Solos ácidos são aqueles com pH inferior a 5,5 na maior parte do ano. Estão associados a uma série de toxicidades (alumínio), bem como a deficiências (molibdênio) e outras condições restritivas para o crescimento e desenvolvimento das plantas.
No mundo, cerca de 30% dos solos do planeta são ácidos. Existem duas faixas principais de solos ácidos:
- na zona temperada húmida do Norte, que é coberta principalmente por florestas de coníferas; e
- nos trópicos úmidos , que são cobertos por savana e floresta tropical – aqui onde se inclui os solos brasileiros
Nessas regiões com alto índice pluviométrico, os solos costumam ser naturalmente ácidos; no entanto, a intervenção humana pode acelerar a acidificação.
Os produtores frequentemente têm dificuldade em entender os vários parâmetros de acidez do solo presentes na análise de solo e, além disso, podem receber conselhos conflitantes sobre o uso de produtos como calcário e gesso.
O intuito destes artigos é fornecer respostas sólidas e práticas para perguntas como: “O que exatamente é acidez do solo?”, “Como ela afeta as plantações?” e “Como ela pode ser manejada”
Confira a seguir as respostas!
Acidez do solo – o que é e o que a causa?
A acidez do solo é um dos principais fatores que limitam a produtividade agrícola. Mas, afinal, o que significa dizer que um solo é ácido? E por que isso acontece?
O que é acidez do solo?
Explicando de forma simples e direta, a acidez do solo está relacionada ao excesso de íons hidrogênio (H⁺) e alumínio (Al³⁺) presentes no solo. A acidificação é a ocupação das cargas do solo (e/ou da solução do solo) por cátions como o H+ e Al3+. Tecnicamente existem 2 tipos de acidez: a acidez ativa e a acidez potencial (figura 1):
- Acidez ativa: está relacionada à quantidade de íons H+ presente na solução do solo – medido através do pH do solo – e que exerce grande influência na disponibilidade de nutrientes e, consequentemente, no crescimento das plantas;
- Acidez potencial: está relacionada à quantidade de H+ e Al3+ que permanecem na fase sólida (ligados aos coloides do solo), na forma não dissociada. Pode ser dividida em:
- Acidez trocável: se refere ao Al3+ trocável que está ligado por força eletrostática à superfície dos coloides, podendo ser extraído com cloreto de potássio.
- Acidez não trocável: se refere ao teor de H+ não trocável ligado aos coloides. Este H+, contudo, é dissociado com a elevação do pH do meio.

O teor de hidrogênio do solo é medido por meio do pH do solo – que indica se o solo é ácido, neutro ou alcalino. Quando o pH está abaixo de 7, o solo é considerado ácido. Quanto mais baixo esse valor, maior a acidez.
Solos ácidos dificultam a absorção de nutrientes essenciais pelas plantas e podem até aumentar a disponibilidade de elementos tóxicos, como o alumínio e o manganês, prejudicando o desenvolvimento das culturas (Figura 2).

Para entender a acidez do solo de forma mais técnica, é necessário abordar alguns conceitos básicos de física e química do solo.
O solo é formado por areia, silte, argila e matéria orgânica, além de poros e água. A argila e a matéria orgânica do solo possuem cargas negativas que atraem e retém cátions. Em um solo não ácido, essa carga negativa é compensada pela carga positiva de certos nutrientes vegetais, em particular cálcio (Ca2+), magnésio (Mg2+) e potássio (K+).
À medida que os solos se acidificam, as concentrações de outros elementos não nutritivos, em particular hidrogênio (H+) e alumínio (Al3+), aumentam e substituem nutrientes como cálcio e magnésio nas argilas e na matéria orgânica (Figura 3).

Em condições não ácidas, o alumínio está contido nas partículas de argila, mas, à medida que a acidez aumenta, as bordas da argila começam a se dissolver, liberando alumínio solúvel no solo. É importante ressaltar que, do ponto de vista do manejo da acidez do solo, o alumínio solúvel é o fator limitante de crescimento mais importante em solos ácidos.
Além disso, deve-se ter em mente que o pH mede apenas a concentração de hidrogênio no solo, e não a de alumínio. Essas considerações são de fundamental importância para o desenvolvimento de recomendações economicamente viáveis para a correção de problemas de acidez.
Por que o solo se torna ácido? Causas da acidez do solo
A acidez do solo pode ser originada por processos naturais de formação do solo e do clima, mas também pode ser intensificada por práticas agrícolas e outras atividades humanas, como:
- a utilização de fertilizantes nitrogenados, principalmente quando aplicados em quantidades maiores que as necessidades imediatas das culturas.
- a decomposição acelerada da matéria orgânica do solo como resultado do preparo do solo.
- A remoção de nutrientes básicos (Ca, Mg e K) pela colheita das culturas.
- Chuva ácida, resultante da poluição atmosférica pela indústria.
Mais detalhes técnicos das causas da acidificação podem ser consultados em mais detalhes nesse artigo:
Efeito da acidez do solo no crescimento das plantas
A acidez do solo impacta diretamente o sistema radicular das plantas, prejudicando seu desenvolvimento e, consequentemente, limitando o crescimento das culturas. Muitas vezes, esses efeitos não são visíveis nas folhas, como ocorre com deficiências de nutrientes, mas afetam seriamente a eficiência da absorção de água e nutrientes.
Entre os principais problemas causados pela acidez excessiva estão:
- Toxicidade de alumínio e manganês: Solos ácidos liberam alumínio e manganês das argilas, tóxicos para as raízes, causando sistemas radiculares grossos, curtos e com poucas raízes finas. Isso reduz a absorção de água e nutrientes, agravando os efeitos da seca.
- Deficiências de cálcio e magnésio: Solos ácidos costumam apresentar baixos níveis desses nutrientes essenciais, especialmente o cálcio, fundamental para o crescimento radicular. A combinação de alta toxidade por alumínio e deficiência de cálcio é um fator comum de baixa produtividade.
- Deficiências de micronutrientes: Elementos como molibdênio e zinco têm sua disponibilidade reduzida em solos ácidos, mesmo que estejam presentes em quantidade suficiente no solo.
- Redução da atividade biológica: A acidez inibe a atividade microbiana e a decomposição da matéria orgânica. Espécies sensíveis, como minhocas, desaparecem em solos ácidos, mas retornam rapidamente após a calagem.

Nem todas as culturas agrícolas reagem da mesma forma à acidez do solo — há uma grande variação na tolerância entre elas. (Figura 4).
Algumas espécies, como determinadas leguminosas e hortaliças de clima temperado, são bastante sensíveis a solos ácidos. Outras, como o feijão-caupi e a cana-de-açúcar, apresentam alta tolerância.
No entanto, a acidez severa do solo limita o crescimento de todas as espécies, incluindo as altamente tolerantes. Assim, o manejo da acidez do solo é um componente essencial das práticas sustentáveis de produção, independentemente da cultura cultivada.
Por isso, o controle da acidez do solo é fundamental para manter a saúde do sistema radicular e garantir altos rendimentos, independentemente da cultura.
Figura 4. Tolerância relativa das culturas à acidez do solo. Fonte: Adaptado de Page et al. (2020)
Diagnóstico da acidez do solo
A acidez do solo não costuma apresentar sintomas visíveis nas plantas, e por isso a análise de solo é a ferramenta mais confiável para diagnosticar o problema e definir a necessidade de calagem ou aplicação de gesso.
Como a correção da acidez só pode ser feita antes do plantio, a amostragem deve ser realizada com antecedência, garantindo tempo hábil para análise laboratorial e aquisição dos corretivos. É fundamental usar equipamentos adequados e coletar amostras representativas tanto da camada superficial quanto do subsolo.
As análises de solo precisam ser realizadas a cada dois ou três anos para determinar as necessidades de calagem do campo. A capacidade tampão ou capacidade de troca catiônica do solo precisa ser avaliada para determinar a quantidade de cal necessária para neutralizar a acidez do solo ao nível desejado.
Manchas de baixo desenvolvimento na lavoura são um dos primeiros sinais práticos de acidez elevada. Amostras dessas áreas devem ser coletadas durante a fase inicial de crescimento, quando o contraste entre áreas “boas” e “fracas” ainda é evidente. Assim, é possível realizar uma correção localizada ou aplicar a dose recomendada para as áreas mais afetadas em todo o talhão.
Com o uso de GPS e amostragem em grade, é possível mapear a variabilidade da acidez no solo e aplicar corretivos em taxas variáveis. Isso aumenta a eficiência produtiva e reduz custos, otimizando a fertilidade do solo e os rendimentos da lavoura.
Como corrigir a acidez do solo? Calagem e gessagem como manejo corretivo
A calagem é a principal prática utilizada para a neutralização da acidez do solo, restaurando a sua capacidade produtiva, aumentando a concentração de nutrientes (Ca2+ e Mg2+) e reduzindo a concentração de elementos tóxicos para o desenvolvimento vegetal (principalmente o Al3+).
A calagem é capaz de corrigir a baixa fertilidade do solo e sua incorporação permite, inclusive, a correção em camadas mais profundas do solo, melhorando o perfil do solo. Com isso há um maior desenvolvimento e aprofundamento do sistema radicular, favorecendo a absorção de água e nutrientes e melhorando o crescimento e desenvolvimento vegetal.
Isso porque o mal desenvolvimento do sistema radicular das plantas é causado pelas altas concentrações de alumínio e baixas concentrações de cálcio. O Al3+ danifica irreversivelmente as células meristemáticas, reduzindo o alongamento das raízes. O Ca2+, por sua vez, age como sinalizador para o crescimento das raízes, por auxiliar na divisão celular meristemática.
Para saber mais sobre o uso de calcário agrícola, escolha dos produtos, acompanhe o próximo artigo do nosso blog.
Para corrigir o teor de alumínio em profundidade é recomendada a utilização do gesso agrícola (CaSO4). O gesso não neutraliza a acidez ativa do solo (não altera o pH do solo), mas devido à sua elevada solubilidade é bastante utilizado pensando em reduzir o teor de alumínio e aumentar o teor de cálcio em subsuperfície (profundidades maiores que 20 cm).
Essas duas práticas, de calagem e gessagem, devem ser utilizadas periodicamente para realizar a correção da acidez dos solos cultivados.
Conclusão
Uma abordagem integrada para o manejo de solos ácidos compreende uma estratégia de calagem e gessagem, o uso de espécies tolerantes à acidez, o uso eficiente de fertilizantes, rotações de culturas adequadas e diversificação de culturas.
Os efeitos negativos da acidez do solo nas condições físicas e químicas do solo podem ser parcialmente compensados garantindo-se um alto teor de matéria orgânica do solo.
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Sobre a autora:

Beatriz Nastaro Boschiero
Especialista em Conteúdo na Agroadvance
- Pós-doutora pelo CTBE/CNPEM e CENA/USP
- Mestra e Doutora em Solos e Nutrição de Plantas (ESALQ/USP)
- Engenheira Agrônoma (UNESP/Botucatu)
Como citar este artigo:
BOSCHIERO, B.N. Solos ácidos: o que é acidez do solo e como resolver este problema? Blog Agroadvance. 2025. Disponível em: https://agroadvance.com.br/blog-solos-acidos-o-que-e-acidez-do-solo/. Data de acesso: 11 nov. 2025.



