Você com certeza já deve ter ouvido falar da atrazina e, caso já seja da área da agricultura, provavelmente já fez uso do herbicida.
Embora muito popular, afinal é o terceiro ingrediente ativo mais comercializado no Brasil, muitos ainda desconhecem as principais características dessa molécula, dificultando assim o manejo das plantas daninhas pela sua aplicação.
Neste artigo explicamos quais são essas características e seus impactos no controle das invasoras, além de como fazer a aplicação nas principais culturas registradas para seu uso: milho e cana-de-açúcar. Confira!
Qual a função da atrazina?
O herbicida atrazina é utilizado para o controle de plantas daninhas, especialmente monocotiledôneas (de folhas largas), sendo o terceiro defensivo agrícola mais utilizado no Brasil.
A atrazina faz parte de um grupo de herbicidas sistêmicos de fabricação humana, chamados triazinas.
Seu primeiro registro para uso foi em 1958, se tornando um dos defensivos mais antigos e mais importantes utilizados até hoje.
Seu uso se dá principalmente na cultura do milho, mas é também registrado para as culturas de cana-de-açúcar, sorgo e milheto.
Mecanismo de ação e aspectos gerais da atrazina
A atrazina possui como mecanismo de ação a inibição do fotossistema II, que é o primeiro sistema de proteínas envolvido na fotossíntese. Está associado ao complexo de proteínas receptoras e doadoras de elétrons, já que é o fotossistema II que recebe a energia luminosa captada pela clorofila. Na Figura 1 abaixo podemos ver uma esquematização desse funcionamento.
A atrazina faz parte do grupo químico das triazinas, sendo seletivo e de ação sistêmica, sendo que seu transporte ocorre via xilema (seguindo o fluxo de água).
Importante ressaltar que esse é um ingrediente ativo de solubilidade baixa, moderadamente móvel no solo e não muito volátil. Sua persistência no solo varia de 5 meses a 1 ano, dependendo principalmente da microbiota contida nele.
Além disso, se constitui em um herbicida pré-emergente ou pós-emergente inicial (quando as plantas daninhas estão jovens).
A necessidade de aplicação na pós-emergência quando as plantas ainda são pequenas se deve ao fato de que o herbicida é transportado via xilema, como já citado, dificultando seu transporte e ação em plantas maiores.
Suas doses variam conforme a textura do solo (normalmente de 2 a 6 litros por hectare), sendo que dependendo da cultura nem é recomendada sua aplicação se o solo for muito arenoso.
A morte das plantas sensíveis ocorre devido ao rompimento das membranas causado pela peroxidação dos lipídios. Os sintomas como clorose-internerval das folhas, seguida pelo amarelecimento das bordas foliares e progredindo para necrose generalizada são resultado desse rompimento de membranas.
Qual o tipo de mato que atrazina mata?
As principais plantas daninhas que a atrazina controlam são as de folhas largas anuais:
- Guanxuma (Sida spp.)
- Apaga-fogo (Alternanthera brasiliana)
- Leiteiro (Euphorbia heterophylla)
- Trapoeraba (Commelina benghalensis)
- Caruru-roxo (Amaranthus hybridus)
- Erva-quente (Synedrella nodiflora)
- Picão-preto (Bidens pilosa)
- entre outras.
Apresenta também controle em algumas poucas plantas daninhas de folha estreita (como capim-pé-de-galinha e capim-marmelada). Ressaltamos aqui é que no campo comumente é observado controle eficiente de várias espécies de braquiária, porém a atrazina é registrada apenas para o capim-marmelada.
Qual melhor horário para aplicar atrazina?
Para todo herbicida o melhor momento de aplicação é aquele em que as condições ambientais estão próximas a:
- de umidade do ar acima de 50%,
- temperaturas amenas (abaixo de 30°C) e
- ventos com velocidade entre 3 e 10 Km/h.
Essas condições ocorrem normalmente logo pela manhã ou no final da tarde.
É possível também fazer a aplicação noturna da atrazina, desde que sejam respeitadas as condições mencionadas acima.
Como usar o herbicida atrazina no milho: manejo e aplicação
A aplicação em pré-emergência da atrazina na cultura do milho exige que seja verificada as condições do solo, já que esse é o nosso alvo. Portanto, o solo deve estar úmido para que as sementes das plantas daninhas germinem e descompactado, já que a compactação e torrões dificultam a movimentação do herbicida no solo.
Importante ressaltar que mesmo aplicando o herbicida em pré-emergência você verá essas plantas daninhas emergindo do solo. Somente quando elas emergem e recebem a luz do sol é que as reações da atrazina ocorrem (conforme explicamos nos tópicos acima) e, assim, as plantas são mortas.
Para a aplicação em pós-emergência é importância que compreendamos que o período crítico de prevenção a interferência (PCPI) da cultura do milho varia conforme o híbrido e do arranjo espacial, mas, em geral, essa janela no milho é de v2 e v6, portanto, é o período em que devem ocorrer todas as aplicações de herbicidas em pós-emergência na cultura do milho.
A Figura 2 abaixo é um exemplo de determinação dos períodos de interferência de plantas daninhas do milho em um experimento de campo, em que foi observado o PCPI de v2 a v7.
Além do estádio da cultura do milho, também é importante estar atento aos estádios das plantas daninhas. Como comentamos nos tópicos acima, devido ao seu mecanismo de ação, a aplicação efetiva da atrazina deve ocorrer quando as plantas daninhas ainda estão jovens: folhas largas com no máximo 4 folhas e folhas estreitas antes do perfilhamento.
Em condições de estresse, como ocorre nessas ondas de calor intenso, a efetividade de qualquer herbicida é afetada e com a atrazina não seria diferente.
Em contraste com 2, 4-D, a atrazina não causa toxicidade ao milho, já que a planta possui uma via bioquímica que lhe permite desintoxicar esse herbicida com extrema rapidez.
Além disso, a atrazina pode ser associada com uma ampla variedade de herbicidas, sendo que é interessante sua aplicação com nicosulfuron, resultando em maior espetro da aplicação no controle de plantas daninhas de folha estreita.
Atenção para alguns híbridos de milho são mais sensíveis que outros para o nicosulfuron. Para dúvidas, consulte a empresa produtora das sementes dos híbridos.
No período de entressafra as aplicações de atrazina fazem com que a buva e outras plantas daninhas importantes sejam controladas de maneira melhor no sistema soja-milho, evitando fluxos dessa planta daninha.
Nesse sentido, é uma importante ferramenta no manejo de buva resistente ao glifosato conforme é mostrado no vídeo abaixo.
Como usar atrazina na cana-de-açúcar
Aqui funcionam as mesmas recomendações gerais que demos para a cultura do milho e outros tópicos acima, como aplicação em plantas daninhas jovens e na pré-emergência e verificar as condições do solo.
Atenção especial para as condições do solo, que deve ocorrer quando está úmido, portanto, a aplicação da atrazina deve ser na época úmida dentro do ciclo da cana.
Em cana planta é recomendado uma aplicação após o plantio, enquanto na cana soca é recomendada uma aplicação após o corte.
A atrazina pode ser banida no Brasil?
A atrazina é proibida na União Europeia devido a preocupações com sua capacidade de se decompor no ambiente por microorganismos, permitindo que o produto químico atinja riachos e aquíferos antes de ser completamente degradado. Em geral, as preocupações do impacto desse herbicida na saúde e no ambiente foram os principais motivadores do banimento da atrazina na União Europeia em 2003.
Nos Estados Unidos os padrões da Agência de Proteção Ambiental (EPA) atualmente permitem que 3 partes por bilhão (ppb) ou menos de atrazina estejam presentes na água potável. Esse já é um padrão rigoroso, sendo que a Organização Mundial da Saúde estabeleceu um limite de 100 ppb para água potável. No entanto, seu uso, embora com algumas restrições, ainda é permitido.
No Brasil, a atrazina tem seu uso permitido. Existe, contudo, um projeto de Lei 5080/23 que visa proibir o uso de agrotóxicos que contenham o princípio ativo atrazina em todo território nacional. A proposta está em análise na Câmara dos Deputados.
Conclusões
A atrazina é um dos mais importantes herbicidas de décadas atrás e se mantém assim até hoje. Sua colaboração para o controle de populações resistentes e para a rotação de mecanismos de ação dentro dos sistemas de cultivos também é fundamental.
Seguindo todas as recomendações que aqui mencionamos o seu uso controla eficientemente as plantas invasoras.
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Referências
ALBUQUERQUE, F. P., DE OLIVEIRA, J. L., MOSCHINI-CARLOS, V., FRACETO, L. F. An overview of the potential impacts of atrazine in aquatic environments: perspectives for tailored solutions based on nanotechnology. Science of the total environment, v. 700, 134868, 2020. DOI: 10.1016/j.scitotenv.2019.134868/
KOZLOWSKI, L. A. Período crítico de interferência das plantas daninhas na cultura do milho baseado na fenologia da cultura. Planta Daninha, v. 20, p. 365-372, 2002.
RODRIGUES, B.N.; ALMEIDA, F.S. Guia de herbicidas. Londrina -PR, 6° ed, 2011, P. 697.
Sobre a autora:
Maiara Franzoni
Coordenadora de Go-To-Market na Agroadvance
- Engenheira Agrônoma (ESALQ/USP)
- Mestra em Fitotecnia (ESALQ/USP)
- Especialista em Agronegócio e Marketing (ESALQ/USP)