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2 ferrugens que afetam a cana-de-açúcar: marrom e alaranjada

Atualizado: 18/10/2023

A ferrugem marrom e a ferrugem alaranjada são doenças importantes da cana-de-açúcar e podem causar perdas expressivas em variedades suscetíveis.

Como outras ferrugens, são causadas por fungos biotróficos (que necessitam dos tecidos vivos da planta hospedeira para se desenvolverem) e são disseminadas a longas distâncias facilmente pelo vento.

No campo, as ferrugens são doenças que interferem na fotossíntese das plantas, prejudicando o acúmulo de fotoassimilados e reduzindo a produtividade.

Devido a estas características e à presença de folhas verdes de cana no campo durante quase todo o ano, o manejo pode ser difícil quando empregadas cultivares suscetíveis.

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Ferrugem marrom ou ferrugem comum

Causada pelo fungo Puccinia melanocephala, está presente no Brasil desde meados da década de 80 (Tokeshi; Rago, 2005).

Seus sintomas se iniciam com lesões na forma de pontuações cloróticas conhecidas como “flecks”, que evoluem para manchas alongadas de cor amarelada que podem ser observadas em ambas as faces da folha (Santiago; Rosseto).

Essas manchas se tornam marrons com um halo amarelo pálido, com a formação de pústulas (lesões salientes) na face inferior da folha (Simon et al., 2016), medindo 1 mm de largura por 2 a 7 mm de comprimento (Tokeshi; Rago, 2005) e coloração que pode variar entre laranja, marrom-avermelhado e marrom-escuro (Ferrari et al., 2013) (Figura 1).

ferrugens da cana: ferrugem marrom na cana
Figura 1. Sintomas da ferrugem marrom da cana-de-açúcar (Puccinia melanocephala). Fonte: RIDESA.

As estruturas reprodutivas do fungo que são responsáveis pelas epidemias, esporos chamados uredósporos, emergem das pústulas. Quando se passa a mão nas pústulas, os uredósporos saem nos dedos, como um pó cor de ferrugem.  

Os uredósporos são disseminados principalmente pelo vento. Após serem depositados sobre tecido foliar sadio, possuem a germinação favorecida pela presença de água e por temperaturas entre 20 e 25 oC e necessitam da presença de água livre na superfície da folha por ao menos 8 horas para que ocorra a infecção (Tokeshi; Rago, 2005).

Novas infecções darão origem a novas pústulas. A doença provoca redução da área fotossintética, o que resulta em crescimento retardado, morte de perfilhos, redução do diâmetro de colmos e encurtamento dos entrenós (Santiago; Rosseto).

A máxima suscetibilidade ocorre em plantas com 3 a 6 meses de idade e a maturação costuma ser acompanhada da recuperação da planta (Santiago; Rosseto).

Ferrugem alaranjadas

A doença causada pelo fungo Puccinia kuehnii teve suas primeiras ocorrências detectadas no país em 2010 (Ferrari et al., 2013). Seus sintomas se iniciam com pontuações cloróticas (“flecks”), que aumentam de tamanho formando manchas com halo, que adquirem coloração laranja ou castanho-alaranjada (Figura 2 e Figura 3).

ferrugem alaranjada na cana
Figura 2. Sintomas da ferrugem alaranjada da cana-de-açúcar (Puccinia kuehnii). Fonte: RIDESA.

As pústulas se formam normalmente na face inferior da folha e mais perto da bainha e são menores que as causadas pela ferrugem marrom, medindo até 4 mm de comprimento. Sob alta severidade da doença, ocorre a necrose das folhas a partir das bordas (Ferrari et al., 2013).

Os uredósporos de P. kuehnii, que emergem das pústulas, possuem coloração amarelo-alaranjada. Assim como para a ferrugem marrom, quando se passa a mão nas pústulas, os uredósporos saem nos dedos, como um pó de cor laranja no caso da ferrugem alaranjada. 

A disseminação destes esporos ocorre principalmente pelo vento, em temperaturas entre 19 e 26 °C e sob alta umidade relativa do ar (Ferrari et al., 2013). Perdas de produtividade de aproximadamente 40% são atribuídas à doença (Magarey, 2010).

ferrugens da cana: ferrugem alaranjada na cana

Figura 3. Cana-de-açcar com sintomas de ferrugem alaranjada (Puccinia kuehnii): Folhas com pústulas alaranjadas e necrose dos bordos. Fonte: Cruz, 2015.

Diferenças entre a ferrugem marrom e alaranjada

Algumas diferenças entre a ferrugem marrom e a ferrugem alaranjada da cana-de-açúcar foram evidenciadas pelos pesquisadores do Instituto Biológico que realizaram as primeiras descrições da ferrugem alaranjada no Brasil (Ferrari et al., 2013), e são apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1. Diferenças entre a ferrugem marrom (P. melanocephala) e a ferrugem alaranjada (P. kuehnii).

diferença entre a ferrugem marrom e ferrugem alaranjada na cana

Identificar qual ferrugem está ocorrendo em uma área é importante para reconhecer uma possível quebra de resistência de uma variedade, para empregar o controle químico corretamente nos casos em que for aplicável ou para planejar a próxima variedade que será alocada ao talhão no momento da reforma.

Manejo das ferrugens da cana-de-açúcar

O uso de variedades resistentes é a melhor estratégia de manejo tanto da ferrugem marrom, quanto da ferrugem alaranjada da cana-de-açúcar. Existem 15 fungicidas registrados para o controle da ferrugem marrom e 32 para a ferrugem laranja (AGROFIT), no entanto, deve-se avaliar se a realização do controle químico é viável economicamente.

Quando viável, o controle químico deverá ser adotado em situações pontuais e a curto prazo, ou até o momento da substituição da variedade suscetível por outra com maior resistência ou tolerância (Cruz, 2015), sempre realizando a rotação de produtos de diferentes modos de ação se houver mais de uma aplicação.

De acordo com dados disponíveis em estudos de reação varietal às ferrugens e em materiais técnicos das instituições responsáveis pelo desenvolvimento das variedades, foram reunidas informações relativas à resistência ou tolerância de algumas variedades (Tabela 2).

Tabela 2. Lista de variedades de cana-de-açúcar resistentes e tolerantes às ferrugens marrom e alaranjadas.

A adoção de cultivares suscetíveis não tolerantes pode ser realizada em áreas ou regiões com condições de menor favorabilidade climática à ocorrência das ferrugens.

Por exemplo, no oeste do estado de São Paulo, há baixo risco para a ocorrência da ferrugem alaranjada da cana-de-açúcar devido à baixa favorabilidade à doença nesta região (Sentelhas et al., 2016) (Figura 4). De modo análogo, é recomendada a alocação de variedades resistentes em áreas de maior favorabilidade à doença.

zonas de ferrugem na cana
Figura 4. Zonas de favorabilidade agro-climática para a ocorrência da ferrugem alaranjada da cana-de-açúcar no estado de São Paulo. Fonte: Sentelhas et al., 2016.

A evasão, realizada por meio da escolha da época de plantio e colheita quando utilizadas cultivares suscetíveis, é outra estratégia de manejo que pode ser adotada. Por exemplo, o CTC sugere que a variedade CTC 4 não seja plantada entre janeiro e fevereiro e não seja colhida a partir de setembro para se obter maior tolerância à ferrugem marrom.

Deste modo, evita-se que plantas ou soqueiras jovens (mais suscetíveis) estejam no campo na época das chuvas, quando as condições ambientais favorecem o estabelecimento de novas infecções do patógeno.

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Considerações

Quanto mais diversificadas as variedades em uma área de cultivo, menores são as chances de perdas de produção devido às ferrugens e também a outras doenças.

Mesmo com o uso de variedades resistentes a uma dada doença, a mutação do patógeno e posterior seleção das variantes capazes de quebrar a resistência, pode levar a severas epidemias e perdas de produtividade.

Com a diversificação, a chance de que perdas devido à quebra da resistência ocorram em áreas extensas é minimizada.

Referências

AGROFIT. Informações sobre agrotóxicos fitossanitários registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Disponível em: <https://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons> Acesso em 06/03/2021.

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CHAPOLA, R. G., HOFFMANN, H. P.; MASSOLA, N. S. Reaction of sugarcane varieties to orange rust (Puccinia kuehnii) and methods for rapid identification of resistant genotypes. Trop. plant pathol., v.41, p.139–146, 2016. Disponível em: <https://doi.org/10.1007/s40858-016-0076-6> Acesso em 06/03/2021.

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CTC. Pragas e doenças da cana-de-açúcar. Disponível em: <https://ctc.com.br/produtos/wp-content/uploads/2018/07/Caderneta-de-Pragas-e-Doen%C3%A7as-da-Cana-de-a%C3%A7%C3%BAcar-CTC.pdf> Acesso em 06/03/2021.

FERRARI, J. T.; HARAKAVA, R.; DOMINGUES, R.J.; TERÇARIOL, I.M.L.; TÖFOLI J.G. Ferrugem alaranjada da cana-de-açúcar no Brasil. O Biológico, São Paulo, v.75, n.1, p.71-74, 2013. Disponível em: https://www.biologico.agricultura.sp.gov.br/uploads/docs/bio/v75_1/ferrari.pdf Acesso em 06/03/2021.

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MAGAREY, R. C. Orange rust disease of sugarcane. Proc. Int. Soc. Sugar Cane Technol.,Vol. 27, 2010. Disponível em: <https://www.atamexico.com.mx/wp-content/uploads/2017/11/PATOLOGY-20-Magarey.pdf> Acesso em 06/03/2021.

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TOKESHI, H.; RAGO, A. Doenças da cana-de-açúcar. In: KIMATI, H.; AMORIM, L.; REZENDE, J. A. M; FILHO, A. B.; CAMARGO, L. E. A. Manual de fitopatologia: doenças das plantas cultivadas. 4. ed. São Paulo: Ceres, 2005. cap. 21, p. 185-196.

Este texto é opinião do autor, não reflete necessariamente opinião da Agroadvance.

Sobre a autora:

Atualizado por: Beatriz Nastaro Boschiero (Chefe-editorial Agroadvance)

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