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Isoporização dos colmos da cana: O que é, quais as 2 principais causas e como manejar?

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A isoporização dos colmos da cana-de-açúcar também conhecida como chochamento, que é o resultado principalmente do processo de florescimento da cultura, está atrelada com a variedade genética da cana, sendo percebida no campo agora entre os meses de maio e junho. Embora em algumas condições possa não afetar tanto a produtividade, em outras as perdas podem chegar a 30%.  

isoporização dos colmos da cana

    

O que é Isoporização da cana?  

O que é A isoporização do colmo da cana-de-açúcar é uma desidratação dos tecidos no colmo, que ao perderem água vão adquirindo a coloração branca e o aspecto isoporizado (CAPUTO el a., 2007).   

Esse fenômeno se inicia nas partes internas do colmo, evoluindo para a periferia dependendo do grau de isoporização atingido.   

Ao longo do comprimento, essa evolução se dá da ponta da planta para a base (raízes), e muda conforme a variedade de cana-de-açúcar utilizada.   

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 O que causa a isoporização dos colmos?  

A isoporização do colmo também conhecida como chochamento é um fenômeno causado principalmente pela combinação de dois fatores:   

  • o processo de formação da panícula durante o florescimento da cana-de-açúcar; 6 
  • às características genéticas das variedades utilizadas.  

 Na maioria das vezes a isoporização ocorre em variedades de cana-de-açúcar sensíveis ao florescimento, que tem a emissão da panícula em condições ambientais favoráveis. O florescimento intensifica a isoporização do colmo.  

Embora seja menos comum, outros fatores, isolados ou em conjunto também podem ser responsáveis pela isoporização do colmo, como: déficit hídrico (seca), presença de pragas e/ou doenças e má nutrição. Assim, é possível que a cana-de-açúcar não floresça, mas, ainda assim, apresente colmos isoporizados.  

níveis de isoporização do colmo

Figura 1. Níveis crescentes de isoporização do colmo. Foto: Copersucar.​ 

O processo de florescimento da cana-de-açúcar: quando a cana pendoa?  

O florescimento da cana-de-açúcar é um processo indesejado, uma vez que a formação da panícula drena grande quantidade de água e açúcares do colmo – reduzindo o teor de açúcar e a quantidade do caldo a ser extraído.  

Os três principais fatores que favorecem o florescimento da cana-de-açúcar são (ARALDi et al., 2010):  

  1. Fotoperíodo (quantidade de radiação solar durante o dia em relação à noite) variando de 12 a 12,5 horas por dia favorece o florescimento.  
  1. Redução das temperaturas do ar: temperaturas noturnas abaixo de 18°C por períodos maiores do que 10 dias e diurnas abaixo de 31ºC favorecem o florescimento.  
  1. Umidade adequada do solo favorece o florescimento enquanto o estresse hídrico inibe o florescimento. Quando a estiagem é incidente nos meses de indução floral (fevereiro a março) o florescimento permanece desfavorecido.  

Esses fatores, por sua vez, sofrem influência da latitude. De maneira geral, podemos dizer que o florescimento dos canaviais brasileiros é favorecido no período de: 

  • Fevereiro a março na região centro-sul do Brasil  
  • Janeiro a março nas regiões do Nordeste brasileiro  

O processo de indução floral (alteração do balanço hormonal), formação e emissão de panículas da cana-de-açúcar demanda aproximadamente 60 dias (ARALDI et al., 2010).   

Assim, o grau de isoporização dos colmos começa a ocorrer muito antes da inflorescência se tornar visível a campo. Quando as plantas florescem a isoporização atinge sua maior expressão.  

Características genéticas das variedades de cana-de-açúcar  

Nos programas de melhoramento genético de cana-de-açúcar, as variedades são selecionadas contra a floração, pois este é um atributo indesejável, que pode causar perdas de rendimento da cultura.   

De maneira geral, o plantio de variedades com maior tendência ao florescimento pode ser evitado em ambientes com características climáticas propícias à emissão da panícula. Assim, utilizando-se da seleção de variedades adaptadas à região de interesse em um programa de melhoramento genético, o produtor consegue eliminar esse problema.   

Ainda assim, algumas variedades utilizadas comercialmente podem ser sensíveis ao florescimento, em algumas condições climáticas.  

Nesses casos a utilização de inibidores de maturação pode ser uma alternativa de manejo para evitar o florescimento e favorecer o acúmulo de sacarose no colmo.   

Quais as consequências/danos da isoporização?  

A isoporização do colmo é devido à perda de água. Assim, uma redução da produtividade é esperada por conta da redução do volume do caldo.  

De acordo com Ruiz (2014), estima-se que nas variedades floríferas colhidas em meio e final de safra que não tenham o florescimento inibido com o uso de maturadores, as perdas podem chegar a 30% (t/ha); valores bastante significativo.  

A perda de água do colmo, contudo, não implica necessariamente na perda de açúcar, pois a sacarose fica armazenado nos colmos. Análise de diversos experimentos observou que a pol na cana continuou inalterada ou até crescente com o tempo, mesmo com a presença de “isoporização” a níveis de 20-60% dos internódios (BARBIERI & SILVA, 2011).  

Aumentos nos teores de fibra, açúcares redutores e acidez, apenas foram verificados nos casos em que o diâmetro da área isoporizada ultrapassou 50 % do diâmetro do colmo (SILVA NETO et al., 2011).  

Assim, o nível de isoporização parece interferir na perda de qualidade, e somente em intensa isoporização do colmo é que se verifica redução drástica na qualidade do caldo.  

A isoporização também afeta a indústria: a cana isoporizada tem maior possibilidade de contaminação microbiológica, maior quantidade de fibra e menor quantidade de água, o que prejudica seu processamento na indústria e gera menor retorno econômico na extração.   

A redução do volume de caldo resultante do aumento do teor de fibras que aumentam também a produção de bagaço (ARALDI et al., 2010).   

Como evitar os danos de isoporização da cana-de-açúcar?  

Para o produtor evitar a isoporização do colmo ele precisa se programar.   

Existem basicamente dois passos para evitar os danos causados pela isoporização da cana de açúcar: o primeiro é a escolha de variedades que possuam menor probabilidade de isoporizar, e a segunda é utilizar-se do manejo com o uso de inibidores de maturação para evitar o florescimento de variedades susceptíveis quando em condições favoráveis.  

A maior dificuldade para o produtor no segundo caso é perceber quando a cana-de-açúcar inicia seu período de florescimento, uma vez que no período entre o início da formação da panícula e a emissão da panícula no campo demora cerca de 60 dias. O início da formação da panícula não é visível a campo. É preciso cortar o palmito no meio para vê-lo, e muitas vezes o produtor não faz isso a campo.  

Contudo, a detecção desse momento no campo é essencial para o produtor possa realizar um manejo de modo a evitar a floração da cultura. Isso porque, no início da safra há a opção de utilização de maturadores para evitar o florescimento da cultura, além de promover o acúmulo de sacarose nos colmos.  

 O uso de reguladores de crescimento é uma das principais estratégias utilizadas para prevenir o florescimento. Contudo a partir do momento em que há a indução floral os maturadores já não fazem mais efeito. O produtor precisa entrar com maturadores ANTES que a indução floral ocorra.   

Ou seja, para as condições centro-sul brasileiras, os maturadores devem ser aplicados entre os meses de fevereiro e março, para que sejam efetivos, evitem o florescimento e antecipem o acúmulo de sacarose pela planta.  

Para os casos em que a cana-de-açúcar tenha entrado em processo de florescimento, pode-se, como alternativa, avaliar a possibilidade de antecipar a colheita do talhão, a fim de evitar maiores perdas de produtividade.  

Escolher as melhores variedades de cana-de-açúcar e saber manejá-las para alcançar seu máximo potencial produtivo é fundamental para obtenção dos melhores rendimentos e maiores retornos econômicos.  

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Conclusões  

A isoporização do colmo da cana-de-açúcar é a expressão da desidratação dos tecidos do colmo e que irá afetar na qualidade do caldo extraído.   

Este fenômeno é causado na maioria das vezes pelo processo de florescimento em variedades de cana-de-açúcar sensíveis, mas outros fatores podem ser os responsáveis, como: déficit hídrico, problemas com ataque de pragas e/ou doenças e má nutrição.  

Da indução do florescimento à emissão da inflorescência, a cana-de-açúcar demora cerca de 60 dias. A isoporização do colmo ocorre já a partir da indução do florescimento. Assim, quando a inflorescência começa a se tornar visível a campo, o processo de isoporização é irreversível.  

Manejos para evitar tal problema a campo incluem:  uso de variedades de cana-de-açúcar que não sejam sensíveis ao florescimento, além de utilização de maturadores para inibir o florescimento, antes que o processo de indução floral se inicie – entre os meses de janeiro a março na maior parte das regiões produtoras de cana-de-açúcar no Brasil.   

Referências  

ARALDI, R.; SILVA, F.M.L.; ONO, E.O.; RODRIGUES, J.D. Florescimento em cana-de-açúcar. Ciência Rural, v. 40, p. 694-702, 2010.  
BARBIERI, V.; SILVA, F.C. Efeito do florescimento na brotaçao e perfilhamento da cana-de-açúcar (Saccharum spp.). Bioenergia em revista: diálogos. p.118-128. 2011.   

CAPUTO, M. M.; SILVA, M. A.; BEAUCLAIR, E. G. F.; GAVA, G. J. C. Acúmulo de sacarose, produtividade e florescimento de cana-de-açúcar sob reguladores vegetais. Interciência, v.32, n.12, p.834-840. 2007.  

RUIZ, L. Aumentando o ATR e diminuindo o florescimento. v. Cana Online. Nº15. p. 55-63, 2014.  

SILVA NETO, H.F.; MARQUES, M.O.; TASSO JUNIOR, L.C.; CAMILOTTI, F.; BERNARDI, J.H. Influência do florescimento e grau de isoporização na qualidade de variedades de cana-de-açúcar aptas a industrialização no meio de safra. Bioscience Journal. v. 27, p. 1-7, 2011.  Disponível em: https://docs.bvsalud.org/biblioref/2018/08/911718/influencia-do-florescimento-e-grau-de-isoporizacao-na-qualidade_BgVtm4w.pdf. Acesso: 11 jan 2024

Sobre a autora:

Beatriz Nastaro Boschiero

Beatriz Nastaro Boschiero

Especialista em MKT de Conteúdo na Agroadvance

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