Entenda as causas e consequências da atual situação do Brasil em relação à dependência da importação de fertilizantes de países como Rússia e Ucrânia. Conheça as propostas para reduzir essa dependência e garantir a segurança alimentar do país.
Os fertilizantes são classificados quanto à natureza da sua composição, à quantidade de nutrientes que os compõem e ao macronutriente primário que os caracteriza. A produção de fertilizantes está diretamente ligada à produção e produtividade agrícola.
A utilização dos fertilizantes minerais e sintéticos possibilitou a industrialização da agricultura, inicialmente na Europa e na América do Norte e, posteriormente, em países em desenvolvimento. A Revolução Verde introduziu práticas agrícolas ocidentais em outras regiões, dando origem a um mercado global bilionário de fertilizantes.
O intenso desenvolvimento agrícola brasileiro das últimas décadas fez o país ter uma grande necessidade de importar fertilizantes, indispensáveis para manter nossa produtividade.
O Brasil é responsável por cerca de 8% do consumo global de fertilizantes, o quarto país do mundo, atrás apenas de China, Índia e os Estados Unidos. A velocidade de crescimento da demanda brasileira supera o crescimento da oferta nacional e seu atendimento tem ocorrido via aumento de importações.
O país deixou de ser exportador de fertilizantes para ser grande importador entre 1992 e 2020. Mais de 80% dos fertilizantes consumidos no Brasil são de origem estrangeira, a despeito da existência de grandes reservas de matérias-primas necessárias à produção de fertilizantes em seu território.
Dependência nacional da importação de fertilizantes
Quanto à origem dos produtos importados pelo Brasil, em 2018, os principais países exportadores de fertilizantes potássicos foram Canadá (32%), Rússia (26%), Bielorrússia (18%) e Israel (11%).
Principais países de origem do cloreto de potássio
(Fonte: Globalfert)
Já para os fertilizantes fosfatados, em 2018, os principais locais de origem foram Marrocos (25%), Rússia (14%), Estados Unidos (13%), Arábia Saudita (12%), Egito (11%) e Israel (9%). Os principais países exportadores de MAP (fosfato monoamônico) foram Marrocos, Rússia, Arábia Saudita e os Estados Unidos.
Em relação aos fertilizantes nitrogenados, os principais locais de origem foram Rússia (23%), China (16%), Argélia (12%), Catar (8%), Nigéria (6%) e Emirados Árabes Unidos (5%). Os principais países exportadores de ureia foram Argélia, Rússia, Catar, Nigéria, Emirados Árabes Unidos e Egito.
A Rússia foi o principal local de origem do nitrato de amônio; China e Bélgica foram os principais de sulfato de amônio.
Podemos notar que, conforme os dados, a Rússia é um dos principais exportadores de fertilizantes para o Brasil.
Principais origens dos fertilizantes nitrogenandos.
(Fonte: Globalfert)
Situação de guerra na Rússia
A deflagração da guerra entre Ucrânia e Rússia revisitou a fragilidade brasileira em relação à necessidade de fertilizantes de outros países. O aumento de preço dos fertilizantes é apenas o começo, podendo haver inclusive um grande impacto na produtividade em razão da escassez desses produtos no mercado.
Inflação dos fertilizantes
(Fonte: Poder 360)
Existem aspectos diretamente relacionados à segurança nacional, tendo em vista os riscos à segurança alimentar decorrentes da expressiva dependência do agronegócio brasileiro em relação aos fertilizantes.
Existem gargalos para a redução da dependência da importação destes insumos, como dificuldades logísticas, questões tributárias, defasagem tecnológica e concentração de mercado.
A despeito da autossuficiência na produção nacional de fertilizantes não ser objeto de uma possível ação coordenada por parte do Estado, não há dúvida de que o estabelecimento de uma estratégia de redução da dependência brasileira de importações é extremamente necessária.
Produção brasileira de fertilizantes
O Brasil é responsável por cerca de 8% do consumo global de fertilizantes, sendo o quarto do mundo, atrás apenas de China, Índia e os Estados Unidos. No Brasil o nutriente mais aplicado via fertilizante é o potássio, com 38%, seguido por cálcio, com 33%, e nitrogênio, com 29%. Somente a cultura da soja demanda mais de 40% dos fertilizantes aplicados.
No entanto, grande parte dos fertilizantes utilizados no país são importados, evidenciando um elevado nível de dependência externa em um mercado dominado por poucos fornecedores. Essa dependência deixa a economia brasileira, fortemente apoiada no agronegócio, vulnerável às oscilações do mercado internacional de fertilizantes.
O Brasil tem importância no mercado mundial não somente pelo expressivo volume de insumos consumidos internamente, mas também pelo fato de sua demanda se concentrar no segundo semestre, o que possibilita relativo poder de barganha ao país.
O consumo nacional depende principalmente do preço recebido pelos agricultores (renda), influenciando também pelo preço relativo dos fertilizantes (relação de troca), política agrícola (crédito de custeio, preços mínimos etc.), expectativa de preços futuros e evolução da tecnologia agrícola.
A velocidade de crescimento da demanda brasileira supera a taxa de crescimento mundial e seu atendimento tem ocorrido via aumento de importações. O país deixou de ser exportador de fertilizantes para ser grande importador a partir de 1992.
O Brasil tornou-se um dos maiores importadores de fertilizantes do mundo, mesmo possuindo grandes reservas de matérias-primas necessárias à produção de fertilizantes, tais como gás natural, rochas fosfáticas e potássicas e micronutrientes de padrão mundial.
Entretanto o custo de exploração e questões burocráticas fazem com que as importações se tornem mais interessantes a curto e médio prazo.
Para possibilitar descobertas de novas jazidas, é fundamental elevar o nível do conhecimento geológico no país sobre áreas potenciais para fosfato de origem ígnea e de origem sedimentar, bem como sobre os fosforitos marinhos da plataforma continental brasileira e sobre áreas potenciais para potássio sedimentar. Na verdade, existe uma necessidade geral que inclui os demais bens minerais, pois o conhecimento geológico do território brasileiro é limitado.
Existe uma saída?
Segundo a Ministra da Agricultura, Tereza Cristina, o Brasil já tem outras alternativas para substituir a Rússia, e ainda, pode buscar outros fornecedores de fertilizantes.
A SAE-PR (Secretaria de Assuntos Estratégicos- PR) propôs algumas ações com o intuito de contribuir para a consolidação de um ambiente mais favorável ao desenvolvimento da produção nacional de fertilizantes:
1- Aprofundar os estudos relacionados à questão da concentração de poder econômico em poucos fornecedores de fertilizantes vigentes no país.
2- Investir em um programa de pesquisa e desenvolvimento tecnológico para a indústria de transformação de matéria-prima mineral em fertilizantes.
3- Aprofundar os estudos relacionados às questões ambientais ligadas à exploração mineral para produção de fertilizantes e seu uso.
4- Avaliar os pontos de interesse no escopo do PL 6407/2013, referente à Nova Lei do Gás, e eventuais possíveis desdobramentos.
5- Estudar formas de atração de investimentos para o setor, pois este envolve atividades que demandam vultuosos investimentos, como a mineração e a indústria de transformação mineral.
6- Buscar maneiras de reduzir a assimetria tributária entre os produtos importados e os de produção nacional, mitigando distorções.
7- Priorizar a elaboração do novo Plano Nacional de Fertilizantes (PNF) em parceria com órgãos como o Ministério de Minas e Energia (MME), o Ministério da Economia (ME), o Ministério do Meio Ambiente (MMA), o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e o Ministério da Infraestrutura (MINFRA), bem como representantes dos produtores agrícolas e dos fornecedores de fertilizantes, além da Academia e de outros atores do setor, como a EMBRAPA.
O Brasil está entre os maiores produtores mundiais de alimento e é responsável pela segurança alimentar de várias partes do planeta. Sem dúvidas é imprescindível que políticas que visem à diminuição da dependência externa de fertilizantes sejam implementadas.
Nossa produção é importante demais para permanecer vulnerável à instabilidade externa.
Autora: Adrielle Nery, Engenheira Agrônoma e mestranda em Entomologia.
Atrualização: Beatriz Nastaro Boschiero (editora-chefe Agroadvance)
Uma resposta
excelentes matérias! estou lendo todas para adquirir um arcabouço teórico para possíveis temas da redação, bem como para a parte específica do concurso de auditor fiscal federal agropecuário que está por vir! obrigado, agroadvance e seus colaboradores, por esses conteúdos ! material de alto nível teórico e gratuito ! forte abraço!