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Braquiárias: O potencial das gramíneas forrageiras para o cultivo de pastagens durante os períodos de outono e inverno

Descubra como as braquiárias se tornaram uma opção vantajosa para os agricultores durante os períodos de outono e inverno. Saiba como essas gramíneas forrageiras são cultivadas em extensas áreas agrícolas, protegendo o solo da erosão, melhorando sua qualidade e ciclagem de nutrientes, e contribuindo para o aumento da produtividade de culturas comerciais. Explore as possibilidades de cultivo em monocultura ou em consórcio com outras culturas, e como as braquiárias oferecem benefícios para a produção de grãos e carne, promovendo a sustentabilidade na agricultura.

Atualizado: 12/07/2023

Introdução

No período de outono e inverno, muitos agricultores têm optado pelo cultivo de pastagens com a utilização das braquiárias. Extensas áreas agrícolas para produção de carne e de grãos são cultivadas com essas gramíneas forrageiras, seja para pastagem em sistemas de integração lavoura-pecuária ou como plantas de cobertura em sucessão ou consórcio com culturas comerciais (milho, soja, arroz, feijão).

O cultivo dessas plantas do gênero Urochloa são vantajosos em regiões com invernos secos e baixa pluviosidade, uma vez que estas forrageiras têm adequado desenvolvimento vegetativo e boa produtividade em regiões de condições adversas, onde a maioria das culturas de inverno tem seu crescimento afetado negativamente e, muitas vezes, não produzem adequadamente e o solo acaba por ficar exposto sem cobertura vegetal durante esse período.

Em comparação com solos abandonados ou sem cultivo, as braquiárias diminuem o risco de erosão e protegem a superfície do solo, uma vez que a ausência de cobertura é um problema por muitas vezes resultar em perdas dos nutrientes por escorrimento superficial ou lixiviação para camadas mais profundas do solo.

Braquiárias são plantas estoloníferas, com alta produção de massa seca e ampla adaptação aos tipos de solos. Em geral, as doenças não são limitantes à produtividade da cultura e seu crescimento é bem distribuído durante o ano.

O sistema radicular profundo e agressivo das braquiárias gera melhorias na qualidade física e na matéria orgânica (MO) do solo, na ciclagem de nutrientes de camadas mais profundas do solo e consequente alta produção de palhada para a cultura sucedânea quando cultivada em sistema semeadura direta.

Além disso, a alta produção de biomassa seca (variando de 4 a 20 t/ha) contribui para o aumento da matéria orgânica do solo e a disponibilidade de carbono, nitrogênio e fósforo, bem como a diminuição do uso de herbicidas pela supressão do crescimento das plantas daninhas.

Entretanto, é importante lembrar que para obtenção dos benefícios das braquiárias, o manejo das plantas desde a semeadura até o cultivo da cultura em sucessão e o sistema de produção adotado são fundamentais para o incremento das produtividades nos agroecossistemas, dependendo se estas plantas são cultivadas em monocultivo ou consorciadas (Figura 1).

Figura 1. Ilustração dos sistemas de produção com o cultivo das braquiárias em monocultura e consorciada em rotação de culturas e os dois sistemas combinados com a pecuária.

Planta de cobertura em rotação de culturas

A introdução de gramíneas forrageiras como produtoras de resíduo vegetal, no sistema agrícola em que há plantio de soja, é realizada geralmente após o cultivo desta cultura. Seu emprego é uma alternativa para formação de palhada para a safra de verão quando há a escassez de cobertura vegetal sob a superfície do solo.

Em geral, outras culturas, como a aveia, milheto e o milho-segunda safra, também são produtoras de palhada, porém com características de curta duração como cobertura do solo.

Em contrapartida, os resíduos vegetais das braquiárias podem permanecer por um tempo maior por ter uma relação carbono/nitrogênio (C/N) mais alta, ou seja, a decomposição desses resíduos pelos microrganismos do solo é mais lenta, mesmo com aumento da temperatura.

As uso de braquiárias com culturas comerciais no sistema de produção elevam o carbono orgânico total do solo e melhoram o estoque de carbono orgânico particulado e o carbono da biomassa microbiana, devido ao seu impacto nas camadas superficiais e nas mais profundas do solo (Castro et al., 2014).

O aporte de palha nos sistemas de produção pode chegar a aproximadamente 70 t/ha acumulado em seis anos (Castro e Crusciol, 2011). Assim, a palhada da braquiária mantida no solo tem alto potencial de ciclagem de nutrientes pois o material mineraliza macro e micronutrientes através do processo de decomposição microbiana após a dessecação da forrageira para a cultura em sucessão.

O resultado é a obtenção de maiores produtividades de grãos (Oliveira et al., 2018; Tanaka et al., 2019; Momesso et al., 20119, 2020). Dessa maneira, as espécies de braquiárias são ótimas opções para rotacionar e incrementar as produtividades de grãos.

Consórcio de braquiária com culturas anuais

A implantação consorciada de braquiária com outra espécie é realizada com o cultivo simultâneo da forrageira com outra cultura, por exemplo a soja, o milho e o arroz de terras altas. A escolha da cultura a ser consorciada depende do objetivo do produtor, e é imprescindível para determinar a adequada época de semeadura.

No caso da soja, a braquiária deve ser semeada após o estádio R5 da soja para que não ocasione perdas na produtividade de grãos da cultura, pois a braquiária germinará no mesmo período em que ocorre o enchimento de grãos de soja e não resultará em forte competição por nutrientes entre as duas espécies.

O consorcio braquiária e milho-segunda safra também tem sido uma alternativa para garantir maior produtividade dos sistemas, principalmente em sucessão a cultura da soja.

Nesse caso, geralmente a semeadura da braquiária ocorre na mesma época do milho-segunda safra e requer maior cuidado do que na implantação de milho safra pela menor disponibilidade hídrica na época de semeadura e cultivo no outono-inverno (Ceccon et al., 2009, 2012).

A adubação do consórcio é feita de acordo com os mesmos critérios técnicos do milho solteiro. Além disso, o objetivo ao consorciar milho-segunda safra e braquiária determina qual será a população e distribuição de plantas a ser utilizada, nas quais as menores populações da forrageira são utilizadas para produção de palhada e, maiores populações, para pastagem.

Nas semeaduras com maiores populações, o crescimento das braquiárias é controlado com a aplicação de herbicida no período inicial de modo a evitar prejuízos na produtividade de grãos do milho-segunda safra.

A braquiária em consórcio com outras espécies proporciona melhora nos agregados e na estruturação do solo, bem como a descompactação do solo e melhora nas suas características químicas de pH, MO, fosforo, potássio, enxofre, cálcio, magnésio e saturação por bases das camadas superficiais até as mais profundas (Borghi et al., 2007; Bossolani et al., 2020).

Assim, o sistema de produção de soja, milho safra e segunda safra com braquiária tem relevante importância na sustentabilidade dos cultivos agrícolas por afetar positivamente a estrutura física e química do solo, proporcionando benefícios para as culturas comerciais e o sistema como um todo.

Considerações finais

Tanto no sistema de rotação com braquiárias em monocultura como em consórcio com outras culturas comerciais, a forrageira pode ser utilizada como cobertura vegetal ou suplementação alimentar para produção de animais (gado, ovinos, entre outros) nos sistemas de integração-lavoura-pecuária com o objetivo de aumentar os rendimentos do sistema de produção (Morais et al., 2019).

Após o cultivo em consórcio e a colheita da cultura de verão ou de inverno, o manejo da forrageira, seja capina química (uso de herbicidas de contato), roçagem ou pastejo por animais, é recomendado para que haja estimulação da rebrota e maior desenvolvimento do sistema radicular da braquiária.

A utilização de braquiárias nos sistemas produtivos torna-se uma importante alternativa para incremento de produtividades em várias regiões do Brasil, contribuindo para a diversificação das atividades na propriedade e garantindo lucratividade ao produtor.

Essa prática minimiza perdas de nutrientes e erosão do solo, através da sua função de planta de cobertura tanto em monocultura como em consórcio, e melhora as características físicas e químicas do solo.

O objetivo do agricultor é que vai determinar a escolha da modalidade do tipo de cultivo, dependendo da disponibilidade de investimento em sementes, época de implantação do sistema produtivo, disponibilidade de máquinas para semeadura e região a ser semeada a braquiária.

Por fim, a manutenção e ciclagem de nutrientes por essas plantas é um elemento chave para obter incrementos nas produtividades das culturas da soja, milho, arroz, entre outras, e para promover uma maior sustentabilidade na produção de alimentos, no uso da terra por metro quadrado e na produção de grãos e carne.

Referências

Borghi, E. Produção do milho em função da época de consorciação com Brachiaria brizantha e Panicum maximum em plantio direto e respostas das forrageiras à adubação nitrogenada (15N). 2007. Tese (Doutorado em Agronomia – Agricultura – Botucatu) – Faculdade de Ciências Agronômicas Campus de Botucatu Unesp, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Orientador: Carlos Alexandre Costa Crusciol.

Bossolani, J.W., Santos, F.L., Meneghette, H.H.A., Sanches, I.R., Moretti, L.G., Parra, L.F., Lazarini, E., 2020. Journal of Soil Science and Plant Nutrition. https://doi.org/10.1007/s42729-020-00347-2

Castro, G.S.A., Crusciol, C.A.C., Calonego, J.C., Rosolem, C.A., 2014. Management impacts on soil organic matter of tropical soils. Vadose Zone J. https://doi.org/10.2136/vzj2014.07.0093

Castro, G.S.A., Crusciol, C.A.C., 2015. Effects of surface application of dolomitic limestone and calcium-magnesium silicate on soybean and maize in rotation with green manure in a tropical region. Bragantia, 74, 311-321. https://doi.org/10.1590/1678-4499.0346

Ceccon, G., 2013. Consório milho-braquiária. Brasília, DF: Embrapa. ISBN: 78-85-7035-27-3. 175p.

Momesso, L., Crusciol, C.A.C., Soratto, R.P., Tanaka, K.S., Costa, C.H.M., Cantarella, H., Kuramae, E.E., 2020. Upland rice yield enhanced by early nitrogen fertilization on previous palisade grass. Nutr Cycl Agroecosyst 118, 115–131. https://doi.org/10.1007/s10705-020-10088-4

Momesso, L., Crusciol, C.A.C., Soratto, R.P., Vyn, T.J., Tanaka, K.S., Costa, C.H.M., Ferrari Neto, J., Cantarella, H., 2019. Impacts of nitrogen management on no-till maize production following forage cover crops. Agron J 111:639–649. https://doi.org/10.2134/agronj2018.03.0201

Moraes, A., Carvalho, P.C.F., Crusciol, C.A.C., Lang, C.R., Pariz, C.M., Deiss, L., Sulc, R.

M., 2019. Chapter 16 – Integrated crop-livestock systems as a solution facing the destruction of pampa and cerrado biomes in south america by intensive monoculture systems. https://doi.org/10.1016/B978-0-12-811050-8.00016-9

Oliveira, S.M., Almeida, R.E.M., Ciampitti, I.A., Pierozan Junior, C., Lago, B.C., Trivelin, P.C.O., Favarin, J.L., 2018. Understanding N timing in corn yield and fertilizer N recovery: An insight from an isotopic labeled-N determination. PLoS ONE 13(2):e0192776. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0192776

Tanaka, K.S., Crusciol, C.A.C., Soratto, R.P., Momesso, L., Costa, C.H.M., Franzluebbers, A.J., Oliveira Junior, A., Calonego, J.C., 2019. Nutrients released by Urochloa cover crops prior to soybean. Nutr Cycl Agroecosyst 113, 267–281. https://doi.org/10.1007/s10705-019-09980-5

Esse texto é opinião do autor e não reflete, necessariamente, a posição da Agroadvance.

Sobre a autora:

Atualizado por: Beatriz Nastaro Boschiero (Editora-chefe Agroadvance)

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