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Adubação foliar para milho

“Descubra a importância da adubação foliar para milho e seus benefícios no crescimento e produtividade da cultura. Saiba como aplicar corretamente os nutrientes via foliar para obter melhores resultados na sua lavoura.

Adubação foliar no plantio de milho

As raízes compõem um sistema especializado na absorção de água e nutrientes, por isso a correção e a adubação via solo são tão importantes para o desenvolvimento satisfatório das culturas. No entanto, são inúmeras as interações que podem ocorrer no solo e indisponibilizar os nutrientes para a absorção radicular.

A adubação via folha existe como alternativa que contorna os problemas decorrentes de interações com o solo, além de permitir que o nutriente seja aplicado diretamente no local e momento em que mais é requerido. Neste texto, iremos abordar algumas práticas utilizadas na adubação foliar do milho, que pode ser feita para fornecer nutrientes de forma suplementar ou como forma de desencadear estímulos fisiológicos que podem potencializar a produção.

Vias de penetração de nutrientes nas folhas

Ao contrário das raízes, que fazem o transporte da seiva bruta pelo xilema, os nutrientes absorvidos via foliar são transportados por meio do floema. É importante conhecer os caminhos que os nutrientes devem percorrer até atingirem o floema, pois somente após atingirem este vaso eles serão transportados aos órgãos drenos e metabolizados.

Os nutrientes podem penetrar nas folhas por meio da cutícula, rachaduras causadas por danos, tricomas, estômatos e poros (Figura 1), em seguida, devem atravessar células do parênquima e a bainha do feixe vascular para atingirem o floema.

Conhecer as vias de penetração é importante para entender a diferença na eficácia dos fertilizantes disponíveis no mercado, uma vez que para atravessar a cutícula os nutrientes devem estar solúveis em água ou na forma de partículas menores que 5 nanômetros. Enquanto partículas maiores que 80 nanômetros não são absorvidas pelos estômatos.

anatomia foliar adubação foliar
Figura 1. Anatomia de uma folha monocotiledônea e vias de penetração de nutrientes.
Fonte: Adaptado de Gomes et al. (2019)

Adubação foliar para milho com micronutrientes

A correção do solo é importante para ajustar o pH em valores que disponibilizem a maioria dos elementos requeridos pelas plantas, mas esta prática geralmente reduz a disponibilidade dos micronutrientes metálicos, ferro (Fe), cobre (Cu), manganês (Mn) e zinco (Zn), na solução do solo (Figura 2).

ph x disponibilidade de nutrientes
Figura 2. Disponibilidade de nutrientes na solução do solo em função do pH.
Fonte: Adaptado de Malavolta (1979).

A adubação foliar com micronutrientes é uma alternativa interessante para contornar efeitos negativos do aumento do pH, pois entrega os nutrientes diretamente na planta, e evita reações indesejadas no solo. É válido lembrar que as folhas não são órgãos especializados em absorção, por isso são menos eficientes que as raízes nesta função.

Deste modo, pequenas quantidades de nutrientes devem ser fornecidas por aplicação, ainda mais porque concentrações elevadas também podem causar fitotoxidez.

Considerando também que os micronutrientes não são remobilizados na cultura do milho, é importante que as aplicações coincidam com momentos estratégicos, de maior requerimento pela cultura.

Na tabela 1, tem-se a recomendação de complementação foliar de micronutrientes no milho, considerando a aplicação prévia de B (0,15 a 0,30%), Cu (0,15 a 0,20%) e Zn (0,40 a 0,50%) junto ao fertilizante N-P-K, via solo, no sulco de semeadura (FANCELLI, 2020).

Tabela 1. Complementação foliar com micronutrientes

NutrienteQuantidade (g ha-1)Época
Zinco*200 a 300V4 a V8
Molibdênio**40 a 80V4 a V8
Cobre10 a 20V6 a V7
Manganês120 a 170V6 a V7
Boro***100 a 150Pré-pendoamento
* Devido à baixa mobilidade do Zn e toxicidade, recomenda-se dividir sua aplicação em 2 a 3 vezes (em V4, V5-V6 e V7-V8); ** O Mo também pode ser fornecido através da aplicação de 25 g ha-1 via tratamento de sementes + 45 g ha-1 via foliar em V4/V6; *** Usar 200 a 300 g ha-1 de B na dessecação.

Na Tabela 2, temos a recomendação de adubação com micronutrientes via foliar segundo Vitti e Mira (2020).

Tabela 2. Recomendação de adubação foliar com com micronutrientes (g ha-1)

EstágioMnZnCuMo
V4506030
V8100602530
Pré-pendoamento10025
Pós-pendoamento25
Total2501207560
Fonte: Vitti e Mira (2020).

Algumas recomendações adicionais quanto ao fornecimento de micronutrientes são:

  • Em áreas alagadas, onde o lençol freático é mais superficial e há excesso de água, o Cu2+ é reduzido a Cu+, que fica indisponível para absorção radicular. Neste caso, recomenda-se a aplicações do nutrientes via folar, de forma parcelada, de acordo com a tabela 2.
  • O Zn é um dos micronutrientes mais limitantes na produção de milho no Brasil. Teores baixos de Zn são encontrados principalmente em solos encharcados na região do Cerrado ou em solos formados sobre rochas sedimentares com baixos teores naturais de Zn. Apesar da necessidade de aplicação deste elemento, em se tratando de adubação foliar, não é recomendado o fornecimento de mais de 120 g ha-1 de Zn por aplicação, devido à possibilidade de ocorrência de fitotoxidez.

Algumas estratégias com macronutrientes

Macronutrientes não devem ser aplicados exclusivamente via adubação foliar, isso porque as folhas não conseguem absorver a quantidade total requerida, mas existem algumas ocasiões em que a aplicação foliar destes nutrientes pode auxiliar no metabolismo da planta.

Por exemplo, a aplicação foliar de 1,5 kg ha-1 de N + 150 g ha-1 de B em conjunto com fungicidas no estádio de pré-pendoamento, tem proporcionado ganhos no peso de grãos, resultando em aumentos de 160 a 310 kg ha-1 (FANCELLI, 2020).

Considerando efeitos positivos do Mg na translocação de fotoassimilados e carboidratos nas plantas, a aplicação foliar deste elemento em estádios reprodutivos pode auxiliar no enchimento de grãos, resultando em maior produtividade.

Segundo Altarugio et al. (2017), a aplicação foliar de 888 g ha-1 de Mg elevou os teores de Mg nas folhas e aumentou em aproximadamente 10% (737 kg ha-1) a produtividade do milho cultivado na região de Uberlândia-MG.

Por isso, Vitti e Mira (2020) recomendam a aplicação de 450 g ha-1 de Mg no pré-pendoamento + 450 g ha-1 de Mg no pós-pendoamento (Tabela 3).

A absorção de Mg também pode ser comprometida em solos com alta saturação de K (o que pode ocorrer devido à aplicação de vinhaça ou uso contínuo de fertilizantes formulados com concentrações elevadas de K). Neste contexto, a adubação foliar de Mg também é altamente recomendada.

Em condições de temperaturas altas, os efeitos do estresse térmico são amenizados quando as plantas apresentam concentrações adequadas de magnésio, o que corrobora a aplicação foliar deste elemento e, também, o correto fornecimento de Mg via solo, de modo a manter teores adequados nas plantas ao longo de todo o desenvolvimento.

Temperaturas elevadas também podem diminuir a atividade da enzima nitrato redutase, que está diretamente ligada à assimilação de N absorvido via nitrato. Neste contexto a aplicação foliar de Mo em V4/V6 + N na forma amoniacal (por exemplo, sulfato de amônio) via solo em cobertura, pode amenizar os efeitos negativos do estresse térmico sobre a assimilação de N.

Adicionalmente, o silício (Si, que é um elemento benéfico) pode amenizar efeitos negativos de altas temperaturas. Segundo Freitas et al. (2011), a aplicação de 217 g ha-1 de Si resultou em maiores concentrações deste elemento nas folhas do milho.

Tabela 3. Recomendação de aplicação foliar com macronutrientes (g ha-1)

EstágioMgN
Pré-pendoamento4501500
Pós-pendoamento450
Total9001500
Fonte: adaptado de Vitti e Mira (2020) e Fancelli (2020).

Fontes para aplicação foliar

A aplicação foliar impede que haja reações de indisponibilização no solo, que podem atrapalhar a absorção de nutrientes pelas plantas.

No entanto, do mesmo modo, reações indesejadas podem ocorrer no tanque de pulverização em função da mistura de produtos, diminuindo também a disponibilidade dos nutrientes, principalmente quando há a mistura de fertilizantes com defensivos agrícolas, como herbicidas, fungicidas e inseticidas.

A vantagem é que, neste caso, a situação é mais fácil de controlar, pois basta fazer a escolha certa das fontes a serem aplicadas.

De modo geral, fertilizantes na forma de sais são muito reativos e a sua mistura com defensivos pode ocasionar em precipitação, entupimento de bicos e perda de eficiência dos produtos envolvidos.

Fosfitos são fontes que podem diminuir o pH da calda de pulverização e por causa disso, em algumas situações, podem diminuir a eficiência de fungicidas quando aplicados em conjunto.

Fontes com baixa solubilidade, como óxidos e carbonatos, podem não reagir quimicamente com outros compostos da calda, mas são dificilmente absorvidas pelas plantas e podem decantar no fundo do tanque em alguns casos.

As fontes mais recomendadas para misturas de tanque tem sido os quelatos, pelo fato de não reagirem com outros componentes em misturas de tanque, não alterarem drasticamente o pH da mistura e serem facilmente absorvidos pelas folhas.

De qualquer forma, é válido ressaltar que estas recomendações são genéricas. Neste caso, cada tanque preparado é um universo particular que deve ser estudado de forma única. Todas as fontes podem ser utilizadas, desde que combinadas de maneira correta, respeitando toda a química envolvida na mistura.

 

Considerações finais

Cada vez mais a adubação foliar tem sido adotada pelos produtores, sendo prática essencial em áreas de alta performance. A adubação foliar na cana-de-açúcar, por exemplo, vem sendo cada vez mais adotadas nos canaviais.

Devido à necessidade de entrar na área para pulverização de defensivos, a aplicação conjunta de fertilizantes diminui o custo da operação, desde que a mistura seja feita de forma adequada.

A resposta à adubação foliar depende de muitos fatores. Quando feita para corrigir sintomas visuais de deficiência pode-se observar respostas positivas a olho nu, no entanto, muitas vezes os ganhos só são perceptíveis na hora da colheita.

Aliás, estudos mostram que quanto mais a planta está bem nutrida, mais facilmente ela absorve nutrientes via folha. Neste sentido, a adubação foliar deve ser adotada como prática para fornecer nutrientes de forma complementar a uma adubação que já foi bem-feita na base.

O maior intuito desta prática deve ser fornecer o nutriente prontamente metabolizável no momento e local em que as plantas mais precisam, muitas vezes como um estímulo fisiológico para facilitar este árduo trabalho que é produção de alimentos em campo aberto.

 

Referências

ALTARUGIO, L. M. et al. Yield performance of soybean and corn subjected to magnesium foliar spray. Pesquisa Agropecuaria Brasileira, v. 52, n. 12, p. 1185–1191, 2017.

FANCELLI, A. L. Fatores nutricionais para milho de alto desempenho. Curso nutrição avançada de soja, milho e algodão. Agroadvance. 2020.

FREITAS, L. B. DE et al. Adubação foliar com silício na cultura do milho. Revista Ceres, v. 58, n. 2, p. 262–267, 2011.

GOMES, M. H. F. et al. In vivo evaluation of Zn foliar uptake and transport in soybean using X-ray absorption and fluorescence spectroscopy. Journal of Agricultural and Food Chemistry, 14 out. 2019.

MALAVOLTA, E. – ABC da Adubação. Editora Agronômica CERES Ltda. São Paulo (SP), 1979. 256 p.

VITTI, G. C.; MIRA, A. B. Fertilizing for High Yield and Quality: Maize. Israel: [s.n.]. v. 1

Este texto é opinião do autor, não reflete necessariamente opinião da Agroadvance.

Sobre a autora:

Este post tem um comentário

  1. Lurdi Borges

    Primeiramente, parabéns pela excelente matéria. Fiquei com dúvida com relação a dose de N. A tabela fala em 1500 g/ha e no texto cita 150 g/ha por hectare.

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