A ureia [CO(NH2)2] é o principal fertilizante nitrogenado utilizado no Brasil e as principais razões para isso são:
- a alta concentração de N que implica em menores doses aplicadas a campo,
- o menor custo de produção por unidade de N,
- a alta solubilidade, e
- a disponibilidade para aquisição no mercado frente a outros fertilizantes.
Apesar de amplamente utilizada, quando aplicada sobre a superfície do solo a ureia sofre hidrólise e pode resultar em perdas consideráveis do N-fertilizantes pela emissão do gás amônia (NH3). Tais perdas representam em média 16% de todo o N aplicado no mundo e podem chegar a 40% ou mais em condições quentes e úmidas. Em algumas condições drásticas há relatos de perdas da ordem de 70% do N aplicado. A ureia tratada com NBPT é uma solução para evitar tais perdas.
Mas como essa perda de amônia ocorre?
Após aplicada ao solo a ureia é solubilizada e hidrolisada pela enzima urease. A reação de hidrólise da ureia consome íons H+ do solo ao redor do grânulo, elevando consideravelmente o pH nessa região. Com isso haverá predomínio massivo de amônia no solo, que se perde na forma gasosa para o ar atmosférico.
O sistema de plantio direto propicia ainda mais as perdas de ureia aplicada superficialmente, uma vez que a presença da palhada na superfície do solo dificulta a incorporação da ureia no solo e aumenta a quantidade da enzima urease na palhada.
A urease está presente no solo e nos tecidos vegetais em decomposição. Assim, a aplicação da ureia no campo deve ser planejada para evitar perdas por volatilização e aumentar a eficiência de uso do N-fertilizante pelas plantas.
A incorporação da ureia ao solo, seja por operações mecânicas ou por chuva ou irrigação, é uma prática eficaz de manejo que pode ser adotada para redução da volatilização, mas no sistema de plantio direto a operação mecânica não é viável. Assim, o uso de tecnologias que minimizem essas perdas da ureia, como o uso de inibidores de urease (como ureia revestida com NBPT) é uma boa opção de manejo a campo e devem sempre que possível ser utilizada. Outras tecnologias também vêm sendo desenvolvidas para mitigar as perdas por volatização de amônia em fertilizantes nitrogenados.
O que é o NBPT e como ele age?
O NBPT [N-(n-butil) Triamida Tiofosfórico] é o mais bem sucedido inibidor de urease utilizado no mercado e seu uso cresceu 16% ao ano nos últimos 10 anos. Sua eficácia na redução da volatilização da amônia está bem documentada na literatura.
Quando aplicado ao solo o NBPT é convertido ao seu análogo de oxigênio [N-(n-butil) Triamida Fosfórico] – NBPTO – que é o verdadeiro inibidor da urease. A oxidação do NBPT em NBPTO é rápida em solos bem arejados (minutos ou horas), mas pode levar vários dias em condições de solos inundados. Por isso a eficiência do NBPT é baixa nessas condições. O NBPTO age bloqueando fortemente três locais ativos da enzima urease, formando uma ligação de natureza tridentada, com dois centros de níquel e um oxigênio da ponte carbamato ligando ambos os metais, reduzindo a probabilidade de ureia chegar ao átomo de níquel. Dessa forma o NBPTO inibe a hidrólise da ureia.
Em comparação com a ureia, a ureia tratada com NBPT reduz as perdas por volatilização de amônia em cerca de 50%. O ganho em produtividade pelo uso do NBPT é da ordem de 6,0% e varia de -0,8 a 10,2% dependendo da cultura.
Os inibidores de urease, como o NBPT, podem ser aplicados à ureia através de revestimento líquido nos grânulos ou ser adicionado ao derretimento da ureia antes da granulação. O processo utilizado em si parece não influenciar no desempenho do NBPT na redução de perdas de amônia, no entanto, o NBPT incorporado à ureia no derretimento parece prolongar significativamente o tempo de armazenamento em comparação com as aplicações revestidas.
Sobre a autora:
Beatriz Nastaro Boschiero
Especialista em MKT de Conteúdo na Agroadvance
- Pós-doutora pelo CTBE/CNPEM e CENA/USP
- Mestra e Doutora em Solos e Nutrição de Plantas (ESALQ/USP)
- Engenheira Agrônoma (UNESP/Botucatu)