas: EMBRAPA, 2006.

RITCHIE, S.; HANWAY, J. J. How a corn plant develops. Ames: Iowa State University of Science and Technology, Cooperative Extension Service, 1989. 21 p. (Special Report n. 48). Disponível em: https://publications.iowa.gov/18027/. Data de acesso: 07 de fev. 2024.

Sobre a autora:

Beatriz Nastaro Boschiero

Beatriz Nastaro Boschiero

Especialista em MKT de Conteúdo na Agroadvance

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