O Dia Internacional da Mulher Rural, celebrado em 15 de outubro, é uma data global que reconhece o papel essencial das mulheres nas áreas rurais e conscientiza sobre os desafios singulares que elas enfrentam.

De agricultoras e empreendedoras a líderes comunitárias, as mulheres rurais desempenham um papel essencial na sustentação das comunidades e no avanço do desenvolvimento econômico. Este dia destaca suas contribuições e, ao mesmo tempo, defende maior igualdade e apoio.

Mais do que uma celebração, este dia é um convite à reflexão sobre os desafios enfrentados pelas mulheres rurais, suas conquistas históricas e a importância do seu protagonismo no agronegócio.

Neste artigo, vamos refletir sobre os avanços, desafios e perspectivas para as mulheres rurais, conectando esse debate ao futuro do agronegócio brasileiro e às iniciativas da Agroadvance para apoiar quem faz a diferença no campo.

Reconhecimento e implantação global do Dia Internacional da Mulher

A iniciativa de reconhecer a mulher rural surgiu em 1995, durante a IV Conferência Mundial sobre a Mulher, em Pequim, quando organizações da sociedade cível destacaram  importância de valorizar o papel feminino no meio rural.

A data foi oficialmente instituída pela ONU em 2007, por meio da Resolução 62/136 em 18 de dezembro de 2007, reforçando a necessidade de visibilizar direitos, acesso a recursos e protagonismo social das mulheres no campo.

A primeira celebração deste dia ocorreu em 15 de outubro de 2008.

Qual é o objetivo do Dia Internacional da Mulher?

Os objetivos do Dia Internacional da Mulher Rural incluem:

• Promover a conscientização e valorizar o protagonismo feminino no agronegócio reconhecendo o papel fundamental que as mulheres rurais desempenham na produção de alimentos, na conservação ambiental e na agricultura sustentável.
• Abordar as desigualdades de gênero que dificultam o acesso à propriedade de terras, serviços financeiros, assistência médica e educação para mulheres rurais.
• Incentivar a cooperação global para melhorar as condições de vida e as oportunidades econômicas disponíveis para as mulheres rurais.
• Promover apoio internacional para políticas e programas que promovam mulheres rurais e lhes proporcionem maior participação nos processos de tomada de decisão.

Conexão com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU

O Dia Internacional das Mulheres Rurais está estreitamente alinhado com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, especificamente:

ODS 1: Erradicação da pobreza – As mulheres rurais são fundamentais para promover a redução da pobreza, principalmente nas áreas rurais, onde frequentemente administram recursos e se envolvem em atividades agrícolas.

ODS 2: Fome Zero – O envolvimento das mulheres na produção agrícola e na segurança alimentar as torna parceiras essenciais para acabar com a fome e garantir o acesso a alimentos nutritivos em todo o mundo.

ODS 5: Igualdade de Gênero – Mulheres rurais enfrentam disparidades de gênero no acesso a recursos, serviços e direitos. O dia defende a eliminação da desigualdade de gênero, especialmente nas economias rurais.

Temas do Dia Internacional das Mulheres Rurais

Ao longo dos anos, a ONU tem escolhido temas anuais para o Dia Internacional das Mulheres Rurais (Tabela 1), que refletem desde questões estruturais, como acesso a serviços e infraestrutura, até crises globais recentes, como a pandemia de COVID-19 e o aumento do custo de vida, sempre ressaltando o papel essencial das mulheres rurais na segurança alimentar, na sustentabilidade e no desenvolvimento social.

Tabela 1. Temas escolhidos para o Dia Internacional da Mulher Rural desde a instituição da data pela ONU

Desafios atuais das mulheres rurais

Embora conquistas tenham sido alcançadas, muitas barreiras persistem:

• Acesso desigual a recursos produtivos: crédito, terra e equipamentos ainda são mais restritos às mulheres;
• Dupla jornada de trabalho: conciliar produção agrícola e atividades domésticas continua sendo uma realidade;
• Desigualdade de representação: ainda são minoria em associações, cooperativas e tomadas de decisão no setor agropecuário;
• Barreiras para adoção de tecnologia: cursos, assistência técnica e inovação muitas vezes não chegam de forma igualitária.

Mulheres que alimentam e cuidam da terra

A mulher que trabalha no campo pode ser chamada de agricultora, camponesa, trabalhadora rural ou até mesmo de empreendedora rural, dependendo da região e do contexto em que atua. Mais do que um título, esses termos refletem a diversidade de papéis que elas desempenham na agricultura brasileira.

Ao longo da história, as mulheres sempre desempenharam papel central na agricultura, muitas vezes invisível e subestimado. Suas atividades incluíam o manejo de hortas e criações familiares, conservação de sementes, produção de alimentos e cuidado com o lar e a família.

Estudos recentes mostram que o trabalho das mulheres rurais segue muitas vezes invisibilizado. Atividades como cultivo de quintais, hortas, criações de pequeno porte e produção para autoconsumo são vistas como ‘ajuda’ familiar, sem reconhecimento formal. Essa lógica perpetua a subvalorização histórica da mulher no campo, mesmo quando sua contribuição é central para a segurança alimentar e o sustento doméstico (CAUMO, 2022).

Nos continentes africanos e asiáticos, as mulheres rurais somam 60% da força de trabalho agrícola. Em Gana, por exemplo, as mulheres representam cerca de 58% da população rural, sendo que 36% dos lares são chefiados por mulheres (BONOEDIE E FOMBAD, 2024).No Brasil, assim como em outros países em desenvolvimento, essa porcentagem chega a 45%.

As mulheres representam mais de 40% da força de trabalho agrícola nos países em desenvolvimento, segundo dados da ONU. No entanto, apenas cerca de 15% das terras cultiváveis estão formalmente em nome de mulheres, o que revela a desigualdade no acesso à propriedade.

No Brasil, dados obtidos por intermédio do Programa Agro+Mulher, a com base nos números obtidos pelo Censo Agropecuário de 2017, constatam que quase um milhão de mulheres é responsável pela gestão de propriedades rurais, dentre um universo de 5,07 milhões. A maior taxa de mulheres que atua no agronegócio está concentrada na região Nordeste (57%), seguida pelo Sudeste (14%, Norte (12%) e pelo Sul (11%). O Centro-Oeste apresenta o menor número (11%).

Um dado que chama atenção é a redução da presença feminina diretamente nas atividades agrícolas: em 1992, mais de 70% das mulheres ocupadas no campo estavam ligadas à agricultura; em 2012, esse índice caiu para menos de 58%. Paralelamente, cresce a masculinização e o envelhecimento do campo, com diminuição da participação de jovens mulheres – um desafio para a sucessão rural e para a permanência feminina no agro (CAUMO, 2022).

Conquistas e avanços no agro brasileiro

Nos últimos anos, as mulheres têm conquistado cada vez mais espaço no agronegócio brasileiro. Elas não apenas trabalham na produção agrícola, mas também lideram cooperativas, associações e startups, mostrando que protagonismo no campo vai muito além do trabalho físico.

Exemplos de avanços incluem:

• Gestão de propriedades: mulheres à frente de fazendas e empreendimentos rurais, tomando decisões estratégicas sobre plantio, comercialização e investimentos.
• Startups e inovação: surgem cada vez mais soluções tecnológicas desenvolvidas por mulheres, voltadas para agricultura de precisão, monitoramento de lavouras e comercialização digital.
• Movimentos de liderança: iniciativas como a Marcha das Margaridas ou redes locais de apoio às mulheres rurais fortalecem a representatividade feminina e ampliam a voz delas nas decisões políticas e comunitárias.
• Acesso a políticas públicas: programas como o Pronaf Mulher têm facilitado crédito e financiamento, permitindo que mais mulheres invistam em produção, tecnologia e capacitação.
• Outro avanço relevante é o aumento da escolaridade: ao longo das últimas décadas, as mulheres rurais têm alcançado níveis mais altos de estudo, em todos os ramos de atividade. Esse movimento abre portas para que assumam funções em áreas como educação, saúde, gestão pública e até tecnologia, ampliando seu protagonismo para além da agricultura (CAUMO, 2022).

Essas conquistas mostram que a presença feminina não é apenas quantitativa, mas transforma a forma como o agro é conduzido, agregando inovação, sustentabilidade e maior valorização do trabalho rural.

Ações e iniciativas para fortalecer a mulher rural no Brasil

As primeiras organizações específicas de mulheres rurais no Brasil iniciaram-se nos anos de 1980, estimuladas, principalmente, pela igreja católica, movimento sindical e partidos políticos, com maior representatividade no Sul do país (no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina), e no Nordeste (Pernambuco e Paraíba) do Brasil (Heredia e Cintrão, 2006).

Nesse período, as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e a ação pastoral tiveram papel essencial na formação de lideranças e na mobilização das mulheres rurais, que passaram a questionar sua condição social e a organizar os primeiros grupos coletivos.

As principais pautas desses movimentos estavam centradas no reconhecimento da profissão de agricultora, na luta por direitos sociais – como aposentadoria, salário-maternidade e sindicalização, e, também no acesso à terra, incluindo reivindicações específicas de gênero, como a titulação conjunta ou em nome da mulher chefe de família.

Ao longo dos anos 1990 e 2000, esse movimento ganhou força com a criação de políticas públicas voltadas às mulheres rurais, muitas delas articuladas a partir de conferências nacionais de políticas para mulheres e do fortalecimento do debate de gênero no desenvolvimento rural. Nesse contexto, surgiram iniciativas voltadas ao empoderamento econômico, como o acesso ao crédito, programas de economia solidária e incentivo à participação feminina em associações e cooperativas.

Mais recentemente, além da busca por autonomia econômica, as ações passaram a enfatizar também a valorização do papel da mulher como agente ativa do desenvolvimento, com foco em educação, acesso a políticas sociais e reconhecimento de sua contribuição produtiva e reprodutiva para o campo.

No Brasil, diversas políticas públicas e programas têm sido implementados para valorizar o protagonismo feminino no campo, promover autonomia econômica e garantir condições de vida e trabalho mais equitativas.

Estas ações, coordenadas pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), buscam integrar desenvolvimento rural, segurança alimentar e sustentabilidade ambiental, reconhecendo a mulher rural como agente central de transformação social e econômica.

1. Ampliação de crédito e microcrédito

O Pronaf Mulher é a principal linha de crédito voltada às agricultoras familiares, ampliada para R$ 15 mil na safra 2024/2025, com possibilidade de financiamento de até R$ 25 mil por mulher e juros de 4% ao ano. O Pronaf B, voltado ao microcrédito, oferece condições ainda mais atrativas: até R$ 15 mil com juros de apenas 0,5% ao ano. Essas medidas permitem que as mulheres invistam em custeio, ampliação da produção, diversificação produtiva e inovação tecnológica.

2. Assistência técnica e extensão rural com recorte de gênero

O programa ATER Mulheres fornece assistência técnica específica para agricultoras familiares, assentadas da reforma agrária, quilombolas e indígenas, com foco em práticas agroecológicas. Atualmente, mais de 10 mil mulheres são atendidas, recebendo capacitação que estimula o desenvolvimento sustentável e fortalece a produção local.

3. Fomento à produção e valorização econômica

O Programa de Organização Produtiva das Mulheres Rurais visa qualificar processos produtivos, agregar valor à produção e fortalecer redes de cooperação. Já o Quintais Produtivos, criado em 2023, fomenta a produção agroecológica em pequenos espaços geridos pelas próprias mulheres, abrangendo hortaliças, frutas, plantas medicinais e flores. Mais de 2 mil quintais já foram estruturados, com meta de expandir para 3 mil entre 2024 e 2026, promovendo geração de renda e segurança alimentar.

4. Inclusão social e garantia de direitos civis

O Programa Nacional de Cidadania e Bem Viver para Mulheres Rurais assegura acesso à documentação civil básica, titulação conjunta da terra e reconhecimento do território ocupado. Até novembro de 2023, mais de 14 mil pessoas foram atendidas, sendo cerca de 9 mil mulheres beneficiadas. Entre 2024 e 2025, estão previstos mais de 100 mutirões em todo o país, visando iniciar os trâmites de mais de 31 mil documentos. A documentação proporciona maior autonomia, permitindo acesso a políticas públicas, crédito e mercado formal.

5. Articulação com movimentos e conselhos de mulheres

Essas políticas públicas são resultado do diálogo com movimentos sociais, como a Marcha das Margaridas, e instâncias de participação como o Comitê de Mulheres do Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (Condraf) e o Comitê de Gênero da Reunião Especializada da Agricultura Familiar do Mercosul (REAF). Essa integração fortalece a representatividade feminina e garante que as ações estejam alinhadas às demandas reais das mulheres rurais.

6. Cadastro Nacional da Agricultura Familiar (CAF)

Para acessar os programas mencionados, é fundamental que as agricultoras estejam inscritas no CAF, que identifica e qualifica famílias agricultoras, pescadores artesanais, aquicultores, silvicultores, extrativistas, assentados e membros de comunidades tradicionais. A inscrição no CAF substitui a Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAF), permitindo que as mulheres do campo tenham acesso facilitado a políticas públicas, crédito e oportunidades de desenvolvimento sustentável.

Conexão da Agroadvance com as mulheres rurais

Para reforçar o compromisso com a capacitação e desenvolvimento das mulheres Rurais, a Agroadvance preparou uma página exclusiva com condições especiais durante a semana do Congresso Nacional das Mulheres do Agro, que ocorre entre os dias 22 e 23 de outubro deste ano. A iniciativa valoriza e apoia mulheres que atuam no setor, seja como produtoras, gestoras, empreendedoras ou líderes comunitárias.

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Com ações como essas, o setor do agronegócio brasileiro dá passos importantes para ampliar a participação feminina, incentivar o protagonismo e fortalecer a sustentabilidade.

Referência:

BONUEDIE, B.M.; FOMBAD, M.C. Knowledge-Sharing Strategies for Poverty Eradication Among Rural Women. Libri. V. 74, p.55-70, 2024. DOI: 10.1515/libri-2023-0021.

CAUMO, A.J. Dinâmica recente das ocupações das mulheres rurais no Brasil e nas grandes regiões: uma análise com dados das PNADs. 2022. Tese (Doutorado em Desenvolvimento Rural) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2022.

HEREDIA, B.; CINTRÃO, R. Gênero e acesso a políticas públicas no meio rural brasileiro. Revista Nera, Presidente Prudente, v. 9, n. 8, p. 1-28, jan./jun. 2006.

Sobre a autora:

Beatriz Nastaro Boschiero

Especialista em Conteúdo na Agroadvance

• Pós-doutora pelo CTBE/CNPEM e CENA/USP
• Mestra e Doutora em Solos e Nutrição de Plantas (ESALQ/USP)
• Engenheira Agrônoma (UNESP/Botucatu)

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Como citar este artigo:

BOSCHIERO, B.N. Dia Internacional da Mulher Rural 2025: desafios, conquistas e protagonismo no agro. Blog Agroadvance. Publicado em: 15 Out 2025. Disponível em: https://agroadvance.com.br/blog-dia-internacional-da-mulher-rural-2025/. Acesso em: xx Xxx 20xx.