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Como o clima pode afetar a aplicação de herbicidas

Descubra como o clima pode influenciar a aplicação de herbicidas na agricultura. Aprenda sobre os fatores climáticos que devem ser observados, como umidade, temperatura, pluviosidade e vento, e saiba como otimizar suas aplicações para obter resultados eficazes. Leia o artigo completo e esteja preparado para lidar com os desafios climáticos no manejo de culturas e defensivos agrícolas.

Aplicação de herbicida e os efeitos do clima

A agricultura está sujeita a diversos efeitos climáticos, podendo afetar o manejo das culturas como um todo, desde o plantio até a colheita. Além disso, os efeitos climáticos devem ser observados na aplicação de defensivos agrícolas, podendo influenciar os parâmetros de aplicação ou até mesmo o impossibilitando-a em alguns casos. Para a otimização das aplicações de herbicidas devem ser observados todos esses fatores a fim de minimizar prejuízos, aumentar a eficácia dos produtos e evitar problemas provindos de perdas por deriva e evaporação (SHIRATSUCHI; FONTES, 2002).

Para isso, a tecnologia de aplicação de defensivos vem sendo cada mais aprimorada ao longo dos anos. A tecnologia de aplicação consiste no emprego de todos os conhecimentos técnicos/científicos que proporcionem a correta colocação do produto biologicamente ativo no alvo, em quantidade necessária, de forma econômica e com o mínimo de contaminação de outras áreas (MATUO, 1998). Portanto, observar as recomendações nas aplicações devem diminuir custos de produção ao passo que irá aumentar a eficiência das aplicações. Estima-se que os custos com defensivos agrícolas possam chegar a 30% das despesas gerais da produção (JACTO, 2019), demonstrando, assim, a importância se aplicar apropriadamente.

Dentre os fatores que podem influenciar as aplicações de herbicidas, destaca-se o clima, solo, hospedeiro, o princípio ativo, o veículo, a máquina e o operador (BALASTREIRE, 1990). Esse artigo irá focar em como o clima pode influenciar nas aplicações de herbicidas. Por outro lado, não se deve esquecer dos outros fatores, em especial da manutenção e calibração dos equipamentos além da capacitação dos aplicadores.

Condições climáticas e como afetam a aplicação de herbicidas

Os principais fatores climáticos que devem ser considerados na aplicação de defensivos são: umidade relativa do ar, temperatura, pluviosidade e vento. As condições ideias de aplicação são diferentes para cada tipo de produto, formulação, molécula a ser usada, entre outros, devendo sempre seguir as recomendações dos fabricantes. De modo geral, o tamanho de gota e volume de calda ideal devem ser ajustados conforme as condições climáticas (JACTO, 2019). Quanto maior for a gota aplicada, menor será a influência do vento e mais rápida ela tende a ser depositada.

A umidade relativa do ar e a temperatura podem afetam em conjunto as aplicações de herbicidas: ambas vão influenciar na evaporação da água (CONTIERO et al., 2018). Situações com altas temperaturas e baixa umidade relativa do ar podem representar uma situação de risco para a aplicação de alguns herbicidas. Nessa situação, pode ocorrer evaporação mais rápida da água, diminuindo o tamanho da gota e aumentando a concentração do produto. Dependendo do herbicida utilizado, isso pode ocasionar até mesmo fitotoxicidade na cultura.

Além disso, em alguns casos, poderá ocorrer menor absorção do produto devido a sua maior concentração, dificultando a absorção do herbicida nas plantas daninhas. Por fim, aplicação de pós-emergentes em situações de estresse hídrico também podem ter efeitos negativos na eficácia do produto devido a alterações fotossintéticas e morfológicas na planta – tema já abordado em outro artigo do blog (https://agroadvance.com.br/efeito-do-estresse-hidrico-na-eficiencia-de-herbicidas-em-pos-emergencia/).

Volatilização do herbicida

Atrelado aos problemas citados acima, também é possível a ocorrência da volatilização do produto aplicado, termo que representa o processo de transferência no qual o herbicida passa da forma líquida para a atmosfera. Perdas de até 90% são registrados para determinados herbicidas devido a volatilização (SPADOTTO; GLEBER, 2008).

Essa mudança de estado está relacionada com a taxa da pressão de vapor. Assim, é mais esperado que ocorra mais volatilização em dia com céu aberto, presença de vento, temperatura elevada e baixa umidade do ar. A taxa de volatilização é intrínseca para cada herbicida, sendo influenciada pela formulação, adjuvantes, qualidade da água, entre outros (CORREIA, 2018).

Inversão térmica

Outro fator de grande importância na aplicação de herbicidas é a chamada “inversão térmica”. Durante o dia os raios solares aquecem o solo e, como a temperatura do ar diminui com o aumento da altitude, o ar mais quente que está próximo a superfície realiza um movimento ascendente, conhecido como inversão térmica (ADEGAS; GAZZIERO, 2020). Esse fenômeno pode ser prejudicial para a agricultura, especialmente quando há aplicações com gotas finas e ausência de vento na aplicação.

A inversão pode impedir que as gotas atinjam o alvo e ocasionar o carregamento delas para cima, formando uma neblina em suspensão, causando perda do produto e possibilidade de deriva em áreas vizinhas (ADEGAS; GAZZIERO, 2020). Portanto, recomenda-se que se evite aplicações em condições favoráveis a inversão térmica, como aquelas com ventos menores que 3 km/h, ocorrendo principalmente durante as primeiras horas do dia.

Pluviosidade

A pluviosidade deve ser observada e monitorada antes e depois das aplicações de herbicidas. Em aplicações de pós-emergentes, é necessário certo tempo para que o produto seja absorvido sem afetar a eficiência de controle das plantas daninhas (SHIRATSUCHI; FONTES, 2002). O produtor deve estar atento às previsões das chuvas antes das aplicações, podendo, assim, definir com maior segurança a data e horário de aplicações. Já para os herbicidas pré-emergentes, as chuvas após a aplicação também podem influenciar a eficiência da aplicação.

No entanto, as chuvas podem auxiliar no espalhamento do produto no solo e, assim, melhorar a eficácia de controle, especialmente em solos argilosos. Ademais, as chuvas são essenciais para a dinâmica de herbicidas em palha, auxiliando na movimentação do herbicida para o solo (NEGRISOLI et al., 2007). Por outro lado, chuvas com altas pluviosidades podem acarretar perdas de herbicidas por lixiviação, principalmente em solos arenosos. Além disso, também podem atuar no carregamento dos herbicidas para locais onde podem afetar a cultura, como é o caso dos herbicidas em pré-emergência na soqueira da cana-de-açúcar.

A velocidade do vento é um dos principais fatores ambientais a ser considerados na aplicação de defensivos agrícolas, sendo o principal responsável pela deriva de produtos. A deriva pode ser dividida em endoderiva e exoderiva (CORREIA, 2019). A endoderiva ocorre quando há perdas de produto dentro da área de cultivo, enquanto na exoderiva ocorre o deslocamento do ativo para fora da área tratada (Figura 01). Entretanto, para a movimentação das gotas e a cobertura do alvo a ser aplicado é necessário a presença dos ventos.

Com isso, a aplicação é recomendada entre uma faixa de velocidade ideal de 3 a 6,5 km/h (Figura 02) (ANDEF, 2010). Para cada tipo de produto aplicado, isso é, herbicida, fungicida, inseticida ou outros, é recomendada uma faixa de velocidade. Para herbicidas é necessário maior cautela pois, além da perda do herbicida, pode-se causar danos a cultura e a áreas vizinhas.

Figura 01. Ocorrência de endoderiva e exoderiva na aplicação. Fonte: ANDEF, 2010.

A deriva de herbicidas é sempre problemática, seja pela perda de eficiência no controle das plantas daninhas ou pelas injúrias às áreas próximas. Entretanto, tratando-se do uso dos herbicidas auxínicos, o 2,4-D e dicamba, o assunto merece ainda mais atenção. A deriva desses produtos, mesmo que em concentrações muito baixas, são capazes de causar estragos as culturas suscetíveis, como a soja (COSTA, 2019). Aliando a deriva e a volatilização desses herbicidas, o problema se torna ainda maior e necessita de grande atenção pelos produtores e aplicadores.

Portanto, é necessário que sigam as recomendações dos fabricantes, fazendo uso de todas as técnicas possíveis para garantir maior eficiência e redução da deriva. No geral, recomenda-se a utilização de pontas de pulverização com tecnologia de indução de ar, das quais produzirão gotas muito grossas a ultra grossas, com menor risco de deriva, além da menor pressão de trabalho, velocidade de deslocamento e sob condições ideias de temperatura, umidade e velocidade do vento.

Figura 02. Velocidade do vento ideal para aplicações de defensivos agrícolas. Fonte: ANDEF, 2010.

Considerações finais

É importante para o produtor seguir as recomendações gerais de aplicação para se obter a maior eficácia, com menor custo de produção e menor danos ao ambiente e culturas. Observando aos fatores citados acima, recomenda-se aplicar os herbicidas com temperaturas abaixo de 30oC e com umidade relativa do ar acima de 50%. Além disso, o produtor deve aplicar os herbicidas preferencialmente com ventos entre 3 e 6 km/h. Em contrapartida, alguns herbicidas precisar ter atenção dobrada, como o caso do dicamba e 2,4-D, checando áreas vizinhas, culturas sensíveis e velocidade e sentido do vento.

O produtor deve sempre obedecer às recomendações dos fabricantes, seguindo a ponta de pulverização ideal para se obter o tamanho de gota adequado, velocidade de aplicação, pressão de trabalho e todos os outros fatores que influenciam na aplicação. Além disso, o uso de adjuvantes são de grande auxílio para melhorar a tecnologia de aplicação.

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Referências

ADEGAS, F. S.; GAZZIERO, D.L.P. Tecnologia de aplicação de agrotóxicos. In: Embrapa Soja-Sistemas de produção, cap.12, p. 281-292, 2020.

ANDEF – Associação nacional de defesa vegetal. Manual de tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários. Campinas, São Paulo, ed.1, p. 52, 2010.

BALASTREIRE, L. A. Máquinas Agrícolas. São Paulo: Manole, 307p, 1990.

CONTIERO, R.L., BIFFE, D.F., and CATAPAN, V. Tecnologia de Aplicação. In: BRANDÃO FILHO, J.U.T., FREITAS, P.S.L., BERIAN, L.O.S., and GOTO, R., comps. Hortaliças-fruto [online]. Maringá: EDUEM, p. 401-449, 2018.

CORREIA, N.M. Comportamento dos herbicidas no ambiente. Embrapa Hortaliças. Documento 160, 2018.

COSTA, E. M. Deriva simulada de dicamba e 2,4-D: Efeito sobre a produtividade e qualidade fisiológica das sementes de soja recém-colhidas e armazenadas. Dissertação de mestrado. Instituto Federal Goiano, Rio Verde, 2019, 74p.

GEBLER, L. e SPADOTTO, C.A. Comportamento ambiental dos herbicidas. In: VARGAS, L. Manual de manejo e controle de plantas daninhas. Embrapa Uva e Vinho, p. 40-68, 2008.

JACTO. Horário de pulverização: como isso pode interferir na absorção do produto? BLOG-Jacto, 2019. Acesso em: https://blog.jacto.com.br/horario-de-pulverizacao/.

MATUO, T. Fundamentos da tecnologia de aplicação de agrotóxicos. In: GUEDES, J.V.C.; DORNELES, S.H.B. (Org.). Tecnologia e segurança na aplicação de agrotóxicos: novas tecnologias. Santa Maria: Departamento de Defesa Sanitária: Sociedade de Agronomia de Santa Maria, 1998.

NEGRISOLI, E. et al. Controle de plantas daninhas pelo amicarbazone aplicado na presença de palha de cana-de-açúcar. Planta Daninha. 2007, v. 25, n. 3, pp. 603-611, 2011. SHIRATSUCHI, Luciano Shozo; FONTES, José Roberto Antoniol. Tecnologia de aplicação de herbicidas. Embrapa Cerrados. Documentos, 2002.

Esse texto é opinião do autor e não reflete, necessariamente, a posição da Agroadvance.

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