A agricultura irrigada no Brasil está presente em cerca de 8,2 milhões de hectares, com 64,5% (5,3 milhões de hectares) com água de mananciais e 35,5% (2,9 milhões de ha) fertirrigados com água de reúso, mas com potencial para chegar a 55 milhões de hectares irrigados.
O uso da irrigação é ferramenta para garantir estabilidade produtiva, não apenas em áreas tradicionalmente secas, mas também em regiões com histórico de boas precipitações. Isso porque, mais do que um recurso emergencial, a irrigação é um instrumento técnico de gestão hídrica e incremento da produtividade agrícola.
Diante desse cenário em constante expansão, surge a necessidade de compreender com mais profundidade: onde estão as principais áreas irrigadas no país? Quais culturas e sistemas predominam em cada região? Que fatores têm impulsionado a adoção da irrigação, e que gargalos ainda limitam seu avanço?
Este artigo reúne os dados mais recentes, marcos regulatórios e análises territoriais para traçar um panorama técnico da agricultura irrigada no Brasil — seu presente, seu potencial e os caminhos possíveis para sua consolidação.
Irrigação agrícola no Brasil: áreas, sistemas e projeções
A irrigação é uma prática agrícola que utiliza um conjunto de técnicas e equipamentos para suprir parcial ou totalmente as necessidades hídricas das plantas. No Brasil, essa atividade é regulamentada pela Política Nacional de Irrigação (Lei nº 12.787/2013) e pela Outorga de Direito de Uso de Recursos Hídricos. Em 27 de março de 2024, a Lei nº 14.830 instituiu o Dia Nacional da Agricultura Irrigada, celebrado em 15 de junho.
Ao fornecer água de forma artificial, a irrigação visa garantir o pleno desenvolvimento das culturas, especialmente em períodos de déficit hídrico.
Cada cultura necessita de uma quantidade de água, que também varia de acordo com as fases do seu desenvolvimento e com o clima local.
Esses parâmetros, em conjunto com a eficiência do método/sistema, são utilizados para estimar o quanto de água é necessário captar em mananciais superficiais ou subterrâneos.
Os principais processos relacionados à irrigação e sua estimativa de uso da água, são apresentados a seguir, na Figura 1.

Em 2025, a agricultura irrigada no Brasil por meio da Smart Farming ou Agricultura inteligente se firma como ferramenta estratégica para enfrentar os impactos das mudanças climáticas e promover segurança alimentar.
Embora a área irrigada represente hoje cerca de 8,2 milhões de hectares, o país dispõe de um potencial de uso sustentável estimado entre 29 e 55 milhões de hectares.
O painel de dados é uma ferramenta que foi desenvolvido para fazer consultas específicas por estado e município e visualize as informações sobre as áreas irrigadas nos municípios em forma de indicadores e gráficos.

Regiões como o Cerrado concentram sistemas modernos de pivô central, cobrindo atualmente cerca de 1,46 milhão de hectares, quase 4 % da sua área irrigável, com potencial de expansão significativa.
A adoção de tecnologias de irrigação por pivô e gotejamento cresce especialmente em culturas como café (no oeste da Bahia), frutas e grãos, elevando rendimentos e reduzindo os impactos da seca.
Mais de 70% dos equipamentos de irrigação estão situados no bioma Cerrado. Em 2024, o Extremo Oeste Baiano tornou-se o principal polo de irrigação do País, superando a mesorregião do Noroeste de Minas.
O rápido crescimento da agricultura irrigada no Extremo Oeste Baiano está relacionado à captação de água subterrânea do Aquífero Urucuia. São Desidério, na Bahia, é o município com a maior área irrigada do País (91.687 ha), superando Paracatu, Unaí e Cristalina.

A agricultura irrigada desempenha um papel crucial na produção de alimentos, especialmente em regiões onde a disponibilidade de água é limitada (Ferreira et al., 2025).
O setor enfrenta desafios estruturais: o esgotamento de aquíferos (como o Urucuia), a escassez energética no campo, os altos custos de instalação (como os pivôs centrais que ultrapassam R$ 1,5 milhão), e impactos ambientais como salinização e contaminação por fertilizantes.
Nesse cenário de desenvolvimento acelerado e tensão socioambiental, a irrigação desponta como vetor chave de resiliência e produtividade agrícola.
Contudo, o sucesso exigirá políticas integradas, investimentos tecnológicos e gestão hídrica responsável para assegurar expansão sustentável e inclusiva.
A adoção de métodos de irrigação altamente eficientes e de baixo carbono tem o potencial de reduzir o consumo de energia pela metade e as emissões de CO₂ em 90%. (Qin et al., 2024).

Até 2040, estima-se a incorporação de 4,2 milhões de hectares irrigados (+76%), com um impacto menor sobre a expansão do uso da água (+66%) devido à maior expansão de métodos mais eficientes.
Esse incremento corresponde também ao aproveitamento de 30% do potencial efetivo e apenas 7% do potencial total.
Evolução histórica da irrigação no Brasil
A prática da irrigação no mundo ocorre desde as antigas civilizações, nas que que se desenvolveram em regiões secas como no Egito e na Mesopotâmia.
Em regiões de características físico-climáticas mais favoráveis, a agricultura tendeu a se desenvolver inicialmente em regiões onde a quantidade e a distribuição espacial e temporal das chuvas são capazes de suprir a necessidade das culturas, de forma que a irrigação passou a emergir em períodos mais recentes.
Esse é o caso do Brasil, onde a irrigação teve início na década de 1900 para a produção de arroz no Rio Grande do Sul.
A expressiva intensificação da atividade em outras regiões do país ocorreu a partir das décadas de 1970 e 1980. Com crescimento forte e persistente, novos polos surgiram nas últimas décadas.


Diversos fatores contribuem para a necessidade de irrigação.
Em regiões afetadas pela escassez contínua de água, como no Semiárido brasileiro, a irrigação é fundamental, ou seja, uma parte importante da agricultura só se viabiliza mediante a aplicação artificial de água.
Em regiões afetadas por escassez em períodos específicos do ano, como na região central do País (entre maio e setembro), diversas culturas viabilizam-se apenas com a aplicação suplementar de água nesses meses, embora a produção possa ser realizada normalmente no período chuvoso.
Métodos e sistemas de irrigação
Os métodos de irrigação podem ser agrupados de acordo com a forma de aplicação da água, destacando-se quatro métodos principais:
- Irrigação por superfície,
- Subterrânea,
- Por aspersão e,
- Localizada.
Existem diferentes sistemas para cada um desses métodos, como o sistema por inundação na irrigação superficial; o sistema de pivô central na irrigação por aspersão; e o sistema de gotejamento que ocorre nos métodos subterrâneo e localizado.
Os métodos e sistemas de irrigação são técnicas utilizadas para fornecer água às plantas de maneira controlada, visando garantir o crescimento adequado e aumentar a produtividade agrícola, especialmente em regiões com déficit hídrico ou irregularidade de chuvas.
Considerando as principais culturas irrigadas e sistemas de irrigação no Brasil, subdivide-se a agricultura irrigada em quatro grandes grupos. Para cada divisão foi usada uma estratégia de análise diferente.

A escolha do sistema mais adequado depende de fatores como tipo de solo, cultura, topografia, disponibilidade hídrica e custo. Abaixo estão os principais métodos de irrigação:
1. Irrigação por Superfície
É o método mais antigo e consiste na distribuição da água diretamente sobre o solo, fluindo por gravidade. Os principais tipos são:
- Inundação: água cobre completamente a superfície do solo. É comum em culturas como o arroz.
- Sulcos: água corre por canais entre as fileiras da plantação.
- Faixas ou nível: a água se espalha em faixas planas.
Vantagens: baixo custo inicial e manutenção simples.
Desvantagens: baixa eficiência (30–50%), elevado desperdício de água por percolação e evaporação, e não é indicado para solos muito arenosos.
2. Irrigação por Aspersão
Imita a chuva natural, pulverizando água sobre as plantas por meio de aspersores acoplados a tubulações.
- Convencional (fixa ou móvel)
- Pivô central
- Canhão de irrigação
Vantagens: distribuição mais uniforme, uso em diversos tipos de solo e topografia.
Desvantagens: custo mais elevado, perda de água por evaporação e vento, principalmente em horários de sol forte.
Eficiência: média a alta (60–85%), dependendo do manejo e das condições climáticas.
3. Irrigação Localizada
É o sistema mais moderno e eficiente. A água é aplicada diretamente na zona das raízes, em baixa vazão e alta frequência.
- Gotejamento: libera água gota a gota próximo à raiz.
- Microaspersão: pulveriza finamente a água em pequena área ao redor da planta.
Vantagens: alta eficiência no uso da água (90–95%), redução da evaporação e percolação, permite fertirrigação (aplicação de fertilizantes via água) e é ideal para cultivos de alto valor agregado (frutas, hortaliças).
Desvantagens: alto custo inicial e necessidade de manutenção cuidadosa (entupimentos).
Há o sistema de irrigação mais eficiente?
O sistema de irrigação por gotejamento é considerado o mais eficiente em termos de economia de água e energia, além de proporcionar maior controle no manejo da irrigação e fertilização.
Ele é especialmente indicado para regiões com escassez hídrica e para culturas que exigem alta precisão no fornecimento de água.
Ressaltando ainda que não existe um método ou sistema de irrigação ideal a priori, devendo haver uma avaliação integrada de componentes socioeconômicos e ambientais, dos quais a eficiência é uma das variáveis.
A Tabela 1 apresenta indicadores de eficiência de uso da água para os sistemas de irrigação mais comuns. Os valores são de referência e para boas condições de instalação, manejo e operação.
Tabela 1. Indicadores de eficiência de uso de água para sistemas de irrigação
Método | Sistema de irrigação | Eficiência de Referência (%) | Perdas (%) |
Superfície | Sulcos abertos | 65 | 35 |
Sulcos fechados ou interligados em bacias | 75 | 25 | |
Inundação | 60 | 40 | |
Subterrâneo | Gotejamento subterrâneo ou enterrado | 95 | 5 |
Subirrigação ou elevação do lençol freático | 60 | 40 | |
Aspersão | Convencional com linhas laterais ou em malha | 80 | 20 |
Mangueiras perfuradas | 85 | 15 | |
Canhão autopropelido/Carretel enrolador | 80 | 20 | |
Pivô central (fixo ou rebocável) | 85 | 15 | |
Linear | 90 | 10 | |
Localizado | Gotejamento | 95 | 5 |
Microaspersão | 90 | 10 |
Panorama atual da agricultura irrigada no Brasil
O panorama atual da agricultura irrigada no Brasil mostra uma atividade em expansão, com papel estratégico para a segurança alimentar, a produtividade agrícola e o uso eficiente da água.
Área irrigada
- O Brasil possui aproximadamente 8,2 milhões de hectares irrigados (3,3% do total da área plantada).
- Apesar disso, estima-se um potencial irrigável superior a 50 milhões de hectares, principalmente nas regiões Centro-Oeste e Nordeste.
Principais culturas irrigadas
- Arroz irrigado: predomina no Sul do Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul, com o uso de irrigação por inundação.
- Cana-de-açúcar: presente em diversas regiões, principalmente em São Paulo e Centro-Oeste, com crescente uso de gotejamento subsuperficial.
- Soja e milho safrinha: no Centro-Oeste (Goiás, Mato Grosso), vem crescendo o uso da irrigação suplementar por pivô central.
- Feijão e hortaliças: amplamente irrigadas em pequenas propriedades, com destaque para Minas Gerais, São Paulo e Pernambuco.
- Fruticultura: forte presença no Vale do São Francisco (BA e PE), com culturas como manga, uva, banana e goiaba irrigadas por microaspersão e gotejamento.

Distribuição regional
- Sudeste: maior área irrigada (cerca de 2,5 milhões de ha), com destaque para São Paulo e Minas Gerais.
- Sul: concentração no arroz irrigado do RS, com métodos tradicionais de lâmina contínua.
- Centro-Oeste: expansão recente com grandes áreas de soja, milho e cana irrigadas por pivô.
- Nordeste: importante polo de fruticultura irrigada, sobretudo no Vale do São Francisco.
- Norte: participação ainda limitada, mas com potencial crescente no Tocantins e Pará.
Tabela 2. Áreas irrigadas por pivôs centrais no Brasil e tendências de crescimento entre os anos de 2022 e 2024, de acordo com a região geográfica brasileira
Região | Área irrigada por pivôs centrais (ha) | Variação 2022–2024 (%) | Tendência de crescimento (%) | ||
2022 | 2024 | 2022 | 2024 | ||
Sudeste | 819.357 | 897.456 | 9,53 | 42,69 | 40,78 |
Centro-Oeste | 534.768 | 608.816 | 13,85 | 27,86 | 27,66 |
Nordeste | 325.866 | 439.720 | 34,94 | 16,98 | 19,98 |
Sul | 213.138 | 224.394 | 5,28 | 11,11 | 10,20 |
Norte | 26.146 | 30.575 | 16,94 | 1,36 | 1,39 |
Total | 1.919.275 | 2.200.960 | 14,68 |
Técnicas de irrigação mais utilizadas
- Pivô central (cerca de 50% da área irrigada)
- Aspersão convencional
- Gotejamento e microaspersão (em especial para fruticultura e horticultura)
- Inundação (praticamente restrita ao arroz no Sul).

Tendências e desafios da agricultura irrigada no Brasil
- Expansão da irrigação suplementar para culturas de grãos.
- Aumento da eficiência no uso da água, com tecnologias como sensores, automação e irrigação de precisão.
- Desafios incluem: gestão hídrica, regularização ambiental, acesso a crédito e adaptação às mudanças climáticas.
Tabela 3. Áreas irrigadas por pivôs centrais no Brasil nos anos de 2022 e 2024 nas 20 principais mesorregiões em 2024
Mesorregião | UF | Região | Posição no ranking em 2022 | 2022 (ha) | 2024 (ha) | Variação 2022–2024 (ha) | Variação 2022–2024 (%) |
Extremo Oeste Baiano | BA | Nordeste | 2 | 232.897 | 332.563 | 99.666 | 42,8 |
Noroeste de Minas | MG | Sudeste | 1 | 270.902 | 308.499 | 37.597 | 13,9 |
Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba | MG | Sudeste | 3 | 178.070 | 199.166 | 21.095 | 11,8 |
Noroeste Rio-Grandense | RS | Sul | 4 | 134.272 | 140.404 | 6.132 | 4,6 |
Sul Goiano | GO | Centro-Oeste | 5 | 132.393 | 139.757 | 7.364 | 5,6 |
Leste Goiano | GO | Centro-Oeste | 6 | 110.511 | 122.065 | 11.554 | 10,5 |
Norte Mato-Grossense | MT | Centro-Oeste | 7 | 100.415 | 111.088 | 10.673 | 10,6 |
Norte de Minas | MG | Sudeste | 8 | 63.727 | 75.493 | 11.766 | 18,5 |
Itapetininga | SP | Sudeste | 9 | 58.673 | 58.700 | 27 | 0,0 |
Centro Sul Baiano | BA | Nordeste | 11 | 47.067 | 52.087 | 5.019 | 10,7 |
Bauru | SP | Sudeste | 10 | 52.637 | 51.865 | -772 | -1,5 |
Noroeste Goiano | GO | Centro-Oeste | 14 | 39.152 | 46.911 | 7.758 | 19,8 |
Sudeste Mato-Grossense | MT | Centro-Oeste | 12 | 42.917 | 45.498 | 2.581 | 6,0 |
Sudoeste Rio-Grandense | RS | Sul | 16 | 37.800 | 41.624 | 3.823 | 10,1 |
Ribeirão Preto | SP | Sudeste | 13 | 40.563 | 40.560 | -3 | 0,0 |
Campinas | SP | Sudeste | 15 | 37.848 | 37.887 | 39 | 0,1 |
Leste do Mato Grosso do Sul | MS | Centro-Oeste | 21 | 19.380 | 31.593 | 12.213 | 63,0 |
Central Mineira | MG | Sudeste | 19 | 20.543 | 25.143 | 4.600 | 22,4 |
Sudoeste do Mato Grosso do Sul | MS | Centro-Oeste | 24 | 14.552 | 24.421 | 9.868 | 67,8 |
Noroeste Mato-Grossense | MT | Centro-Oeste | 20 | 20.271 | 23.787 | 3.516 | 17,3 |
Benefícios da irrigação: produtividade, renda e segurança
Os benefícios da irrigação na agricultura são amplos e impactam diretamente a produtividade, a renda dos produtores e a segurança alimentar. Veja a seguir um resumo desses principais benefícios:
Aumento da Produtividade Agrícola
- A irrigação permite o fornecimento controlado de água, independentemente das chuvas, garantindo melhores condições hídricas para o desenvolvimento das plantas.
- Culturas irrigadas tendem a apresentar maior produtividade por hectare em comparação a sistemas de sequeiro, devido à redução do estresse hídrico, sobretudo em regiões de clima semiárido ou com chuvas irregulares.
- Permite também a intensificação de cultivos, com possibilidade de mais de uma safra por ano.

Geração de Renda e Estabilidade Econômica
- A irrigação reduz os riscos de perdas por estiagens, o que oferece maior previsibilidade e segurança financeira ao produtor rural.
- Com maior produtividade, há maior oferta de produtos agrícolas no mercado, potencializando os lucros.
- Favorece o emprego no campo, já que sistemas irrigados exigem maior mão de obra para manejo e colheita.
Segurança Alimentar e Abastecimento
- A irrigação contribui para a regularidade na produção de alimentos, especialmente em períodos de estiagem, ajudando a evitar desabastecimento.
- É fundamental para a produção de hortaliças, frutas e grãos em regiões com alta densidade populacional ou clima seco.
- Sustenta a resiliência dos sistemas agrícolas frente às mudanças climáticas, garantindo oferta estável e contínua de alimentos.
Políticas públicas e financiamento da irrigação no Brasil
As políticas públicas e o financiamento para a adoção de técnicas de irrigação em lavouras comerciais são essenciais para promover a eficiência no uso da água, o aumento da produtividade agrícola e a resiliência frente às mudanças climáticas. Essas políticas visam incentivar práticas sustentáveis por meio de apoio técnico, crédito subsidiado, incentivos fiscais e investimentos em infraestrutura.
Objetivos das políticas públicas
- Promover o uso racional da água na agricultura.
- Estimular a modernização e adoção de sistemas de irrigação eficientes (gotejamento, aspersão, pivô central).
- Ampliar a área irrigada com base em critérios técnicos e ambientais.
- Reduzir riscos de perdas por estiagens, contribuindo para a segurança alimentar e estabilidade da renda do produtor.
- Incentivar práticas sustentáveis que minimizem o impacto ambiental.
Instrumentos de financiamento
- Crédito rural subsidiado: Programas como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e o Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica na Produção Agropecuária (Inovagro) oferecem linhas de crédito com juros reduzidos para aquisição e implantação de sistemas de irrigação.
- Moderinfra: Linha de crédito do BNDES voltada à modernização e expansão da infraestrutura da propriedade rural, incluindo projetos de irrigação.
- Subvenções e incentivos fiscais: Alguns estados oferecem isenção de ICMS para equipamentos de irrigação ou bônus para produtores que adotam boas práticas.
- Programas estaduais: Vários estados possuem políticas específicas, como o Programa Irrigação Mais (Bahia) ou o Programa de Irrigação do Semiárido (Pernambuco), voltados à convivência com a seca e aumento da eficiência hídrica.
O Programa Nacional de Agricultura Irrigada
O Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), responsável pela condução da Política Nacional de Irrigação, consolidou recentemente a proposta do Programa Nacional de Agricultura Irrigada – 2019/2029. O objetivo é ampliar a área de agricultura irrigada no Brasil, favorecendo o uso eficiente de tecnologia e o desenvolvimento sustentável da atividade. O Programa está estruturado em cinco eixos estratégicos de ação:
Eixo 1 – Incentivo à agricultura irrigada;
Eixo 2 – Polos de Agricultura Irrigada;
Eixo 3 – Melhoria da Gestão dos Projetos Públicos de Irrigação;
Eixo 4 – Implantação de Unidades de Referência para o Desenvolvimento da Agricultura Irrigada;
Eixo 5 – Câmara Setorial de Irrigação.
Desafios na implementação
- Alto custo inicial de instalação de sistemas modernos de irrigação.
- Falta de assistência técnica adequada, especialmente para pequenos produtores.
- Necessidade de regularização ambiental e outorga de uso da água.
- Fragmentação das políticas entre esferas federal, estadual e municipal.
Potencial de expansão da agricultura irrigada no Brasil
O potencial de expansão da agricultura irrigada no Brasil é vasto e estratégico para aumentar a produtividade agrícola, garantir segurança alimentar e reduzir a vulnerabilidade às variações climáticas.
Essa expansão, no entanto, depende de diversos fatores técnicos, ambientais, econômicos e legais.

Disponibilidade de recursos hídricos
O Brasil possui aproximadamente 12% da água doce superficial do planeta, distribuída de forma desigual entre as regiões.
As bacias do Norte (Amazônica) e Centro-Oeste (Araguaia-Tocantins) concentram grande parte do volume disponível, enquanto áreas do Nordeste e Sudeste sofrem com escassez hídrica relativa.
Essa abundância oferece boas condições para irrigação, desde que haja manejo eficiente e sustentável.
Áreas aptas para irrigação
Estudos indicam que o Brasil possui mais de 60 milhões de hectares com aptidão agrícola e disponibilidade hídrica para irrigação, dos quais apenas cerca de 10% estão efetivamente irrigados. As áreas com maior potencial estão nos cerrados do Centro-Oeste, Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), Oeste da Bahia, e partes do Sudeste e Sul.
Ganhos em produtividade
A irrigação permite o cultivo durante períodos secos, possibilita até duas ou três safras por ano e aumenta a produtividade por hectare. Em culturas como feijão, milho, soja, café, cana-de-açúcar e hortaliças, o uso da irrigação pode duplicar ou até triplicar a produção, além de aumentar a qualidade do produto colhido.
Tecnologias e sistemas de irrigação
O Brasil já domina diversas tecnologias de irrigação — como pivô central, aspersão convencional, gotejamento e microaspersão.
A expansão está fortemente ligada à eficiência no uso da água, à automação e ao monitoramento via sensores e satélites, promovendo a agricultura de precisão.
Sustentabilidade e políticas públicas
O crescimento da irrigação deve ser acompanhado de políticas que promovam o uso racional da água, controle da salinização dos solos e proteção dos recursos naturais.
Programas como o Mais Irrigação e incentivos à agricultura sustentável podem impulsionar esse crescimento com responsabilidade ambiental.

Limitações e desafios da agricultura irrigada
Apesar do potencial, a expansão enfrenta desafios importantes, como:
- Conflitos pelo uso da água (especialmente em bacias críticas como a do Rio São Francisco);
- Necessidade de licenciamento ambiental e outorgas;
- Custo elevado de implantação e operação dos sistemas;
- Capacitação técnica de produtores e operadores;
- Infraestrutura deficiente em áreas remotas (energia, estradas, logística).
Tendências e perspectivas para a agricultura irrigada no Brasil
- Incentivo ao uso de tecnologias digitais e sensoriamento remoto para irrigação de precisão.
- Integração com políticas de adaptação às mudanças climáticas e conservação de recursos hídricos.
- Expansão de parcerias público-privadas para ampliar investimentos em infraestrutura hídrica (barragens, adutoras, canais de irrigação).
- Foco na regionalização das políticas, respeitando as características climáticas e hídricas locais.
O Brasil tem enorme potencial para expandir sua agricultura irrigada, o que representa uma oportunidade estratégica para aumentar a produção de alimentos, agregar valor à agropecuária e enfrentar os desafios climáticos. Para isso, é essencial combinar planejamento territorial, inovação tecnológica, gestão hídrica e políticas públicas eficazes.
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Referências
FERREIRA, L.S.; OLIVEIRA, V.S.; MARCHIORI, J.J.P.; DOUSSEAU-ARANTES, S.; FERREIRA, T.C.; FERNANDES, C. N.; AMORIM, D. J.; LUPPI, C.G.; ANDRADE, S.N.; SANTOS, M. B.; HOLTZ, A. M. Impact of Plant Growth Regulators on Irrigated Agriculture. International Journal of Plant & Soil Science 37 (3):9-19. 2025. DOI: 10.9734/ijpss/2025/v37i35343.
QIN, J.; DUAN, W.;ZOU, S.; CHEN, Y.; HUANG, W.; ROSA, L. Global energy use and carbon emissions from irrigated agriculture. Nat Commun 15, 3084 (2024). DOI: 10.1038/s41467-024-47383-5
National Water and Sanitation Agency (Brazil). Irrigation atlas: water use in irrigated agriculture/ National Water and Sanitation Agency. – 2nd. ed. – Brasília: ANA, 2024. 127 p.: il. ISBN: 978-65-88101-62-9
Agência Nacional de Águas (Brasil). Atlas irrigação: uso da água na agricultura irrigada / Agência Nacional de Águas. — Brasília: ANA, 2017. 86 p. ISBN 978-85-8210-051-6. Disponível em: https://www.ana.gov.br/atlasirrigacao/. Acesso: 07 Ago 2025.
GUIMARÃES, D. P.; LANDAU, E. C. Agricultura irrigada por pivôs centrais no Brasil em 2024. Embrapa Milho e Sorgo: Sete Lagoas, MG (Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, 261). ISSN 1679-0154 / e-ISSN 0000-0000.
Sobre a autora:

Lusiane de Sousa Ferreira
Doutoranda em Agrononia - Agricultura (FCA/UNESP)
- Cursa MBA em Data Science e Analytics (ESALQ/USP)
- Mestra em Agronomia (UFES)
- Engenheira Agrônoma (UFMA)
Como citar este artigo
FERREIRA, L.S. Panorama da Agricultura irrigada no Brasil em 2025. Blog Agroadvance. 2025. Disponível em: https://agroadvance.com.br/blog-agricultura-irrigada-no-brasil/. Data de acesso: xx Xxx 20xx.