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Boro na soja: as melhores estratégias de manejo

Boro na soja: veja as melhores práticas de manejo da adubação com boro na cultura da soja. Saiba como diagnosticar e corrigir deficiências, além de estratégias eficazes de aplicação via solo e foliar.

Atualizado: 26 de abril de 2024

A medida que o manejo agrícola é otimizado, na busca de alcançar maiores produtividades na cultura d soja, maior atenção vêm sendo dada a adubação com micronutrientes.

Entre eles, o boro desponta como o micronutriente cuja a aplicação via fertilizante tem mais respondido em produtividade na cultura da soja.

Sua influência abrange desde a estrutura celular até os processos metabólicos das plantas, desempenhando um papel essencial na maximização da produtividade.

Neste artigo vamos abordar a importância do boro na cultura da soja, analisando suas funções vitais e apresentando estratégias eficazes para sua aplicação.

Ao entendermos plenamente o impacto desse micronutriente, podemos aprimorar as práticas agrícolas para alcançar rendimentos ainda mais promissores na produção de soja.

Importância do boro para as plantas

De acordo com Malavolta (2006) o boro (B) é o micronutriente cuja a deficiência é a mais comum em uma série de culturas no Brasil.

Nas condições brasileiras, em que os solos são em sua maioria ácidos, o boro é absorvido pelas plantas principalmente na forma de ácido bórico B(OH)3, o qual é uma molécula não iônica (sem carga), muito móvel no solo e consequentemente altamente lixiviável.

Nas plantas o boro tem várias funções, dentre as quais podem-se destacar a participação na síntese e estrutura da parede celular; transporte de açúcares; lignificação; respiração; metabolismo de fenóis e ácido indol acético (AIA); frutificação e crescimento de tubo polínico.

Em termos de exigência, as dicotiledôneas, como soja, necessitam uma concentração de boro no tecido vegetal de 20-70 mg kg-1, ou seja, maior do que as monocotiledôneas, que exigem de 5 a 10 mg kg-1  .

Na maioria das plantas o boro possui baixa mobilidade, sendo que os sintomas de deficiência deste nutriente manifestam-se principalmente em tecido jovens, devido às características do boro. Os principais sintomas de deficiência de boro na soja são:

  • Redução do crescimento e deformações nas zonas de crescimento;
  • Diminuição da superfície foliar, com folhas pequenas, deformadas, espessas e quebradiças;
  • Crescimento reduzido das raízes (figura 1).
boro na soja boro no milho e boro na canola
Figura 1. Efeito do baixo e adequado suprimento de boro no sistema radicular de canola, soja e milho. Imagem: Dr. Ismail Cakmak (Sabanci University)

A cultura da soja, para a produção de 1,0 tonelada de grãos, extraí aproximadamente 75 g de boro, dos quais 30% são exportados nos grãos.

Como diagnosticar a necessidade de adubação de boro na soja

Análise de solo

Para um adequado fornecimento de boro para a soja deve-se considerar o teor do nutriente no solo na camada de 0-20 cm, visando verificar a necessidade de aporte via fertilizante através da análise de solo.

De acordo com vários trabalhos de pesquisa (Abreu et al., 2005; Vale, Araújo, Vitti, 2008) mais de 80% dos solos brasileiros possuem teores de boro abaixo do nível crítico, fazendo-se necessária a adubação do elemento via solo.

Tabela 1. Interpretação dos teores de boro no solo de acordo com Boletim Cerrado de Correção e Adubação (Sousa e Lobato, 2002) e o Boletim Técnico 100 (Raij et al., 1996).

TEORSOUZA E LOBATI (2002)RAIJ et al. (1996)
mg dm-3mg dm-3
BAIXO0 -0,30 – 0,2
MÉDIO0,3 – 0,50,21 – 0,60
ADEQUADO> 0,5> 0,6
extrator: água quente

Atualmente, visando a obtenção de altas produtividades de soja, muitos pesquisadores e consultores tem recomendado que o nível crítico de B no solo seja de 0,8 a 1,0 mg dm-3.

Análise de tecido foliar

Além do teor do elemento no solo é válido verificar a concentração dos nutrientes nos tecidos foliares para avaliar a capacidade de suprimento do solo. Para soja recomenda-se coletar o terceiro ou quarto trifólio completamente expandido, com pecíolo, quando a cultura estiver no estádio fenológico de R2.

Segundo a EMBRAPA (2008), o teor foliar de boro adequado para a cultura da soja é de 20 a 55 mg dm-3.

Como fazer a adubação de boro na soja

A adubação de boro na soja pode ser feita de duas formas principais, via solo e via foliar, como veremos detalhadamente a seguir:

Fornecimento de boro via solo

Por apresentar baixa mobilidade na planta e ter grande importância para o crescimento das raízes, o boro deve estar presente em quantidade satisfatória no perfil do solo e, portanto, ser aplicado preferencialmente via solo.

Esta modalidade apresenta correção lenta, duradoura e preventiva e deve ser feita quando os teores do solo estiveram abaixo do nível adequado, de acordo com a Tabela 1.

As doses de boro recomendadas para aplicações do boro na soja, objetivando rendimentos elevados estão apresentadas na tabela 2.

Tabela 2. Recomendação de boro via solo para a cultura da soja

ModalidadeB (kg ha-1)
SULCO DE SEMEADURA0,5 a 0,8
ÁREA TOTAL EM PRÉ-SEMEADURA1,0 a 3,0
*Recomenda-se as menores doses em solo arenoso e as maiores doses em solos mais argilosos.
Fonte: Adaptado de Vitti e Trevisan (2000).

Fontes de boro: Para aplicação de fertilizantes via solo, na forma sólida, recomenda-se preferencialmente o Tetraborato de Sódio Pentahidratado – Bórax Penta – (Na2B4O7.5H2O) e Ulexita (NaCaB5O2.8H2O). Ressalta-se que a melhor forma de aplicação destas fontes é agregada aos grânulos dos fertilizantes NPK, tecnologia que permite maior uniformidade de distribuição e solubilidade dos micronutrientes devido as propriedades do boro.

Porém há produtores aplicando as fontes de boro boratadas de maneira isolada com bons resultados.

De acordo com a legislação as fontes do boro, para aplicação sólida via solo, devem ter no mínimo 60% do teor total de B solúvel em ácido cítrico para serem comercializadas. É importante que o agricultor faça análises periódicas dos fertilizantes para verificar estas exigências.

Existe também a possibilidade da aplicação do boro via solo de forma fluida e em área total na dessecação, simultaneamente com o herbicida.

A fonte tradicionalmente mais utilizada nessa modalidade é o ácido bórico (17% B), na dose de 2,0 a 4,0 kg ha-1, fornecendo em média de 0,34 a 0,68 kg ha-1 de B.

Essa modalidade tem algumas restrições pelo fato do ácido bórico ser altamente lixiviável no solo e dos problemas operacionais relacionados com a dificuldade da dissolução do produto no tanque de pulverização.

Fornecimento de boro via foliar

O fornecimento de micronutrientes via foliar permite correção rápida, porém menos duradoura. As fontes de boro mais indicadas para aplicação foliar devem ser solúveis em água e estão descritas na tabela 3.

Tabela 3. Opções de fontes de boro para aplicação na operação de dessecação

FONTETEOR DE BOROPS(*)
ÁCIDO BÓRICO17%5
OCTABORATO DE SÓDIO20%10
PENTABORATO DE SÒDIO130 g L-1
BORO MONOETANOLAMINA (BORO MEA)130 a 150 g L-1
(*) Produto de Solubilidade (g 100 ml-1)

Devido a importância do boro na fertilização, manutenção e integridade dos órgãos reprodutivos e no transporte de açúcares sugere-se que pulverizações foliares do nutriente sejam realizadas principalmente no período reprodutivo da cultura.

Além disso, em função ao boro ter mobilidade muito baixa na planta de soja, recomenda-se que a aplicação deste elemento via foliar seja parcelada ao longo do ciclo da cultura, visando atingir a maior quantidade possível de tecidos da parte área.

A eficiência deste manejo foi comprovada em trabalho recente da Fundação MS (Tabela 4), que mostrou que o parcelamento do fornecimento de boro proporcionou as maiores respostas em produtividade de soja.

Tabela 4. Efeito do parcelamento da aplicação de boro via foliar

Fonte: Adaptado de Fundação MS (2018)

Desta forma, visando o fornecimento de boro via foliar, recomenda-se a aplicação de 100 a 200 g ha-1 de B, parcelada nos estádios fenológicos de V4/V5; R1/ R2 e R3/R4.

Quer entender tudo sobre boro? Então veja essa masterclass completa intitulada: Boro: o macro dos micro com o grande nome da fertilidade do Solo, Professor Godofredo Cesar Vitti, da ESALQ/USP

Boro: O Macro dos Micronutrientes

Considerações finais

Para se obter o adequado fornecimento de boro à cultura da soja é fundamental a determinação de boro no solo, na camada de 0-20 cm, verificação periódica dos teores foliares e aplicação do nutriente via solo, preferencialmente agregado ao fertilizante NPK, com complementação via foliar, de forma parcelada.

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Referências 

ABREU, C. A.; RAIJ, B. van; ABREU, M. F.; GONZÁLEZ, A. P. Routine Soil Test to Monitor Heavy Metals and Boron. Scientia Agricola, 62:6:564-571, 2005

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Correção e manutenção da fertilidade do solo. In: ______. Tecnologias de produção de sojaregião central do Brasil, 2009 e 2010. Londrina: Embrapa Soja; Embrapa Cerrados; Embrapa Agropecuária Oeste, 2008. 262p. (Sistemas de produção, 13).

MALAVOLTA, E. Manual de nutrição mineral de plantas. São Paulo, Agronômica Ceres, 2006. 638p.

RAIJ, B. van; CANTARELA, H.; QUAGGIO, J.A. & FURLANI, A.M.C. Recomendações de adubação e calagem para o Estado de São Paulo. 2.ed. Campinas, Instituto Agronômico, 1996. 285p. (Boletim Técnico, 100).

SOUSA, D.M.G. & LOBATO, E. Cerrado: correção do solo e adubação. Planaltina, Embrapa Cerrados, 2002. 416p. Disponível em: Cerrado: correção do solo e adubação. – Portal Embrapa. Acesso: 26 abr. 2024.

VALE, F.; ARAUJO, M. A. G.; VITTI, Godofredo Cesar. Avaliação do estado nutricional dos micronutrientes em áreas com cana-de-açúcarAnais.. Londrina: Embrapa-Soja/SBCS/IAPAR/UEL, 2008.

VITTI, G.C & TREVISAN, W. Manejo de macro e micronutrientes para alta produtividade da soja. Piracicaba: POTAFOS, Informações Agronômicas, v.90, p.1-16. 2000.

Eduardo Zavaschi

Sócio e Consultor Técnico da Agroadvance

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Este post tem 5 comentários

  1. Isadora

    Boa tarde, fiquei com uma dúvida em relação ao melhor período para realização da análise foliar, no artigo orienta se em R2 mas a primeira aplicação de boro seria em V4. Teria algum problema?

    1. Eduardo Zavaschi

      Olá Isadora. A diagnose foliar é feita com base em tabelas pré-estabelecidas e calibradas pelos institutos de pesquisa, considerando um período específico, no caso da soja no estádio fenológico de R2. Se coletarmos as folhas em outros estádios os valores não poderão ser correlacionados com os níveis já estabelcidos. O principal objetivo dessa análise é verificar o status nutricional da planta, visando corrigir possíveis falhas que foram realizadas deesde o estabelecimento da cultura, porém somente na safra seguinte. Essa ferramenta não serve como parâmetro para recomendação de adubação.

    2. Sandro Augusto Piran

      Boa noite teria como corrigir o boro com adubação verde

  2. Josnei Ribeiro de Souza

    Bom dia, meu Nome é Josnei, trabalho com ácido bórico na dessecação funciona muito bem o cliente me pediu se ele pode usar ácido bórico na pós emergência da Soja na fase entre V4 e V5 quantidade/há e se usa somente O àcido bórico ou pode ser feito com outros produtos.

  3. Jéssica

    Boa noite!

    Eu gostaria de saber mais sobre o trabalho realizado pela Fundação MS em relação ao parcelamento de Boro, poderia compartilhar a fonte ?

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