O fertilizante orgânico tem se consolidado como uma alternativa promissora no mercado agrícola, especialmente por seu potencial em melhorar a fertilidade do solo e promover práticas mais sustentáveis.
No entanto, ainda existe uma restrição significativa à sua adoção em larga escala, principalmente devido à falta de conhecimento técnico sobre o seu uso adequado, como a recomendação de doses, formas de aplicação e ajustes com base na análise do material.
Estima-se que cerca de 50% do nitrogênio (N) e até 90% do fósforo (P) aplicados como fertilizantes na agricultura não são absorvidos pelas plantas e acabam sendo perdidos para o ambiente. Essas perdas contribuem para as emissões de gases de efeito estufa, salinidade do solo e eutrofização (LEE et al., 2025).
Quer entender o que são os fertilizantes orgânicos, quais tipos existem e como utilizá-los na sua lavoura? Então este conteúdo é para você!
O que são fertilizantes orgânicos?
De acordo com a legislação brasileira, o fertilizante orgânico é um produto de natureza orgânica, obtido por processo físico, químico, físico-químico ou bioquímico, natural ou controlado, a partir de matérias primas de origem industrial, urbana ou rural, vegetal ou animal, enriquecido ou não de nutrientes minerais.
Quais os tipos de fertilizantes orgânicos?
Os fertilizantes orgânicos são classificados quanto à sua categoria em orgânico simples, organomineral, biofertilizante e composto orgânico:
Fertilizante Orgânico Simples
O fertilizante orgânico simples é um produto natural de origem vegetal ou animal, contendo um ou mais nutrientes de plantas.
São exemplos de fertilizantes orgânicos simples: Húmus de minhoca, estercos e cama de frango, tortas e farelos vegetais, podendo incluir fertilizantes orgânicos líquidos, como a vinhaça, entre outros.
As especificações desse tipo de fertilizante, como teor de umidade e teores mínimos de carbono (C) e nitrogênio (N) se encontram na Tabela 1.
Tabela 1. Especificações dos fertilizantes orgânicos simples, com valores expressos em base seca e umidade determinada a 65ºC
Orgânico simples processado | Umid. | pH | C | N total | CTC – CTC/C |
– | (% máx.) | – | (% min.) | ||
Húmus de minhoca | 50 | ≥6 | 10 | 0,5 | Conforme declarado |
Estercos e camas | 40 | Conforme declarado | 20 | 1 | |
Tortas e farelos vegetais | 35 | 5 | |||
Turfa | 15 | 0,5 | |||
Linhita | 20 | 0,5 | |||
Leonardita | 25 | 0,5 | |||
Vinhaça | 3 | – | |||
Parâmetros de referência para outros fertilizantes orgânicos simples | 15 | 0,5 |
Os valores de umidade, pH, CTC e CTC/C dos fertilizantes orgânicos simples não constarão do certificado de registro de produto, contudo, devem também ser declarados no rótulo, nota fiscal e documento auxiliar da nota fiscal eletrônica.
Além disso os valores de carbono orgânico (C) e Capacidade de Troca Catiônica (CTC) expressos em base seca e o valor do teor de nitrogênio (N) deve se referir ao produto tal qual comercializado.
É importante lembrar que a legislação existe para proteger o consumidor final. No entanto, os valores observados são muito elevados: como os 40% de umidade apresentados na tabela 1.
Não é viável adquirir um material com esse teor, pois, na prática, estaríamos comprando água. O ideal é optar por materiais com umidade entre 15% e 20%, garantindo melhor qualidade e eficiência no uso.
Alguns dos principais adubos orgânicos incluem restos vegetais, turfas, estercos, resíduos industriais e resíduos de matadouros. A definição e característica de cada um desses adubos orgânicos simples são apresentadas na tabela 2.
Tabela 2. Principais adubos orgânicos para uso na agricultura
Adubos orgânicos | Definição | Características |
Restos vegetais | Palha, cascas, sabugos, caroços etc. | Relação C/N elevada |
Turfas | Resíduos fósseis acumulados em terrenos alagados, provenientes de plantas do próprio local. | Frações sob diferentes graus de decomposição; teor de MO deve ser maior que 60%; em geral pH é baixo (3,5 – 5,0); N é o principal nutriente; alta retenção de água (200% – 600%). |
Estercos | Dejeções sólidas e líquidas de animais, misturadas ou não com cama e restos alimentares. | Umidade: 60% – 95% (dificulta transporte e aplicação); MO: 70% – 90% (animais eliminam de 40%-50% da MO ingerida); nutrientes: teores relativamente elevados: Aves > Caprinos > Suínos > Bovinos > Equinos. |
Resíduos industriais | Bagaço, bagacilho e torta de filtro. | Bagaço e bagacilho: Alta C/N; Torta de filtro: C/N mais baixa, mais rica. |
Resíduos de matadouro | Farinhas de sangue, peixes e ossos, Farinha de cascos e chifres (13% de N), Vísceras, Penas e pelos. | Ricos em N, podem ser usados como inoculantes na compostagem. |
Fertilizante Organomineral
O Fertilizante organomineral é um adubo de liberação lenta que vem crescendo no mercado, resultante da mistura física ou combinada de fertilizantes minerais e orgânicos.
A principal vantagem do fertilizante organomineral é a possibilidade de aplicar doses menores em comparação ao fertilizante orgânico, devido à maior concentração de nutrientes provenientes da fração mineral.
Além disso, ele ainda fornece o carbono da fração orgânica, contribuindo para a melhoria das propriedades do solo.
A legislação (MAPA, 2020) é bem rígida para organomineral devido a presença de adubo mineral na composição. Os fertilizantes organominerais sólidos para a aplicação no solo devem apresentar:
- Carbono orgânico: mínimo de 8% para produto sólido ou 3% para produto fluído
- Umidade máxima: 20% para produto sólido.
- CTC mínimo: 80 mmolc kg-1 para produto sólido
Um bom fertilizante organomineral apresenta CTC em torno de 100 a 200 mmolc/kg. Sua forma física mais comum é a peletizada (Figura 1). A granulação desse tipo de adubo é bastante desafiadora devido à presença da matriz orgânica, que resulta em grânulos mais moles e menos estáveis.
O fertilizante organomineral é obtido a partir da mistura entre material orgânico compostado e fertilizantes minerais, originando um adubo organomineral (Figura 1). Portanto, contendo fertilizantes orgânicos e inorgânicos.
Seu uso tem crescido significativamente em culturas como café, cana-de-açúcar, citros, entre outras. Embora tenha um custo mais elevado, tende a proporcionar maior produtividade.

Além dos benefícios apresentados, o organomineral reduz a fixação de fósforo (P). Menor perda por lixiviação de N e K.
Biofertilizante
O biofertilizante é um subproduto líquido gerado a partir da fermentação anaeróbica de resíduos orgânicos ou dejetos animais em biodigestores. Rico em nutrientes como nitrogênio e fósforo, atua como fertilizante e defensivo agrícola, além de corrigir o pH do solo.
Sua aplicação favorece a vida microbiana, melhora a estrutura do solo e pode ser feita via pulverização ou diretamente no solo.
Deve-se controlar a dose aplicada para evitar desequilíbrios no solo. A absorção é mais rápida na forma líquida, exigindo diluição e parcelamento.
Embora substitua parcial ou totalmente os adubos químicos, seu uso em hortaliças consumidas cruas é proibido no Brasil. Análises laboratoriais ajudam a definir as quantidades ideais para cada cultura.
Composto orgânico
Os compostos orgânicos são produtos da transformação aeróbia de resíduos orgânicos agrícolas ou industriais, realizada com finalidade de melhorar suas propriedades físicas e químicas e aumentar sua eficiência como fertilizante e condicionador do solo.
O composto orgânico está entre os fertilizantes orgânicos mais utilizados e sua qualidade e eficiência dependem diretamente do processo de produção: a compostagem. A seguir, explicamos como ocorre a compostagem e por que ela influencia a disponibilidade de nutrientes e a segurança do produto a ser utilizado no campo.
Como é o processo da compostagem?
A compostagem é o processo de decomposição aeróbia, realizado por microrganismos, no qual ocorre uma redução da relação C/N ao longo do tempo, até estabilizar próximo de 10:1 (Figura 2).

As etapas do processo de compostagem estão ilustradas da figura 3. Vale destacar que para produção em larga escala, as leiras devem ter em torno de 4 m de largura e um espaçamento entre elas de 1 m. A temperatura ideal é em torno de 50 a 60 ºC.
Se a temperatura ultrapassar os 60 °C por muito tempo, ela pode inibir ou até matar microrganismos benéficos, especialmente os termofílicos mais sensíveis.
Quando isso ocorre, a atividade microbiana cai bruscamente e o processo de compostagem desacelera ou pode até parar temporariamente, até que a temperatura volte a níveis adequados.

Porque ocorre redução da relação C/N ao longo do tempo durante a compostagem?
O microrganismo vai consumir o material, e 2/3 do carbono serão respirados (utilizados no processo de respiração dos microrganismos) e se transformarão em CO₂ (16 átomos de C), enquanto 1/3 se tornará carbono da biomassa microbiana (CBM). O N é incorporado à biomassa microbiana, não sendo perdido.
Portanto, a relação C/N vai diminuindo até se estabilizar próximo a relação C/N ótima dos microrganismos (8:1).
Se aplicar produto com relação C/N muito alta no campo, os microrganismos irão imobilizar N, ou seja, o microrganismo irá pegar N do meio.
Imagine que você tem um resíduo orgânico com relação C/N de 40:1. Isso significa que há muito carbono disponível em comparação ao N.
Como há excesso de carbono e pouco nitrogênio no resíduo, o nitrogênio presente não é suficiente para atender à demanda microbiana. Nesse cenário, os microrganismos passam a buscar nitrogênio em outras fontes do ambiente, como o solo, para suprir essa carência.
Esse processo é chamado de imobilização do nitrogênio, pois o N inorgânico do solo (como nitrato ou amônio) é incorporado à biomassa microbiana, ficando indisponível para as plantas.
Quando devo realizar a compostagem?
Quem dita é a relação C/N. A compostagem deve ser realizada quando a relação C/N do resíduo orgânico for >25:1.
Quando a relação C/N do material orgânico é muito baixa, como 14:1, isso indica que há excesso de nitrogênio em relação ao carbono. Nesses casos, o nitrogênio é rapidamente mineralizado e liberado no solo, principalmente na forma de amônio (NH₄⁺).
Essa liberação rápida pode resultar em concentrações elevadas de N disponível, o que pode causar fitotoxicidade, ou seja, “queimar” as raízes das plantas recém-plantadas.
Para evitar esse problema, recomenda-se incorporar esse adubo orgânico no sulco ou na cova de plantio e aguardar de 7 a 10 dias antes de plantar as mudas. Esse tempo permite que parte do nitrogênio seja estabilizado no solo, reduzindo o risco de toxicidade.
Por que é necessário realizar a compostagem de lodo de esgoto?
A compostagem do lodo de esgoto é obrigatória por lei, não com o objetivo principal de reduzir a relação C/N, mas sim para higienização do material, ou seja, para eliminar patógenos e sementes de plantas daninhas.
Durante a compostagem, ocorre um processo exotérmico, no qual os microrganismos decompõem a matéria orgânica, liberando calor. Esse aumento de temperatura pode atingir valores acima de 55 °C, o que é suficiente para inativar a maioria dos microrganismos patogênicos e destruir sementes viáveis de plantas invasoras.
Qual a diferença entre resíduo orgânico e composto orgânico?
Resíduo orgânico: não posso aplicar diretamente no campo. Pode até servir como cobertura morta, mas não fornece nutrientes.
Composto orgânico: posso aplicar diretamente no campo. Quando aplicado no solo, fornece nutriente entre outros.
Tempo de compostagem
A relação C/N é um dos principais fatores que determinam a velocidade de decomposição da matéria orgânica. Quanto menor a relação C/N, maior é a disponibilidade de nitrogênio para os microrganismos, o que acelera a decomposição.
Por exemplo, os resíduos da cultura da soja, com relação C/N em torno de 30:1, decompõem-se rapidamente, e cerca de 30 dias após a colheita, já não se observa praticamente mais resíduo na lavoura.
Esse mesmo princípio se aplica à compostagem:
- Pilhas compostas por material com C/N ≈ 30:1 podem estar prontas para uso em cerca de 30 dias.
- Materiais com C/N entre 40:1 e 50:1 exigem cerca de 60 dias para uma compostagem.
- Já materiais com C/N entre 60:1 e 70:1 requerem 90 a 120 dias, pois o excesso de carbono retarda a atividade microbiana, muitas vezes exigindo também adição de fontes de N para equilibrar a relação.
Recomendação técnica de uso do adubo orgânico
Para saber a quantidade exata a aplicar de adubo orgânico, assim como a necessidade de complementação com fertilizantes minerais, devem ser seguidos os seguintes procedimentos:
Como calcular a dose adequada:
1º passo: analisar o fertilizante orgânico
2º passo: transformar os resultados para teor a base úmida (TBU):
TBU = (100 – Umidade) x Teor Base Seca 100 |
3º passo: Calcular a quantidade de nutrientes que serão aplicados e, se for o caso, a quantidade de nutrientes que deverão ser complementados ou deduzidos da adubação mineral.
Disponibilidade dos nutrientes em composto orgânico no 1º ano de aplicação
Sugere-se adotar os seguintes fatores de “eficiência” de disponibilização dos nutrientes no 1º ano da aplicação (válido para materiais com relação C/N inferior a 25/1): N = 70%, P2O5 = 70% e K2O = 100% de disponibilidade.
Exemplo prático
Supondo que você foi atender um produtor que deseja utilizar cama de frango para adubação do café. O qual encaminhou uma amostra para análise e obteve os seguintes resultados (Tabela 3):
Tabela 3. Resultado da análise química da cama de frango
Subpro-duto | N | P2O5 | K2O | Ca | Mg | S | C/N | Umidade |
——-% (base seca) ——– | – | – | % | |||||
Cama de frango | 2,7 | 2,3 | 2,6 | 6,3 | 0,4 | 0,24 | 12 | 21,8 |
Considerando que o produto será aplicado com umidade natural, vamos calcular a dose de nutriente (N, P2O5 e K2O) que será fornecida pela aplicação de 4 toneladas/hectare de cama de frango.
Nitrogênio
Para calcular a dose de N fornecida pela cama de frango, basta adicionar os valores fornecidos na tabela 2 na equação:
TBU = (100–21,8) / 100 x 2,7 = 2,1% de N |
Agora que já sabemos que a cama de frango contém 2,1% de nitrogênio em base úmida, basta calcular 2,1% sobre as 4 toneladas aplicadas, o que resulta em 84 kg de N.
O mesmo deve ser realizado para os demais nutrientes. Abaixo calculamos a quantidade de nutrientes aplicados pela dose de 4 toneladas de cama de frango:
N | P2O5 | K2O | Ca | Mg | S |
——————–Kg/ha——————– | |||||
84 | 72 | 81 | 197 | 12 | 7 |
Entretanto, é necessário considerar a disponibilidade de NPK no primeiro ano. Portanto, a quantidade de nutrientes a serem deduzidos da adubação mineral considerando a eficiência de 70% do N, 70% do P e 100% do K no 1º ano é:
N | P2O5 | K2O | Ca | Mg | S |
——————–Kg/ha——————– | |||||
59 | 50 | 81 | – | – | – |
Modo de aplicação dos fertilizantes orgânicos
De forma geral, pode serem aplicados da mesma maneira dos fertilizantes minerais.
Culturas anuais: aplicar no sulco de plantio.
Culturas perenes: aplicar na instalação no fundo das covas de plantio e em culturas instaladas, aplicar em coroa, meia coroa e faixa lateral continua (projeção da copa).
Em pastagens: em área total.
Volume aplicado: a principal desvantagem do adubo orgânico é são pouco concentrados, o que aumenta a dose aplicada, o qual pode chegar a 15-20 toneladas/hectare.
Conclusões
Ao longo deste artigo, vimos que, além de fornecer nutrientes ao solo, os fertilizantes orgânicos contribuem para o aumento da matéria orgânica, melhoria da estrutura do solo e maior atividade biológica.
No entanto, sua adoção requer atenção técnica quanto à origem, composição, umidade e relação C/N dos materiais utilizados, além de análises laboratoriais e cálculos adequados para evitar desequilíbrios nutricionais.
A compostagem, os biofertilizantes e os organominerais ampliam as possibilidades de manejo, desde que utilizados com critério e conhecimento técnico.
A pergunta que fica é: quanto vale o carbono do adubo orgânico?
Lembre-se que é importante consultar um engenheiro agrônomo para realizar as recomendações.
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Referências
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Defesa Agropecuária. Instrução Normativa nº 61, de 8 de julho de 2020. Estabelece as regras sobre definições, exigências, especificações, garantias, tolerâncias, registro, embalagem e rotulagem dos fertilizantes orgânicos e dos biofertilizantes, destinados à agricultura.
LEE, J.; et al. Impact of organic liquid fertilizer on plant growth of Chinese cabbage and soil bacterial communities. Scientific Reports, 15:10439, (2025). https://doi.org/10.1038/s41598-025-95327-w.
Sobre o autor:

João Paulo Marim Sebim
Doutorando em fitotecnia (ESALQ/USP)
- Mestre em Produção Vegetal (UFAC)
- Engenheiro Agrônomo (UFAC)
Como citar este artigo:
SEBIM, J.P.M. Fertilizantes orgânicos: definição, tipos, uso e recomendação técnica. Blog Agroadvance. 2025. Disponível em: https://agroadvance.com.br/blog-fertilizantes-organicos/. Data de acesso: xx Xxx. 20xx.