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Patógenos agrícolas: 2 Modos de Classificação baseados no tipo de alimentação e local de infestação

O termo patógenos é utilizado na agricultura para designar qualquer tipo de microrganismo capaz de causar danos nas plantas. Os principais grupos de patógenos são: 

  • Fungos: são o grupo mais importante e representam aproximadamente 65% das doenças de plantas 
  • Bactérias 
  • Vírus 
  • Nematoides 
  • Outros (Mollicutes e Fitomonas) 

 

Os patógenos são causadores de diversas doenças de plantas e por isso são uma preocupação à agricultura pois podem afetar drasticamente a produtividade das culturas e a qualidade das plantas.  

Podemos destacar como principais patógenos de preocupação no Brasil, dentro de cada um dos grupos citados:  

  • Ferrugem asiática da soja, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi 
  • Clorose Variegada dos Citrus (CVC), causada pela bactéria Xylella fastidiosa; 
  • Virose do Nanismo Amarelo da Cevada (VNAC), causada por um complexo de vírus; 
  • Nematoide das galhas (Meloidogyne incognita), que tem capacidade para infectar diversas espécies de plantas cultivadas. 

Para adotarmos medidas de manejos eficientes no controle de doenças é necessário um conhecimento mínimo sobre as principais características de cada grupo e do agente causal que está infectando a lavoura à campo. Para isso várias classificações podem ser utilizadas para entender o hábito de alimentação do patógeno, ou a região da planta em que determinado patógeno ataca, por exemplo.  

 

Descrição dos grupos patogênicos 

Fungos são organismos eucariontes, aclorofilados, heterotróficos, que se reproduzem de forma sexuada e/ou assexuada e cujas estruturas somáticas são geralmente filamentosas e ramificadas, com parede celular contendo celulose, quitina ou ambos. 

Bactérias são procariotos, para designar o nucleoplasma da célula procariótica, tipo de ribossomo e ausência de membranas envolvendo organelas citoplasmáticas. 

Vírus é um conjunto formado por uma ou mais moléculas de ácido nucléico genômico (DNA/RNA), normalmente envolto por uma capa ou capas protetora(s) de proteína ou lipoproteína, o qual é capaz de mediar sua própria replicação somente no interior das células hospedeiras apropriadas.  

Fitonematóides são organismos vermiformes e microscópicos que habitam o solo e pertencem ao Filo Nemata, . Possuem simetria bilateral e são pseudocelomados, isto é, a cavidade geral do organismo onde se alojam todos os órgãos não é revestida por um tecido especializado. 

 

 

Classificação dos patógenos agrícolas com relação ao tipo de alimentação 

Como Patógenos agrícolas podem ser classificados? De 3 formas principais de acordo com seu modo de nutrição: biotróficos, necrotróficos e hemibiotróficos. 

Patógenos Biotróficos

Definição: são patógenos que obtêm o alimento a partir de células vivas do hospedeiro; ou seja, são parasitas. Raramente matam o hospedeiro, pois dependem dele para sobreviver (Figura 1).  

EXEMPLOS 

  • Oídios: Oidium, Ovulariopsis, Oidiopsis, Microsphaera, Sphaerotheca 
  • Ferrugens Phakopsora, Puccinia, Uromyces, Melampsora, Tranzschelia, Hemileia 
  • MíldiosPlasmopara, Peronospora  
  • CarvõesUstilago, Tilletia  
  • Fitoplasmas e Espiroplasmas  
  • Vírus e Viróides 
infecção biotrófica causada pelo fungo de ferrugem patógenos biotróficos

Figura 1. Estrutura interna de uma folha mostrando as diferentes camadas de células e infecção biotrófica causada pelo fungo de ferrugem. Onde: GT, tubo germinativo; AP, apressório; PH, hifas de penetração; IH, hifa de infecção e H, haustório. Fonte: Fanaro e Villavicencio (2011). 

 

Principais características desse grupo de patógenos: 

  • Não sobrevivem no solo, 
  • Não sobrevivem na palhada 
  • Não possuem estruturas fúngicas de sobrevivência  
  • Não são disseminados via semente.  

 

Manejo: São fungos facilmente monitorados à campo. O importante para o controle é conhecer o movimento do patógeno durante a safra. Para a soja, por exemplo, se utiliza no país a estratégia do vazio sanitário para conter a transmissão da ferrugem, uma vez que esses fungos possuem alta especificidade e, portanto, não se desenvolvem em outras espécies de plantas.  

 

Patógenos Necrotróficos

Definição: São patógenos que se nutrem a partir dos tecidos mortos das plantas. Estes patógenos excretam uma série de substâncias capazes de causar a morte do tecido vegetal e, em seguida se nutrem dele. Em geral causam sintomas como necrose (mofo-branco, podridão radicular) e podridão e engloba a maioria das doenças de manchas foliares (mancha-de-cercóspora,). 

EXEMPLOS 

  • Fungos: Rhizopus, Penicillium, Botrytis, Sclerotinia, Bipolaris, Alternaria, Septoria. 
  • Bactérias: Erwinia, Xanthomonas, Psudomonas, 

 

patógenos necrotrófico

Figura 2. Estratégias pós-infecção por Necrotrofia subcuticular adotadas por espécies de Colletotrichum. C: conídios, AP: apressórios E: células epidérmicas, M: células mesofílicas, PH: Hifas primárias, SE: Hifas secundárias, MLPH: hifas primárias multilobadas. Observação: Esses fungos também podem se desenvolver por Necrotrofia subcuticular. Fonte: Silva et al., 2017. 

 

Principais características desse grupo de patógenos: 

  • Sobrevivem no solo, 
  • Sobrevivem na palhada e restos culturais 
  • Possuem estruturas fúngicas de sobrevivência  
  • São disseminados via semente.  

 

Manejo: Para controle da doença desse grupo de patógenos é importante conhecer o histórico da área, bem como a movimentação via semente (utilizar sempre tratamento de sementes). 

 

Patógenos Hemibiotróficos

Definição: são patógenos que iniciam a infecção nutrindo-se dos vegetais como patógenos biotróficos, entretanto, ao atingirem a fase de desenvolvimento e colonização, atuam como necrotróficos. Ou seja, podem se desenvolver e esporular mesmo após a morte dos tecidos vegetais. 

EXEMPLOS  

  • Fungos: Colletotrichum (causador da antracnose), Magnaporthe (causador do brusone),  Bipolaris, Zymoseptoria (causador de manchas na folha). 
  • Bactéria: Pseudomonas; e o Oomiceto Phytophthora 

 

Figura 3. Estratégias pós-infecção hemebiotróficas adotadas por espécies de Colletotrichum. A: intracelular B: localizada com hifas primárias multilobuladas C: estendida. C: conídios, AP: apressórios E: células epidérmicas, M: células mesofílicas, PH: Hifas primárias, SE: Hifas secundárias, MLPH: hifas primárias multilobadas. Observação: Esses fungos também se desenvolver sob Necrotrofia subcuticular. Ciclo das relações patógeno-hospedeiro Fonte: Silva et al., 2017. 

 

 

 

Classificação dos Patógenos Agrícolas de acordo com o local de infestação 

Os patógenos podem ser classificados em seis grupos, de acordo com o local em que causam danos às plantas, segundo Mc New (1960), conforme listado a seguir.

I. Doenças que destroem órgãos de armazenamento

Nesse grupo estão patógenos que interferem no processo de armazenamento de substâncias em órgãos de reservas (sementes). Causam deterioração ou podridão moles e/ou secas de grãos/sementes e frutos. 

Agentes causais: Fungos e bactérias saprofíticas associados ao solo ou à semente 

  • Causadores de podridão mole: Erwinia, Rhizoctonia, Monilia, Botrytis, Lasiodiplodia, Pennicillium, Colletotricum. 
  • Causadores de Podridão seca: Colletotricum, Penicilium, Aspergillus, Cladosporium, Fusarium, Alternaria, Penicillium. 

Condições favoráveis: temperatura elevada (25-30ºC), umidade (>70%) e ferimentos em órgãos suculentos. 

Sintomas: deterioração dos órgãos, podridão seca (provocam a desidratação do tecido, aspecto rugoso e produção de micotoxinas) ou podridões moles (patógeno produz enzimas pectolíticas e toxinas que provocam desorganização celular resultando em manchas encharcadas e deprimidas). 

Sobrevivência: restos culturais, disseminação pelo vento, respingos de água, manuseio, tratos culturais, transporte, armazenamento, etc. 

Infecção: ferimentos (ação mecânica ou insetos). 

Danos: Introdução de patógenos em áreas sadias; disseminação de patógenos a longas distâncias; aumento de inóculo em área de cultivo sucessivos; meio de perpetuação de doenças de geração a geração; aumento de custos de produção para controle das doenças.

 

II. Doenças que causam danos em plântulas

Nesse grupo estão patógenos que causam tombamento e morte de plântulas, seja pré ou pós emergência. 

Agentes causais: Fungos e bactérias parasitas facultativos, habitantes naturais do solo (patógenos agressivos). Os patógenos desse grupo não apresentam especificidade em relação a hospedeiros. 

  • Bactérias: Xanthomonas, Ralstonia 
  • Oomicetos: Pythium, Phitophtora 
  • Fungos: Rhizoctonia, Sclerotinia, Fusarium, Colletotricum, Phoma, Helminthosporium, Cercospora, Botrytis. 

Condições favoráveis: estresse hídrico, excesso de água no solo, impedimento físico no solo, variação térmica entre dia e noite. 

Sintomas:

Antes da emergência da plântula: tecidos escurecidos da semente, manchas encharcadas que aumentam e escurecem, tomando toda a plântula.

Em plantas emergidas: Na região do cole aparecem sintomas como manchas encharcadas que escurecem e progridem para lesões deprimidas, escuras que podem provocar fendilhamento e constrição do caule (tombamento) 

Disseminação: Ativa (bactérias e zoosporos pela água a curtas distâncias) e Passiva (água da chuva ou irrigação, mudas, sementes) ou através de ferimentos. 

Sobrevivência: restos culturais. 

 

III. Doenças que causam danos nas raízes 

Nesse grupo estão patógenos que causam podridões radiculares e do colo. Compromete a absorção de água e nutrientes das plantas 

Agentes causais: Fungos do solo: Rhizoctonia, Macrophomina, Fusarium, Sclerotium. 

Sintomatologia 

  • Parte aérea: Murchas na parte aérea, amarelecimento, deficiência mineral, seca dos ramos, má formação de folhas, flores e frutos e morte da planta; 
  • Raízes: escurecimento das raízes novas, perda de turgidez da raiz, podridões no colo acima ou abaixo da superfície do solo; 
  • Caule: lesões deprimidas e/ou estrangulamento do caule; fendilhamento e descamação em caules lenhosos. 

Identificação: Identificação em câmera climatizada, teste do copo para bactérias. 

Disseminação: Ativa ou Passiva 

Sobrevivência: Restos de culturas e estruturas de repouso (escleródios). 

IV. Doenças que atacam o sistema vascular 

Nesse grupo estão patógenos que interferem no processo de condução de água e de nutrientes minerais, causando murchas vasculares devido à colonização do xilema. 

Agentes causais: Fungos e bactérias considerados parasitas facultativos com especificidade que pode chegar a nível de raças fisiológicas. 

  • Fungos associados ao solo: Phialophora gregata, Fusarium, Caratocystis, Verticillium 
  • Bactérias: Pseudomonas, Ralstonia, Erwinia, Xylella 

Sintomatologia 

  • EXTERNOS: clareamento de nervuras, amareleciemnto de folhas, murcha de folhas e brotos, necrose marginal nas folhas, queda de folhas, flores e frutos, aparecimento d raízes adventícias, morte da planta;  
  • INTERNOS: escurecimento dos vasos e exsudação de pus bacteriano após corte da haste. 

Disseminação: água, mudas, sementes. 

Sobrevivência: Restos culturais, hospedeiros alternativos 

Infecção: Penetração direta (radicelas, pelos absorventes, ferimentos). 

V. Doenças que interferem na fotossíntese 

Nesse grupo estão patógenos que reduzem o potencial fotossintético, área foliar, duração da área foliar sadia. São as principais doenças da agricultura: causadas por fungos e inclui: manchas foliares, ferrugens, oídios e míldios. 

 

A) MANCHAS FOLIARES

Interferem diretamente a fotossíntese (reduz a área foliar).

Patógenos: bactérias e fungos necrotróficos: ex: Septoria, Cercospora,Alternaria, Colletotrichum,Cladosporium, Botrytis, Xantomonas.  

Sintomas: Destruição do tecido vegetal. Também chamada de lesões: caracterizadas com base na forma, tamanho e coloração – podem coalescer e provocar necrose de grandes áreas do limbo foliar (crestamento ou queima). 

Sobrevivência: sementes, restos de cultura, solo, tecidos de plantas  

Disseminação: sementes, respingos de água e vento. 

Tipo de parasitismo: facultativos 

Penetração: bactérias: por ferimentos e aberturas naturais; e fungos: direta e ferimentos. 

 Mecanismo de ataque: toxinas e enzimas= morte e decomposição dos tecidos vegetais 

 

B) FERRUGENS

Causadas por fungos biotróficos. Reduz a produção devido a interferência no processo fotossintético (retirada de nutrientes e destruição da área foliar pelas pústulas e pela queda das folhas). São denominadas “ferrugens” devido à aparência das lesões amareladas de aspecto ferruginoso. Tem ampla ocorrência em cereais de inverno, milho, café, soja, feijão, ornamentais, frutíferas e olerícolas.

Patógenos: uredinales. 

Sintomas: pústulas (nas folhas predominantemente). 

Parasitismo: Obrigatório (não tem fase saprofítica no ciclo vital). 

Disseminação: vento. 

Penetração: penetração por estômatos. 

Sobrevivência: tecidos vivos em hospedeiros intermediários. 

 

C) OÍDIOS

Retardam o desenvolvimento e reduz a produção do hospedeiro. Ocorrência favorecida por ambientes secos (sem chuvas); ampla gama de hospedeiros (olerícolas, frutíferas, ornamentais, cereais, espécies florestais, plantas daninhas). Dificilmente causa a morte da planta. A esporulação do fungo ocorre na face superior e inferior das folhas.

Sintomas: confundem-se com os sinais. 

Tipo de parasitismo: obrigatório. 

Sobrevivência: tecidos vivos (micélio e conídios na própria planta ou planta alternativa). 

Disseminação: vento  

Penetração: Direta (apressório) e por aberturas naturais  

Mecanismo de ataque: haustório que invadem as células epidérmicas, apresenta especificidade varietal. 

 

D) MILDIOS

Retardam o desenvolvimento do hospedeiro e reduz a produção do hospedeiro. Espécies são diferenciadas com base nas características do esporângio. Produzem micélios inicialmente brancos, posteriormente, acinzentados. Via de regra os micélios se desenvolvem na face abaxial da folha.

Patógenos: Plasmopora, Peronospora, Pseudoperonospora, Phytophthora  

Sintomas: anasarca e eflorescência esbranquiçadas  

Sobrevivência: sementes, solo, restos de culturas, plantas voluntárias, plantas perenes  

Tipo de parasitismo: parasitismo refreado (não causam a destruição imediata do hospedeiro até a esporulação), parasitas obrigatórios  

Penetração: aberturas naturais, ferimentos ou diretamente através da epiderme

Disseminação: água e ventos. 

VI. Doenças que alteram o aproveitamento das substâncias fotossintetizadas 

Nesse grupo estão patógenos que interferem no processo de condução bilateral de substâncias elaboradas (floema). 

 

A) CARVÕES

Acometem principalmente as gramíneas.

Patógenos: Ustialginales, Tilletia, Ustilago, Sphacerotheca, Entyloma, Urocystis  

Sintomas: Sinais (massas pulverulentas negras de esporos). Outros sintomas: subdesenvolvimento, perfilhamento excessivo, morte. 

Sobrevivência: sementes e solo Penetração: órgãos florais e meristemas (apresentam um longo período entre a infecção e a esporulação. O Patógeno converte o tecido hospedeiro em tumor de onde retira os nutrientes. É prejudicial as plantas pela retirada de nutrientes e também pelas modificações que causa no desenvolvimento de meristemas e grãos. 

 

B) GALHAS

Patógenos: Agrobacterium, Plasmodiophora, Pseudomonas. 

Sintomas: Intumescência decorrente de hipertrofia e hiperplasia celular. 

Penetração: ferimentos. 

Sobrevivência: solo.  

Tipo de parasitismo: facultativo e obrigatório. 

Disseminação: água e solo. 

 

C) VIROSES

Parasitismo a nível genético interferindo na expressão gênica, síntese de proteínas e aminoácidos. 

Sintomas: mosaico, encarquilhamento, bronzeamento, nanismo. 

Sobrevivência: plantas hospedeiras sementes, vetores. 

Disseminação: vetores, sementes, material propagativo, práticas culturais, vetores, pólen.  

Infecção: passiva através de micro ferimentos.  

Colonização: local ou sistêmica. 

 

 

Referências 

 Fanaro, G.; Villavicencio, A.L.C.H. The Asian Soybean Rust in South America. Soybean Physiology and Biochemistry.  DOI:10.5772/18725 

 Silva, D. D.; Crous, P. W.; Ades, P.K.; Hyde, K. A.; Taylor P.W.J. Life styles of Colletotrichum species and implications for plant biosecurity. Fungal Biology Reviews. V. 31, 2017, Pag. 155-168. doi: 10.1016/j.fbr.2017.05.001. 

Sobre a autora:

Beatriz Nastaro Boschiero

Beatriz Nastaro Boschiero

Especialista em MKT de Conteúdo na Agroadvance

Este post tem 7 comentários

  1. João pena da Fonseca filho

    Muito bom

    1. José Evanio Vieira

      Muito esclarecedor e didático. Excelente.

    2. Ney Alves

      Olá. Fiquei com dúvida sobre os carvões. São biográficos mas sobrevivem em sementes e no solo ?

  2. Rosimar Goulart

    Excelente!!!
    Matéria de alta relevância!

    Parabéns!!

    1. Armando

      Interessante material, conteúdo importante , parabéns!

  3. Hugo Vieira

    Excelente material…didático e objetivo

    1. André Luiz romão

      Conteúdo muito bom
      Excelente matéria
      Parabéns

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