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O que é biofortificação de alimentos? 6 alimentos já cultivados no Brasil

A biofortificação de alimentos é uma estratégia para aumentar o teor de micronutrientes em alimentos básicos, como arroz, milho e feijão, sem a necessidade de suplementos ou aditivos. Isso pode ser especialmente útil para populações que têm acesso limitado a uma variedade de alimentos nutritivos. Os alimentos biofortificados ajudam a melhorar a saúde pública, reduzir a desnutrição e prevenir doenças relacionadas à deficiência de micronutrientes. 

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O que é biofortificação? 

A biofortificação de alimentos é um processo de agregação de valor nutricional à cultura. Ou seja, é o ato de melhorar nutricionalmente o alimento produzido, a fim de se aumentar o consumo de alguns nutrientes ou vitaminas pela população.  

Os alimentos biofortificados surgiram como solução global para a fome oculta, um problema causado pela deficiência de micronutrientes, como ferro, zinco e vitamina A, que afeta cerca de 2 bilhões de pessoas em todo o mundo, ou uma em cada três pessoas. A fome oculta é um grande risco para a saúde pública, uma vez que pode gerar diversos problemas, que incluem redução da capacidade de trabalho, enfermidades no sistema imunológico e até mesmo anemia, levando em casos extremos à morte. 

Diferença entre fortificação e biofortificação 

A fortificação é a adição intencional de nutrientes a um alimento que não os contém naturalmente ou não os contém em quantidades adequadas. Geralmente, a fortificação é feita com vitaminas e minerais essenciais, como ferro, ácido fólico e vitamina D, para aumentar o valor nutricional do alimento. 

No Brasil, por exemplo há o consumo de alguns produtos fortificados, como: 

  • Leite fortificado com ferro e vitaminas: diversos produtos lácteos, como leite, iogurtes e bebidas lácteas, são enriquecidos com nutrientes. Essa fortificação é importante para ajudar no desenvolvimento físico e cognitivo das crianças, além de prevenir anemia ferropriva. 
  • Farinhas de milho e de trigo: ambas adicionadas com ferro e ácido fólico para prevenir anemia ferropriva e malformações do tubo neural em fetos durante a gestação. 
  • Sal iodado: também é obrigatório por lei no Brasil desde 1953 – a adição de iodo é importante para prevenir o bócio e outras doenças da tireoide. 

Já a biofortificação é um processo de enriquecimento de nutrientes em alimentos através de melhorias genéticas das plantas. Isso é realizado através da seleção e cruzamento de variedades de plantas que contenham mais nutrientes.  

Assim, a diferença entre alimento fortificado e biofortificado é que o primeiro é adicionado artificialmente com nutrientes depois do processamento e o segundo é naturalmente mais nutritivo devido ao melhoramento genético das plantas. 

Como a biofortificação é feita? 

Três técnicas podem ser utilizadas visando a biofortificação dos alimentos:  

  • o melhoramento genético de plantas,  
  • o uso de técnicas transgênicas, ou  
  • A utilização de práticas agronômicas.     

Em algumas plantas, os cientistas podem inserir genes que produzem produtos químicos que aumentam o transporte de nutrientes do solo para os grãos. Por outro lado, também é possível selecionar as melhores plantas de uma safra existente para cruzar e produzir uma nova variedade mais nutritiva. Além disso, técnicas agronômicas podem ser utilizadas visando aumentar os níveis de determinado nutriente às plantas (Figura 1). 

fortificação e biofortificação métodos de biofortificação

Figura 1. Diferença entre fortificação e biofortificação e métodos de biofortificação. Fonte: do autor. 

Vantagens e desafios da biofortificação 

Algumas das maiores vantagens da biofortificação incluem: 

  • A biofortificação é uma solução de baixo custo e de alta qualidade. 
  • Pode ser adaptado especificamente às necessidades dietéticas de populações locais, levando em consideração os nutrientes que faltam em sua dieta. 
  • A biofortificação tem um amplo alcance e pode ser usada em muitos cultivos diferentes.  

No entanto, alguns dos principais desafios da implementação da biofortificação incluem: 

  • Garantir que as plantas sejam produzidas em escala suficiente para ter um impacto significativo na dieta das pessoas. 
  • Certificar-se de que as plantas biofortificadas que são desenvolvidas são resistentes a doenças e pragas. 
  • Convencer as pessoas a adotar novos alimentos ou variedades, muitas vezes mais caras do que as que eles já conhecem. 

Exemplos bem-sucedidos de culturas biofortificadas no mundo 

Existem exemplos bem-sucedidos de biofortificação em todo o mundo, como: 

  • Feijão rico em ferro (Índia): Este projeto foi desenvolvido para combater a anemia na região de Bihar, na Índia, fornecendo feijão biofortificado, rico em ferro, para as comunidades locais. Desde então, o projeto se expandiu para outras regiões da Índia e ajudou a aumentar a conscientização sobre a importância da biofortificação. 
  • Batata doce de polpa laranja (Moçambique): Em Moçambique, a deficiência de vitamina A é comum, especialmente entre crianças. Para combater essa deficiência, a biofortificação de batata-doce de polpa laranja – rica em vitamina A, foi introduzida em várias regiões do país. O programa foi bem-sucedido, e a produção e consumo de batata-doce de polpa laranja aumentaram significativamente. 
  • Milho biofortificado (Quênia): Na região do Quênia, a deficiência de ferro é um problema comum. Para combater isso, o programa HarvestPlus introduziu o milho biofortificado, com alto teor de ferro e outros nutrientes importantes. O programa foi bem-sucedido e ajudou a melhorar os níveis de ferro nas comunidades locais. 
  • Arroz dourado (Índia e Filipinas): A deficiência de zinco é um problema comum na região rural da Índia, e a introdução de arroz dourado, com alto teor de zinco, ajudou a combater a deficiência na região. O programa biofortificação do arroz ajudou não só a diminuir a deficiência de zinco, mas também a melhorar a produtividade agrícola e as receitas dos agricultores. 
  • Feijão biofortificado (Ruanda): Em Ruanda, a introdção de feijão biofortificado ajudou a combater a deficiência de ferro, bem como outras deficiências nutricionais. O programa foi bem-sucedido e ajudou a aumentar a conscientização sobre a importância da biofortificação para a saúde das populações locais. 
  • Banana dourada (Uganda) – desenvolvida em Uganda para combater a deficiência de vitamina A. 

Biofortificação de alimentos no Brasil 

Rede BioFORT é responsável pela biofortificação de alimentos no Brasil. Coordenada pela Embrapa, busca diminuir a desnutrição e garantir maior segurança alimentar e nutricional através do aumento dos teores de ferro, zinco e vitamina A na dieta da população mais carente.  

No Brasil, a biofortificação consiste no melhoramento genético convencional, ou seja, na seleção e cruzamento de plantas da mesma espécie, gerando cultivares mais nutritivos. São 15 Unidades da Embrapa envolvidas, com foco no melhoramento de alimentos básicos, como arroz, feijão, feijão-caupi, mandioca, batata-doce, milho, abóbora e trigo. 

As variedades convencionais apresentam qualidade nutricionais inferiores às biofortificadas (Figura 2).  

Cultivares convencionais e biofortificadas

Figura 2. Cultivares convencionais e suas correspondentes biofortificadas para algumas espécies desenvolvidas no Brasil. 

Seis Alimentos que já possuem variedades biofortificadas no Brasil 

Existem vários tipos de alimentos biofortificados que já são consumidos mundialmente e no Brasil, incluindo: 

  • Feijão: diversas variedades de feijão biofortificado estão sendo cultivadas no Brasil, como o feijão com maior teor de ferro e zinco. 
  • Arroz: está sendo desenvolvido o arroz biofortificado com mais ferro e zinco, que já é cultivado em algumas regiões do país. 
  • Milho: o milho biofortificado com mais carotenoides também já é cultivado em algumas regiões do Brasil. 
  • Batata-doce: a batata-doce biofortificada com mais vitamina A (carotenóides e antioxidantes) já é cultivada no Brasil e em alguns países africanos. 
  • Trigo: o trigo biofortificado com mais zinco já é cultivado em alguns países da Ásia. 
  • Mandioca: a mandioca biofortificada com mais vitamina A está sendo cultivada em alguns países africanos. 

Esses alimentos têm se mostrado uma alternativa importante para combater a desnutrição e melhorar a saúde da população. 

Definição do que é nutriente mineral e a biofortificação

Um tópico atual que tem gerado debate mundial entre os cientistas é a definição do que é um nutriente mineral de planta! Isso porque os elementos considerados benéficos às plantas, como o Selênio, por exemplo, não podem ser comercializados como fertilizante de plantas e não são comumente aplicados via adubação.

Apesar disso, o selênio é um nutriente essencial aos humanos e animais e há um problema muito sério com relação à deficiência de selênio na população mundial. A Finlândia, por exemplo, iniciou um programa de suplementação de selênio na população do país em 1985 e ela é feita até hoje, tanto para população em geral e para grupos específicos, como gestantes.

Melhorar a disponibilidade de Se para as plantas é, portanto, um caminho potencial para superar as deficiências de Se na população.

Conclusão 

A biofortificação é uma solução agrícola importante para melhorar a nutrição das populações locais. Embora existam desafios significativos, como a resistência das pessoas a novas variedades de alimentos, o sucesso da biofortificação já pode ser visto em muitos países ao redor do mundo, como Israel, por exemplo que elevou significativamente os teores de zinco da população local depois que começou a utilizar fertilizantes com zinco em seus cultivos.. 

Tal estratégia é fundamental para garantir a qualidade dos alimentos e reduzir o problema da fome oculta, que afeta milhões de pessoas em todo o mundo (cerca de 1/4 da população global: 9 bilhões de pessoas) devido à falta de ingestão de micronutrientes em teores adequados.

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Sobre a autora:

Beatriz Nastaro Boschiero

Beatriz Nastaro Boschiero

Especialista em MKT de Conteúdo na Agroadvance

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