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Antracnose no feijão: saiba identificar, controlar e prevenir corretamente

Antracnose no feijão: identifique os sintomas na sua lavoura (como mancha preta nas hastes e vagens), quais os métodos de controle, incluindo fungicidas, e sua prevenção.

Caso você tenha a cultura de feijão como rotineira na sua área já sabe que as doenças são umas das principais, se não a principal, causa de problemas dessa lavoura, já que é muito suscetível a elas.

Dentre essas, a antracnose se destaca. Muito comum em diversas culturas, são nas leguminosas as principais perdas, podendo chegar a 100% (Wendland & Lobo Junior, 2023).

A doença está presente em todo o mundo, sendo mais acentuada nas zonas temperadas e subtropicais, justamente onde, no Brasil, temos regiões produtoras dessa leguminosa.

Neste artigo você entenderá melhor sobre a antracnose no feijão, sua identificação, manejo e prevenção. Confira!

O que causa antracnose no feijão?

A antracnose no feijão comum (Phaseolus vulgaris L.). é causada pelo fungo Colletotrichum lindemuthianum, se caracterizando como umas mais devastadoras doenças do feijoeiro.

Esse fungo pode sobreviver na entressafra nos resíduos das culturas anteriores (caso elas estejam com a doença), mas a sua maior disseminação ainda hoje é por sementes infectadas, embora possa também ser disseminada por ar e água.

É por isso que chuvas frequentes com ventos favorecem a antracnose na cultura do feijão.

Nas condições climáticas moderadas e chuvosas, com temperaturas entre 13 a 25°C e umidade relativa maior ou igual a 92%, esse fungo é favorecido e, após 2 a 4 dias de infecção na planta, começa a produzir acérvulos (corpos frutíferos) e conídios (Figura 1).

infecção por antracnose no feijoeiro
Figura 1. Características microscópicas do C. lindemuthianum a- acérvulo; b- desenvolvimento de conídios; c- base da seta; d- conídios maduros. Barras de escala = 10 µm. Fonte: Gupta et al., 2022.

Colletotrichum lindemuthianum também pode atacar outros tipos de feijão, além do comum, como o feijão-caupi (Vigna sinensis Savi.), feijão-vermelho (Phaseolus multiflorus Willd.), feijão-de-lima (P. lunatus L.), do feijão-mungo (P. aureus Roxb.) e feijão-caupi (Vigna sinensis Savi.).

Um ponto importante de atenção é que você já deve ter ouvido falar em antracnose em muitas culturas, especialmente frutíferas, porém essa é uma antracnose causada por outra espécie, embora o gênero seja o mesmo: Colletotrichum gloeosporioides.

Isso faz com que haja algumas diferenças entre elas e por isso ressaltamos a diferença. Por exemplo, enquanto a C. gloeosporioides é mais incidente em temperaturas elevadas, a C. lindemuthianum já ocorre com maior frequência e intensidade com temperaturas mais moderadas, como citado anteriormente.

Qual o sintoma da antracnose no feijão comum?

A doença atinge todas as partes aéreas do feijoeiro, sendo que as lesões são mais comuns nos pecíolos das folhas, na superfície inferior das folhas (face abaxial) e nas suas nervuras, onde são alongadas, angulares e de cor avermelhada a arroxeado, evoluindo para manchas pretas.

À medida que a doença progride, a descoloração aparece na superfície superior da folha. Os sintomas foliares muitas vezes não são óbvios e podem passar despercebidos ao examinar as áreas, portanto, é necessário monitoramento cuidadoso dessa cultura.

As infecções nas vagens ocorrem como lesões de cor bronze a ferrugem que se transformam em um cancro afundado com um anel preto elevado e borda vermelha acastanhada, sendo um sintoma muito típico da antracnose no feijão comum.

Em condições favoráveis o interior da lesão da vagem pode exsudar massas rosadas de esporos, além das vagens murcharem e os grãos também se infectarem. Os grãos com antracnose apresentam manchas marrons a pretas e lesões profundas.

Quando as sementes estão infectadas as plantas jovens se desenvolvem com cotilédones apresentando lesões pequenas profundas de cor marrom-escuras a pretas. Os cotilédones gravemente infectados envelhecem prematuramente e o crescimento das plantas é atrofiado.

O hipocótilo em desenvolvimento pode ser infectado, desenvolvendo manchas cor de ferrugem que aumentam longitudinalmente, resultando em lesões profundas.

Sob condições úmidas, pequenas massas rosadas de esporos são produzidas nas lesões. Os esporos produzidos nos cotilédones e nas lesões do caule podem se espalhar para as folhas causados os sintomas aqui mencionados.

Abaixo é possível visualizar os sintomas em todas as áreas da planta de feijão (Figura 2).

Sintomas de antracnose no feijão

Figura 2. Sintomas da antracnose no feijão. 1. Cotilédone; 2. Haste; 3. Folha (face abaxial); 4. Vagens; 5- Detalhe do sintoma em uma vagem; 6-Grãos de feijão infetados. Fonte: MCGRATH, 2021.

Como tratar antracnose no feijão?

Aqui é de grande valia a velha máxima: a prevenção é o melhor controle. Para isso, combata a principal causa de disseminação, que são as sementes. Adquira somente sementes certificadas e de cultivares resistentes.

Mesmo que esse custo inicial seja maior, tenha a certeza de que os custos ainda vão ser menores do que tratar a antracnose no feijão com uma área de cultivar suscetível. Além disso, em condições favoráveis se torna quase impossível o avanço da doença.

Além do menor investimento total ao final da safra, a prevenção por meio de sementes certificadas e resistentes também contribui para menor aplicação de defensivos no ambiente.

No documento da Embrapa, Wendland e Lobo Junior (2023) chamam a atenção para esse tema com números bastante atuais e alarmantes: é comum verificarmos até 7 aplicações para o controle da antracnose no feijão, sendo a única forma de manejo. Isso torna insustentável não só a rentabilidade da cultura, mas como também a eficácia dos fungicidas ao longo do tempo.

Sobre a rentabilidade, os autores mostram que os custos podem ficar em cerca de R$ 900,00 por hectare com a aplicação de fungicidas contra R$ 500,00 por hectare o custo de sementes certificadas e resistentes a antracnose.

Atualmente no Brasil as principais cultivares lançadas possuem resistência considerada moderada à antracnose, as quais você pode consultar no site da Embrapa: https://www.embrapa.br/cultivar/feijao.

Acerca da eficácia dos fungicidas há um fato muito importante que devemos aqui ressaltar: o fungo C. lindemuthianum possui uma ampla variabilidade, o que facilita que sejam selecionadas populações resistentes, o que tornaria ainda mais custoso o controle químico dessa doença no feijoeiro.

Por isso, é importante adotar todos os métodos de controle disponíveis, sendo os principais e mais importantes:

  • Utilizar somente cultivares resistentes;
  • Adquirir sementes certificadas de boa qualidade sanitária e/ou tratamento químico de sementes;
  • Evitar trânsito nas primeiras horas do dia, já que o orvalho espalha os esporos do fungo;
  • Evitar época de alta umidade e baixa temperatura;
  • Rotação de culturas com uso de gramíneas não hospedeiras (exemplo: milho);
  • Eliminação de restos culturais;
  • Controle químico.

Métodos de controle da antracnose: Qual o melhor fungicida para antracnose no feijão?

Essa é uma questão bastante polêmica, mas segundo Embrapa (2023) os produtos baseados em trifloxystrobin e propiconazole estão entre os mais recomendados para a antracnose no feijão atualmente no Brasil.

Muitas pesquisas também têm sido realizadas sobre os fosfitos. No trabalho de Gadaga et al. (2017) foi observada menor severidade da doença com a aplicação dos fosfitos de potássio, zingo e manganês em comparação ao tratamento controle.

O fosfito de potássio também foi citado no trabalho de Contento (2021), sendo o tratamento que propiciou a menor severidade em dois cultivares de feijão, porém também causou fitotoxidez nas plantas das duas variedades, destacando-se na variedade moderadamente resistente.

Já Assunção et al. (2020) encontraram efeito contrário com a aplicação de fosfito de cobre, a qual resultou em maior severidade da antracnose. Os autores estudaram ainda a forma biológica de controle da antracnose, obtendo como resultado que a aplicação dos fungos Trichoderma viride e Trichoderma tomentosum se mostraram similares ao fungicida azoxistrobina + difenoconazol em todas as cultivares avaliadas.

Também foram encontrados resultados positivos com o uso de Tricoderma, com redução na severidade da antracnose nos cultivares IPR Tuiuiú e IPR Quero-Quero em condições de casa de vegetação (Gallina et al. 2019). Houve resultados positivos neste estudo também com a aplicação de acibenzolar-S-metílico e fungicida hidróxido de fentina.

Conclusões

Mesmo sendo uma das principais doenças do feijão há muito anos, ainda verificamos diversas dificuldades no controle da antracnose. O principal deles certamente se deve à única forma de manejo comumente utilizada: o controle químico.

É necessário e urgente a utilização do Manejo Integrado, como a rotação de culturas, a eliminação de restos culturais e, com grande destaque, para o uso de sementes certificadas de cultivares resistentes ao fungo causador da doença.

Dessa maneira, é possível o manejo mais adequado e também o prolongamento do uso dos fungicidas ao longo dos anos, já que o fungo possui alta variabilidade e possibilidade de adquirir resistência aos produtos.

Outras formas de manejo ainda estão sendo estudadas, como uso de fosfitos para indução da resistência e o controle biológico. Porém, isso não minimiza a importância do Manejo Integrado e das medidas de prevenção da antracnose no feijão.


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Referências 

ASSUNÇÃO, A.T.S.; PRIA, M.D.; CHRISTMANN, P.E.T.P.; SCHAFRANSKI, T. Control of anthracnosis in the bean culture with alternative products in vegetation house. Brazilian Journal of Development, v. 6, p. 9971-9982, 2020. DOI: 10.34117/BJDV6N3-031.

CONTENTO, F. M. Mistura de fosfito de potássio com aminoácido visando o controle da antracnose do feijoeiro. Dissertação (Mestrado em Sanidade, Segurança Alimentar e Ambiental no Agronegócio) – Programa de Pós-Graduação, Instituto Biológico, São Paulo, 2021. 41 p. Disponível em: http://repositoriobiologico.com.br/jspui/handle/123456789/1135. Acesso em 29 de out. 2023.

GADAGA, S.J.C.; ABREU, M.S.; RESENDE, M.L.V.; RIBEIRO JÚNIOR, P.M.R. Fosfitos para o controle da antracnose em feijoeiro comum. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 52, p. 36-44, 2017. DOI: 10.1590/S0100-204X2017000100005.

GALLINA, A.; MEZOMO, M.P.; FOCHESATTO, M.; STEFANSKI, F.S.; MILANESI, P.M. Controle alternativo de antracnose em feijoeiro: atividade elicitora sobre o controle da doença e produtividade da cultura. Jornada de Iniciação Científica e Tecnológica, v. 1, n. 9, 2019. Disponível em: https://ojs.revistacontribuciones.com/ojs/index.php/clcs/article/view/1483. Acesso em 29 out. 2023.

GUPTA C.; SALGOTRA R.K.; DAMM U.; RAJESHKUMAR K.C. Phylogeny and pathogenicity of Colletotrichum lindemuthianum causing anthracnose of Phaseolus vulgaris cv. Bhaderwah-Rajmash from northern Himalayas, India. 3 Biotech. v. 12, artigo 169, 2022. doi: 10.1007/s13205-022-03216-0.

MCGRATH, M.T. Bean Anthracnose. 2021. Disponível em: https://www.vegetables.cornell.edu/pest-management/disease-factsheets/bean-anthracnose/. Acesso em 29 out. 2023.

WENDLAND, A.; LOBO JUNIOR, M. Antracnose do feijoeiro comum. In: ZAMBOLIM, L. (ed.). Manejo integrado de doenças agressivas visando a produtividade de grãos. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa, 2023. p. 357-367. Disponível em: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/handle/doc/1152201 . Acesso em 29 out. 2023.

Sobre a autora:

Maiara Franzoni

Maiara Franzoni

Coordenadora de Go-To-Market na Agroadvance

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