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Tendências na produção de grãos no Corn Belt norte americano

Assim como o Brasil, os Estados Unidos são referência em altas produtividades e tecnologia na produção agrícola. Conheça algumas das tecnologias e práticas que vêm ganhando espaço na produção de grãos, milho e soja, no Corn Belt norte-americano.

O Corn Belt Norte Americano

A região do centro-oeste norte-americano é mundialmente conhecida pelas altas produtividades de grãos, especialmente de milho e soja, sendo também conhecido como a região do “Corn Belt”. A região possui aproximadamente 50 milhões de hectares cultivados com agricultura, sendo desses, 75% para produção de soja e milho.

Iowa e Illinois são os estados em que historicamente a produção desses grãos é mais representativa, sendo as produtividades médias nesses estados de aproximadamente 200 sacas por hectare de milho e 70 sacas por hectare de soja.

As altas produtividades são resultado da combinação de inúmeros fatores, sendo os mais influentes o tipo de solo e o clima. Os solos, são em sua maioria classificados como Chernossolos e Vertissolos, com altos teores de matéria orgânica, alta CTC e saturação por bases, com pH natural próximo a 6,5 e baixa saturação por alumínio. O clima da região, durante a safra, possui longas horas de sol, com precipitação e temperaturas altamente favoráveis às culturas.

Produção de grãos Corn Belt

A produção de grãos no Corn Belt vem passando por transformações nas últimas décadas, visando se enquadrar em um sistema produtivo mais sustentável, principalmente no que diz respeito ao manejo de nutrientes e conservação do solo.

Diversos programas de incentivo governamental estão sendo lançados, buscando a redução dos impactos ambientais na produção agrícola, principalmente na contaminação de cursos de água.

Programas como o Ohio, remuneram produtores que plantam culturas de cobertura e fazem o correto manejo de fertilizantes e dejetos orgânicos ricos em fósforo.

Listamos algumas das tendências e tecnologias que são promissoras na produção de milho e soja, e tem ganhado espaço e notoriedade no meio agrícola norte-americano.

Figura 1. Em laranja, o centro-oeste dos EUA, e em amarelo a região do Corn Belt.

Milho de baixa-estatura

Anunciado em agosto 2019 pela Bayer nos Estados Unidos, o milho de baixa-estatura promete ser um divisor de águas na produção do grão nos EUA. Ele ainda não está disponível comercialmente, mas a Bayer espera oferecê-los aos produtores nos próximos anos.

Enquanto os híbridos convencionais de milho alcançam alturas de mais de 3 metros nos EUA, o milho de baixa estatura terá altura máxima de 2 metros. A menor estatura se dá principalmente pelo menor tamanho dos entre-nós do milho. O desenvolvimento desses híbridos está sendo feito de duas formas, pelo melhoramento convencional e também pela modificação genética da planta.

Plantas híbridas

Os novos híbridos alegam suportar melhor a quebra de colmo e acamamento quando comparado à híbridos convencionais, problemas muito comuns na produção do grão no Corn Belt. Além disso, os novos híbridos aparentam sofrer menos de estresse hídrico quando comparado à híbridos convencionais.

De acordo com a Bayer, o manejo da cultura também será diferente, uma vez que a menor estatura resultará em melhor aproveitamento dos nutrientes e da luz solar, tolerando maior população de plantas e espaçamento entrelinhas reduzido.

Outro ponto interessante a respeito do milho de baixa-estatura é a possibilidade de aplicações tardias de defensivos e fertilizantes foliares com autopropelido. Enquanto que em híbridos convencionais o produtor necessita de avião, helicóptero ou drone para fazer suas aplicações, os novos híbridos permitem realizar aplicação foliar no milho até mesmo após o pendoamento. Aplicações terrestres muitas vezes são mais baratas e com melhor qualidade de aplicação.

SISTEMA “Y-drop”

O parcelamento da adubação nitrogenada no milho é prática cada vez mais comum nos EUA, sendo a utilização de fontes de nitrogênio na forma líquida muito comum. O equipamento mais utilizado para esse manejo é um cultivador que incorpora o fertilizante no solo bem no centro da entrelinha, normalmente quando a planta está entre os estádios fenológicos V2-V6.

Alguns anos atrás, a empresa 360 Yield Center lançou o sistema Y-Drop, que vem ganhando popularidade em diversas culturas nos EUA. No centro-oeste americano ele vem sendo utilizado principalmente para a aplicação de fertilizantes líquidos fonte de nitrogênio em cobertura no milho. O sistema é chamado de Y-drop pelo formato resultante das mangueiras que levam o fertilizante até o solo.

O equipamento é conectado a um pulverizador autopropelido, com uma mangueira principal saindo do local de cada bico de pulverização e indo até próximo ao solo, onde então a mangueira se divide em duas, que tem como alvo a base da planta.  O fertilizante líquido que mais vem sendo utilizado nessa prática é o URAN, uma solução de ureia e nitrato de amônio, com concentração de N variando de 28 a 32%.

A vantagem que o sistema de Y-drop alega ter, quando comparado a um cultivador padrão de entrelinha, é no posicionamento e a época de aplicação do fertilizante. O nitrogênio se move no perfil solo no sentido vertical, então ao aplicar o fertilizante logo acima das raízes, na base da planta, há maior eficiência no uso do mesmo pela planta e consequentemente menor perda por lixiviação.

Com relação à época de aplicação, o sistema Y-Drop permite a entrada com autopropelido em estádios mais avançados da cultura do milho, V6 a V14, onde a demanda por nitrogênio é maior.

Preparo em Faixas (Strip-till)

O manejo da palhada no Corn Belt é tema muito discutido e estudado nas universidades e centros de pesquisa. Devido às baixas temperaturas e a presença de neve durante o inverno, os resíduos da cultura anterior levam muito tempo para se decompor, sendo muitas vezes um problema para o plantio da próxima cultura, no ano seguinte.

O excesso de palhada sobre o solo faz com que o aquecimento deste após inverno leve mais tempo, prejudicando a germinação da cultura. Além disso, o excesso de palhada reduz a evaporação de água dos solos, aumentando as chances de encharcados em áreas de baixada e várzea.

Devido a esses problemas, muitos produtores não aderem à prática de plantio direto, sendo o preparo convencional do solo ainda muito comum.

Um sistema de manejo que vem sendo adotado por cada vez mais produtores é o cultivo em faixas, o “strip-till”. Nesse sistema, um implemento faz o preparo do solo em faixas exatamente onde a cultura será plantada.

O preparo é em faixas de 15-20 cm e com profundidade de 15-20 centímetros, mantendo aproximadamente 75% do resíduo intacto na superfície do solo. Nessa faixa preparada o produtor normalmente faz a aplicação de fertilizantes em sulco, como MAP e KCl. A aplicação de nitrogênio anidro também é muito comum.

O preparo do solo em faixas é feito após a colheita no outono, ou na primavera logo antes do plantio. Devido janela de plantio, diversos produtores têm dado preferência para o preparo no outono.

As principais vantagens desse sistema quando comparado ao preparo convencional do solo são em relação à redução da erosão e melhoria da qualidade física do solo.

Quando comparado ao sistema de plantio direto, o preparo em faixas é vantajoso principalmente em áreas de baixada e mal drenadas, uma vez que a evaporação de água é aumentada pelo preparo em faixas. Além disso, devido à movimentação e exposição parcial do solo, a temperatura deste aumenta mais rápidamente, outra vantagem comparado ao plantio direto no Corn Belt.

Fertilizante líquido no plantio (Starter)

O uso de fertilizante líquido no sulco de semeadura também é prática cada vez mais utilizada por produtores de alta performance na produção de milho. O fertilizante líquido mais comum para uso no plantio no mercado norte americano é o polifosfato de amônio (10-34-00), que é relativamente acessível e vem demonstrando bons resultados de produtividade.

Uma das questões que preocupa alguns produtores com relação ao polifosfato de amônio é sua alta salinidade, podendo prejudicar a germinação da semente. Devido à isso, novos fertilizantes com menor risco às sementes estão surgindo no mercado, com possibilidade de aplicação em doses mais altas. Além de nitrogênio e fósforo, alguns produtores vêm optando pela aplicação conjunta de micronutrientes, como o zinco.

As doses normalmente utilizadas para milho giram em torno de 15-20 Kg/ha de P2O5. As três formas de aplicação mais comuns são de 0x0, 5×0 e 5×5. Na aplicação 0x0 o fertilizante é aplicado diretamente na base do sulco de plantio, na aplicação 5×0 o fertilizante é deslocado horizontalmente em aproximadamente 5 cm da semente e na aplicação 5×5 a aplicação é deslocada em aproximadamente 5 cm abaixo da semente e 5 cm ao lado.

Considerações Finais

Embora algumas das tecnologias que vem ganhando popularidade nos EUA não sejam diretamente aplicáveis para a agricultura brasileira, é interessante notar que as tendências seguem relativamente uma mesma rota, em que se busca o manejo com maior conservação do solo e o uso dos recursos de forma mais eficiente. Isto tem sido feito com ajustes finos no posicionamento e época de aplicação de fertilizantes, aumentando eficiência destes e consequentemente a produtividade das culturas.

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Este post tem um comentário

  1. Izabela Cardoso

    Excelente conteúdo. Parabéns, Marcos.

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