O desenvolvimento de protocolos de inseminação artificial em tempo fixo (IATF) tem sido uma das biotecnologias aplicadas à reprodução animal mais pesquisadas e aplicadas nos últimos anos. A busca por uma sincronização precisa entre a manipulação hormonal e a fisiologia animal, visando o aumento dos índices de fertilidade, fomenta uma série de estudos e experimentos na área. A tecnologia é uma grande aliada em busca do melhoramento genético do rebanho, melhores índices zootécnicos e – consequentemente – maior desempenho financeiro da propriedade.
A IATF é uma técnica que se baseia na sincronização da ovulação das matrizes através de tratamentos hormonais e o seu uso proporciona um aumento na taxa de serviços e elimina a necessidade da observação de cio. Nessa linha, diversos protocolos de sincronização de ovulação têm sido desenvolvidos na tentativa de aumentar a eficiência reprodutiva em bovinos de corte e – independente do protocolo que será utilizado – o objetivo sempre será o de otimizar a eficiência reprodutiva do rebanho bovino.
Manipulação do ciclo estral
Os programas de IATF se tornaram praticáveis graças aos métodos farmacológicos de controle do ciclo estral das matrizes. Tais métodos, tornaram possível:
a) a sincronização da emergência de uma nova onda folicular através da indução da ovulação, com hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH) ou da atresia folicular, com a utilização de P4 (progesterona) e E2 (estradiol);
b) o controle da duração desta onda de crescimento folicular até o estágio pré-ovulatório;
c) a sincronização da inserção e da retirada da fonte de P4 exógena e endógena e;
d) a indução da ovulação sincronizada em todas as matrizes simultaneamente.
Protocolo de IATF no Brasil
O protocolo de IATF em gado de corte mais utilizado no Brasil é a base de estrógeno e progesterona. A associação de progesterona, liberada por um implante intravaginal podendo ele ser de diferentes concentrações induz a regressão dos folículos em crescimento presentes no ovário, independente do momento em que eles estejam.
Protocolos iniciados com progesterona e estradiol, em vacas de corte, tem uma taxa de sincronização de desenvolvimento folicular de 90%, são economicamente atrativos e induzem a emergência de uma nova onda folicular entre três ou quatro dias após a aplicação. O resultado é o aumento das taxas de concepção sem a necessidade de detecção de cio.
Dados sobre IATF
Pelos seus benefícios e pela facilidade da implantação, a inseminação artificial se popularizou no Brasil a ponto de transformar o País no expoente da tecnologia em todo o mundo. Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC) (2022), no ano de 2021, a pecuária movimentou R$913,14 bi, um aumento de mais de 20% em relação ao ano anterior, evidenciando a força do setor.
Desse total movimentado, R$127,08 bi tiveram como origem “insumos e serviços para produção pecuária”, e dentro dessa parcela a categoria “protocolos, materiais e sêmen” resultou em um total de R$1.539,3 milhões movimentados, o que representa um crescimento de 41,8% em relação ao valor de 2020.
Também em 2021, de acordo com a Associação Brasileira de Inseminação Artificial (ASBIA), aproximadamente 19,9 milhões de doses de sêmen com aptidão para corte foram comercializadas no Brasil, sendo que 26% de todas as matrizes do rebanho de corte brasileiro foram inseminadas, tal porcentagem é recorde.
Gráfico 1 – Total de doses aptidão corte vendidas. Fonte: Associação Brasileira de Inseminação Artificial; Cepea – Esalq/USP. Elaboração: Cepea – Esalq/USP.
Gráfico 2 – Percentual de vacas inseminadas no Brasil. Fonte: Fonte: Associação Brasileira de Inseminação Artificial; Cepea – Esalq/USP. Elaboração: Cepea – Esalq/USP.
Crescimento de IATF no mercado de Inseminação Artificial
Buscando estimar a expansão da IATF no mercado de IA (inseminação artificial), o Departamento de Reprodução Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP) elabora desde 2002 um boletim técnico eletrônico.
Segundo esse levantamento, entre os anos de 2002 e 2021, a utilização da IATF teve uma taxa de crescimento anual de 34,1%. Em 2021, segundo os dados publicados, 26.480.025 protocolos foram comercializados no Brasil, verificando-se um aumento de 24,6%, em relação ao ano de 2020 e indicando que aproximadamente 93,3% das inseminações realizadas no Brasil em 2021 foram realizadas via a técnica da IATF.
Gráfico 3 – Número de inseminações artificiais efetuadas (IA; número doses de sêmen comercializado levando em consideração o Index ASBIA de 2002 a 2021, corrigido para 100% do mercado), número de IATFs realizadas (informações disponibilizadas pela indústria de produtos farmacêuticos veterinários) e proporção de IATF em relação ao número de inseminações efetuadas no Brasil de 2002 a 2021. OBS: Em 2021, 93,3% das inseminações em bovinos foram realizadas por IATF e 6,7% por detecção de cio. Fonte: Boletim Eletrônico do Departamento de Reprodução Animal/FMVZ/USP, 6a ed., 2022.
Gráfico 4 – Taxa anual de crescimento (%) da IATF (considerando o ano anterior como referência) no período de 2002 a 2021. OBS: O número de IATFs realizadas no Brasil foi calculado com informações disponibilizadas pela indústria de produtos farmacêuticos veterinários. Fonte: Boletim Eletrônico do Departamento de Reprodução Animal/FMVZ/USP, 6a ed., 2022.
Aquecimento da área de reprodução animal
Tais dados evidenciam que a área da reprodução animal de bovinos vive um momento extremamente aquecido em relação à busca de tecnologias, se destacando inclusive dentro do setor pecuário como um todo.
Todavia, mesmo com esse aumento expressivo de matrizes inseminadas e da quantidade de protocolos de IATF comercializados, ainda há muito espaço e mercado para essa tendência continuar ao longo dos próximos anos, visto que aproximadamente 74% das matrizes de corte ainda estão em sistemas que só utilizam a monta natural como técnica reprodutiva.
Em uma publicação recente da Forbes com as 10 principais megatendências da pecuária de corte, a biotecnologia se posicionou entre uma das primeiras. Segundo o relatório, a sanidade animal e o melhoramento genético serão fortemente impactados pelas biotecnologias e problemas históricos da atividade serão, se não eliminados, ao menos controlados.
Genética de bovinos de corte
Outra frente que continuará “ganhando corpo” será a genética de bovinos de corte, com ganhos em termos de resistência animal, produtividade, precocidade e qualidade da carne. A publicação destaca que ferramentas de melhoria genética e reprodutiva serão amplamente utilizadas, com destaque à IATF, TE (transferência de embriões), FIV (fertilização in vitro) e edição gênica, assim, os saltos produtivos e de valor da produção de bovinos de corte serão marcantes para a cadeia toda.
Fontes consultadas
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- BARUSELLI, P.S.; SÁ FILHO, M.F.; MARTINS C.M. et al. Superovulation and embryo transfer in Bos indicus cattle. Theriogenology, v.65, p.77-88, 2006.
- BeefReport, Perfil da Pecuária no Brasil. Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), 2021.
- BeefReport, Perfil da Pecuária no Brasil. Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), 2022.
- INDEX ASBIA (Associação Brasileira de Inseminação Artificial), 2022.
- IATF bate mais um recorde e supera 26 milhões de procedimentos em 2021. Edição 6, de 21 de fevereiro de 2022.
- Fachin, H. Uso de GnRH no momento da inseminação artificial como ferramenta para otimizar os resultados de protocolos de IATF em gado de corte.Trabalho de conclusão de curso, Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências Rurais, 2018.
- Megatendências que vão revolucionar a cadeia produtiva da carne bovina. Forbes, 2022. Disponível em: <https://forbes.com.br/forbesagro/2022/02/10-megatendencias-que-vao-revolucionar-a-cadeia-produtiva-da-carne-bovina/>. Acesso em 01/12/2022.
- Pfeifer, L.F.M. Castro, N.A. Melo, V.T.O. Neves, P.M.A. Avaliação de protocolo curto (5 d) de IATF em bovinos de corte, Circular Técnica, Porto Velho (RO), Embrapa, 2014.
- TECNOPEC 2008, Manual técnico sobre sincronização e inseminação artificial em tempo fixo (IATF) em bovinos.