Broca da cana (Diatreae saccharalis): ciclo de vida e 3 métodos de controle

A broca da cana (Diatraea saccharalis) é uma das principais pragas dos canaviais. Entenda seu ciclo de vida, os danos causados e como os três principais métodos de controle: químico, biológico e cultural podem ser aliados no combate a esta preocupante praga.
Broca da cana de açúcar
Sumário

A ocorrência da broca da cana (Diatraea saccharalis), que é uma das principais pragas nos canaviais, tem preocupado os produtores pelo Brasil, pois seu ataque em campo reduz a produção e qualidade dos colmos.

O aumento da ocorrência dessa praga nos canaviais é influenciado por temperaturas, chuvas elevadas e outros fatores de manejo.

Além disso, houve crescimento das áreas produtoras de cana e eliminação das queimadas antes da colheita, favorecendo de certa forma, a sobrevivência e proliferação dessa praga no canavial.

Pesquisas mostram que os prejuízos causados por D. saccharalis podem atingir cifras de R$ 5 bilhões em toda safra, estando presente em todos os canaviais pelo país.

Por isso, a importância de entender seu ciclo de vida e métodos de controle em condições tropicais para aumentar a produtividade e reduzir custo. Nesse artigo técnico esclareceremos as principais dúvidas sobre essa praga da cana.

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Ciclo da broca da cana

O ciclo biológico da broca da cana dura de 60 a 90 dias e é dependente da temperatura do ambiente. Em média o ciclo dura: 6 dias na fase de ovo, 28 dias na fase de larva, 10 dias na fase de pupa e 4-5 dias na fase adulta.

Broca da cana de açúcar

Figura 1. Presença de broca-da-cana (D. saccharalis) no interior do colmo (Fonte: Agro Bayer, 2022).

O adulto é uma mariposa de coloração amarelo-palha. A fêmea coloca a massa de ovos (5 a 50 ovos) na folha da cana-de-açúcar. Após a eclosão, as larvas se alimentam da folha e da bainha até conseguirem perfurar o colmo abrindo as galerias.

A transformação para pupa e, em seguida, adulto, acontece dentro da galeria. Portanto, cada larva ataca os colmos da cana, por cerca de 30 dias, causando danos às plantas e à lavoura.

O que a broca da cana causa?

Os danos causados pela broca são diretos e indiretos e ocorrem durante todo o ciclo da cultura.

Os danos diretos em campo incluem a morte do ponto de crescimento em plantas jovens (“coração morto”) e a formação de galerias em plantas adultas, resultando em diminuição do peso dos colmos e redução da produtividade.

A formação de galerias favorece a quebra de colmos pelo vento. Também podem surgir raízes aéreas e brotações laterais nas plantas.

Os danos indiretos são causados principalmente pela contaminação dos colmos com fungos oportunistas como Fusarium spp. e Colleototrichum graminearum, causadores da podridão vermelha do colmo.

Tais problemas são frequentes em campo com alta incidência e na grande maioria das vezes não se realiza o monitoramento técnico do problema.

danos indiretos causados pela broca da cana

Figura 2. Danos indiretos (a esquerda) e diretos (a direita) causados pela broca da cana (D. saccharalis) em canavial, São Paulo (Foto: Beatriz Nastaro Boschiero, 2023).

Os prejuízos agrícolas nos canaviais afetam a qualidade e a produtividade dos colmos, na indústria reduzem a pureza e o rendimento durante o processamento para produção de açúcar e/ou álcool.

Para cada 1% de entrenós brocados por D. saccharalis, estimam-se prejuízos de 1,50% na produção de cana (TCH), além de 0,49% na produção de açúcar ou 0,28% na produção de etanol (ARRIGONI, 2002).

Mas, quais os sintomas na cana-de-açúcar?

A infestação da broca da canadeaçúcar pode ser identificada por uma série de sintomas visíveis na planta e nos talhões do canavial. Entre os principais sintomas estão:

  • morte das gemas apicais (“coração morto”)
  • presença de brocas nos colmos,
  • surgimento de brotações laterais, e 
  • afinamento do colmo.

Além disso, a infestação também pode levar à perda de biomassa seca e fresca, ao atrofiamento dos entrenós e, em casos mais graves, à morte da planta.

A morte das gemas apicais é um sintoma característico da infestação pela broca. Além disso, é comum observar a presença de brocas nos colmos, que podem comprometer a estrutura da planta.

Outro sintoma frequente é o surgimento de brotações laterais, que ocorrem como uma resposta de sobrevivência da planta. O afinamento do colmo também é um indicativo da presença da broca, além da perda de biomassa seca e fresca, que afeta diretamente o desenvolvimento e a produtividade da cultura.

O afinamento do colmo compromete a resistência estrutural da planta, enquanto a perda de biomassa seca e fresca reduz a produção de açúcar e biomassa, afetando a rentabilidade do cultivo da cana-de-açúcar.

A infestação da broca da cana de açúcar pode causar diversos danos à planta. Além da morte das gemas apicais, os colmos podem ser atacados pela broca, resultando em prejuízos significativos para o agricultor.

Como acabar com a broca da cana-de-açúcar?

O que pode ser feito é o monitoramento da lavoura através de armadilhas com feromônio, visando identificar a época mais adequado para adoção das estratégias de manejo em campo.

O monitoramento dessa praga também pode ser feito através das fases de desenvolvimento dos insetos. Na fase de ovos, eles são achatados e de cor branca, depositados de forma aglomerada na parte superior e inferior das folhas, tornando-se alaranjados conforme avanço do desenvolvimento embrionário.

Na fase de lagartas, inicialmente apresentam coloração branca, posteriormente tornam-se creme ao longo do desenvolvimento e possuem manchas escuras na parte superior.

 Alimentam-se da raspagem de folhas, posteriormente após a primeira ecdise perfuram a parte mais macia dos colmos formando galerias, as quais podem ser longitudinais ou transversais nos colmos.

Quando adultas as mariposas possuem coloração amarelo-palha, com presença de pontos escuros nas asas anteriores e as posteriores são esbranquiçadas. As mariposas têm hábito noturno.

O monitoramento e identificação da fase do inseto é fundamental para o manejo mais eficaz, sendo que o controle por meio da aplicação de biológicos e inseticidas é feito com base no monitoramento em campo, devendo ser realizado desde a fase de ovo até adulta.

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Como realizar o controle da broca-da-cana?

Essa praga é importante tanto na formação de mudas, quanto nos canaviais já implantados, afetando a qualidade da matéria prima que vai para indústria.

Existem três principais métodos de controle da broca da cana:

  • Controle biológico: esse método utiliza parasitoides naturais das larvas da broca, como Tel para controlá-la.
  • Controle químico: esse método utiliza inseticidas para matar as larvas da broca.
  • Controle cultural: esse método consiste em adotar práticas que dificultam a proliferação da broca, como a limpeza dos canaviais e a eliminação das plantas daninhas.

Uma das estratégias de controle é a utilização de agentes biológicos, tais como: Trichogramma galloi e Cotesia flavipes que tem mostrado efeito satisfatório na fase larval e de ovo respectivamente, impedindo a penetração da praga no colmo.

Em campo, esse manejo é feito por meio da liberação desses parasitoides nos canaviais, preferencialmente no período de seca. Esse manejo atualmente é realizado em cerva de 90% da área de cultivo da cana-de-açúcar.

No entanto, mesmo que o Brasil seja referência no controle biológico dessa praga, sem o apoio dos inseticidas nos canaviais os prejuízos seriam maiores para os produtores. É recomendável realizar a aplicação de inseticidas na fase de lagartas neonatas, antes mesmo do ataque dos colmos.

Na agricultura, o manejo integrado é uma estratégia que têm se mostrado eficiente, por isso, o uso de produtos de forma alternada possibilita maior eficiência no combate dessa praga.

Recomenda-se que os produtores apliquem produtos químicos juntamente com o biológico na época úmida e biológico na seca, mas lembre-se, adquira sempre produtos e recomendações de empresas idôneas do mercado agrícola.

Por exemplo, o uso de produtos seletivos aos agentes de controle biológico, contribuem para o controle da broca-da-cana já que este ajuda na multiplicação dos organismos de controle na área de cultivo.

Mundialmente vários países têm empregado o manejo com base no manejo realizado no Brasil. Entretanto, a broca-da-cana tem provocado grandes prejuízos, e o mais preocupante é que temos as ferramentas de controle, por isso não podemos usar as ferramentas de forma equivocadas e em momentos inadequados, pois, ainda hoje estima-se que há viveiros ultrapassando mais de 20 % de infestação final.

Embora o controle biológico e químico seja o mais utilizados nas lavouras, a biotecnologia pode ser uma aliada do combate a essa praga, através do uso de cultivares resistentes (manejo cultural).

A utilização de cultivares transgênicas de cana já é uma realidade atendendo à demanda do setor canavieiro por maior produtividade e qualidade de matéria-prima para a indústria.

O uso de plantas transgênicas tem como principal vantagem a proteção do cultivo contra a broca-da-cana, ou seja, haverá redução da aplicação de inseticidas, herbicidas, biológicos, garantia de controle e menor custo de produção.

Além disso, a utilização de cultivares com maiores teores de fibra também podem dificultar o ataque pela praga.

Considerações finais

A infestação da broca na cana-de-açúcar é uma preocupação significativa para agricultores e consultores agrícolas.

O controle efetivo da broca da cana requer uma abordagem integrada, combinando diferentes métodos de controle e monitoramento adequado.

É importante que seja feito um diagnóstico assertivo dos sintomas da infestação, como a morte das gemas apicais e a presença de brocas nos colmos, a fim de implementar medidas de controle adequadas.

A adoção de boas práticas de manejo e o investimento em tecnologias inovadoras são essenciais para minimizar os danos causados por essa praga e garantir a produtividade e a qualidade da cana-de-açúcar, contribuindo para o sucesso do setor canavieiro.

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Referências

ANSELMI, R. Migração da broca gigante causa inquietação. Jornal Cana. Tecnologia agropecuária. Ribeirão Preto, abr. p. 87. 2008.

ARRIGONI, E.B. Broca da cana-de-açúcar: Importância econômica e situação atual. In: ARRIGONI, E.B.; DINARDO-MIRANDA, L.L.; ROSSETTO, R. Pragas da cana-de-açúcar – Importância econômica e enfoques atuais. Piracicaba: STAB/IAC/ CTC, 2002 (Cd-rom).

CESNIK, R.; MIOCQUE, J. Melhoramento da cana-de-açúcar. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2004. 307 p.

DINARDO-MIRANDA, L. L. Pragas In: DINARDO-MIRANDA, L. L.; VASCONCELOS, A. C. M.; LANDELL, M. G. A. (Ed.). Cana-de-açúcar = Sugarcane. Campinas: Instituto Agronômico, 2008. p.349-404

DOUGLAS, H.; DANG, P. T.; GILL, B. D.; HUBER, J.; MASON, P. G.; PARKER, D. J.; SINCLAIR, B. J. The importance of taxonomy in responses to invasive alien species. Biodiversity, Oxford, GB, v. 10, p. 92-99, 2009. DOI: 10.1080/14888386.2009.9712850

MARQUES, E. J. Controle biológico da cana-de-açúcar no Brasil. Agropecuária, Paraíba, v. 4, n. 43, p.49-55, 1982.

Wilcken, C. F. (2011). Pragas da Cana-de-Açúcar e seu Controle. Editora Holos.

Parra, J. R. P. (2014). Pragas Agrícolas no Brasil: História Natural e Controle. Editora Manole.

Sobre o autor:

Alasse Oliveira

Alasse Oliveira da Silva

Doutorando em Produção Vegetal (ESALQ/USP)

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Respostas de 5

  1. Conteúdo excelente, trouxe informações relevantes para o cultivo de cana no Brasil.

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